Qual o tamanho da equideocultura?

Qual o tamanho da equideocultura?

Saber o tamanho de uma população é uma informação essencial para poder elaborar políticas públicas e para tomada de decisão em investimentos. No caso dos equídeos (isto é, equinos, asininos e muares) não é diferente.

Imagine o diretor de uma fábrica de medicamentos veterinários tomando a decisão de quanto produzir ou definindo metas de vendas sem saber o tamanho do seu mercado. Ou o governo montando um programa de vacinação sem saber a quantidade de doses necessárias.

Os exemplos são intermináveis e justificam a importância desse dado. Entretanto, a resposta sobre qual é o tamanho da equideocultura no Brasil não é simples. Primeiro temos que entender o que já foi e o que está sendo feito para obter essa informação.

Os levantamentos oficiais do tamanho da equideocultura

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o órgão oficial de estatísticas populacionais. Com relação à pecuária, destacam-se o Censo Agropecuário e a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM).

O censo é uma pesquisa mais detalhada, na qual (em teoria) cada estabelecimento é visitado, são dezenas de milhares de recenseadores percorrendo todo Brasil, uma pesquisa de alto custo e por isso realizada esporadicamente (a última foi em 2017 e o anterior foi em 2006).

Equideocultura tamanho censo agropecuário
Os últimos censos agropecuários não apresentam números de equinos mais próximos da realidade do país.

Apesar de ser um trabalho sério, conduzido com muita técnica, é extremamente válido para algumas espécies (bovinos, por exemplo) mas imperfeita para outras, como com os equinos, asininos e muares. Isto porque, ao contrário de bovinos, os equídeos não necessariamente estão em estabelecimentos agropecuários.

cavalos em condomínios residências, nas ruas das cidades e diversas outras situações que escapam ao levantamento do censo. Isto faz com que os números de equídeos apresentados no Censo Agropecuário subestimem a realidade.

Números divergentes

Por exemplo, segundo o Censo Agropecuário não existe cavalos na baixada santista, onde existem hípicas e a tradição do jockey club de São Vicente.

Outro levantamento realizado pelo IBGE sobre o tamanho da equideocultura é a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM). Estre é mais barato e realizado anualmente, mas é subjetiva. Os estabelecimentos não são visitados.

A metodologia utilizada na PPM envolve consulta aqueles que consideram como sendo os principais atores e a partir das informações forma a estimativa da população.

Quando surgem novos dados, como resultado do Censo, as expectativas que forma a PPM costumam ser revistas em geral para baixo, ou seja, a PPM tende a superestimar a população.

Isso faz com que os números, ambos oficias e do IBGE, divirjam. Em 2017, segundo o Censo Agropecuário havia 4,2 milhões de cavalos no Brasil enquanto a PPM apontava a existência de 5,5 milhões de equinos. A figura a seguir ilustra essas diferenças.

Gráfico mostra a quantidade de cavalos existentes no Brasil
Censo Agropecuário aponta divergências sobre a quantidade de cavalos existem no Brasil.

Importante destacar que a PPM, desde 2013, não faz mais o levantamento do efetivo de asininos e muares.

O Estudo do agronegócio do cavalo e sua revisão

As cadeias agropecuárias relevantes economicamente possuem bons levantamentos estatísticos há muito tempo, mas até o início desse sáculo a equideocultura aparecia como exceção, com números desconhecidos.

Através de uma iniciativa da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), a ESALQ/USP realizou o Estudo do Agronegócio do Cavalo, buscando conhecer e dar transparência ao tamanho e valor da equideocultura.

Esse trabalho foi atualizado, a pedido da Câmara de Equideocultura do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) em 2016.

A partir dos resultados desses trabalhos, tem-se trabalhado com um valor intermediário entre o Censo Agropecuário e a PPM: considera-se que há 5 milhões de cavalos no Brasil e mais 2,3 milhões de asininos e muares, totalizando 7,3 milhões de equídeos.

Quando teremos o dado exato?

Saber quando poderemos contar com boas estatísticas sobre a equideocultura é uma questão de resposta impossível. Mas há fatos novos que permitem o otimismo.

A recente criação do Instituto Brasileiro de Equideocultura (IBEqui) permitiu o incentivo para a formação de um grupo de trabalho envolvendo profissionais de diversas instituições que está atualizando e expandindo o Estudo do Complexo Agropecuário do Cavalo, abrangendo também asininos e muares.

Os trabalhos ainda estão no início, mas permitem a expectativa que em breve teremos números mais confiáveis e atualizados.

Se os leitores e leitoras me permitirem arriscar um palpite, será encontrado um número menor que sete milhões de equídeos, talvez inferior a seis, mas com valor econômico maior que o de levantamentos anteriores. Vamos aguardar.

Veja nosso primeiro webstorie sobre: Raças de cavalo e suas características

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