A classificação de grãos é um processo importante com o propósito de garantir qualidade dos alimentos produzidos pelo Brasil. Afinal, somos o 4° maior produtor de grãos.
Embora tenha ocorrido um crescimento de 5,7%, em relação ao que foi produzido na safra 2019/2020, é preciso que esses grãos estejam em condições adequadas para serem consumidos.
Ademais, essa qualidade é conquistada por meio da classificação, um processo fundamental na comercialização de produtos de origem vegetal. No entanto, o assunto ainda gera polêmica entre produtores e compradores por causa de divergências nessa classificação.
Desse modo, é fundamental que você entenda bem sobre o tema. Por isso, elaboramos este post explicando qual a importância dessa classificação e como fazê-la corretamente. Acompanhe!
Afinal, o que é classificação de grãos?
Conforme citamos no início do artigo, a classificação de grãos é um processo que vai determinar a qualidade de um produto. Afinal, leva em consideração parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Desse modo, tem como objetivo analisar as características dos grãos para determinar se eles se enquadram nos padrões exigidos pelo consumidor. A classificação é tão importante que afeta, até mesmo, o valor pago pelo produto.
Então, com o fim de evitar divergências, existe uma legislação sobre o assunto, ou seja, a Lei 9.972/2000. Entretanto, alguns compradores estipulam seus próprios critérios, que nem sempre seguem as recomendações do MAPA.
Muitos agricultores acabam discordando desses parâmetros e, como resultado, há impasse na negociação.
Por que a classificação de grãos é importante?
No momento em que produtor vai vender seu produto às cooperativas, cerealistas, trading ou indústria, a carga precisa atender aos critérios definidos pelo Ministério da Agricultura. Ou seja, deve estar em conformidade com o grau de tolerância à umidade, quantidade de impurezas e percentual de grãos avariados, por exemplo.
Isso garante que o produto é de boa qualidade e, desse modo, paga-se o preço justo. Porém, se o carregamento não atende aos parâmetros, são aplicados descontos sobre o lote dos grãos.
Com o fim de garantir que o lote atenda às exigências tanto do MAPA quanto das empresas que utilizam outros critérios, muitos produtores fazem uma classificação prévia na própria fazenda.
Assim, terão um conhecimento antecipado das características da produção a ser entregue e fornece argumentos sólidos que dão mais poder de negociação na hora da venda.
Como fazer uma classificação de grãos?
Como já comentamos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estabeleceu padrões a serem seguidos na classificação.
Assim sendo, vamos dar um passo a passo de como pode ser feita essa classificação em sua propriedade rural, com detalhes aos principais produtos cultivados — milho, soja e feijão. Acompanhe a seguir.
1. Amostragem
O primeiro passo é retirar amostras de produtos do caminhão, de acordo com o volume da carga, do seguinte modo:
- Até 15 toneladas — recolher amostras de 5 pontos diferentes;
- Entre 15 e 30 toneladas — 8 pontos;
- Acima de 30 toneladas — 11 pontos.
Ao retirar as amostras, observe com atenção as condições dos grãos. Então, se estiverem em mau estado de conservação, houver presença de sementes, partículas tóxicas ou insetos vivos, é necessário interromper a ação e tomar as devidas providências.
No caso do feijão já ensacado, a amostragem deve ser feita com pelo menos 10% do lote.
2. Homogeneização da amostra
Você vai precisar de um homogeneizador e de uma balança eletrônica digital, preferencialmente com duas casas após a vírgula, e, então, separe 3 amostras com 1kg cada. A primeira é a amostra de trabalho, a segunda é do fornecedor e a terceira fica como arquivo do produto.
3. Quarteamento da amostra
O passo seguinte é quartear a amostra de trabalho, ou seja, processo de redução da amostra a pequenas porções representativas. Então separe da seguinte forma:
- Soja — mínimo de 125g;
- Feijão — mínimo de 250g;
- Milho — mínimo de 250g.
4. Determinação de MEI (Matérias Estranhas e Impurezas)
Após o quarteamento, é preciso que essas partes passem por peneiras, utilizando os seguintes materiais:
- Soja — peneiras de 3mm e fundo;
- Feijão — peneiras de 5mm e fundo;
- Milho — peneiras de 5mm, 3mm e fundo.
