Tecnologia de aplicação: mistura de produtos em tanque de pulverização

Tecnologia de aplicação: mistura de produtos em tanque de pulverização

A pulverização é uma técnica muito comum na agricultura que tem por objetivo a aplicação de insumos como herbicidas, fungicidas, inseticidas e fertilizantes. A eficácia dessa operação depende de vários fatores, como a correta mistura de produtos no tanque de pulverização, por exemplo.

Realizar uma mistura adequada é essencial para garantir que o produto cumpra sua função da melhor maneira possível, não perca seu princípio ativo ou mesmo para que não haja problemas de fitotoxicidade nas plantas.

Neste texto iremos abordar:

  • A importância da pulverização agrícola;
  • O que é mistura em tanque;
  • Os efeitos de mistura em tanque;
  • Tipos de incompatibilidade de misturas;
  • Ordem correta de adição de produtos em tanque;
  • Teste da garrafa;
  • Cuidados no momento do preparo da calda.

Confira!

Importância da pulverização agrícola

A pulverização é uma operação fundamental na agricultura, visto que serve para eliminar ou reduzir a incidência de pragas e doenças nas lavouras ou até mesmo para aplicar fertilizantes líquidos. Essa técnica é realizada por meio de pulverizadores que garantem uma distribuição uniforme dos produtos aplicados.

Pulverizador autopropelido em operação
A pulverização agrícola visa a distribuição de defensivos como herbicidas, fungicidas e inseticidas e também de fertilizantes líquidos.

O que são misturas em tanque?

Mistura em tanque é a prática de utilização de mais de um produto fitossanitário e/ou fertilizante foliar no tanque de pulverização, diluídos em água imediatamente antes do momento da aplicação.

Essa técnica é considerada uma forma de diminuir o uso de água, reduzir custos operacionais e a exposição do operador aos produtos, além de minimizar os riscos de compactação do solo, já que as máquinas circulam menos na área. Com a mistura em tanque é possível realizar o manejo de diferentes alvos biológicos e de difícil controle, por meio da qual a associação reduz as doses necessárias, observando os limites recomendados pelo fabricante.

Um estudo realizado pela Embrapa em 17 estados do Brasil constatou que 97% dos entrevistados realizam misturas em tanques e que 95% variam entre dois e cinco produtos na mistura. Na maioria dos casos, os produtores utilizam a dose cheia, ou seja, as doses constantes nos rótulos dos produtos.

Porém, para a realização da operação de aplicação de defensivos, é necessário seguir algumas recomendações de ordem de mistura no tanque, além de observar as regras relativas aos receituários agronômicos, com a prescrição do uso de defensivos. Essa prescrição, emitida por um engenheiro agrônomo responsável, é obrigatória para a aquisição desses produtos.

Em 2018, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) lançou a Instrução Normativa (IN) 40 que estabelece algumas regras, determinando que os engenheiros agrônomos sejam responsáveis pela emissão dos receituários agronômicos, seguindo as recomendações oficiais. Determina também que as informações de rótulos e bulas de defensivos agrícolas e afins registrados, relativas às misturas em tanque, quando existentes, devem obrigatoriamente constar no receituário agronômico.

Engenheiro agrônomo agachado em campo de soja com galão de defensivo agrícola em mãos
É obrigatória a informação de rótulos e bulas de defensivos agrícolas e afins registrados, relativa à misturas em tanque.

A IN 40 determina ainda, entre outros aspectos, que a receita específica para cada problema ou cultura deve conter o nome do produto comercial a ser utilizado. De acordo com a instrução, as misturas são permitidas desde que haja recomendação técnica, podendo ser realizada apenas por profissional capacitado.

Dessa forma, cabe aos engenheiros agrônomos receitarem a aplicação combinada de diferentes produtos. As informações sobre possíveis incompatibilidades do produto deverão ser dispostas em um campo específico do receituário, considerando o contexto da recomendação. Deve-se também informar a cultura e a área onde os defensivos serão aplicados e as advertências específicas em relação ao intervalo de segurança e à colheita dos produtos.

Leia também: Como realizar uma pulverização de qualidade.

