Uma das preocupações dos citricultores é a ocorrência de doenças, principalmente aquelas de difícil controle, como é o caso do greening, também conhecido como Huanglongbing. Esta doença – causada por uma bactéria – pode dizimar a lavoura, provocando danos expressivos.
Trata-se de uma doença que reduz a produção de frutos, além de impactar na qualidade final destes, resultando na sua desclassificação. As árvores infectadas podem se tornar improdutivas rapidamente, reduzindo sua vida útil de 50 para entre 7 a 10 anos.
Diante da grande dificuldade no controle da doença e na suscetibilidade da maioria das cultivares de laranja cultivadas no país, é necessário que estratégias de controle sejam utilizadas de forma conjunta e preventivamente
Sendo assim, entenda a seguir o que é o greening, como ele pode ser identificado na sua lavoura, espécies de ocorrência no Brasil e no mundo e quais estratégias de controle podem ser utilizadas para proteger o seu cultivo. Confira!
O que é o greening?
O greening ou huanglongbing (HLB) é uma das doenças mais importantes a atingir os citros no Brasil e no mundo. Esta doença é causada pela bactéria Candidatus Liberibacter, que possui três principais subespécies responsáveis pela doença: a asiática, africana e americana.
De acordo com o Chemical and Engineering News (CEN), no Brasil, o greening já eliminou 52,6 milhões dos pés de laranja e reduziu a área de lavouras em 31% desde 2004, quando a doença foi detectada pela primeira vez no país.
Além disso, segundo dados da Fundecitrus, a incidência da doença apresentou elevação da safra 2021 para a safra 2022, em 9,6%, passando de 22,37 para 24,42. Em algumas regiões produtoras, a incidência se aproxima de 50%, requerendo atenção redobrada dos citricultores.
Muitas vezes o greening pode ser confundido com uma deficiência nutricional, no entanto, os sintomas são diferentes, observe a seguir:
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Agente causal e inseto vetor do greening dos citros
Como dito, o greening é causado pela bactéria Candidatus Liberibacter que se reproduz e coloniza o tecido do floema, causando a interrupção da passagem deste para os demais tecidos da planta. Existem três subespécies dessa bactéria, a depender da região de cultivo:
- A “Candidatus Liberibacter asiaticus” (Las), que expressa sintomas em temperaturas elevadas, como as que ocorrem no Brasil;
- A “Candidatus Liberibacter africanus” (Laf), que expressa sintomas mais severos em temperaturas amenas;
- A “Candidatus Liberibacter americanus” (Lam), que é a mais encontrada nas lavouras do Brasil. Ela apresenta sintomas em temperaturas amenas. Os longos períodos de temperaturas elevadas podem impactar na doença e desfavorecer a sua ocorrência.
Essas bactérias são transmitidas por um inseto, o psilídeo, pertencente à ordem Hemiptera e à família Psyllidae.
No Brasil, a espécie vetora do greening é Diaphorina citri, vetor de Candidatus Liberibacter asiaticus e americanus, presente no país desde a década de 40. Já o psilídeo Trioza erytreae é o vetor de Ca. Liberibacter africanus, que ocorre na África e no Oriente Médio.
Estes insetos são considerados saltadores, medindo de 2 a 3 mm de comprimento, de coloração castanho-amarelada e pernas castanho-esverdeadas. Possuem como espécies hospedeiras plantas da família das rutáceas, como citros e a planta ornamental conhecida como murta (Murraya paniculata).
A problemática do vetor é a capacidade de rápido aumento da população de insetos e consequentemente da infestação do pomar, visto que cada fêmea é capaz de ovipositar até 800 ovos, que possuem coloração alaranjada e ficam aderidos à folhas, principalmente brotações novas. Os ovos eclodem em quatro dias e as ninfas passam por cinco ínstares (mudança de tamanho e coloração).
Logo, é preciso prevenir esta doença ao máximo nas lavouras de laranja e demais citros, como limão e tangerina, antes que um grande número de plantas seja infectado.
Outras formas de transmissão incluem tratos culturais, como poda, e até mesmo pela propagação por borbulha e enxertia. Além disso, uma planta parasita conhecida como fios-de-ovos, que pertence à família Convolvulaceae (Cuscuta spp.), também pode transmitir a doença.
Quais os principais sintomas dessa doença?
Em decorrência do desvio da seiva que seria utilizado no metabolismo da planta e consequentemente na formação dos frutos, há redução do tamanho, qualidade e produtividade da cultura.
Os sintomas de greening costumam surgir em formato de manchas e nervuras amarelas.
Ao contrário do amarelecimento que pode resultar da falta de nutrientes, as folhas afetadas pela doença apresentam manchas assimétricas e os frutos podem se tornar deformados e amargos.
