Cuidados com a leprose dos citros

Cuidados com a leprose dos citros

A leprose dos citros é uma das doenças mais prejudiciais para os citricultores brasileiros. 

Provocada pelo vírus CiLV-C, transmitido principalmente pelo ácaro Brevipalpus phoenicis, essa doença pode causar sérios danos às plantações de citros, reduzindo a produtividade, a qualidade dos frutos e a longevidade dos pomares. 

É considerada uma ameaça significativa para diversas regiões produtoras do país, podendo reduzir a produção de 30% a 100%. 

É essencial que seu controle se baseie no Manejo Integrado de Pragas, pois não existem métodos químicos ou biológicos eficazes contra o vírus causador da leprose. Assim, a chave para minimizar as perdas causadas pela doença nos pomares é o controle do inseto vetor.

Nesse artigo, vamos abordar detalhadamente o que é a leprose dos citros, seus sintomas, como identificá-la, os cuidados necessários e as formas de controle. Boa leitura!

O que é a leprose dos citros?

A leprose dos citros é uma doença viral que afeta diversas espécies de citros, incluindo laranjeiras, limoeiros e tangerineiras. 

O vírus CiLV-C (Citrus leprosis virus C) é transmitido pelo ácaro Brevipalpus phoenicis, que ao se alimentar das plantas infectadas, adquire o vírus e o dissemina para outras plantas.

A doença foi inicialmente identificada no Brasil na década de 1930 no Estado do Espírito Santo. A partir daí foi disseminada para as principais regiões produtoras de citros do país, sendo um problema crescente, principalmente no cinturão citrícola do estado de São Paulo.

Folhas de tangerina com sintomas de leprose, com manchas amarelas em toda sua extensão.
Sintomas de leprose em folhas de tangerina cv. Pokan.

Sintomas da leprose dos citros

Os sintomas da leprose dos citros são bastante característicos e podem ser observados em diferentes partes da planta entre 17 e 60 dias após a infecção. Por isso, é importante que os produtores rurais estejam atentos aos seguintes sintomas:

1. Folhas

Nas folhas, aparecem manchas amareladas que evoluem para áreas necróticas escuras, conferindo um aspecto de tecido morto. Essas lesões geralmente apresentam bordas irregulares e podem variar de tamanho, dependendo da intensidade do ataque dos ácaros vetores.

Inicialmente, as folhas mais velhas apresentam manchas cloróticas e suaves em ambos os lados, que se expandem e adquirem uma coloração marrom-avermelhada, ainda lisas, podendo ou não apresentar um centro necrótico. Em alguns casos, há exsudação de goma, formando zonas concêntricas (arredondadas).

Manifestações da leprose em folhas de citros. À direita, manchas amarelas e à esquerda, manchas marrom-avermelhadas ao centro e amarelas na borda
Diferentes manifestações de sintomas da leprose do citros em folhas.

2. Ramos

Nos ramos, surgem inicialmente manchas deprimidas de tom marrom, que gradualmente evoluem para lesões mais profundas. À medida que a doença avança, essas áreas lesionadas podem se tornar proeminentes e assumir uma coloração marrom-avermelhada. 

Essas lesões, com o tempo, tornam-se corticosas, resultando no escamamento da casca. Eventualmente, os ramos afetados secam e se tornam improdutivos com o agravamento da doença, dificultando a circulação da seiva.

Ramos com sintomas de leprose do citros, com escamamentos à esquerda e à direita com áreas proeminentes de coloração marrom-avermelhada
Sintomas característicos da leprose do citros em ramos, com escamamento da casca.

3. Frutos

Os frutos exibem manchas marrons ou pretas que prejudicam sua qualidade comercial, podendo resultar na desclassificação do produto. Esses frutos podem também sofrer deformações, apresentando uma casca mais espessa e rugosa. A apresentação dos sintomas varia conforme a espécie de cítrico, conforme ilustrado nas imagens abaixo.

Nos frutos verdes com mais de 3 cm de diâmetro, as lesões começam como manchas amareladas e rasas, que evoluem para áreas escuras e deprimidas, com um padrão concêntrico e rodeadas por um halo amarelado. 

Em frutos em estágio avançado de maturação, surgem manchas escuras e deprimidas, por vezes cercadas por um halo esverdeado. A quantidade de lesões e o momento em que os sintomas aparecem podem causar uma queda acentuada das folhas e a queda prematura dos frutos.

Frutos com sintomas de leprose do citros. Os frutos apresentam manchas amarelas e rasas e áreas escuras e deprimidas
Sintoma inicial e avançado da leprose do citros em frutos de tangerina cv. Ponkan à esquerda e ao centro da imagem e sintomas da doença em frutos de laranja doce à direita.

De forma geral, os sintomas da leprose manifestam-se apenas nas áreas onde os ácaros se alimentam, podendo ser observados em folhas, ramos e frutos. Quando o ataque é intenso, pode causar a queda significativa das folhas, a morte dos ponteiros, a seca dos ramos e a queda dos frutos.

