Rotação de culturas: conheça os benefícios desta prática para a lavoura

Rotação de culturas: conheça os benefícios desta prática para a lavoura

A rotação de culturas é uma importante técnica de manejo do solo. Consiste, basicamente, em alternar diferentes espécies vegetais numa mesma área agrícola por, no mínimo, um ano.

É importante entender que a rotação de culturas se diferencia da sucessão de culturas, ambas frequentemente confundidas.

É uma técnica que traz diversos benefícios, como, por exemplo, a preservação do solo e a inibição de agentes causais de doenças.

Entenda a seguir os benefícios desta prática ao sistema produtivo, pontos importantes e recomendações no manejo de pragas e doenças!

Leia também: 10 causas da degradação dos solos, o que fazer e como corrigi-los.

Como a rotação de culturas é realizada, afinal? 

A rotação de culturas é o cultivo alternado de espécies vegetais no mesmo local e na mesma estação anual. 

É importante ter claro em mente que o cultivo alternado de diferentes espécies na mesma lavoura, em estações diferentes constitui a sucessão anual de culturas, e não a rotação.

Por exemplo, o cultivo de soja no verão e trigo no inverno não configura a rotação de culturas.

Confira a seguir, no infográfico que elaboramos, a diferença entre a sucessão e a rotação de culturas, bem como os principais benefícios dessa técnica.

Infográfico explicando o que é sucessão de culturas e o que é rotação de culturas, evidenciando a diferença entre elas e listando cinco principais benefícios da rotação de culturas
Diferença entre a sucessão e a rotação de culturas.

E no que implica esta diferença conceitual? 

A alternância por exemplo entre trigo e soja anualmente, constitui na verdade uma monocultura dupla. Neste sistema, todos os anos, na mesma estação de cultivo, como por exemplo trigo no inverno e soja no verão, as mesmas culturas são cultivadas.

Embora ocorra um intervalo de tempo entre o próximo cultivo da mesma cultura, vamos tomar como exemplo a soja, os restos culturais desta não estarão totalmente decompostos até o próximo cultivo, implicando principalmente na sobrevivência de importantes pragas e patógenos causadores de doenças.

Para que a rotação de culturas seja realmente realizada na área, um exemplo prático seria, no caso de cultivos de inverno, implantar o trigo no ano 1, a aveia no ano 2, e retornar o trigo apenas no ano 3.

A rotação de culturas confere inúmeros benefícios ao solo, à produtividade, aos recursos utilizados na produção agrícola e na ocorrência de pragas, doenças e plantas daninhas, confira a seguir!

Benefícios da rotação de culturas

Os benefícios desta prática vão além do melhor aproveitamento de recursos importantes à produção agrícola, como os nutrientes e água, ela também melhora as qualidades físicas, químicas e biológicas do solo e, além disso, quebra o ciclo de importantes agentes causais de doenças e até mesmo de pragas.

Ao sistema produtivo: solo e água, aumentando a produtividade 

O principal benefício é justamente o fato de que se trata de uma técnica que torna possível a produção diversificada de culturas, ou seja, em uma mesma área agrícola, diferentes espécies de necessidades nutricionais e hídricas distintas são cultivadas.

A diversificação de culturas também possibilita a obtenção de maior produtividade, visto que diferentes espécies possuem necessidades nutricionais distintas. 

Quando elas são implantadas nas áreas de cultivo de forma alternada, possibilita que os recursos disponíveis sejam explorados de forma otimizada, sem que cause exaustão do solo.

A rotação de culturas auxilia ainda na manutenção da palhada sobre o solo, que protege da ação de fatores climáticos como altas temperaturas, chuvas em excesso (e consequente erosão do solo), e restrição hídrica (evitando que o solo perca água rapidamente). Além disso, outra contribuição importante é na manutenção da matéria orgânica, indispensável para a saúde do solo.

Em estudos em relação à rotação de culturas em diferentes safras, foi possível observar incrementos em relação:

  • ao peso de mil grãos;
  • à produtividade da cultura da soja. No entanto, este comportamento também é observado para as culturas do milho, trigo, arroz, algodão, dentre outras;
  • a rotação de culturas e sucessão soja/milho + braquiária foram mais eficientes no aporte de biomassa e em consequência, resultaram em maiores teores de matéria orgânica;
  • este mesmo sistema ainda beneficiou o solo, preservando sua qualidade física, importante para a infiltração e consequente armazenamento de água. As maiores produtividades também foram observadas em sistemas que envolvem rotações de cultura.

Mas a importância da rotação de culturas vai além. Ela também contribui para a redução do inóculo inicial de pragas e doenças.

À produtividade das culturas: quebra o ciclo de reprodução de pragas e doenças

Neste ponto vale ressaltar que por si só a rotação de culturas não é capaz de controlar pragas e doenças dos cultivos, isto porque muitos patógenos possuem mais de uma espécie hospedeira.

