A história de um produtor que movimentou o agro em uma corrente do bem

A história de um produtor que movimentou o agro em uma corrente do bem

A Carta de Buenópolis: a simplicidade de um produtor que inspirou o Brasil inteiro

Quem, em pleno 2024, ainda escreve uma carta à mão?

Foi assim, no gesto mais simples e inesperado, que começou uma história em Buenópolis/MG. Uma carta singela percorreu 17 dias de estrada até chegar a Marília/SP. Dentro do envelope, poucas palavras: o pedido para vender um trator Valmet 110id, ano 74.

Parecia apenas mais um anúncio, entre tantos que passam diariamente pelo MF Rural. Mas havia algo naquela carta que não cabia no papel. Uma energia diferente, um chamado que despertava mais do que curiosidade: trazia esperança.

E foi essa esperança que mobilizou pessoas, atravessou cidades e emocionou o Brasil. Uma corrente do bem que ganhou força nas mãos de quem acreditou na história, e que teve a Marispan como pilar fundamental para seguir adiante.

Mas afinal, quem escreveu essa carta? E o que havia por trás desse pedido tão simples? Continue lendo e descubra!

A chegada da carta

O MF Rural é um marketplace que conecta diariamente milhares de produtores rurais a compradores em todo o Brasil. São dezenas de anúncios publicados a cada dia, todos de forma digital, como pede o mundo atual. Por isso, quando algo foge do padrão, chama a atenção.

E foi exatamente o que aconteceu no dia 07 de abril de 2024.

Entre tantos anúncios recebidos pela plataforma, um detalhe quebrou a rotina: um envelope simples, escrito à mão, vindo de Buenópolis/MG. Em pleno século XXI, no tempo da velocidade digital, aquela carta percorreu 17 dias de estrada até chegar à sede da empresa, em Marília/SP.

Dentro dela, poucas palavras: “Precisamos vender um trator Valmet 110id, ano 74, em ótimo estado.”

Carta escrita à mão em papel branco, enviada ao MF Rural em março de 2025, oferecendo à venda um trator Valmet 110 de 1974, em bom estado, com abertura para negociação.
Uma carta escrita à mão chegou ao MF Rural com um único pedido: vender um trator Valmet 110id, ano 74.

Um pedido aparentemente comum, que poderia ser apenas mais um entre tantos anúncios. Mas não foi. A simplicidade daquele gesto chamou a atenção do CEO do MF Rural, Rafael Fabrizzi Lucas. Havia algo de diferente ali. Não era só sobre vender um trator. Era como se aquela carta carregasse uma energia própria, uma inquietação difícil de explicar.

E foi essa inquietação que acendeu a faísca para uma jornada que ninguém poderia imaginar.

A decisão que deu início a uma jornada

A simplicidade daquela carta não saía da cabeça de Rafael. O MF Rural nasceu com uma missão clara: ajudar o produtor rural. E agora, mais do que nunca, aquela missão ganhava forma diante de um gesto tão singelo. Como ignorar aquele pedido?

“Eu vi que havia uma energia diferente naquela carta e precisava conhecer história por trás dela. Se um produtor rural pede ajuda, é nossa missão ajudar”, contou Rafael.

A decisão foi imediata. Não dava para tratar aquela carta como apenas mais um anúncio. Era preciso pegar a estrada e ir até Buenópolis, em Minas Gerais, para conhecer de perto quem havia escrito aquelas palavras. O envelope guardava poucas informações: um pedido em letras trêmulas e um nome, Gustavo. Mas por trás da simplicidade, havia algo que não permitia ignorar o chamado.

Mais de mil quilômetros separavam Marília, em São Paulo, da pequena cidade mineira. Um destino distante, quase anônimo, que agora carregava o peso de um mistério: quem era o Gustavo, autor da carta? O que realmente havia por trás daquele pedido de vender um trator?

Assim, Rafael e sua equipe iniciaram a viagem: não movidos por certezas, mas pela fé de que aquela carta escondia algo muito maior. E foi em Buenópolis que a primeira revelação aconteceu.

De Marília a Buenópolis

A jornada foi extensa: de Marília até a capital paulista, depois mais um voo até Montes Claros/MG e, por fim, quase 150 quilômetros de estrada rumo ao interior. Ao todo, mais de mil quilômetros percorridos até chegar a Buenópolis/MG, uma pequena cidade de pouco mais de 10 mil habitantes, onde a vida corre em outro ritmo. Ruas tranquilas, comércio simples, vizinhos que se conhecem pelo nome. Um cenário típico do interior mineiro, onde cada gesto ainda carrega valor.

