Por Murilo Caldeira
A entrevistada de hoje, Bruna Brandini, é bacharel em Gestão Ambiental e Engenharia Ambiental pela Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID). Mestranda em Cidades Inteligentes e Sustentáveis pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) com linha de pesquisa na área de Construções Sustentáveis.
Engenheira Ambiental na empresa Pegada + Leve Processos, onde atua na elaboração de projetos sustentáveis e é especialista em aquaponia e hidroponia.
Na foto acima, Bruna estava a realizar o curso de Introdução à Aquaponia, pela ONG Reciclázaro (https://www.reciclazaro.org.br).
Por que você decidiu trabalhar com gestão ambiental e, posteriormente, engenharia ambiental? E como você acabou se interessando pela aquaponia?
Sempre tive uma conexão muito forte com o meio ambiente, acho que pelo incentivo que sempre tive de meus pais em preservar as florestas e os recursos naturais, e também sempre quis fazer algo de bom pelo mundo, pelas pessoas.
Durante as pesquisas sobre á área de meio ambiente, encontrei em ambas as profissões o conceito “triple bottom line” e isso acabou me incentivando ainda mais a trabalhar na área.
Atualmente direciono meus trabalhos exclusivamente a estes três pilares: o social, o ambiental e o econômico, por meio de projetos ligados principalmente ao direito à alimentação saudável e ao acesso ao tratamento de esgoto, que são problemas atuais e que se não feito algo agora, tendem a piorar.
A aquaponia surgiu em minha vida em 2015, em uma conversa com um amigo biólogo, Adriano Guedes. Ele já tinha um sistema de aquaponia residencial e assim que conheci o processo já iniciei o meu próprio sistema, imaginando como uma parte difícil da minha vida poderia ter sido diferente se eu tivesse um sistema
econômico que me fornecesse alimento mesmo que esporadicamente.
Logo já iniciei pesquisas para tentar ajudar as pessoas de baixa renda a terem acesso à alimento de qualidade.
Na graduação, lhe foram apresentados os temas com os quais você trabalha atualmente, como a aquaponia e a hidroponia?
Na graduação obtive um panorama sobre assuntos ligados com o meio ambiente, já que há uma infinidade de temas que podem ser discutidos e melhorados.
No entanto, como dito anteriormente, meu coração está ligado a problemas sociais, portanto optei por direcionar minhas pesquisas ao tratamento de esgoto e posteriormente conheci a aquaponia e a hidroponia, mas gostaria que estes temas fossem abordados em salas de aula, pois por muitas vezes, como estudante, não conseguimos enxergar de maneira prática o que estamos estudando e com esses métodos e ferramentas é possível entender problemas relacionados à sustentabilidade, química, geologia, entre outras áreas.
O que é a aquaponia? Qual a contribuição dela para com a sustentabilidade?
As pessoas e os produtores vêm aderindo a essa técnica?
A aquaponia é um método de cultivo que integra a Piscicultura e a Hidroponia. Neste sistema os dejetos dos peixes são transformados por meio de processos biológicos, em nutrientes para hortaliças e plantas, onde o processo de crescimento é mais rápido e utiliza até 80% menos água se comparado com o cultivo tradicional (no solo).
Este método pode ser implantando em diversos espaços e até parcialmente suspensos em paredes, a única perda de água que existe é por meio da evaporação.
Portanto, além da produção ser orgânica, ele economiza água, não gera resíduo e devido a sua implantação ser possível em diversos espaços pode diminuir o espaço entre o consumidor e o alimento podendo ser considerado crucial para o futuro da sustentabilidade em cidades inteligentes.
Atualmente o método é pouco utilizado, mas já houve um grande avanço nos últimos anos devido principalmente ao fácil acesso a informação por meio da internet e de redes de comunicação.
Você percebe a predominância de homens em algum setor com o qual você
trabalha ou já trabalhou?
Só não vi a predominância de homens realizando os serviços domésticos, nos demais, eles ainda são maioria. Particularmente acho que nós, mulheres, precisamos trabalhar o triplo que os homens para sermos reconhecidas da mesma maneira ou receber a mesma remuneração, isso se referindo a ambos os gêneros em um mesmo cargo.
O que lhe motiva a trabalhar nessa área?
Os projetos que realizo são responsáveis pelo meu sustento. Infelizmente, ainda não tenho a capacidade de realizar serviços não remunerados, mas todos eles são reconhecidos e muitas vezes multiplicados em vários lugares e isso faz com que meu trabalho não seja realizado somente pela remuneração, mas também realizado pelo mundo, pelo próximo, e não existe nada mais motivador que isso.
O que você aconselharia às mulheres que estão ingressando nesse novo mercado?
Devido o aumento na procura de projetos relacionados à sustentabilidade, houve um crescimento no ramo de fazendas urbanas, e como a aquaponia é um sistema de cultivo que pode ser considerado um dos mais sustentáveis entre os demais, o interesse por ele vem aumentando gradativamente.
Mas para quem pretende ingressar nessa área é preciso ter muita paciência e se programar financeiramente, pois o retorno financeiro é tardio, apesar de ser um trabalho muito prazeroso de executar, além de possuir infinitas oportunidades de pesquisa.
Você tem algo que gostaria de acrescentar?
Gostaria de deixar um recado para as pessoas que se formaram recentemente como engenheiros ambientais: Infelizmente a nossa profissão não é tão valorizada como nos disseram ao iniciarmos o curso de graduação.
Como muitos devem ter escutado, essa seria a “profissão do futuro”, mas todas as profissões tendem a sofrer alterações com o decorrer do tempo. Um dia, espero que não muito tarde, este futuro chegará. Até lá, reinvente-se, estude, pesquise e se prepare para ele.
Indico também a pesquisa por patentes, há muitas ideias boas esperando para serem utilizadas no meio ambiente e no meio social.