Trapoeraba: conheça essa planta daninha e seus prejuízos às lavouras

Trapoeraba: conheça essa planta daninha e seus prejuízos às lavouras

A trapoeraba é uma planta daninha invasora de difícil controle, classificada entre as piores do mundo. Além de afetar o crescimento de outras culturas ao competir por recursos, também atua como hospedeira intermediária de pragas, causando prejuízos significativos para os agricultores.

Neste artigo, serão discutidos os principais aspectos da trapoeraba, as espécies mais comuns no Brasil, as razões por trás de sua resistência ao controle, os danos que causa e, por fim, métodos de controle. Boa leitura!

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Aspectos gerais da trapoeraba

A trapoeraba (Commelia benghalensis L.) pertence à família Commelinaceae e é muito comum em regiões de clima tropical e subtropical, podendo ser encontrada em praticamente todas as regiões do Brasil. Essa espécie é originária da Ásia e está entre as piores plantas daninhas do mundo.

Trata-se de uma planta perene, herbácea e prostrada (cobre o solo), que apresenta desenvolvimento rápido em regiões com temperatura e umidade suficientes. Seu brotamento se dá através dos ramos e a sua reprodução por meio de sementes aéreas e subterrâneas – que se formam no rizoma – principal característica que a difere das outras espécies.

Sistema subterrâneo da trapoeraba (C. benghalens), com destaque para as sementes subterrâneas, principal característica da espécie
Sistema subterrâneo de C. benghalensis. Fonte: Penckowski, Luis Henrique.

Suas folhas apresentam formato ovalado com o ápice agudo e bainha na parte inferior que envolve o ramo. O caule é cilíndrico, carnoso e dividido em nós, onde ocorrem os enraizamentos. As inflorescências são pequenas, com 3 pétalas de coloração azul a lilás, contendo uma menor de cor esbranquiçada e bordas azuladas ou lilases.

Já as sementes variam entre as cores cinza e marrom e, conforme já mencionamos, podem ser aéreas ou subterrâneas, sendo estas últimas maiores.

São plantas altamente agressivas que prejudicam o crescimento de inúmeras culturas devido à competição por nutrientes, luz e água, bem como pelo efeito alelopático resultante da exsudação de determinadas substâncias. Além disso, também são hospedeiras intermediárias do nematoide Meloidogyne incognita (nematoide das galhas) que atinge várias culturas, e do vírus do mosaico do amendoim.

A principal cultura afetada pela trapoeraba é a soja, pois a sua presença dificulta a colheita mecânica e aumenta o teor de água dos grãos e sementes colhidos, além dos danos mencionados anteriormente.

Área de plantio com a presença de trapoeraba, planta daninha de folhas verdes e flor lilás
A trapoeraba é uma planta daninha de difícil controle e muito resistente, mesmo em longos períodos de estiagem.

Geralmente, desenvolvem-se em solos argilosos, movimentados – áreas cultivadas com culturas anuais – e locais úmidos. No entanto, são bastante resistentes a períodos de estiagem, reagindo rapidamente à menor disponibilidade de água, murchando suas folhas e enrolando-as parcialmente. A pouca luminosidade também não representa problema pra espécie, apesar de diminuir ou estacionar o crescimento da planta.

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Principais espécies no Brasil

Quatro espécies de trapoerabas são comumente encontradas no Brasil e são identificadas como: Commelina benghalensis, Commelina villosa, Commelina diffusa e Commelina erecta. Essas espécies podem, inclusive, coexistir na mesma região ao mesmo tempo.

Confira cada uma delas:

