As dificuldades enfrentadas para se obter dados confiáveis sobre a equinocultura no Brasil já havia sido abordada neste blog no artigo “Qual o tamanho da equideocultura?”. A recente publicação da Pesquisa Pecuária Municipal pelo IBGE mostra a importância de detalhar um pouco mais esse problema.
Antes, entretanto, deve ficar claro que o IBGE é uma instituição séria, com profissionais competentes em seus quadros. As críticas apresentadas a seguir mostram os desafios a serem superados, não desmerecendo em nada o realizado até este momento.
A Pesquisa Pecuária Municipal
A Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) é um levantamento anual realizado pelo IBGE para estimar os efetivos das espécies animais criadas e dos produtos da pecuária e aquicultura em todos os municípios do País.
Para tanto, ao contrário do censo no qual propriedades são visitadas para coleta de dados, na PPM o IBGE conta com um sistema de fontes de informação que fornecem estimativas subjetivas, discutidas e validadas por equipes do IBGE.
No caso de equídeos, há um tratamento aparentemente de menor cuidado. Asininos e muares deixaram de ter suas tropas estimadas desde 2013 sob a alegação que não tinham importância econômica, embora permaneça até hoje as estimativas da carcinicultura (produção de camarão) e casulo de bicho-da-seda, entre outros.
Deve-se destacar que no Manual Técnico das Pesquisas Agropecuárias Municipais publicado pelo IBGE há orientações específicas para obtenção das estimativas municipais para bovinocultura, avicultura, entre outras atividades, mas não para equinocultura.
Municípios desconsiderados
Na PPM referente à 2020, são listados 5567 municípios. Dentre eles, 48 não apresentaram estimativas. Em 20 municípios foi apresentada a observação com “Zero absoluto, não resultante de um cálculo ou arredondamento”, ou seja, o IBGE considerou como nula a população de equinos nesses municípios.
Chama a atenção que entre esses 20 munícios está, por exemplo a cidade de São Paulo, onde há um Jockey Club, duas grandes hípicas, e até animais soltos em ruas de bairros periféricos.
Há surpresas também nos outros 28 municípios, que apresentam a observação “Valor não disponível”, indicando que determinado município não foi pesquisado ou que não existia no ano da pesquisa.
Nesse último grupo, estão, por exemplo, cidades da Baixada Santista, como Santos (onde há hípicas) e São Vicente (onde de 1949 até há poucos anos funcionava um Jockey Club).
Crescimentos impressionantes
Quando comparamos os números, por municípios, da PPM de 2020 com a do ano anterior (2019) alguns dados de crescimento surpreendem. As tabelas 1 e 2 apresentam os 20 municípios que apresentaram as maiores variações nas tropas, em valores absolutos e em percentual, respectivamente.
Tabela 1: Brasil, 20 maiores incrementos municipais de tropa em número de animais entre 2019 e 2020, segundo PPM (IBGE).
Tabela 2: Brasil, 20 maiores incrementos municipais de tropa em percentual, entre 2019 e 2020, segundo PPM (IBGE).
Note, por exemplo, o município de Florianópolis, segundo maior crescimento percentual e 16º em valor absoluto. Em 2019 havia, segundo a PPM, 194 cavalos na cidade. Na PPM de 2018 foi apresentado o mesmo número e, por coincidência ou não, exatamente o mesmo número de animais apontado no Censo Agropecuário de 2017. O salto de 2019 para 2020, após essas informações, permite despertar muita curiosidade sobre como são formados os valores divulgados na PPM.
O crescimento da tropa segundo a PPM
Pelos números divulgados pelo IBGE, a tropa brasileira cresceu 1,89% entre 2019 e 2020. Um número que deve ser comemorado. Mas, talvez, por motivos diferentes do que se poderia imaginar. Brevemente, esse artigo procurou mostrar que os números referentes a tropa de equídeos no Brasil não são muito confiáveis.
Neste momento, vale reproduzir parte do texto do citado Manual Técnico das Pesquisas Agropecuárias Municipais publicado pelo IBGE:
“Como obter os dados para a pesquisa quando não existem fontes de informações, como por exemplo, para equinos, galinhas, etc.? Esta é a principal dificuldade em pesquisas subjetivas. Se possível, consultar cadastros de produtores rurais. Nesta situação, o melhor a ser feito é evoluir os dados anteriores estimando-se a variação anual da sua população ou produção animal”.
O que a evolução positiva do efetivo de equinos mostrado na PPM indica é que as expectativas, as estimativas estão otimistas. Após tanto tempo de pandemia, com todo peso dos acontecimentos, apostar no crescimento é ótima notícia. As informações subjetivas guardam verdades na sua origem. A equinocultura está forte e crescendo. Esperamos um dia ter os números precisos para essa confirmação.
Leia também: Equideocultura pós pandemia COVID-19.