Baculovírus: o que são e como são utilizados no controle biológico de pragas

Baculovírus: o que são e como são utilizados no controle biológico de pragas

O uso de baculovírus no controle de pragas nas lavouras brasileiras remonta aos anos 1978. No entanto, foi após esse período, especialmente até os anos 2000, que pesquisas evidenciaram a especificidade desses vírus para artrópodes, ou seja, para controle de insetos que afetam a produtividade das culturas de interesse agrícola.

Desde então, diferentes espécies de baculovírus têm sido aplicadas em culturas distintas, principalmente soja e milho como medida de controle biológico de lagartas.

Neste artigo você poderá entender mais sobre o que é o baculovírus, como ele é utilizado na agricultura, suas vantagens e desvantagens para os cultivos. Boa leitura!

O que é baculovírus?

Os baculovírus são um grupo de vírus que infectam principalmente insetos, sendo especialmente eficazes contra lagartas (larvas de lepidópteros).

Estes vírus são altamente específicos, atacando apenas certas espécies de insetos, o que os torna uma ferramenta valiosa no controle biológico de pragas.

A aplicação de baculovírus no manejo integrado de pragas agrícolas é uma prática sustentável que visa reduzir o uso de pesticidas químicos e auxiliar no manejo antirresistência, tendo em vista que atualmente inúmeras pragas, especialmente lagartas, apresentam resistência a importantes moléculas químicas. 

Além disso, inseticidas formulados a partir de microrganismos ou seus metabólitos secundários geralmente possuem menor risco de pressão de seleção de pragas resistentes, conferindo controle eficaz ao passo que contribuem para prolongar a vida útil de inseticidas de moléculas consolidadas no mercado.

Imagem microscópica do baculovírus
Microscopia e aspecto visual corpos de oclusão de baculovírus e que configuram uma estratégia natural do próprio vírus para proteger as suas partículas infectivas – o vírion. Fonte: Ardisson-Araújo, 2017.

Como funcionam os baculovírus no controle biológico?

Os baculovírus são utilizados como agentes de controle biológico, atuando de maneira natural para suprimir populações de pragas. 

O processo de infecção é bastante específico e ocorre da seguinte maneira:

  1. Ingestão: as lagartas ingerem os vírus ao se alimentarem de folhas tratadas com a suspensão viral;
  2. Infecção: uma vez no sistema digestivo do inseto, o vírus se multiplica nas células do intestino, rompendo-as e liberando partículas virais;
  3. Disseminação: as partículas virais se espalham para outras células do corpo do inseto, causando a morte da praga em alguns dias;
  4. Liberação: após a morte da lagarta, os vírus são liberados no ambiente, prontos para infectar outras lagartas, continuando o ciclo de controle biológico.
Infográfico ilustrando o modo de atuação do baculovírus em lagartas
Modo de ação do baculovírus em lagartas

Vantagens do uso

A utilização de baculovirus apresenta diversas vantagens, especialmente quando comparada aos métodos tradicionais de controle de pragas, como o uso de pesticidas químicos.

Além disso, por serem específicos aos insetos e não afetarem outros organismos, como mamíferos, aves, e peixes. Os baculovírus proporcionam segurança ambiental, pois não prejudicam inimigos naturais, afetando assim apenas as pragas-alvo que reduzem a produtividade das culturas agrícolas.

Benefícios e características dos baculovírus:

Especificidade

Os baculovírus são altamente específicos, afetando apenas espécies-alvo e não prejudicando insetos benéficos, humanos, ou outros animais, sendo portanto, seguros.

Sustentabilidade

Por serem organismos naturais, os baculovírus são biodegradáveis e não deixam resíduos tóxicos no meio ambiente. Além disso, podem ser multiplicados pelos próprios produtores, possibilitando economia e praticidade.

Resistência Reduzida

As pragas têm menor probabilidade de desenvolver resistência aos baculovírus em comparação com pesticidas químicos, o que garante a eficácia contínua do controle biológico.

Além disso, os baculovírus possuem uma elevada capacidade de permanência na área pulverizada, permitindo que novas infecções ocorram, dependendo do manejo e das condições ambientais. Eles também apresentam alta dispersão ao longo das áreas tratadas, incluindo locais que não receberam aplicação direta.

Segurança

Os baculovírus são seguros para os aplicadores e consumidores, reduzindo os riscos associados à manipulação e consumo de alimentos tratados.

Lagarta afetada pelo baculovírus
Controle da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) com produto formulado à base de baculovírus específico ao controle dessa praga.

O baculovírus pode ser aplicado misturado com água, tanto por pulverização terrestre quanto aérea. Uma das principais vantagens desse produto natural é que ele não apresenta efeitos adversos sobre seres humanos, não prejudica insetos benéficos e inimigos naturais, e não oferece risco de contaminação ao solo e à água. Fonte: Sosa-Gomez, 2015.

