Veja dicas e cuidados na aplicação de insumos e defensivos agrícolas

Veja dicas e cuidados na aplicação de insumos e defensivos agrícolas

A aplicação de insumos e defensivos agrícolas é uma operação comum e essencial na agricultura que visa defender a cultura de agentes nocivos como pragas e doenças. Alguns produtos como os inseticidas têm por objetivo combater a vida animal e, por consequência, são mais nocivos à saúde humana.

Apesar de amplamente divulgado de forma errônea que o país seria um dos que mais utilizam defensivos, estudos da FAO mostram que o Brasil utiliza menos desses insumos em comparação com diversos países da Europa, estando em 44º lugar, ficando atrás de países como Bélgica, Itália, Portugal e Suiça.

Neste artigo iremos abordar como proceder corretamente em relação à aquisição, transporte, armazenamento e descarte de embalagens, bem como os cuidados específicos no momento da aplicação dos produtos fitossanitários na sua lavoura. Confira!

Aquisição, transporte, armazenamento e descarte de embalagens

Existem cuidados que estão dispostos inclusive em normas gerais sobre o uso de agrotóxico que devem ser tomados desde o momento da aquisição dos produtos fitossanitários até a forma de descarte das embalagens após a utilização dos produtos. São eles:

Aquisição

  • Consulte um engenheiro agrônomo para constatação de nível de dano econômico e emissão do receituário agronômico;
  • Nunca adquira produtos de forma ilegal;
  • Sempre verifique as condições da embalagem. Rótulo e lacre devem estar em perfeito estado. Nunca compre produtos com a embalagem danificada;
  • Verifique o prazo de validade do produto;
  • Verifique se a nota fiscal está de acordo com as disposições exigidas no regulamento de transporte de produtos perigosos (RTPP).

Transporte

  • Avalie as condições do veículo;
Homens utilizando EPI organizando embalagens de produtos fitossanitários em carroceria de caminhão
Antes de realizar o transporte de produtos fitossanitários, avalie as condições do veículo.
  • Organize a carga de maneira adequada;
  • Nunca transporte produtos com alimentos ou rações, medicamentos ou pessoas e animais;
  • Mantenha sempre em ordem o kit de emergência, kit de equipamentos individuais e documentos;
  • Tenha em mãos a nota fiscal do(s) produto(s), a ficha de emergência e o envelope de emergência.

Dependendo da classificação do produto, cada grupo de embalagem pode apresentar um limite de isenção para o transporte. Confira no quadro abaixo:

Infográfico de limite de isenção para transportes de produtos fitossanitários por grupo de embalagens
Os limites de isenção para transportes de produtos fitossanitários dependem do grupo de embalagens ao qual o produto pertence.

Se a quantidade de produto adquirido estiver acima do limite de isenção, o produtor deverá solicitar que o transporte seja realizado por um transportador devidamente habilitado para realizar o transporte de produtos perigosos.

Armazenamento

  • As instalações de armazenamento de produtos tóxicos devem estar distantes de residências, hospitais, escolas, fontes de água e circulação de pessoas;
  • As portas devem ter identificação e devem se manter trancadas quando não houver pessoas trabalhando;
  • As paredes da instalação devem ser de alvenaria;
  • Local iluminado e ventilado;
  • Piso impermeável;
  • Soleira nas portas;
  • Pé direito de 4 metros de altura;
  • Os produtos devem ser armazenados por tipo;
  • O acesso ao local de armazenagem dos produtos deve ser restrito, não sendo permitida a entrada de crianças, animais ou pessoas não autorizadas;
  • Mantenha no local equipamentos de segurança (EPIs), material absorvente (areia, cal, serragem), extintores de incêndio e torneiras de água limpa ao alcance;
  • Realize sempre rotação de estoque;
  • Corrija problemas como goteiras, vazamentos e infiltrações;
  • Nunca empilhe além do limite recomendado de produtos e mantenha sempre as embalagens afastadas das paredes e do teto;
  • Mantenha os rótulos virados para o lado de fora da pilha;
  • Permaneça no local o menor tempo possível;
  • Nunca coma, beba ou fume no local de armazenamento de produtos.

Em caso de emergência, suspenda as operações no local e use sempre EPI. Em caso de incêndio, mantenha distância da fumaça e isole as áreas atingidas. Já em caso de vazamento de líquidos, absorva o produto derramado com o material absorvente disponível (areia, cal, serragem etc). Solicite informações do fabricante.

