O Sistema Plantio Direto (SPD) é o elemento central da agricultura conservacionista, que tem como foco a sustentabilidade do sistema de produção, sendo embasado por três princípios:
- Semeadura direta de culturas com o mínimo de revolvimento do solo;
- Cobertura permanente do solo por restos culturais ou culturas de cobertura (palhada);
- Rotação de culturas (auxilia no controle de pragas, doenças e plantas daninhas).
No SPD, o controle inicial de plantas daninhas é realizado com aplicação de herbicidas dessecantes em pré-plantio. Na sequência, faz-se aplicações de herbicidas pré-emergentes e/ou pós-emergentes, que também são utilizados no preparo convencional do solo (LANDERS, 2001).
Para a utilização de qualquer herbicida, deve seguir orientações de um engenheiro agrônomo, para que ocorra de forma correta.
Para se ter um bom desenvolvimento inicial da cultura, é importante que a semeadura seja feita com a área livre de plantas daninhas e evitar a mato interferência inicial.
Há algumas estratégias no manejo de plantas daninhas que oferece vantagem competitiva para a cultura, até o estádio em que a própria cultura controla novos fluxos de emergência de plantas daninhas. As estratégias são:
- Associação de herbicidas com efeito residual no solo ao herbicida dessecante aplicado em pré-semeadura;
- Aplicação sequencial de herbicidas com efeito residual no solo após a aplicação do herbicida dessecante.
Para que possa realizar as operações de forma segura, sem contaminação ambiental ou fitointoxicação da cultura, é importante conhecer as características do herbicida, o tipo de solo, as espécies de plantas daninhas presentes na área e a cultura a ser instalada.
Dinâmica de herbicidas em palhada
Quando se aplica herbicida sobre a palhada, a principal preocupação é de perda da eficiência de controle das plantas daninhas, pois a pulverização não está atingindo diretamente o alvo (planta daninha).
Para que o controle seja eficaz, é necessário que o herbicida ultrapasse a palhada e entre em contato com as sementes de plantas daninhas que estão germinando.
Como ocorre o transporte do herbicida da palhada para o solo?
O tempo em que o herbicida permanecer sobre a palhada, está passível de processos de degradação da molécula por volatilização ou fotodecomposição.
Dessa forma, é imprescindível que o herbicida seja transportado da palhada para o solo. Para que isso ocorra, é necessário a convergência de dois fatores:
- Herbicida com características físico-químicas que facilita a passagem do herbicida da palhada para o solo;
- Ocorrência de precipitações (chuvas) após a aplicação.
Os herbicidas com maior facilidade em transpor a palhada são os com maior solubilidade em água (acima de 151 ppm) e menor coeficiente de partição octanol-água (Kow) (CHRISTOFOLETTI et al., 2009).
Esta propriedade refere-se à afinidade que o herbicida tem com a fase polar (água) e apolar (octanol), quanto menor o Kow maior é a afinidade com a água (Kow< 10), mais facilmente o herbicida chegará ao solo.
O veículo de transposição do herbicida da palhada para o solo, é a água. Portanto, o herbicida utilizado deve ter afinidade com a água para que ele possa atingir o solo no momento da precipitação e efetuar o controle das plantas daninhas.
Em pesquisas realizadas por Freitas e Silva (2016), mostra a passagem do herbicida sulfentrazone pela palhada de sorgo, milheto e braquiária em função de chuvas de 40 mm e 60 mm. O sulfentrazone foi pulverizado de forma sequencial ao herbicida glifosato e em mistura com o herbicida glifosato.
Quantidade máxima extraída do herbicida sulfentrazone (ng cm-2) após chuvas de 40 e 60 mm na palha de sorgo (A), milheto (B) e braquiária (C).
Diferentes letras maiúsculas indicam diferenças significativas entre os grupos e diferentes letras minúsculas indicam diferenças significativas dentro do mesmo grupo, pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.Fonte: Freitas e Silva (2016).
Por quanto tempo esses herbicidas controlam as plantas daninhas?
