A mucuna pruriens, uma planta da família das leguminosas, é reconhecida como uma excelente opção para adubação verde. Destaca-se por proporcionar uma cobertura vegetal significativa ao solo, tanto viva quanto morta, e por gerar uma quantidade substancial de biomassa. Além disso, seu crescimento rápido e sua decomposição mais lenta a tornam uma escolha vantajosa em comparação com outras leguminosas.
Essa planta possui várias espécies, mas a mais reconhecida e empregada é a mucuna-preta. Isso se deve aos seus diversos benefícios, como o controle eficaz de nematoides e plantas daninhas, além de sua capacidade de recuperar solos degradados.
Neste artigo, abordaremos a importância da mucuna na prática da adubação verde e estratégias eficientes para sua utilização. Nosso objetivo é destacar como essa prática pode contribuir significativamente para uma produção agrícola saudável, além de promover a conservação e recuperação do solo. Aproveite a leitura!
Importância do solo na produção agrícola
Antes de abordarmos especificamente a mucuna, é fundamental destacar dois pontos cruciais: a atual condição de degradação do solo, que é um problema em muitos países, incluindo o Brasil, e a relevância da adubação verde para sua recuperação.
O solo desempenha um papel fundamental para todos os seres vivos, pois é nele que são cultivados os alimentos para a população humana e animal, incluindo pastagens saudáveis. Para garantir o crescimento vigoroso das plantas, são necessários nutrientes, os “alimentos” que elas extraem do solo.
Esses nutrientes são classificados em dois grupos: macronutrientes e micronutrientes. Os macronutrientes são elementos necessários em quantidades relativamente elevadas pela planta, como nitrogênio, potássio e fósforo. Enquanto isso, os micronutrientes são requeridos em pequenas quantidades, tais como boro, cloro, molibdênio, cobre, ferro, zinco e manganês.
O problema surge quando o solo se esgota devido ao uso excessivo, resultando na diminuição dos nutrientes essenciais após cultivos frequentes. Isso pode afetar negativamente o crescimento e a produtividade das plantas.
Dessa forma, é responsabilidade do agricultor estar atento e garantir uma adubação adequada para repor os nutrientes essenciais que as plantas necessitam para crescer e alcançar uma boa produtividade.
De acordo com um relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), mais de 30% dos solos do planeta sofrem algum tipo de deficiência, muitas vezes resultado de práticas inadequadas de manejo da terra.
Na América Latina, a situação é ainda mais alarmante, com cerca de 50% dos solos apresentando algum tipo de degradação.
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Com base nas informações fornecidas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), fica evidente que o Brasil enfrenta desafios significativos em relação à degradação do solo. A extensão de 140 milhões de hectares de terras degradadas, correspondendo a 16,5% do território nacional, é uma preocupação séria.
Os problemas identificados, como deficiências em carbono orgânico e desequilíbrio de nutrientes, têm implicações profundas para a produtividade agrícola, a saúde do ecossistema e a sustentabilidade a longo prazo. O PronaSolos – Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos do Brasil, com orçamento estimado de até R$ 3 bilhões de reais, surgiu como uma resposta para abordar esses desafios.
Ao mapear e compreender melhor o solo brasileiro, o PronaSolos pode contribuir para a recuperação de áreas degradadas, a otimização do uso de recursos naturais e a promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis. Além disso, a redução das emissões de gases de efeito estufa é um benefício adicional que pode resultar desse esforço conjunto. É uma iniciativa que merece atenção e apoio, pois impactará positivamente a agricultura, o meio ambiente e a economia do país .
Diante deste quadro, uma das alternativas, visando garantir essa preservação ou recuperação do solo, é o uso da adubação verde. É o que iremos tratar a seguir.
Importância da adubação verde
A adubação verde é uma prática agrícola considerada orgânica, que utiliza resíduos de origem vegetal. Essa técnica envolve o cultivo de plantas específicas que contribuem para a melhoria da qualidade do solo, promovendo as condições físicas, químicas e biológicas do ecossistema.
Também conhecidas como “adubo verde”, essas espécies exercem um papel crucial no solo, estimulando a atividade de fungos micorrízicos, que são microrganismos responsáveis por aumentar a absorção de água e nutrientes pelas raízes das plantas. Além disso, esses microrganismos têm a capacidade de fixar o nitrogênio, disponibilizando assim nutrientes essenciais e contribuindo para a saúde geral das plantas.
Além das vantagens mencionadas, a adubação verde também pode ser empregada como cobertura vegetal para proteger o solo contra erosão e compactação, além de ajudar a controlar o crescimento de ervas daninhas. Após a colheita, essas plantas são incorporadas ao solo, enriquecendo-o com matéria orgânica essencial.