Estudos indicam, ainda, que o ácaro possui certa preferência em se abrigar em frutos com verrugose (doença causada pelos fungos Elsinoe fawcetti e E. australis), em ramos e folhas, com menor preferência por frutos sem verrugose e folhas adjacentes.

Sintomas de verrugose em frutos e folhas. As lesões assemelham-se a verrugas com coloração esbranquiçada
Frutos e folhas com sintomas de verrugose. O ácaro da leprose do citros tem preferência por se abrigar em lesões causadas pelos fungos. (Fonte: Renato Ferrari dos Reis. In: Efrom, 2018).

Identificação da leprose dos citros

Identificar a leprose dos citros de forma precoce é crucial para evitar a disseminação da doença no pomar. Além dos sintomas visuais, é possível confirmar a presença do inseto vetor pela inspeção do pomar e do vírus através de análises laboratoriais. 

A coleta de amostras de folhas, ramos e frutos para testes específicos pode auxiliar na detecção do vírus CiLV-C.

Identificação do ácaro vetor da leprose do citros

O ácaro da leprose dos citros (B. phoenicis), com aproximadamente 0,15 a 0,17 mm de comprimento e 0,07 mm de largura, possui coloração avermelhada com manchas escuras e quatro pares de pernas. 

Caracterizado por duas setas sensoriais, esse ácaro é disseminado pelo vento, aves, insetos e práticas culturais humanas. Ele não nasce contaminado, mas pode adquirir o vírus ao se alimentar de tecido infectado, transmitindo-o ao longo de sua vida em qualquer estágio.

Ácaro com coloração avermelhada e manchas escuras. Possui quatro pares de pernas e cerca de 0,17 mm de comprimento
Ácaro vetor da leprose dos citros.

Infestações ocorrem durante todo o ano, com incidência maior em períodos secos e de crescimento dos frutos, pois o estresse hídrico favorece sua reprodução. A população do ácaro aumenta a partir de junho, atinge o pico em setembro e outubro, e diminui com as chuvas de verão e com a colheita.

Cuidados para prevenir a leprose dos citros

A prevenção é a melhor estratégia para lidar com a leprose dos citros. A seguir, apresentamos algumas estratégias que podem auxiliar no monitoramento da doença e na diminuição do risco de infecção:

1. Monitoramento contínuo dos pomares

Realizar inspeções regulares nas plantações é essencial para detectar precocemente os sintomas da leprose dos citros e a presença do ácaro vetor. 

O monitoramento contínuo permite intervenções rápidas, evitando a disseminação da doença. Recomenda-se realizar amostragens para detecção da presença do ácaro vetor da doença, além de identificar o nível de infestação do pomar. 

Esse procedimento deve ser realizado quando os frutos atingirem 5 cm de diâmetro.

2. Controle do ácaro vetor

O controle do ácaro B. phoenicis é fundamental para prevenir a leprose dos citros. A utilização de produtos alternativos como o enxofre ou a calda sulfo-cálcica, também podem ser alternativas viáveis no controle da doença. 

No AGROFIT (Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários), é possível verificar a lista de produtos registrados para o controle do ácaro vetor. Atualmente, a lista é composta por 65 produtos específicos às culturas citrícolas. 

Os principais ingredientes ativos incluem:

  • Óleo mineral;
  • Abamectina;
  • Propargito;
  • Bifentrina;
  • Clorfenapir, entre outros.

Mas atenção: a utilização de fitossanitários deve ser realizada baseada nas necessidades da área de cultivo, portanto, recomendadas por um Engenheiro Agrônomo. Além disso, a rotação de ingredientes ativos é fundamental para evitar a resistência do inseto vetor aos princípios ativos dos acaricidas. 

3. Eliminação de plantas infectadas

Plantas severamente infectadas devem ser removidas e destruídas para evitar a propagação do vírus para plantas saudáveis. 

A eliminação das plantas infectadas anualmente é uma medida drástica, mas eficaz para conter surtos de leprose dos citros. 

Em alguns casos, a poda drástica da copa ou até mesmo a poda de ramos infectados, pode ser suficiente para conter o avanço da doença, desde que o inseto vetor seja devidamente controlado.

4. Uso de cultivares resistentes

Investir em variedades de citros que apresentem resistência ao vírus CiLV-C pode ser uma estratégia a longo prazo para reduzir a incidência da leprose dos citros. 

Instituições de pesquisa agrícola frequentemente desenvolvem e recomendam variedades mais tolerantes a doenças. 

Além disso, parte-se do princípio da adoção de um controle preventivo na implantação de um pomar, utilizando mudas saudáveis, sem a presença do inseto vetor e do vírus da leprose do citros.

Como controlar a leprose dos citros

O controle eficaz da leprose dos citros envolve uma combinação de métodos culturais, biológicos e químicos. 