Como exemplo podemos tomar as mesmas espécies de lagartas que causam danos em soja, milho e trigo, e isto ocorre para outras inúmeras pragas. Também ocorre para os fungos causadores de doenças, como Rhizoctonia solani (patógeno de solo causador de podridões radiculares), espécies de fungos do gênero Fusarium (causadoras de podridões radiculares, manchas foliares e até mesmo podridões de colmo e espiga, como no milho), dentre inúmeros outros.

Isto ocorre pelo fato destes organismos maléficos serem polífagos, ou seja, capazes de sobreviver e/ou se reproduzir em inúmeros hospedeiros diferentes (muitas espécies de plantas de famílias botânicas distintas). 

No caso de alguns fungos e bactérias, o agravante envolve a produção de estruturas de resistência que se mantêm viáveis no interior do solo principalmente, por longos períodos. 

Nestes casos, para quebrar o ciclo da doença seria necessário manter a área sem a presença de nenhuma espécie hospedeira, o que na agricultura, é inviável. Essas estruturas incluem:

  • Oósporos: formados por espécies de fungos não verdadeiros como Pythium spp. e Phytophthora spp. (causadores de podridões radiculares);
  • Clamidósporos: formados por fungos do gênero Fusarium;
  • Esclerócios: formados por espécies dos gêneros Sclerotium e Sclerotinia (causadores dos mofos brancos da soja e da canola, dentre inúmeras outras culturas, que podem se manter viáveis por até 20 anos).
Óosporos de Phytophthora sojae e clamidósporos de Fusarium spp. Ambas as estruturas permanecem viáveis no solo por longos períodos e são microscópicas, ou seja, não são visualizadas a olho nu
Oósporos de Phytophthora sojae e clamidósporos de Fusarium spp. Ambas as estruturas permanecem viáveis no solo por longos períodos e são microscópicas, ou seja, não são visualizadas a olho nu. Fonte: López-Casallas et al., 2020; Lazarotto, 2013.

Esclerócios de Sclerotinia sclerotiorum, agente causal do mofo branco em haste de soja. Estruturas permanecem viáveis no solo por longos períodos
Esclerócios de Sclerotinia sclerotiorum, agente causal do mofo branco em haste de soja. Estruturas permanecem viáveis no solo por longos períodos. Fonte: Da Silva et al., 2020.

Por isso, além da rotação de culturas, todas as demais boas práticas agrícolas, que compreendem desde um bom manejo da fertilidade e saúde do solo, até o controle de plantas daninhas, pragas e doenças adequado, uso de sementes certificadas, escolha do material (cultivar) mais adequado à realidade da área, escolha da melhor época de semeadura, dentre inúmeros outros, devem ser tomadas de forma conjunta.

O manejo integrado de pragas e doenças (MIPD) é indispensável para um manejo sustentável e para a obtenção de altas produtividades, aliado a um sistema produtivo longevo. 

Veja também: O que são agregados do solo e como estruturar seus processos?

Pontos importantes sobre a rotação de culturas:

  • A prática da rotação de culturas deve ser devidamente planejada, a ponto de que a cultura utilizada na rotação do ano 2 por exemplo, não seja hospedeira da doença ou praga a qual se objetiva o controle, e para isso, há necessidade de conhecimento do sistema produtivo de forma detalhada;
  • Ou seja, é indispensável que produtores e técnicos conheçam o histórico da área, como a ocorrência de pragas, doenças, plantas daninhas na área de cultivo, bem como locais da lavoura com problemas, sejam eles relacionados ao solo (como locais com acúmulo de água, locais que apresentam estresse hídrico com mais facilidade);
  • O planejamento de quais culturas dispor nestes locais se torna mais fácil e otimizado, podendo inclusive nortear a escolha das cultivares. Por exemplo, para a cultura da soja, locais com solos menos profundos, e consequentemente, com menor capacidade de armazenamento de água, cultivares com maior tolerância ao estresse hídrico poderiam ser implantadas;
  • Assim, locais com maior ocorrência de plantas daninhas, por exemplo, poderiam ser manejados com dimensionamento da densidade do cultivo, da espécie com crescimento mais rápido e até mesmo com espécies que produzam compostos alelopáticos que reduzam o desenvolvimento das plantas daninhas;
  • É importante lembrar que as doenças, são, geralmente, mais severas em plantio direto, pois este possibilita as condições ideais para a sobrevivência, multiplicação e infecção dos fitopatógenos. Desta maneira, a rotação de culturas, é importante para a redução de pragas e do inóculo de doenças.

Além disso, é importante frisar que a produção de palhada pelas plantas de cobertura e a escolha daquelas que produzem maiores quantidades de biomassa vegetal e consequentemente palhada em rotação com as culturas principais, como soja, milho e algodão, são importantes para a manutenção e aumento da produtividade das culturas.

No entanto, exige conhecimento técnico por parte dos profissionais para delimitar quais as culturas mais adequadas que podem ser utilizadas em função do histórico e das necessidades da área.

E então, esse artigo foi útil para você? Aproveite e acesse também nosso post sobre adubação verde. Boa leitura!

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