Colheita mecanizada: como evitar perdas no processo

Colheita mecanizada: como evitar perdas no processo

A mecanização agrícola revolucionou o trabalho na lavoura ao facilitar a tarefa em diversas etapas, no plantio, tratos culturais e principalmente na colheita que é feita com maior rapidez.

Mas, o produtor deve ficar atento. O uso correto dos equipamentos proporciona perdas menores na colheita mecanizada e, consequentemente, a concretização do tão esperado lucro.

As operações de colheita mecanizada cresceram muito, principalmente nos últimos 15 anos, devido aos avanços tecnológicos, substituindo o trabalho manual que normalmente exigia um grande número de trabalhadores rurais e era realizada por um período bem maior, elevando o custo do serviço.

Estudos apontam que no caso do café, o custo da mecanização é entre 30 e 50% menor que o da colheita manual. Para a cana de açúcar, a colheita mecanizada gera uma economia por volta de 30%.

A regulagem do equipamento é de fundamental importância para que as perdas na colheita sejam evitadas. A má regulagem da colheitadeira representa 80% das perdas e apenas 20% ficam por conta do manejo errado das culturas.

Na colheita de soja por exemplo, as máquinas desreguladas podem ocasionar perdas expressivas, podendo variar em cerca de 2 a 3 sacas por hectare, enquanto que o aceitável pela Embrapa são perdas da ordem de 1 saca por hectare.

Planejamento da colheita mecanizada

Ao optar pela mecanização da colheita, o produtor deve ficar atento antes mesmo do plantio. É preciso que a área de cultivo esteja devidamente preparada e tenha sido planejada para realização desse tipo de tarefa.

Assim, o planejamento da colheita começa na escolha das sementes adequadas para o tipo de clima e terreno onde serão plantadas, além de considerar a disponibilidade de máquinas e silos. 

Máquina colhendo lavoura
Com a mecanização da lavoura, a colheita se torna mais rápida com expectativa de perdas menores.

Manter as máquinas e colheitadeiras sempre à disposição é outra maneira de garantir que não haverá perda de grãos, pois na hora de decidir colher, o trabalho já poderá começar.

Para que uma colheitadeira possa circular, por exemplo, é preciso que seja feita a limpeza do talhão. Pedras, tocos e outros obstáculos devem ser retirados do caminho. Desníveis bruscos, como buracos, devem ser devidamente corrigidos para evitar o risco de acidentes ou danos ao equipamento.

Outro fator importante para a utilização dos equipamentos que farão a colheita é planejar áreas de manobra, lembrando que as máquinas são grandes e precisam desse espaço sem prejudicar a lavoura. Fique atento também quanto ao espaçamento do plantio e ter atenção ao sentido dele para facilitar a atuação do operador.

Este planejamento prévio, é importante para evitar perdas durante a colheita mecanizada, já que depois do plantio não é possível mais fazer esses ajustes.

Exemplos de colheita mecanizada

O café e a cana-de-açúcar são dois exemplos de lavouras que tradicionalmente tinham colheita manual, mas que nos últimos anos passaram a ser mecanizadas.

No caso da cana, por exemplo, elimina a necessidade de queima (colheita de cana crua), além de deixar a palha no sistema. No Brasil, uma colhedora de cana é capaz de ter produção média de 700 a 1.000 toneladas por máquina/dia, com eficiência na colheita mecanizada. Para se ter uma ideia, substitui o trabalho de 100 homens.

Colhedora de cana trabalhando
A colheita mecanizada de cana substitui o trabalho de aproximadamente 100 homens.

Já em relação ao café, a colheita mecanizada vem crescendo ano a ano, como forma de redução dos custos, rapidez e maior rendimento. A colheitadeira de café faz o trabalho de aproximadamente 200 homens.

Mesmo com toda essa economia em mão de obra, ainda é necessário para o repasse, devido aos grãos que ficam no chão ou que sobram nos galhos podendo favorecer a proliferação da broca-do-café durante o período de entressafra, uma das principais pragas da cafeicultura mundial.