Algumas estratégias que podem ser adotadas incluem:

1. Manejo Integrado de Pragas (MIP)

Implementar um programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP) pode ajudar a controlar o ácaro vetor de maneira sustentável. 

O MIP envolve o uso combinado de técnicas culturais, biológicas e químicas, reduzindo a necessidade de acaricidas.

2. Aplicação de acaricidas

Quando necessário, a aplicação de acaricidas deve ser realizada de forma criteriosa, seguindo as recomendações de um profissional qualificado. 

Segundo a Fundecitrus, a aplicação de acaricidas varia de acordo com o nível de infestação na propriedade, e deve levar em consideração algumas premissas:

  • Aplicações devem ser realizadas quando detectada entre 3% e 15% dos frutos afetados pelo ácaro;
  • Em níveis mais baixos de infestação justifica-se o uso de acaricidas quando em áreas com plantas já afetadas pela leprose, ou com dificuldades de aplicação, ou em regiões propícias à proliferação do ácaro;
  • A escolha dos acaricidas deve seguir a lista PIC (Produção Integrada de Citros), considerando as condições climáticas, o monitoramento de populações resistentes e o modo de ação (ovicida, larvicida ou adulticida);
  • É fundamental respeitar a seletividade dos acaricidas em relação aos inimigos naturais, como os ácaros predadores;
  • É indispensável evitar a repetição do mesmo princípio ativo e classe química ao longo de um ano para prevenir a resistência dos ácaros aos acaricidas;
  • Para uma pulverização eficaz, é necessário garantir uma boa cobertura e deposição do produto na planta, interna e externamente, utilizando gotas com diâmetro mediano volumétrico de 150 a 200 micra e volume de calda de 100 a 200 ml por m³ de copa.

Outro ponto importante é o controle além do ácaro vetor. O ácaro vetor se abriga em lesões causadas por outros insetos e até mesmo doenças. Por isso, é importante realizar o controle da verrugose do citros e também de insetos, como larvas minadoras e cochonilhas, que afetam o pomar, reduzindo assim as lesões nas plantas e possíveis locais de reprodução do ácaro.  

3. Práticas culturais adequadas

Adotar práticas culturais que promovam a saúde geral das plantas pode aumentar a resistência das mesmas a doenças. Isso inclui a adubação balanceada, irrigação adequada e poda regular para remover partes afetadas.

Outras práticas culturais recomendadas incluem:

  • A desinfecção de equipamentos de colheita, assim como de ferramentas em geral, evitando assim que o vírus e/ou inseto vetor sejam disseminados para plantas saudáveis;
  • A utilização de quebra-ventos em torno do pomar, utilizando-os como barreiras físicas de pomares próximos;
  • A erradicação de plantas hospedeiras do ácaro vetor de outras espécies;
  • A retirada de frutos remanescentes no pomar ou que estejam caídos sob o solo, e que servem de inóculo primário e secundário para novas infestações da doença no pomar;
  • A realização de uma colheita estratégica, iniciando por talhões do pomar que sejam livres da doença, tendo em vista que os sintomas da mesma se manifestam em locais de ação do ácaro vetor.

4. Controle biológico

O uso de agentes biológicos, como predadores naturais do ácaro B. phoenicis, pode ser uma alternativa sustentável para controlar a população do vetor. 

Insetos predadores e ácaros benéficos são exemplos de agentes biológicos que podem ser introduzidos na plantação.

No AGROFIT, é possível encontrar dois produtos registrados para o controle do ácaro da leprose, ambos com o fungo Beauveria bassiana, um fungo entomopatogênico, ou seja, capaz de causar a morte de diversas espécies de ácaros e insetos e, portanto, bastante utilizado no controle biológico de pragas, incluindo o ácaro vetor da leprose do citros.

Seis diferentes insetos sendo colonizados pelo fungo entomopatôgenico, que é utilizado para controle biológico de pragar na agricultura
Diferentes espécies de insetos sendo colonizados pelo fungo entomopatôgenico, B. bassiana, amplamente utilizado no controle biológico de pragas na agricultura. Fonte: Mascarin, G. M.; Jaronski, S., 2016.

Conclusão

A leprose dos citros é uma doença séria que exige atenção e cuidados dos produtores rurais. 

Conhecer os sintomas, realizar monitoramentos regulares e adotar práticas preventivas são passos fundamentais para proteger as plantações. Além disso, o controle eficaz do ácaro vetor e o uso de métodos integrados de manejo podem reduzir significativamente os impactos dessa doença.

Os citricultores devem estar sempre atualizados com as últimas pesquisas e recomendações técnicas para enfrentar a leprose dos citros de forma eficaz. 

A sustentabilidade e a produtividade das plantações de citros dependem de uma abordagem integrada e consciente para o manejo de doenças, garantindo assim a qualidade dos frutos e a viabilidade econômica das lavouras.

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