Depois de peneiras os grãos, calcule a porcentagem de MEI com a seguinte fórmula:
%MEI = peso de MEI(g) x 100 / peso da amostra
No caso do milho, utilize a mesma fórmula para identificar também aqueles quebrados que ficam retidos na peneira de 3mm e os grãos sadios que ficam retidos na peneira de 5mm. Isso porque tanto a porcentagem de MEI quanto e de grãos quebrados impactam no tipo de produto.
Na classificação do feijão também há algumas particularidades. Todas as partículas que não sejam grãos ou pedaços e que ficaram retidos na peneira de 5mm, devem ser retirados manualmente e considerados como impurezas. O mesmo ocorre com aqueles aderidos em terra.
Todos os grãos (mesmo os sadios) que vazarem pela peneira também devem ser classificados como impurezas. Grãos e sementes de outras espécies, torrões de terra, detritos vegetais, insetos mortos ou corpos estranhos de qualquer natureza devem ser classificados com matérias estranhas.
5. Classificação de grãos determina a umidade
Após a retirada de matérias estranhas e impurezas é a hora de determinar a umidade dos grãos. Para isso, a amostra de cada tipo é a seguinte:
- Mínimo de 125g para soja;
- Mínimo de 250g para feijão e milho.
Do mesmo modo que ocorre com a porcentagem de MEI, a porcentagem de umidade também deve ser anotada.
6. Determinação do grupo e classe
Cada grão tem um tipo de processo. Confira, a seguir, como deve ser feito.
Soja:
- Grupo I — destinado diretamente ao consumo humano;
- Grupo II — destinado a outros usos, como indústria ou exportação;
- Classe amarela — com até 10% de grãos de outras cores;
- Classe misturada — com porcentagem acima de 10% de grãos de outras cores.
Milho
- Grupo I (duro) — mínimo de 85% de peso em grãos duros;
- Grupo II (dentado) — mínimo de 85% de peso naqueles com consistência parcial ou totalmente farinácea ou, ainda, com a coroa apresentando reentrância;
- Grupo III (semiduro) — mínimo de 85% de peso em grãos com características intermediárias entre duro e dentado;
- Grupo IV (misturado) — quando não puder ser classificado nos grupos anteriores;
- Classe amarela — mínimo de 95% em peso de grãos amarelo, amarelo pálido ou amarelo alaranjado;
- Classe branca — mínimo de 95% em peso de grãos brancos, marfim ou palha;
- Classe cores — mínimo de 95% em peso de grãos com coloração uniforme, mas diferente das classes amarela e branca;
- Classe misturada — aqueles que não se enquadram nas classes anteriores.
Feijão
- Grupo I — feijão comum, da espécie Phaseolus vulgaris;
- Grupo II — feijão caupi, da espécie Vigna unguiculata;
- Classe branco — mínimo de 97% de grãos brancos;
- Classe preto — mínimo de 97% de grãos pretos;
- Classe cores — admite-se até 10% de outros cultivares do grupo I;
- Classe misturado — produto que não atende às classes anteriores.
Classificação de grãos: negociação mais justa
Enfim, neste artigo mostramos a importância da classificação de grãos cujo processo pode ser feito na própria fazenda. Com isso, o produtor terá parâmetros da qualidade da safra colhida e fazer a negociação no momento da venda.
Além disso, o produtor consegue traçar estratégias mais eficientes visando o crescimento constante da produção e dentro dos padrões exigidos pelos consumidores.
Aliás, o tema é tão importante que a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) criou o Projeto Classificação de Grãos. O objetivo é estudar aspectos relacionados sobretudo à qualidade, classificação e demais condições existentes entre produtores e empresas receptoras de soja. Confira como isso é feito no vídeo:
Acima de tudo como o assunto é qualidade dos produtos, isso também vai depender do local de armazenamento desses produtos. Dessa maneira, nossa sugestão de leitura é o post que trata sobre silo de grãos. Nele, vamos tirar as principais dúvidas desse tema. Boa leitura!