Café colhido em carreta com colheitadeira a fundo
A colheita mecanizada de café deve ser muito bem executada para evitar perdas no processo.

Já em outras lavouras onde a mecanização é tradicionalmente empregada, como a soja e o trigo, o produtor também deve ficar atento para evitar perdas com o uso inadequado dos equipamentos. No Brasil, estima-se que a redução dos desperdícios levaria a um ganho extra de R$ 440 milhões apenas para os produtores de soja.

A velocidade da colheitadeira é um exemplo. Os limites recomendados para a colheita da soja variam de 4 a 7 km/h. Velocidade excessiva pode comprometer a capacidade operacional do sistema de separação e limpeza, que não consegue processar toda a massa vegetal quando há um grande fluxo de material. Na prática, perdas significativas.

Cuidados para evitar perdas na colheita

Em todos os processos de colheita ocorrem perdas, independente da cultura, seja ela milho, café, soja, algodão, feijão, laranja ou outras. No Brasil, estima-se que em torno de 2 sacos por hectare deixem de ser efetivamente colhidos, ou seja, o dobro do tolerado pela Embrapa.

Com a mecanização da colheita, a expectativa é de que esse volume de perdas seja menor. A falta de uma regulagem correta da colheitadeira, como já vimos, assim como erros de ajustes no processo, como colher em condições erradas de velocidade, rotação e umidade da cultura podem prejudicar a colheita.

Portanto, para reduzir as perdas nesse processo, é importante ficar atento à alguns pontos. São eles:

Velocidade da operação

Para evitar maiores perdas na colheita, é importante ficar atento à velocidade em que a operação é realizada, visto que velocidades mais altas do que a recomendada são responsáveis por grandes perdas e desperdícios na colheita. A velocidade ideal na colheita de grãos normalmente varia entre 1,5 e 6 km/h. Porém, a velocidade correta deve ser definida em campo, pois dependerá das condições da área e da produtividade da cultura.

Máquinas fazendo a colheita lado a lado
A velocidade dos equipamentos é outro fator que pode acarretar perdas na colheita.

Cada talhão ou área deve ser tratado individualmente. O produtor deve ficar atento para não realizar operações com velocidades acima do indicado mesmo que algumas máquinas sejam mais velozes em função da maior capacidade de produto colhido, como as colhedoras axiais. A decisão de aumentar a velocidade não deve ser tomada com base na capacidade operacional da máquina (hectares/hora) e sim em função das perdas, para que estejam abaixo dos níveis tolerados.

Sistema de corte e alimentação

Pesquisas indicam que cerca de 70% das perdas na colheita de grãos ocorrem na fase de corte e alimentação. Deste total, aproximadamente 90% advém do molinete por ser a única peça que toca a planta fora da máquina.

Esse é o primeiro componente que deve ser verificado, ajustando-se altura, distância em relação ao caracol e inclinação dos dedos de acordo com o porte ou acamamento da cultura.

Altura do molinete

Recomenda-se ajustar o molinete de maneira que esse componente toque a cultura na parte superior, o mais alto possível.

Em caso de colheita de soja, por exemplo, a peça deve tocar o terço superior da planta. No caso do trigo, logo abaixo da espiga e para o arroz, logo abaixo da panícula. O molinete em altura excessiva pode causar o tombamento da cultura e em pouca altura, pode causar perdas por debulhamento e enrolamento da cultura.

Já a velocidade de rotação do molinete deve ser estabelecida com base no comportamento da cultura, de maneira que o produto caia imediatamente dentro da plataforma. Em suma, de maneira mais prática, ao observar a colhedora de perfil, o produtor deve ter a impressão de que o molinete está tracionando levemente a máquina. Em termos de números, a velocidade desse componente deve estar em uma velocidade 18 a 50% superior em relação à velocidade de operação da colheitadeira.