Foi nesse ambiente acolhedor que a busca por Gustavo, o autor da carta, começou. O mistério que havia atravessado tantos quilômetros agora ganhava contornos reais. Quem seria ele? O que o teria levado a escrever uma carta à mão em pleno século XXI?

De comércio em comércio, nas esquinas e calçadas, a equipe foi seguindo as pistas dadas pelos moradores até chegar a uma casa simples, onde foram recebidos com muito carinho. Ali, finalmente, conheceram quem estava por trás do envelope: Gustavo Viveiros.

O encontro com Gustavo

Gustavo é um jovem que enfrenta uma raríssima síndrome chamada Neuropatia Sensorial e Autonômica Hereditária Tipo IV (HNSA-4), que o impede de sentir dor e de transpirar. Por conta dessa condição, precisou amputar uma perna e hoje se locomove com a ajuda de uma prótese.

Mas, diante de tantas limitações, o que mais impressionava era a força daquele garoto. Gustavo demonstrava uma determinação admirável e, sobretudo, um coração altruísta.

À esquerda, Gustavo, autor da carta, segura o bilhete escrito à mão oferecendo um trator Valmet 110 de 1974. À direita, Rafael Fabrizzi Lucas, CEO do MF Rural, sorri ao lado dele em uma cozinha com azulejos coloridos ao fundo.
Em Buenópolis/MG, Rafael conheceu Gustavo Viveiros, autor da carta. Para sua surpresa, descobriu que o trator anunciado era do seu tio, Seu Clarismundo.

Ao conversar com ele sobre o trator, Rafael foi surpreendido: a máquina não era de Gustavo, mas de seu tio, Seu Clarismundo.

A revelação deu novo peso à história. A carta não falava de uma necessidade própria, mas de um gesto de generosidade. Mesmo com todas as dificuldades que já enfrentava, Gustavo decidiu olhar para o outro. Usou a simplicidade de uma carta à mão para tentar ajudar o tio, acreditando que essa era a forma que tinha de contribuir.

Naquele momento, ficou claro que a carta carregava muito mais do que um pedido de venda: carregava empatia e a lição de que a verdadeira grandeza está em colocar o bem do próximo acima de si mesmo. Foi isso que tocou ainda mais Rafael e o fez seguir adiante.

Mas afinal, quem era o tio e onde estava o trator?

Em busca de Seu Clarismundo

Com o endereço em mãos fornecido por Dona Carmélia, mãe de Gustavo, a equipe seguiu rumo ao encontro de Seu Clarismundo. Não foi fácil: sem sinal de celular, rodaram por cerca de 40 minutos até encontrar a pequena propriedade. Ao chegarem, foram recebidos com a hospitalidade de quem nada sabia sobre a visita, mas abriu as portas com simplicidade.

Ali, veio a surpresa: Clarismundo não queria vender o trator. Para ele, o Valmet 110id era seu “braço de força”, o companheiro que, mesmo envelhecido, ainda lhe permitia trabalhar.

A explicação logo ficou clara. Anos antes, Clarismundo havia sofrido um acidente que comprometeu o fêmur, deixando sequelas que dificultaram sua mobilidade. Desde então, passou a mancar e a ter limitações para fazer força com a perna. O trator, com sua embreagem leve, adaptava-se à sua condição e lhe dava autonomia para continuar ativo na fazenda.

Aos olhos dele, a máquina estava em ótimo estado e não precisava ser vendida. Mas, na prática, era visível que o trator exigia muito mais do que simples reparos.

Trator Valmet 110 de 1974 em estado desgastado, estacionado sobre folhas secas, com marcas de uso nas rodas e na lataria, sob a sombra de árvores no campo.
Aos olhos de Seu Clarismundo, o trator estava perfeito. Mas Rafael sabia que aquela história ainda poderia ganhar um novo capítulo.

Entre conversas, a cada palavra de Seu Clarismundo, ficava claro que aquela história não era apenas sobre uma máquina. Era sobre altruísmo, sobre gratidão, sobre a essência de viver no campo.

O que mais impressionava era a forma como ele encarava a vida. Seu Clarismundo não reclamava de nada. Pelo contrário: em sua fala serena, era possível perceber um coração agradecido por tudo o que tinha, mesmo não sendo muito. Não havia pressa, não havia ansiedade. Ele vivia no tempo certo das coisas.

Para a equipe, aquilo foi um choque de realidade. Em um mundo em que tantos vivem correndo, querendo sempre mais, Seu Clarismundo mostrava que a verdadeira riqueza está em saber valorizar o suficiente.

“Nós somos muito mal agradecidos. A gente vive mais reclamando, sendo que nós temos tudo a agradecer. Agradecer que levanta de manhã, que tem as pernas pra caminhar, você enxerga, você ouve. Você tem só o que agradecer.”, observou Seu Clarismundo.