Descarte das embalagens

Para o descarte das embalagens de produtos fitossanitários é obrigatório que seja feito o recolhimento dessas embalagens vazias em uma unidade de recebimento autorizada pelos órgãos ambientais.

Antes do descarte, o produtor deve realizar a tríplice lavagem, inutilizando as embalagens com furos no fundo, quando permitirem esse tipo de prática, e as embalagens não laváveis devem permanecer intactas, sem vazamentos e devidamente tampadas.

As embalagens vazias devem ser devidamente acondicionadas em sacos plásticos fornecidos pelo fabricante revendedor do produto.

Infográfico com sequência de tríplice lavagem de embalagens de produtos fitossanitários
Antes de descartar as embalagens de produtos fitossanitários, realize a tríplice lavagem.

Cuidados na aplicação de defensivos

Na aplicação dos defensivos agrícolas, o trabalhador deve observar alguns pontos, como a utilização de todos os componentes do Equipamento de Proteção Individual e a manutenção dessas peças, quais máquinas e equipamentos serão utilizados na aplicação, calibração do pulverizador, entre outros.

Equipamentos de Proteção Individual

Os equipamentos de proteção individual que devem ser utilizados para manuseio e aplicação são:

Avental

Peça que deve ser de material impermeável e de fácil fixação aos ombros. O avental deve proteger o corpo do trabalhador frontalmente ou nas costas, dependendo do tipo de operação que for realizada. O comprimento desse componente deve ser até a altura da perneira de proteção da calça.

Respirador (máscara)

Esse componente protege o trabalhador da inalação de pó, fumaça, névoa ou partículas finas dispersas no ar. Os respiradores podem ser:

a) Sem manutenção (descartáveis): conhecidos como PFF (Peça Semifacial Filtrante para Partículas), dispensam limpeza e possuem vida útil relativamente curta;

b) De baixa manutenção: são respiradores que contêm filtros especiais para manutenção, podendo ser:

  • P-1 ou P-2: semifacial com filtros químicos ou mecânicos, substituíveis. A peça permite limpeza, porém não permite substituição dos seus componentes, exceto filtro;
  • P- ou P-2: semifacial com filtros substituíveis: peça semifacial leve, de fácil manutenção, protege contra poeira, névoa, gases e vapores. Os filtros são substituíveis e alguns componentes podem ser repostos. As máscaras com filtros substituíveis devem ter seus filtros substituídos com certa frequência.

A escolha do tipo de respirador vai depender de alguns aspectos como:

  • Local em que o produto será preparado;
  • Formulação do produto fitossanitário, ou seja, se produz gases e vapores;
  • Concentração.

Luvas

As luvas protegem as mãos do trabalhador contra a contaminação pelos produtos. Recomenda-se o uso de luvas feitas de borracha nitrílica ou neoprene por serem materiais que podem ser utilizados com qualquer tipo de formulação.

Viseira

A viseira protege os olhos e o rosto do trabalhador contra gotas ou névoas da pulverização e deve ser feita de acetato, tendo a maior transparência possível para que não haja distorção de imagem. Deve ser forrada com esponja na parte da testa para evitar contato direto com o rosto trabalhador, permitindo assim o uso simultâneo do respirador.

Boné árabe

Protege o couro cabeludo, pescoço e orelhas contra resíduos do produto pulverizado e contra o sol. O tecido do boné deve ser de algodão tratado para que seja hidrorrepelente. É possível encontrar algumas peças em que o boné árabe é incorporado ao jaleco como um capuz.

Jaleco e calça

Essas peças protegem o corpo do trabalhador de possíveis respingos do produto no momento da aplicação, porém não possuem poder de proteção em casos de exposição acentuada ou de jatos dirigidos. Devem ser produzidas em tecido de algodão tratado para serem hidrorrepelentes. A calça deve conter um reforço de proteção nas pernas (perneira) com material impermeável. Essa peça deve ser vestida por cima da roupa comum para maior conforto e permitir a retirada em locais comuns.

Botas

As botas devem ser impermeáveis e feitas de preferência em PVC branco. Devem ser utilizadas com meia de algodão e as calças devem ficar para fora das botas para evitar escorrimento de produto para os pés.

Trabalhador utilizando EPIs manuseando galões de produtos tóxicos em caçamba de camionete
A utilização de EPIs é essencial para evitar intoxicação do trabalhador no manuseio dos produtos fitossanitários.

Como vestir e retirar os EPIs

Conheça a sequência correta de como vestir e retirar os EPIs. Observar essa sequência é importante para evitar contaminação das peças e exposição do trabalhador.