Outro ponto positivo dos baculovírus é que, devido à proteção oferecida pelos corpos de oclusão, eles geralmente mostram maior resistência à inativação quando misturados com agentes químicos. 

Isso permite que sejam usados em conjunto com diversas outras espécies de microrganismos, como fungos entomopatogênicos, ampliando o controle de pragas e a eficiência da aplicação. Para garantir a eficácia, consulte um profissional para verificar as possibilidades de aplicação conjunta.

Desvantagens do uso de baculovírus

Embora os baculovírus ofereçam muitos benefícios, existem alguns poréns em suas características que podem ser consideradas desvantagens e limitações de uso e que precisam ser consideradas.

A primeira é o tempo de ação, tendo em vista que o controle efetivo da praga alvo pode levar vários dias, permitindo que os danos provocados pelas lagartas aumentem consideravelmente.

Além disso, é importante salientar que a aplicação de baculovírus é recomendada quando os percentuais de desfolha estão abaixo de 30% até o final da floração e abaixo de 15% no início do desenvolvimento das vagens da soja. Esses períodos são críticos para a cultura, e altas infestações de pragas podem reduzir consideravelmente a produtividade das lavouras.

Outro ponto a ser considerado são as condições ambientais durante as aplicações. A luz ultravioleta pode degradar o vírus, enquanto a chuva pode lavá-lo das plantas. No entanto, dado que outros inseticidas também enfrentam essas questões, isso não representa uma desvantagem específica, mas sim um ponto de atenção para garantir a efetividade das aplicações.

Recomenda-se, portanto, que a aplicação de baculovírus seja realizada ao final da tarde ou antes do início da manhã, evitando assim, condições inadequadas.

É importante frisar que existem inúmeros produtos formulados à base de baculovírus, e que a praga-alvo a ser controlada varia conforme a espécie de baculovírus utilizada. Isso ocorre porque os baculovírus são eficazes apenas contra pragas específicas, exigindo um conhecimento detalhado sobre a identificação e biologia das pragas para uma aplicação correta.

Para consultar os produtos registrados disponíveis, basta acessar o Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT). Alguns exemplos que podem ser encontrados no AGROFIT (consulta em maio de 2024) incluem:

  • Baculovirus Anticarsia gemmatalis (2 produtos);
  • Baculovirus Chrysodeixis includens (3 produtos);
  • Baculovirus Helicoverpa armigera (6 produtos);
  • Baculovirus Spodoptera frugiperda (3 produtos).

No Brasil, diversas espécies de baculovírus específicas para outras pragas e culturas também têm sido catalogadas e identificadas. Entre esses isolados estão os baculovírus que afetam o mandarová-da-mandioca, a broca da cana-de-açúcar, o bicho-da-seda, a lagarta polífaga Helicoverpa armigera e o mandarová-do-mate, entre outros.

No entanto, apesar dos numerosos benefícios do uso de baculovírus no controle de pragas, é essencial tomar certos cuidados, assim como com qualquer produto fitossanitário. É importante prestar atenção às condições ideais de aplicação para garantir sua eficácia.

Cuidados no uso de baculovírus

Para maximizar a eficácia dos baculovírus e garantir um controle biológico eficiente, alguns cuidados devem ser tomados durante sua aplicação.

O primeiro passo é a identificação correta da praga-alvo para escolha do baculovírus adequado, tendo em vista que existem espécies específicas para cada espécie de lagarta-alvo.

A aplicação do baculovirus por sua vez, deve ocorrer em condições ambientais favoráveis, evitando períodos de alta radiação UV ou chuvas intensas, aumentando assim a eficiência de controle.

O armazenamento adequado dos produtos à base de baculovírus deve ser priorizado para manter a sua viabilidade e por consequência controle. Eles devem ser mantidos em temperaturas baixas e longe da luz direta.

É imprescindível ainda, seguir as instruções e recomendações do fabricante em relação à dosagem, modo de aplicação e frequência de uso.

Após a aplicação, é importante monitorar a população de pragas para avaliar a eficácia do tratamento e determinar se novas aplicações são necessárias.

Para mais informações e recomendações, consulte sempre um Engenheiro Agrônomo. 

Conclusão

Os baculovírus são uma alternativa sustentável e eficaz no controle biológico de pragas agrícolas. 

Eles oferecem inúmeras vantagens, como especificidade, segurança e redução da resistência, embora também apresentem algumas desvantagens, como o tempo de ação mais lento e a influência das condições ambientais. 

Ao adotar cuidados adequados durante a aplicação, é possível maximizar os benefícios dos baculovírus e contribuir para uma agricultura mais sustentável.

Gostou desse conteúdo? Então aproveite e leia também nosso artigo sobre oídio. Boa leitura!

Post Relacionado

Cuidados com a leprose dos citros

Cuidados com a leprose dos citros

A leprose dos citros é uma das doenças mais prejudiciais para os citricultores brasileiros.  Provocada pelo vírus CiLV-C, transmitido principalmente…