Homem idoso sorri sentado à mesa, usando boné preto com a palavra 'MF Rural' e camisa de trabalho azul clara. Ele segura o boné com uma das mãos enquanto outra pessoa toca sua cabeça de forma carinhosa.
Com um sorriso simples e sincero, ele disse pouco, mas falou tudo. E foi assim que tocou o coração de toda a equipe, e depois, do Brasil inteiro.

A visita, embora breve, deixou marcas profundas. A humildade de Clarismundo era um aprendizado silencioso, mas poderoso. Sua forma de viver ensinava mais do que qualquer palestra ou manual poderia oferecer. Era um lembrete de que o essencial não se mede em bens, mas em gratidão.

Mas se vender o trator não era um desejo de Seu Clarismundo, como seria possível ajudá-lo?

A reviravolta

De volta a Marília, Rafael carregava consigo mais do que lembranças de uma visita. Levava também uma missão que sempre esteve no DNA do MF Rural: ajudar e estar do lado de quem produz.

A sabedoria e a gratidão de Seu Clarismundo tinham marcado a equipe de uma forma profunda demais para deixar a história acabar com um trator cansado. Vender não era uma opção. Mas ignorar aquela carta significava trair a própria essência do MF Rural.

Foi então que a visita ganhou a internet. O MF Rural compartilhou a história nas redes sociais, e o impacto foi imediato. Em poucas horas, milhares de pessoas foram alcançadas e se encantaram com as palavras e a forma simples de viver de Seu Clarismundo. Comentários de apoio, mensagens de gratidão e compartilhamentos mostravam que aquela voz humilde ecoava muito além da porteira de sua fazenda.

A reação foi unânime: algo precisava ser feito. Não bastava contar a história, era preciso agir. Movido por essa onda de apoio, Rafael tomou a decisão que mudaria o rumo de tudo: o trator de Seu Clarismundo seria reformado.

E foi nesse momento que nasceu uma verdadeira corrente do bem: uma união de pessoas, empresas e parceiros em torno de um mesmo propósito: devolver força ao braço de Seu Clarismundo.

A corrente do bem

A publicação nas redes sociais havia mexido com muita gente. Entre os inúmeros comentários, um gesto simples abriu um novo caminho: Rogério Matsuda, um dos seguidores do MF Rural e fiel expectador do MF Cast, ao ver a história, marcou o amigo Pablo Vasconcelos, da Tratormec, em Ituiutaba/MG.

E foi aí que surgiu um aliado fundamental. Pablo contou que havia visto a publicação justamente no dia do seu aniversário e que aquilo o tocou de forma especial. Naquele instante, decidiu que queria ajudar. Colocou-se à disposição para doar toda a mão de obra necessária para a reforma do trator, mas fez um pedido: ele sozinho não conseguiria arcar com tudo. Seria preciso que outros também entrassem na corrente.

Pablo Vasconcelos, de camisa polo branca, está sentado à mesa em reunião com Rafael Fabrizzi Lucas, CEO do MF Rural, em um escritório. Sobre a mesa há papéis e caneta.
Tocado pela história do Seu Clarismundo, Pablo Vasconcelos decidiu doar a mão de obra para a reforma do trator e convocar outros a se unirem à causa.

E eles entraram. Aos poucos, empresas e pessoas foram se juntando, cada uma contribuindo com o que podia. Pneus e câmaras dianteiros chegaram pelas mãos da Pneuara Pneus. As rodas e pneus traseiros, do Grupo Cr Agro. Os filtros foram doados pela Lubfiltro Itba. A parte hidráulica veio da Loja Selero. E a capota nova foi oferecida por Renato Picoli e Alduino Picoli.

Cada contribuição era mais do que uma peça ou acessório: era um símbolo de união. Mostrava que o agro, quando se mobiliza, é capaz de transformar histórias de verdade.

Sem saber ao certo se tudo seria possível, o MF Rural assumiu o protagonismo de levar aquela história adiante. Com Rafael na linha de frente, nasceu o compromisso de devolver a Seu Clarismundo não apenas um trator reformado, mas um novo braço de força para continuar sua jornada no campo.

Mas ainda faltava o mais importante: a autorização de Seu Clarismundo.

De volta para Buenópolis

Rafael sabia que nada poderia seguir sem a palavra final de Seu Clarismundo. Para ele, o trator estava em perfeito estado. Era o seu braço de força, o companheiro de todos os dias na lida da fazenda. Como convencer alguém tão simples, tão grato pelo que tinha, de que era preciso deixar seu trator ir embora?