Sequência de vestimenta dos EPIs

  1. Calça;
  2. Jaleco;
  3. Botas;
  4. Avental;
  5. Respirador;
  6. Viseira;
  7. Boné árabe;
  8. Luvas.

Sequência de retirada das peças

  1. Lavar as luvas com água e sabão neutro;
  2. Boné árabe;
  3. Viseira;
  4. Avental;
  5. Jaleco;
  6. Botas;
  7. Calças;
  8. Luvas;
  9. Respirador.

Cuidados e manutenção dos EPIs

  • Ao manusear os produtos, use sempre EPIs;
  • Após o uso, lave todos os EPIs e descontamine-os separadamente de roupas de uso comum;
  • Mantenha-os em bom estado de conservação;
  • Faça revisão periódica;
  • Guarde em local separado;
  • Substitua as peças sempre que necessário.

Máquinas e equipamentos para aplicação

É importante também sempre utilizar máquinas e equipamentos em bom estado de conservação.

  • Utilize apenas os equipamentos adequados para a operação;
  • Treine os operadores adequadamente;
  • Sempre faça as revisões e regule os equipamentos;
  • Selecione os bicos corretos para os pulverizadores e os dosadores para as granuladeiras;
  • Não utilize equipamentos com falhas ou defeitos;
  • Após a operação, realize a limpeza do equipamento.

Confira também: Tipos de bicos para pulverização agrícola e indicações.

Calibração

Para a correta aplicação de defensivos, a calibração é algo fundamental e deve ser feita conforme recomendado. É necessário verificar se o pulverizador está funcionando corretamente antes de iniciar a operação. Analise se não há vazamentos e se todos os componentes estão funcionando de maneira correta.

Utilize os bicos adequados para sua operação, optando por aqueles que melhor atendam aos requisitos do tratamento, ou seja, aquele que melhor aplica o produto no alvo, sem perdas por deriva ou escorrimento.

Os componentes do pulverizador, que devem ser considerados e verificados para uma melhor qualidade na aplicação e eficiência do tratamento, são:

  • Bicos: opte pelos bicos apropriados para cada tipo de produto, cultura e alvo biológico a ser atingido;
  • Filtro: para prevenir desgastes e entupimentos, utilize filtros na entrada do tanque, antes da bomba e antes dos bicos. O filtro da entrada do tanque deve ser limpo com frequência mínima diária;
  • Agitadores: o agitador é um componente indispensável na boa diluição e homogeneização do produto em tanque quando se está trabalhando com produtos de formulação pó molhável ou suspensão concentrada;
  • Manômetro: essa peça é responsável pela aferição da pressão de saída da calda pelos bicos. A escala deve ficar visível e ser banhada com glicerina para garantir maior resistência. Manômetros comuns têm menor resistência, visto que têm baixa resistência para suportar as condições de trabalho como vibração e líquido agressivo circulando em seu interior.
Barra de pulverizador com bicos em operação
A calibração do equipamento é importante para que a aplicação seja eficaz.

Escolha do produto

A escolha do produto vai ser de acordo com alguns parâmetros, tais como:

  • Utilize produto registrado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA);
  • Utilize produtos com eficiência determinada para o alvo que se deseja atingir;
  • Conheça aspectos como seletividade, poder residual e grau de toxicidade do produto.

Veja também: Causas e consequências da fitotoxicidade nas culturas agrícolas.

Preparo da calda

O preparo da calda deve ser feito seguindo as recomendações de cada produto, conforme a bula. De maneira geral, realiza-se a adição de produtos diretamente no tanque de pulverização ou por meio de pré-diluição.

Cuidados durante o preparo e aplicação

  • Evite a contaminação ambiental;
  • Utilize Equipamentos de Proteção Individual (EPI);
  • Não trabalhe sozinho quando for manusear os produtos tóxicos;
  • Não permita a presença de crianças ou pessoas estranhas no local de trabalho;
  • Prepare o produto em local fresco, arejado, aberto e sombreado, nunca ficando em frente ao vento;
  • Leia atentamente e siga as instruções e recomendações indicadas nos rótulos dos produtos.

Leia também: Tecnologia de aplicação: mistura de produtos em tanque de pulverização.

Homem com EPIs manuseando frasco de produto fitossanitário em campo de milho
Leia atentamente o rótulo e a bula dos produtos antes de realizar a aplicação.

Em casos de acidente ou falta de atenção, o trabalhador pode acabar se intoxicando com o produto. Os riscos de intoxicação podem se dar por 4 vias: inalatória, oral, ocular ou dérmica.

