Uma dentre tantas lições valiosas que venho aprendendo com a terra, talvez essa seja a que norteia hoje minhas ações como pessoa e como profissional do agronegócio: autenticidade.
A vida feminina é marcada por uma longa história de repressão, de preconceito e de valores baseados em uma sociedade que até pouco tempo atrás era predominantemente machista. Todo esse conteúdo ainda pesa nos inconscientes, influencia de maneira sutil a formação e liberdade de expressão do feminino. Mesmo hoje, quando a mulher conquista seu espaço e dá voz aos seus potenciais, o que foi vivido e principalmente deixado de viver por tantas mulheres, se expressa como amarras prendendo alguns pontos da sua vida. Em muitos casos impedindo o pleno desenvolvimento do ser maravilhoso chamado mulher.
Na minha trajetória, tanto no agronegócio quanto na formação do meu eu feminino, essas sutis marcas históricas também se fizeram presentes. E elas só não foram determinantes porque percebi a grandiosidade da feminilidade a tempo de prezar por ela.
E a minha história de amor com o agro e com o meu feminino se inicia com um momento de grande caos e sofrimento em minha vida. Foi em um período onde a minha feminilidade, minha personalidade, meus potenciais e minha vida profissional e pessoal eram expressos por um lindo salto alto. Lá estava eu, caminhando pelo mundo e construindo a vida literalmente sobre um símbolo do poder feminino. O salto alto era meu porto seguro, meu ponto de apoio e a forma de pisar sobre as marcas históricas para conseguir meu espaço.
Foi então que a vida me derrubou lá de cima, meu salto quebrou e me vi parada sem saber como prosseguir. O caos veio quando meu pai adoeceu, e de alguém protetor tornou-se alguém que precisava ser protegido. Um produtor rural que manteve as duas filhas afastadas do agronegócio, muito por proteção, e um pouco por influência de todo esse histórico machista, existente em especial nesse setor. Vendo a fragilidade de quem eu amava, e também da terra onde tenho minhas raízes, decidi jogar fora aquele sapato de salto alto quebrado e colocar uma bota.
Agora de botas, entrei para o agronegócio sem conhecimento, sem base alguma mas com a vontade de recuperar meu pai e a terra. Esse amor me moveu e fez ir em busca de possibilidades, me deu garra para enfrentar as dificuldades e força para trabalhar incansavelmente.
No início tentei me moldar ao “modo masculino” de trabalhar. Exigia de mim mesma postura profissional, forma de agir e pensar o trabalho como os homens a minha volta faziam. Achava que somente assim seria eficiente e eficaz em tudo que fizesse. Mas percebi que além de não estar dando certo, eu estava impondo a mim mesma algo que não era meu e me causava sofrimento.
Aos poucos fui dando espaço e liberdade de expressão ao meu feminino. Fui dessa forma me desenvolvendo como profissional e mulher. Percebi que o resultado do meu trabalho se tornava cada vez mais positivo a medida que eu me tornava mais feminina. Meus potenciais e meu trabalho hoje são expressos com meu jeito mulher de ser. Minha eficiência provém de uma maneira muito feminina de ser profissional nesse setor que hoje é uma das razões da minha vida, o agronegócio.
Agradeço à terra por me ensinar que agora posso andar descalça, sendo eu mesma. Que posso fazer, plantar, criar, trabalhar, colher e viver respeitando a minha própria história, os meus valores e sendo autenticamente feminina.
Luisa Comin é agropecuarista, coach e terapeuta.