  • Commelina benghalensis: é a espécie mais conhecida em nosso país. Ocorre em áreas cultivadas de soja, milho, trigo, amendoim, arroz, algodão, cana-de-açúcar e em campos de produção de sementes de Brachiaria brizantha, B. decumbens e Panicum maximum. Prefere solos argilosos, úmidos e movimentados. Seu caule é prostrado, verde-claro a verde-escuro, com folhas oblongas e até 2 flores abertas. É a única das espécies que possui sementes subterrâneas;
  • Commelina diffusa: é encontrada em lavouras comerciais de soja, milho e feijão, especialmente no Norte do Paraná. Apresenta caule prostrado, verde-escuro e por vezes avermelhado, folhas elípticas estreitas, verde-escuras e com manchas avermelhadas na bainha, pecíolo da folha presente e até 2 flores abertas na espata com 3 pétalas expandidas;
Comparativo entre flores de quatro espécies de trapoeraba. Todas são lilases, diferenciando-se pelo número de pétalas ou tamanho
Flores de Commelina benghalensis (1), Commelina villosa (2), Commelina diffusa (3) e Commelina erecta (4). Fonte: Embrapa.
  • Commelina erecta: essa espécie raramente ocorre em terrenos cultiváveis no Brasil, no entanto é amplamente distribuída em áreas urbanas como planta invasora. Possui caule ereto de coloração verde-escura, podendo apresentar manchas vermelhas. As folhas são verde-escuras, com formato elíptico estreito e apresentam apenas uma flor estreita na espata com 2 pétalas expandidas;
  • Commelina villosa: dentre as quatro espécies, é a que apresenta maior dificuldade de controle, tornando-se um grande problema nos sistemas agrícolas. A espécie não apresenta flores subterrâneas, tem caule ereto e verde-escuro, podendo apresentar manchas vermelhas na base, próxima ao solo. Suas folhas são oblongas estreitas e verde-escuras, com possibilidade de ocorrência de manchas vermelhas no dorso. Apresenta até 2 flores abertas na espátula com apenas 2 pétalas expandidas. Por fim, ao contrário das demais espécies, não apresenta pecíolo na folha.
Ápices caulinares de quatro espécies de trapoeraba lado a lado, comparando as suas estruturas
Ápices caulinares de: a. Commelina benghalensis, b. Commelina villosa, c. Commelina diffusa e d. Commelina erecta. Fonte: Embrapa.

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Trapoeraba: por que é difícil seu controle?

Os principais fatores que fazem da trapoeraba uma planta de difícil controle são:

  • A sua habilidade de reproduzir por vários tipos de sementes;
  • Facilidade de enraizar os nós;
  • Habilidade de manter-se viva por várias semanas até que as condições sejam propícias para o seu desenvolvimento.

Conforme mencionamos anteriormente, a Commelina benghalensis, além de produzir sementes aéreas, produz também as subterrâneas, sendo quatro os tipos de sementes produzidas por essa planta: aéreas grandes, aéreas pequenas, subterrâneas grandes e subterrâneas pequenas. Essas sementes diferem entre si não só pelo tamanho, mas também pelo peso, grau de viabilidade, dormência e profundidade (as aéreas emergem a uma profundidade de até 2 cm e as subterrâneas emergem de até 12 cm).

Por apresentarem períodos variados de dormência, há uma dispersão temporal na germinação, possibilitando o aparecimento de plantas em diferentes épocas do ciclo de cultivo. Assim, essas sementes acumulam-se no solo, principalmente a uma profundidade de 0 a 12 cm, o que explica o seu ressurgimento mesmo após o preparo do solo. Com essa grande facilidade de dispersão, torna-se ainda mais difícil o controle dessa planta daninha.

Prejuízos causados pela trapoeraba

A trapoeraba apresenta dois tipos de danos: o direto e o indireto. O direto se dá em razão da competição por nutrientes, luz e água com outras culturas, já o indireto é causado por assumirem o papel de hospedeiras intermediária de pragas. A C. benghalensis é reservatório do nematoide Meloidogyne incognita e do vírus do amendoim; e a C. diffusa é hospedeira alternativa de Cuscuta filiformis L. e do M. arenaria, bem como do vírus do mosaico do pepino.

Os prejuízos causados pela trapoeraba podem variar de acordo com a espécie infestante, a cultura cultivada e a intensidade de interferência da planta daninha. Dentre os principais danos, podemos destacar:

  • Competição por recursos (nutrientes, água e luz);
  • Prejudica o desenvolvimento de culturas agrícolas (exsudação de substâncias químicas com potencial alelopático);
  • Reduz a produtividade;
  • Ocasiona perdas e dificuldades na operação de colheita;
  • Eleva o custo de produção agrícola;
  • Aumenta a suscetibilidade à pragas e doenças.
Planta daninha denominada trapoeraba em plantação, com destaque para as suas folhas verdes
A trapoeraba, além de competir com as demais plantas por nutrientes, água e luz, também é hospedeira intermediária de pragas.

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Como fazer o controle da trapoeraba?

Apesar de constituir uma planta daninha de difícil controle, existem quatro métodos utilizados para o seu controle: preventivo, cultural, capina e químico (herbicidas).

Método preventivo

O método preventivo visa impedir o ingresso da trapoeraba na área de plantio, seja por meio dos tratos culturais ou pela escolha das mudas e sementes. Por exemplo, o trânsito de máquinas pode levar propágulos da planta daninha de uma área para outra por meio da terra aderida no maquinário. Por isso, é necessário adotar medidas de limpeza dos maquinários para evitar a ocorrência desse tipo de contaminação.