Foi nesse clima de incerteza que Rafael voltou a Buenópolis. Levava consigo não apenas a lembrança da primeira visita, mas também a responsabilidade de mostrar tudo o que estava acontecendo: como a história havia se espalhado, como empresas estavam se mobilizando, como milhares de pessoas nas redes sociais estavam torcendo para que aquela transformação se tornasse realidade.

E foi aí que a mágica aconteceu. Tocando-o com sinceridade, Rafael conseguiu a permissão de Seu Clarismundo. O trator deixaria sua fazenda e seguiria viagem até Ituiutaba/MG para a oficina de Pablo Vasconcelos, onde seria reformado.

Rafael Fabrizzi Lucas, CEO do MF Rural, e Seu Clarismundo observam juntos o trator Valmet 110 de 1974 carregado em um caminhão prancha, em meio a um dia ensolarado no campo.
De volta a Buenópolis, Rafael foi em busca da autorização do Sr. Clarismundo para a reforma. Só assim a história poderia seguir adiante.

E para que tudo pudesse acontecer, a corrente do bem deu mais um passo: um gesto generoso garantiu a logística: Geraldo, da AG Transportes, decidiu transportar o trator sem cobrar nada pelo frete.

A mobilização era tanta que nem a família de Seu Clarismundo ficou indiferente. Após a visita, Dona Carmélia, mãe de gustavo, enviou uma mensagem de voz que resumia o sentimento coletivo:

“Eu fiquei impressionada como a roda do bem gira. O bem contagia, né? Ficamos muito impressionados e felizes com a mobilização das pessoas!”

Tudo estava indo muito bem. Mas ainda faltava algo essencial: força.

O braço de força da Marispan

Foi então que uma ligação inesperada atravessou fronteiras. Do Japão, em meio a uma viagem de negócios, Paulo Nascimento, diretor da Marispan, entrou em contato com Rafael. Ele havia assistido aos episódios e se emocionado com a forma como Clarismundo chamava o trator de “braço de força”.

Aquela expressão simples não era apenas uma metáfora, mas o retrato fiel da vida de um produtor rural. E, para Paulo, fazia ainda mais sentido porque traduzia exatamente o que a Marispan representa há 50 anos: ser o braço forte do agro, oferecendo carregadores frontais que dão força, confiança e autonomia ao produtor rural.

Decidido, Paulo fez uma promessa: a Marispan doaria um conjunto frontal completo para o Valmet de Seu Clarismundo. Mas a motivação foi além da comoção, e ele resumiu em uma frase:

“O sucesso de uma empresa não é apenas posição de mercado. O verdadeiro sucesso é usar o que construímos para ajudar o próximo.”

Rafael Fabrizzi Lucas, CEO do MF Rural, conversa com Paulo Nascimento, Diretor da Marispan em frente a um implemento agrícola da Marispan. Ambos estão sorridentes, vestidos de forma social, em um galpão agrícola.
Para Paulo, diretor da Marispan, ficou claro: implementos não movem só máquinas, movem histórias. Por isso, decidiu entregar força para um novo começo.

Mais do que uma doação, foi um gesto de propósito. Para a Marispan, ser grande não é apenas fabricar implementos e consolidar uma marca no agro, mas colocar sua força a serviço das pessoas, transformando vidas.

Um super trator e um legado de solidariedade

Com o apoio da Marispan, a reforma tomou um novo rumo. Além da doação, a empresa se tornou a patrocinadora oficial da série, garantindo todo o suporte para que o trator chegue em perfeitas condições às mãos de Seu Clarismundo.

O Valmet não apenas voltará a rodar: será transformado em um super trator, como o próprio Clarismundo disse, pronto para seguir sendo seu braço de força no campo.

Essa história mostra que o agro é movido por muito mais do que máquinas, números e tecnologia. É movido por pessoas, por valores e por empresas que entendem que sua verdadeira força está em fazer a diferença na vida de quem precisa.

E a história continua…

Apesar de vários percalços no caminho, a reforma segue firme e forte, sustentada por parceiros que continuam fazendo a roda do bem girar. A Inácio Tratores entrou em cena para ajudar com o motor. A Rasch Motoren vai contribuir com a reforma do câmbio. E o Sucatão Tratores, um verdadeiro símbolo de empatia no agro, doou diversas peças essenciais para que o motor ficasse perfeito para o Seu Clarismundo.

Em breve, o trator reformado estará de volta à pequena fazenda em Buenópolis, mais forte do que nunca. Mais do que uma máquina renovada, ele será o símbolo de uma parceria: feita de peças novas e, acima de tudo, de contribuições que provam que, no agro, quando todos se unem, não existe impossível.

Mas a história ainda não acabou! Enquanto isso, confira todos os episódios no YouTube ou no Instagram do MF Rural.

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