Efeitos de mistura em tanque

As misturas de produtos em tanque podem resultar basicamente em três efeitos:

  • Efeito aditivo: o efeito da aplicação se torna semelhante à aplicação dos produtos quando feitas individualmente, ou seja, um produto não interfere na ação do outro;
  • Efeito sinérgico: o efeito da aplicação da mistura se torna superior em comparação com a aplicação dos produtos de forma individual, ou seja, um produto melhora a eficácia do outro;
  • Efeito antagônico: o efeito da aplicação da mistura será inferior se comparado à aplicação individual dos produtos, ou seja, um produto piora a eficácia do outro.

Tipos de incompatibilidade de mistura em tanque

Realizar mistura com produtos não recomendados pode causar alguns tipos de incompatibilidade. Misturas incompatíveis são aquelas que apresentam propriedades indesejadas, podendo comprometer a aplicação e a eficácia dos produtos.

Essas incompatibilidades representam desperdícios de produto, tempo e dinheiro, visto que não apresentará a eficácia necessária no controle, podendo, inclusive, prejudicar a cultura. São elas:

  • Incompatibilidade agronômica: as formulações químicas divergem quanto ao momento indicado para aplicação;
  • Incompatibilidade química: é causada, por exemplo, pela alteração significativa do pH da calda, provocando reações entre seus componentes;
  • Incompatibilidade biológica: provocam fitotoxidez na cultura tratada;
  • Incompatibilidade física: podem formar aglomerados, causar modificação da viscosidade e formação de grumos.

Como mencionamos, essas incompatibilidades podem trazer, além da alteração das características do produto na mistura, prejuízos e danos à cultura.

Assista no vídeo abaixo dicas para evitar incompatibilidade:

Fonte: AgroBrasil.

Confira também: Tipos de bicos para pulverização e indicações.

Ordem de mistura em tanque e teste da garrafa

Assim que os produtos forem definidos pelo engenheiro agrônomo responsável, deve-se considerar a ordem correta da adição em tanque para minimizar possíveis riscos de incompatibilidade.

Ordem de mistura

Existe uma indicação de ordem para adição dos produtos na mistura da calda:

  1. Encher o tanque em até 2/3 com água;
  2. Ligar o agitador do tanque e manter até o final;
  3. Adicionar condicionadores de água (sequestrantes, acidificantes e tamponantes), agentes redutores de deriva, agentes antiespumantes e de compatibilidade caso necessário;
  4. Acrescentar os pós molháveis (WP);
  5. Adicionar os granulados, granulados dispersíveis em água (WG) e granulados solúveis em água (SG). Recomenda-se realizar a pré-mistura quando indicado na bula;
  6. Adicionar as suspensões concentradas (SC);
  7. Acrescentar as concentradas solúveis (SL);
  8. Adicionar os concentrados emulsionáveis (EC);
  9. Caso necessário, adicionar os demais adjuvantes;
  10. Acrescentar os fertilizantes foliares (caso a adição seja necessária);
  11. Adicionar o restante de água necessária.

Os óleos serão misturados sempre com os concentrados emulsionáveis (ECs) antes de serem adicionados ao tanque.

Teste da garrafa

Uma forma de validar a mistura é observar se existe algum tipo de incompatibilidade entre os produtos que serão adicionados, realizando um teste prévio da mistura. Para isso, faça o teste da garrafa:

  • Utilize um recipiente de 1 litro para o preparo da calda, adicionando 2/3 de volume de água. Recomenda-se utilizar a mesma fonte de água que será usada na preparação da calda no pulverizador;
  • Adicione os condicionadores de água, agente redutor de deriva, antiespumante e de compatibilidade. Use as formulações e o volume de calda nas mesmas proporções que serão utilizadas na pulverização;
  • Acrescente os produtos conforme a ordem de mistura mencionada no tópico acima;
  • Deixe repousar por alguns minutos e faça uma análise visual da calda;
  • Passe a mistura por uma peneira com abertura similar à utilizada na parte anterior do bico de pulverização.