Outro fator importante é com relação à escolha das mudas de culturas perenes, como é o caso do café, frutíferas e citros, bem como no que tange à compra de sementes. Deve-se verificar o estado fitossanitário das mudas, de modo a garantir que não haja trapoeraba vegetando junto a elas. As sementes também devem ter sido fiscalizadas para evitar a contaminação das áreas de cultivo.

Método cultural

O método de controle cultural consiste na adoção de boas práticas agrícolas que favorecem o desenvolvimento da cultura em detrimento da planta daninha, competindo com vantagem sobre ela e criando condições para que os herbicidas funcionem adequadamente.

Dentre as práticas que se pode adotar estão:

  • Diminuir o espaçamento entre plantas: dessa forma, o tempo de sombreamento na entrelinha de plantio será diminuído, desfavorecendo o desenvolvimento da trapoeraba;
  • Drenagem do solo: essa prática prejudica o crescimento da trapoeraba, uma vez que não prosperam adequadamente nesse tipo de solo.
  • Plantio de culturas em consórcio: no caso das culturas perenes, é aconselhável o plantio em consórcio, visto que ocuparão as entrelinhas de cultivo e o espaço onde a trapoeraba poderia estar se estabelecendo;
  • Uso de coberturas mortas: a utilização de coberturas mortas na entressafra contribui para a ocupação da área, impedindo o crescimento da trapoeraba.

Capina

A capina manual e a mecânica estão entre as alternativas de controle de plantas daninhas. No entanto, no caso da trapoeraba, é preciso tomar bastante cuidado com a sua utilização. Quando a capina mecânica é efetuada, especialmente com cultivadores tracionados, ocorre a quebra da planta daninha, espalhando-se pedaços de seus ramos e rizomas e disseminando-a por toda a lavoura. Da mesma forma, é preciso atentar-se quanto ao uso da roçadeira.

Método químico: herbicidas

A aplicação de herbicidas deve focar em maximizar a sua eficiência e minimizar o impacto ambiental. Hoje, existem 47 ingredientes ativos registrados junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o controle da C. benghalensis que são utilizados de forma isolada ou como componentes de misturas de 126 produtos registrados para várias culturas, tais como soja, café, citros, milho, cana-de-açúcar, algodão, feijão, pastagens, entre outros.

No entanto, ainda com o uso de herbicidas, a trapoeraba é uma planta daninha de difícil controle, sendo comum deparar-se com situações de escape, tanto no uso de herbicidas pré-emergentes como pós-emergentes.

Uma das razões para isso consiste na existência de bainhas em torno das gemas que protegem a planta do contato direto dos herbicidas pós-emergentes aplicados. Os herbicidas pré-emergentes (aplicados diretamente no solo) também encontram dificuldade de atingir a trapoeraba, uma vez que as sementes da C. benghalensis germinam nos rizomas a até 12 cm de profundidade, ocorrendo um escape devido à pequena percolação do herbicida no perfil do solo, não alcançando as sementes mais profundas.

Outra questão que vale a pena ressaltar é a resistência da trapoeraba a certos herbicidas. O principal motivo do surgimento e propagação de populações resistentes é o uso continuado e repetido de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação em um mesmo ciclo da cultura, sem a adoção de práticas de manejo adequadas para prevenir a resistência.

No caso da C. benghalensis, a seleção de espécies resistentes resulta em sementes polimórficas com diferentes graus de dormência e com tolerância ao herbicida glifosato. Estudos apontam que a aplicação isolada de glifosato pré-emergência não apresenta ação no solo. Já a aplicação pós-emergência, o glifosato se mostrou ineficiente e, quando aplicado apenas uma vez, a depender do fechamento do dossel, pode ocasionar reinfestação e gerar prejuízos à colheita mecanizada. Outros estudos verificaram que a aplicação de glifosato pós-emergência gerou um controle inferior a 70%.

Tabela indicando quais os herbicidas registrados para o controle da espécie C. Benghalensis, contendo informações a respeito da eficiência de controle
Herbicidas registrados para controle de C. benghalensis. Fonte: Instituto Biológico.

Com o objetivo de complementar conteúdo, confira o vídeo abaixo que trata da dificuldade de controle da trapoeraba, seus danos à plantação e atenção aos herbicidas a serem aplicados para o seu controle.

Fonte: Sucesso no Campo.

Gostou desse conteúdo? Então, confira a nossa matéria sobre outra planta daninha que também causa grandes prejuízos às lavouras: o picão-preto. Boa leitura!

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