Ademais, é possível que ramos sejam infectados sem que a doença afete de imediato outros locais da planta. Esta característica dificulta o reconhecimento rápido da doença e as ações de controle. Assim, uma vez que a árvore esteja quase totalmente infectada, ela produzirá brotos amarelos que são característicos do greening e que serão bem pequenos, caindo prematuramente.
Contudo, é possível também que existam frutos assintomáticos à doença que, geralmente, possuem um sabor atípico e apresentam problemas em suas sementes.
Com a finalidade de um diagnóstico profundo sobre o greening nas lavouras, é importante contar com o auxílio de um especialista, que vai analisar as plantas de citros para a correta identificação.
Condições ambientais favoráveis à ocorrência do greening
As condições favoráveis para a ocorrência da doença influenciam não somente no desenvolvimento da bactéria, agente causal da doença, mas também do inseto vetor, responsável pela sua disseminação.
Para a transmissão da doença, temperaturas entre 16 ºC e 30-33 ºC são necessárias, sendo 25 ºC a temperatura considerada ótima.
Na figura a seguir, é possível visualizar as regiões do Brasil e do mundo onde as temperaturas durante os meses do ano são favoráveis à doença.
Além disso, é perceptível que as faixas que correspondem a linha do equador (vermelho no mapa), propiciam as condições ideais para o desenvolvimento da doença durante todo o ano, incluindo as regiões produtoras do Brasil.
Desta forma, os produtores devem monitorar as condições climáticas para identificação rápida da presença do vetor nas áreas de produção, a fim de evitar que a doença seja rapidamente disseminada.
Controle do greening
O greening é uma doença altamente devastadora e pode dizimar o pomar rapidamente, exigindo medidas rápidas de controle.
O controle da doença deve ser focado principalmente no inseto vetor e no cuidado na aquisição de mudas e realização de tratos culturais. Além disso, é importante lembrar que a doença não possui produtos registrados, sendo o controle do inseto vetor, o direcionamento do controle.
As principais estratégias de controle incluem:
- Planejamento adequado do local de cultivo e da cultivar implantada na área;
- Aquisição de mudas certificadas a fim de evitar a introdução do inseto vetor e da doença na área de cultivo. Mudas certificadas e de procedência são fundamentais na implantação de um pomar;
- Adubação equilibrada para o rápido estabelecimento das plantas, uma vez que a cultura é mais suscetível nas fases iniciais de desenvolvimento;
- Monitoramento do vetor da doença pela instalação de iscas;
- Controle do psilídeo utilizando de inseticidas e produtos de controle biológico com parasitóides (como vespas da espécie Tamarixia radiata) e fungos entomopatogênicos (como Isaria fumosorosea e Metarhizium anisopliae);
- Sistemas de alertas regionais, para identificação rápida da presença do inseto vetor em áreas de cultivo próximas, especialmente em condições ambientais favoráveis à doença e a reprodução do inseto.
O problema na efetividade do manejo integrado de pragas é no uso de inseticidas de amplo espectro, que não atingem somente o inseto vetor do greening, mas também os parasitóides, sendo necessário o conhecimento sobre o inseticida utilizado, bem como a interação destes com os produtos de controle biológico aplicados.
Por isso, a recomendação é evitar a utilização de inseticidas de amplo espectro (capazes de controlar diversas espécies de insetos), mas sim, utilizar inseticidas direcionados ao psilídeo, garantindo que o manejo integrado (uso de inseticidas químicos e controle biológico), seja praticado nas áreas de cultivo.
Como os produtores brasileiros estão protegendo suas lavouras?
Ainda seguindo o que foi mencionado no artigo da CEN, os citricultores brasileiros possuem algumas regras para lidar com o greening e garantir a prevenção de suas lavouras de laranja.
Além de realizar um manejo cuidadoso da área, uma das alternativas visando conter o avanço do greening nas lavouras inclui a remoção de árvores infectadas, retirando-as dos pomares comerciais. Outra medida é a utilização de pulverizações de inseticidas em toda a área.
Segundo dados da Fundecitrus, a incidência da doença apresentou elevação da safra 2021 para a safra 2022, em 9,6%, passando de 22,37% para 24,42%. Em algumas regiões produtoras, a incidência se aproxima de 50%, requerendo atenção redobrada dos citricultores.
O greening é uma doença altamente devastadora e pode dizimar o pomar rapidamente, exigindo medidas rápidas de controle.
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Nesse sentido, você encontra defensivos agrícolas indicados para proteger suas lavouras do greening e também de outras doenças.
E então, esse artigo foi útil para você? Aproveite e acesse também nosso post sobre o controle da giberela no trigo. Boa leitura!