Sem dúvida, trata-se de uma estratégia que visa aumentar a fertilidade do solo, pois a adubação verde mobiliza os nutrientes das camadas mais profundas, tornando-os disponíveis para as culturas plantadas na área. Veja o vídeo preparado pela TV Embrapa.
Características e importância da mucuna
Embora haja várias espécies utilizadas na prática da adubação verde, com destaque para as leguminosas herbáceas e semiarbustivas, comuns em regiões tropicais, neste artigo, iremos nos concentrar mais especificamente na mucuna (Mucuna pruriens).
Aliás, a mucuna é uma das espécies mais utilizadas na produção de biomassa vegetal com o intuito de recuperar o solo, além de oferecer diversos outros benefícios, como seu potencial na alimentação tanto humana quanto animal.
A mucuna é uma leguminosa originária da Índia e pertencente à família Fabaceae. Além de seu uso na agricultura, no tratamento do solo e na alimentação animal, é importante destacar seu potencial medicinal. Na Índia, é conhecida por suas propriedades no tratamento de doenças como o mal de Parkinson. Além disso, possui diversas outras funções terapêuticas, incluindo atividades antineoplásicas, antiepilépticas, antimicrobianas, afrodisíacas e no combate ao diabetes.
No contexto agrícola, em várias regiões do Brasil, a mucuna é reconhecida como uma planta “melhoradora” do solo e pode ser incorporada diretamente na área de plantio ou utilizada como cobertura. Vamos explorar a seguir como ela é empregada nesse contexto.
Como usar mucuna na adubação verde?
A mucuna é uma cultura predominantemente cultivada durante a primavera e o verão, com um ciclo anual. É recomendada para regiões onde a semeadura coincide com o início do período chuvoso, que geralmente ocorre a partir de outubro, como é o caso das regiões Sul, Sudeste e Centro–Oeste do Brasil.
De acordo com a Embrapa, essa planta tem o potencial de produzir mais de seis toneladas de matéria seca por hectare, variando de acordo com as condições climáticas e de cultivo.
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De fato, algumas espécies de mucuna foram objeto de um seminário envolvendo países da América do Sul. Entre elas, destacam-se a Mucuna deeringiana (mucuna-anã), Mucuna cinereum (mucuna-cinza), Mucuna aterrima (mucuna-preta) e Mucuna pruriens (mucuna-verde).
A mucuna pode ser utilizada na adubação de diversas formas. As principais são:
- Plantio direto no solo — as sementes de mucuna podem ser plantadas diretamente no solo. Uma vez que as plantas crescem, podem ser colhidas e incorporadas a toda a área de plantio como matéria orgânica, contribuindo para melhorar a fertilidade e a estrutura do solo
- Plantio em cobertura —o cultivo de mucuna entre as linhas das lavouras serve para evitar a proliferação de ervas daninhas e, ao mesmo tempo, proteger o solo contra a erosão;
- Rotação de culturas — outra vantagem da mucuna é que ela pode ser rotacionada com outras culturas, alternando entre os anos de plantio e descanso para melhorar a fertilidade do solo;
- Sementes são adubo verde — após moídas são adicionadas ao solo, antes do plantio de outras culturas, pois são capazes de liberar nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas, a exemplo do nitrogênio, fósforo e potássio;
- Foliar — as folhas e flores de mucuna podem ser utilizadas como adubo foliar, misturando-as com água e aplicando a mistura diretamente nas folhas das plantas.
A seguir iremos abordar uma delas que é a mais utilizada em nosso país: a mucuna preta.
Características da mucuna preta
Conforme mencionado anteriormente, a mucuna preta (Mucuna aterrima) é uma das espécies mais amplamente utilizadas pelos agricultores brasileiros para produção de adubação verde.
Um dos principais motivos para essa utilização é o fato de a mucuna preta ser uma planta rústica e adaptável às diversas condições de clima e solo encontradas em nosso país.
A mucuna preta possui um caule verde-escuro e folhas grandes de formato oval. Suas flores podem ser verdes ou roxas, produzindo vagens longas e achatadas que contêm sementes pretas, lisas e brilhantes.
Entre os benefícios da mucuna preta estão o controle de nematoides e plantas daninhas, a fixação biológica do nitrogênio, podendo chegar até 215 kg de nitrogênio por hectare, a rotação de culturas, e sua capacidade de recuperar solos degradados, auxiliando na descompactação, melhorando as condições de aeração e aumentando a capacidade de absorção de água.
Entretanto, é importante ressaltar um alerta feito pelos técnicos da Embrapa: embora a mucuna preta tenha a propriedade de controlar a infestação de nematoides, não deve ser utilizada repetidamente na mesma área, pois pode se tornar hospedeira de uma das espécies de nematoides (Pratylenchus).
Dessa forma, o ideal é realizar a rotação de culturas com leguminosas a cada dois ou três anos na mesma área. Essa prática ajudará a evitar a ação desse patógeno, que é considerado “oportunista”, e garantirá a manutenção da saúde do solo e a eficácia da adubação verde.