Vale ressaltar que os herbicidas aplicados sobre a palhada, são pré-emergentes, portanto, tem efeito quando estão no solo úmido para que ele possa controlar as sementes de plantas daninhas em processo de germinação.
Como o objetivo é dar vantagem competitiva para a cultura desenvolver na área, esses herbicidas pré-emergentes são conhecidos como herbicidas com efeito residual no solo.
O tempo que esses herbicidas permanecerão ativos no solo depende de vários fatores, como condições climáticas, características do solo e o valor de meia-vida da molécula herbicida.
A meia-vida é definida como o tempo necessário para que ocorra 50% de dissipação da quantidade inicial aplicada do herbicida (SILVA; SILVA, 2007), portanto, é o tempo em que o herbicida controla as plantas daninhas.
Cada herbicida tem seu valor de meia-vida.Por exemplo, o diclosulam varia entre 22 a 43 dias (RODRIGUES; ALMEIDA, 2018) e o sulfentrazone varia entre 110 a 280 dias (VIVIAN et al., 2006), sendo dois herbicidas utilizados em SPD.
Há necessidade de aplicação de herbicidas pós-emergentes?
Depende!
Depende da cultura instalada, das espécies de plantas presentes na área, do clima, das características do solo e do herbicida.
O importante é mantar algum tipo de controle de plantas daninhas até o momento em que a cultura feche as entrelinhas de plantio. A partir desse momento, a própria cultura controla novos fluxos de emergência de plantas daninhas.
Portanto, pode haver a necessidade de realizar aplicações em pós-emergência, sendo imprescindível a recomendação de um engenheiro agrônomo.
Os herbicidas com efeito residual são seguros ao meio ambiente?
Para um herbicida ser registrado, deve ser avaliado e aprovado pelo Ministério da Agricultura quanto à eficiência agronômica, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) quanto a segurança ambiental e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto aos efeitos na saúde humana, cada órgão tem autonomia em seu trabalho (MAPA, 2019).
Quando um herbicida é lançado no mercado, ele foi avaliado e aprovado perante a eficiência agronômica, segurança ambiental e à saúde humana, desse modo, são seguros!
Por que existe contaminação ambiental de herbicidas?
A principal causa de contaminação ambiental está no uso inadequado dos herbicidas.
Deve-se levar em consideração as orientações de um profissional qualificado na área, como os engenheiros agrônomos, e seguir as informações contidas na bula do produto, para que se possa ter a máximo proteção tanto ambiental como humana.
Referências Bibliográficas:
CHRISTOFFOLETI, P. J. et al. Comportamento dos herbicidas aplicados ao solo na cultura da cana-de-açúcar. CP, Piracicaba, v. 2, 2009.
FREITAS E SILVA, I. P. Comportamento dos herbicidas sulfentrazone e diclosulam em diferentes manejos de culturas de cobertura. 2016. 102 f. Tese (Doutorado) – Curso de Doutorado, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Ciências Agronômicas (Campus de Botucatu), Botucatu, 2016.
LANDERS, J. N. Zero tillagedevelopment in tropical Brazil. Roma: FAO, 2001. Disponível em: http://www.fao.org/3/Y2638E/y2638e00.htm#toc. Acesso em: 10 ago. 2021.
MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Esclarecimentos sobre Registros de Defensivos Agrícolas. 2019. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/esclarecimentos-sobre-registros-de-defensivos-agricolas. Acesso em: 13 ago. 2021.
RODRIGUES, B. N.; ALMEIDA, F. S. Guia de herbicidas. 7. ed. Londrina: Edição dos Autores, 2018. 764 p.
SILVA, A. A.; SILVA, J. F. Tópicos em manejo de plantas daninhas. Viçosa: UFV, 2007. 367 p.
VIVIAN, R. et al. Persistência de sulfentrazone em Argissolo Vermelho-Amarelo cultivado com cana-de-açúcar. Planta Daninha, Viçosa, v. 24, n. 4, p. 741-750, 2006.