Barras de corte

A altura da barra de corte deve estar ajustada para que fique o mais próximo possível do solo em caso de colheita de soja ou em altura suficiente para colher os grãos mais baixos, mas tomando o cuidado necessário para que não carregue excesso de palha para dentro da máquina.

Altura do caracol

A regulagem do componente conhecido como caracol ou “sem fim” de ser feita de forma que o produto colhido seja levado de maneira uniforme ao condutor longitudinal. A altura dessa peça deve variar conforme o tipo da cultura e do volume colhido. Alturas excessivas causam debulha prévia por conta da má alimentação da plataforma.

Ajuste da esteira transportadora

A esteira transportadora deve ser ajustada em seu posicionamento e tensão, buscando melhor fluxo, sem debulha ou sobrecarga para o cilindro. Esse é o principal componente de regulagem do canal alimentador.

Unidade de trilha

Realizar a regulagem entre o cilindro e o côncavo é essencial para reduzir danos nos grãos e perdas na colheita. Para soja e arroz, a abertura entre esse componentes deve ser a maior possível de maneira a evitar as perdas e permitindo a trilha de todo material colhido.

Já para o milho, essa regulagem é feita conforme o diâmetro médio das espigas do milho colhido, de forma que o grão possa ser debulhado sem ser quebrado. Outro fator importante de regulagem é a proporção de abertura, que recomenda-se ser de 2:1, ou seja, a dimensão de entrada deve ter o dobro da saída. O ajuste deve ser feito de acordo com a marca e modelo da máquina.

Em relação ao ajuste da rotação, recomenda-se seguir o manual do operador, observando o tipo de grão e condições de umidade.

Unidade de separação e limpeza

Os ajustes em máquinas convencionais devem ser realizados em relação à extensão do côncavo, à posição de inclinação da primeira cortina defletora, ao material da cortina, ao número de cortinas da máquina e à velocidade de rotação do batedor traseiro.

Já em colhedoras axiais, os ajustes dependerão da marca e do modelo da máquina, já que existe uma grande diferença entre os componentes de cada marca. Porém, como regra geral, recomenda-se verificar os desgastes das barras de raspagem, gengivas, côncavos, batedores e rolamentos do eixo.

As peneiras devem ser reguladas de maneira que tenham a menor abertura possível e a rotação dos ventiladores deve ser a maior possível.

Atenção às condições climáticas

Rajadas fortes de vento e chuva, por exemplo, podem fazer com que muitos grãos caiam no solo e sejam perdidos. Além disso, aumentará a umidade dos grãos, o que diminui a sua qualidade, com possível aparecimento de fungos, aumentando os custos de produção com secagem e armazenamento da produção.

Escolha do equipamento

É preciso escolher a máquina certa para a sua lavoura é fundamental nos resultados da safra. Leve em conta o tamanho da área de plantio, tipo de produção e o tempo disponível para completar a colheita.

Colhedora em campo de trigo em operação
Invista em colhedoras adequadas ao tipo de cultura cultivada em sua propriedade.

Manutenção da colheitadeira

Certifique-se de realizar as manutenções e regulagens com frequência. Como citamos acima, cuidados com a velocidade e manutenção periódica das colheitadeiras são fundamentais. Além de todas as regulagens, é importante lubrificar e manter todos os componentes limpos para cada safra;

Investir em treinamentos

Uma boa colheita é sustentada pelo tripé: planta, máquina e operador. O responsável por conduzir o equipamento deve estar bem capacitado para essa função, ou seja, conhecer os detalhes do maquinário, como corte, alimentação, limpeza e descarga.

Conclusão

Diante de tudo que vimos fica claro que optar pela colheita mecanizada, faz bastante sentido, principalmente quando a área de cultivo é maior, no entanto, deve-se planejar bem e estar atento a pontos importantes para evitar perdas com este processo.

Seguir as recomendações de regulagens, ficar atento às condições climáticas, escolher o equipamento adequado, garantir que as manutenções da máquina estejam sempre em dia e investir em treinamentos, serão pontos chave para minimizar as perdas na colheita.

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