Além disso, no estudo Desempenho agronômico de mucuna‑verde em diferentes arranjos espaciais (UFRJ), foi avaliado o efeito de diferentes arranjos espaciais no desempenho agronômico da mucuna-verde (Mucuna pruriens var. utilis). O experimento consistiu de oito tratamentos, dispostos em delineamento de blocos ao acaso em arranjo fatorial 2×4, com quatro repetições.
Os tratamentos envolveram a semeadura da mucuna-verde em dois espaçamentos entre sulcos de plantio (0,5 m e 1,0 m) e quatro densidades de plantas (2, 4, 8 e 16 plantas por metro). Os resultados indicaram que a cobertura total do solo ocorreu aos 50 dias após a semeadura, na densidade de 16 plantas por metro e espaçamento de 0,5 m entre sulcos de plantio. Além disso, a combinação da densidade de 16 plantas por metro com o espaçamento de 1,0 m entre sulcos proporcionou a maior produção de matéria seca e a quantidade de nitrogênio acumulado na parte aérea das plantas.
A mucuna preta é indicada também para animais em fase de crescimento ou que necessitam ganhar peso. O material seco da planta pode conter em média cerca de 18% de proteína, o que a torna uma opção valiosa para suplementar a alimentação dos animais e promover um crescimento saudável e ganho de peso adequado.
Esta planta riquíssima é utilizada tanto na alimentação humana quanto na alimentação animal. Seus feijões são consumidos por diversos grupos étnicos da Ásia, América, África e Ilhas do Pacífico devido ao alto teor de proteína. Além disso, a planta pode ser destinada à produção de silagem, feno e utilizada sob pastejo direto na alimentação animal.
O ciclo da mucuna preta, seja ele anual ou bianual, geralmente leva de 140 a 180 dias desde o plantio até o pleno florescimento, momento em que é realizada a colheita.
Essa planta é conhecida por tolerar bem altas temperaturas e déficit hídrico, além de se desenvolver em uma variedade de tipos de solo, incluindo solos argilosos e arenosos, mesmo que estes possuam baixa fertilidade.
Como fazer o plantio da mucuna preta
Se você ficou interessado em utilizar essa leguminosa para produzir adubo verde, é importante conhecer o processo de plantio. O primeiro passo envolve os cuidados com as sementes.
De acordo com a Embrapa, com o fim de quebrar o seu período de dormência, as sementes devem ser deixadas por uma semana ao sol, durante o período mais quente do dia e cobertas à noite. Posteriormente, no mesmo dia do plantio, é preciso fazer a inoculação das sementes.
A inoculação das sementes de mucuna-preta antes do plantio é altamente recomendada para potencializar a fixação de nitrogênio. Uma das estirpes de rizóbio mais indicadas para esse fim é a SEMIA 6158 (BR 2811), desenvolvida pela Embrapa Cerrados. Esse procedimento ajuda a garantir uma maior eficiência na fixação do nitrogênio atmosférico pelas plantas, contribuindo para um crescimento saudável e sustentável.
O período ideal para o plantio da mucuna preta é entre outubro e novembro. Geralmente, o plantio é realizado em linhas, utilizando de sete a 10 sementes por metro linear, o que corresponde a um total de 65 a 135 kg de sementes por hectare. O espaçamento entre as linhas varia de 40 a 50 cm.
A mucuna preta é amplamente utilizada na rotação de culturas, especialmente com soja, milho e feijão. Essa prática aproveita o período de entressafra dessas culturas principais para fornecer nutrientes, principalmente nitrogênio, à próxima safra. Isso ajuda a melhorar a fertilidade do solo e contribui para uma produção agrícola mais sustentável e eficiente.
Todavia, é importante considerar o alerta feito pelo técnico da Embrapa, Otávio Manoel Nunes Lopes. Os ramos trepadores da mucuna preta podem representar um desafio em culturas perenes de pouco espaçamento, como café e pimenta-do-reino. Portanto, é necessário ter um cuidado especial ao utilizar a mucuna nessas situações, a fim de evitar possíveis interferências negativas no desenvolvimento das culturas principais.
Nas demais lavouras anuais, como laranja, uva e manga, por exemplo, a recomendação é utilizar a mucuna preta quando os espaçamentos entre as plantas forem superiores a 50 cm. Isso ajudará a evitar problemas de competição por luz, água e nutrientes entre a mucuna e as culturas principais.
Conclusão
Com certeza, a mucuna é uma das leguminosas mais amplamente utilizadas na prática da adubação verde. Além de proporcionar benefícios significativos à agricultura, ela também é uma fonte valiosa de alimento tanto para animais quanto para seres humanos, através de seus grãos. Sua versatilidade e seus múltiplos benefícios a tornam uma escolha popular e vantajosa para agricultores em todo o mundo.
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