Após o teste, analise as condições da mistura e siga as recomendações a seguir:

Tabela de estabilidade das misturas entre as diferentes classes de defensivos agrícolas
Com base em uma análise visual da mistura, é possível determinar se há ou não incompatibilidades entre os produtos testados.

Cuidados no momento do preparo da calda

Antes de realizar o preparo da calda, o operador deve seguir alguns cuidados para evitar que haja intoxicação e outros acidentes durante o processo:

  • Utilize Equipamentos de Proteção Individual (EPI);
  • Realize o preparo da calda em local aberto, sombreado e com boa ventilação;
  • Não entre em contato direto com os produtos;
  • Evite períodos de altas temperaturas ou condições climáticas adversas, como chuvas e ventos fortes;
  • Para o preparo da mistura, utilize materiais específicos, como copos graduados, balanças e baldes;
  • Faça a verificação do pH e realize a correção, caso seja necessário;
  • Informe-se sobre a compatibilidade dos produtos;
  • Ao final do manuseio dos produtos, feche todas as embalagens e armazene-as corretamente.

Além desses pontos, recomenda-se observar também outros aspectos para evitar problemas de incompatibilidade:

  • Qualidade da água: é importante que o produtor observe a qualidade da água utilizada na pulverização, visto que existem características que podem influenciar negativamente a qualidade dos produtos. Características como dureza da água, pH, turbidez e materiais em suspensão podem comprometer a mistura;
  • Data de validade de cada formulação: verifique a data de validade dos produtos a serem utilizados. Produtos vencidos tornam-se inviáveis para aplicação, sendo proibida sua utilização;
  • Dimensionamento de agitação da calda: a calda deve estar em agitação constante desde o início do preparo até durante a aplicação. Caso contrário, os produtos podem não se dissolver completamente, causando deposição de resíduos no fundo do tanque. Por outro lado, uma agitação acima do recomendado pode causar problemas como a produção de espuma e, caso haja emulsões na mistura, pode ocorrer a incidência de aglomerados pela desestabilização entre surfactantes e ingredientes ativos;
  • Temperatura: a temperatura pode influenciar diretamente na velocidade de dispersão e dissolução dos produtos da mistura, visto que, geralmente, esses processos ocorrem mais rapidamente em água com temperatura mais alta. É muito comum que ocorra incompatibilidade de produtos nas estações mais frias do ano, devido à mudança de temperatura da água. Algumas formulações precisam de um tempo maior para se dissolverem;
  • Taxa de aplicação: a alteração na taxa de aplicação ou do volume da calda altera também a quantidade de água utilizada na mistura e a concentração dos produtos, podendo, dessa maneira, afetar sua solubilidade;
  • Tempo de armazenamento: recomenda-se que a mistura seja aplicada imediatamente após seu preparo. Um longo tempo de armazenamento pode comprometer a eficácia dos ingredientes ativos dos produtos na mistura, já que ficam sujeitos à degradação pelo processo de hidrólise em que o pH exerce alta influência.
Barra de pulverizador aplicando produto em lavoura
A eficácia da pulverização depende de fatores como qualidade da água, dimensionamento de agitação da calda, temperatura, entre outros.

Veja também: Deriva na pulverização: veja como evitar.

Conclusão

Como vimos, a pulverização é uma etapa muito importante no manejo agrícola. Para realizar uma aplicação de defensivos de qualidade com maior eficiência, além de observar questões como qualidade da água, produto utilizado, alvo, momento, clima, equipamento e tamanho de gota, é preciso analisar as necessidades da cultura e ter a recomendação de um engenheiro agrônomo a respeito dos produtos que devem ser utilizados em forma de receituário agronômico, inclusive em casos de mistura.

Ademais, a preparação adequada das misturas em tanque também é fundamental. A seleção cuidadosa de produtos, evitando riscos de incompatibilidade agronômica, química, biológica ou física, somada à ordem correta de adição e agitação adequada, aumentam significativamente a eficácia da aplicação, atingindo o alvo de maneira esperada.

Gostou de saber dessas informações sobre as misturas em tanque de pulverização? Aproveite e leia também nosso artigo sobre pulverização eletrostática. Boa leitura!