  • Via inalatória (nariz e boca – pulmões): ocorre quando no momento do manuseio, preparo da calda ou aplicação há inalação de pó, gases, névoa ou fumaça que atingem os pulmões. Os sintomas podem ser ardor na garganta e pulmões, tosse, rouquidão e congestionamento das vias respiratórias;
  • Via oral: ocorre quando o trabalhador decide se alimentar no momento do manuseio, preparo da calda ou aplicação. Os sintomas podem ser irritação da boca e garganta, dor no peito, náuseas, diarreia, transpiração anormal, dor de cabeça, fraqueza e câimbra;
  • Via ocular: ocorre quando no momento do manuseio, preparo da calda ou aplicação há contato do produto com os olhos através de pó, névoa, fumaça ou gás;
  • Via dérmica: ocorre quando no momento do manuseio, preparo da calda ou aplicação há contato direto do produto concentrado ou da calda com a pele. Os sintomas podem ser irritação, mudança de coloração da pele e descamação.

Procedimentos básicos de primeiros socorros

Geralmente, acidentes que causam intoxicação por produtos fitossanitários acontecem por desatenção ou falta de conhecimento do trabalhador, que acaba cometendo erros durante as etapas de transporte, armazenamento, manuseio, aplicação, descontaminação de equipamentos, embalagens e EPIs.

Como as propriedades geralmente são distantes de prontos-socorros, hospitais e médicos, pode haver uma certa demora no atendimento do trabalhador com sintomas de contaminação por produtos tóxicos. Dessa forma:

  • Retire imediatamente as roupas contaminadas;
  • Seque com um pano limpo;
  • Vista roupas limpas;
  • Em caso de intoxicação via ocular, lave os olhos cuidadosamente com água corrente e limpa, conforme as instruções presentes no rótulo ou na bula do produto;
  • Encaminhe o trabalhador até o atendimento médico mais próximo, levando também a bula ou rótulo do produto;
  • Em caso de contaminação via respiratória, leve o trabalhador até local arejado e fresco e afrouxe as roupas para facilitar a passagem do ar. Caso a roupa esteja contaminada, retire-a;
  • Em casos de ingestão de produto tóxico, procure atendimento médico imediatamente. O tratamento nesses casos deve ser ministrado unicamente por profissional qualificado.

Em casos graves de intoxicação, os cuidados a serem tomados até que o trabalhador receba atendimento médico são:

  • Pessoa desacordada: o trabalhador deve ser colocado deitado de lado com a cabeça ligeiramente erguida, mantendo as vias respiratórias desobstruídas;
  • Pessoa com febre: umedeça o corpo do trabalhador com pano úmido para reduzir o efeito da febre;
  • Pessoa com convulsão: cuide para que o trabalhador não bata a cabeça.

Período de carência ou intervalo de segurança

Período de carência ou intervalo de segurança é o tempo que se deve considerar entre a última aplicação e a colheita e vem descrito na bula do produto.

É importante respeitar esse prazo para que não haja riscos do produto vegetal ser colhido com resíduos acima do limite máximo permitido, sendo ilegal a produção de produtos agrícolas com concentração acima do limite permitido pelo Ministério da Saúde.

Mão segurando vagem de soja em campo de soja
O período de carência ou intervalo de segurança deve ser respeitado para que não haja concentração excessiva de produtos fitossanitários na cultura no momento da colheita.

As consequências para o descumprimento dessa norma são a apreensão e destruição dos produtos colhidos, além da possibilidade de multa e processo contra o produtor responsável.

Outro grande cuidado que deve ser tomado é observar o período de reentrada de pessoas após a área ter sido pulverizada. Esse período compreende o dia da última pulverização até o dia de permissão de entrada de pessoas na área sem risco de serem contaminadas. Entretanto, se houver necessidade de entrada antes do período permitido, a pessoa deve utilizar os EPIs da mesma forma que se usa no momento da pulverização.

Confira também: Como realizar uma pulverização de qualidade.

Conclusão

Os cuidados com a aplicação de produtos fitossanitários começam desde o momento da aquisição até o descarte correto das embalagens e retirada dos EPIs do trabalhador. Cada detalhe deve ser seguido com muita atenção para que não haja problemas de intoxicação ou acidentes causando contaminação ambiental.

Seguindo as dicas e cuidados aqui citados, certamente sua operação de aplicação de defensivos terá grandes chances de ser eficaz e sem riscos.

Gostou de conhecer os detalhes de como realizar a aplicação de defensivos com segurança? Então aproveite e leia também nosso texto sobre como evitar deriva na pulverização. Boa leitura!

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