Os nematoides são pequenos vermes com grande potencial de danos às lavouras. Ocorrem em inúmeras culturas agrícolas importantes, como soja, milho, algodão, cana-de-açúcar, café, citros, arroz, trigo, tomate, e até mesmo espécies ornamentais.
O grande desafio contra esses patógenos é a identificação rápida para manejo adequado, buscando a redução da sua população na área de cultivo e, consequentemente, os danos.
Um agravante do problema encontra-se no fato de que o aumento dos danos causados pela maioria das espécies de nematoides ocorre ao passar das safras, fazendo com que o problema passe totalmente despercebido.
A ausência da identificação precoce resulta na contaminação de áreas onde o problema antes era ausente, em função do manejo e tratos culturais realizados em toda a área de cultivo.
Por isso, entender como estes patógenos se comportam, quais as principais espécies e como o manejo pode ser realizado para evitar prejuízos na lavoura, se torna essencial.
Sendo assim, confira a seguir o que são nematoides, quais os danos que eles podem causar às lavouras, como a identificação do problema pode ser realizada e formas de controle mais recomendadas!
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O que são nematoides, afinal?
Os nematoides são pequenos vermes, de tamanho significativamente reduzido, na maioria das vezes só podem ser identificados a partir de um microscópio. Algumas espécies podem ser visualizadas com auxílio de uma lupa de bolso por profissionais qualificados e treinados para este fim.
Estes parasitas são classificados dentro do reino animal, e embora sejam muito pequenos, são considerados animais. Possuem o corpo em formato cilíndrico, geralmente alongado e com as extremidades afiladas (finas).
Podem ser encontrados no solo, água doce e salgada e muitas vezes são parasitas de animais, insetos e também de plantas.
Os danos causados por estes vermes podem ser diretos, quando provocam alterações no desenvolvimento das plantas pela sucção de nutrientes que seriam utilizados no metabolismo das plantas.
Além disso, podem provocar alterações do crescimento das plantas, como é o caso dos nematoides das galhas, que devido a injeção de toxinas nos tecidos da planta, provocam o crescimento anormal das raízes, que resulta na formação de galhas (raízes engrossadas e de formato anormal).
No entanto, indiretamente, eles também podem ser responsáveis pela disseminação de doenças, principalmente fúngicas e até mesmo com a perda de resistência de cultivares que até então eram resistentes ao ataque de fungos, por exemplo.
No Brasil, podem ocorrer inúmeras espécies, no entanto, algumas se destacam por parasitar um grande número de plantas (sendo portanto denominadas polífagas) e pelo grande potencial de danos que podem causar às lavouras brasileiras.
Dentre as principais espécies de nematoides, destacam-se:
- O nematoide-das-galhas Meloidogyne spp.;
- O nematoide-dos-cistos Heterodera spp.;
- O nematoide-das-lesões-radiculares Pratylenchus spp.;
- O nematoide reniforme Rotylenchulus reniformis.
Todas estas espécies, uma vez introduzidas em uma área de cultivo, não podem ser eliminadas por completo, sendo desta maneira, fundamental o manejo para controle da população presente, com intuito de mantê-la abaixo do nível de dano econômico.
Assim, para o controle adequado é indispensável entender como eles podem ser observados na lavoura e quais as principais medidas de controle que podem ser utilizadas.
Entenda a seguir as características dos principais nematoides que afetam as culturas agrícolas e as principais medidas de controle para evitar danos na sua lavoura!
Nematoides na soja
No caso específico da soja, existem mais de 100 espécies de nematoides que podem parasitar a cultura, no entanto, quatro espécies são destaque no Brasil, em função da sua ampla distribuição nas regiões produtoras da leguminosa. São elas:
- Meloidogyne spp. (formadores de galhas);
- Heterodera glycines (cistos);
- Pratylenchus brachyurus (lesões radiculares) e
- Rotylenchulus reniformis (reniforme).
Os danos para a cultura podem ultrapassar os R$ 65 bilhões, sendo, portanto, fundamental que seja devidamente identificada a sua presença nas regiões de cultivo, o mais rápido possível.
Os sintomas na parte aérea das plantas, na maioria das vezes, são facilmente confundidos com outras causas, como deficiência de nutrientes, ataque de pragas e doenças, estiagem e compactação de solo.
Dos quatro tipos, o Pratylenchus brachyurus é o que mais preocupa, porque está presente em lavouras por todo o Brasil.
Além disso, devido aos sintomas causados, é o que mais gera confusão na identificação, pois por causarem lesões escurecidas nas raízes, são comumente confundidos com outras doenças, principalmente as causadas por fungos.
Nematoide-das-galhas
Duas espécies dos nematoides-das-galhas são as que causam maiores danos na cultura da soja, M. javanica e M. incognita, no entanto, existem outras espécies do gênero que podem causar danos.
Dentre elas, M. javanica encontra-se amplamente distribuída, M. incognita é encontrada em locais mais específicos, principalmente áreas cultivadas anteriormente com culturas hospedeiras, como café e algodão.
Os sintomas do ataque do nematoide-das-galhas podem ser visualizados facilmente nas raízes de cultivares suscetíveis de soja e incluem:
- Desenvolvimento anormal de plantas em pontos da lavoura – reboleiras;
- Presença de raízes com aspecto anormal, engrossadas, característica que justifica o nome destes parasitas – as galhas;
- Plantas podem apresentar amarelecimento;
- Em épocas com déficit hídrico, a cultura pode apresentar murcha.
Para diagnóstico correto da espécie que está ocorrendo é indispensável o encaminhamento das amostras coletadas, o mais rápido possível, a um laboratório especializado.
O conhecimento da espécie é importante para entender qual o melhor manejo a ser dado à área de cultivo, quais espécies podem ser utilizadas em rotação de culturas e qual controle químico, biológico, cultural será mais adequado.
Nematoides-dos-cistos
Observado no país desde a safra 1991/92, o nematoide-dos-cistos Heterodera glycines encontra-se distribuído em inúmeras regiões produtoras, principalmente na região Centro-Oeste do Brasil.
Os principais sintomas deste parasita incluem:
- dificuldade de absorção de água e nutrientes;
- crescimento reduzido, com nanismo de plantas;
- amarelecimento de folhas;
- morte de plantas.
É um endoparasita, ou seja, se desenvolve no interior das raízes e produz cistos que abrigam cerca de 200 ovos. Os cistos são resistentes à dessecação e mantêm os ovos até que as condições ambientais sejam favoráveis ou que espécies hospedeiras estejam presentes.
Assim como a maioria dos nematoides, o nematoide-dos-cistos-da-soja causa danos principalmente em reboleiras localizadas próximo a estradas.
Ao longo dos anos, na ausência de controle, a população tende a atingir altos níveis, causando prejuízos consideráveis à cultura da soja.
A identificação do nematoide pode ser realizada através da inspeção das raízes. Diferentemente do nematoide-das-galhas, este parasita não forma galhas, mas sim cistos.
A fêmea permanece aderida ao sistema radicular, no entanto, uma parte do seu corpo pode ser visualizada para fora das raízes, sendo esta uma das principais características que diferencia ambas as espécies.
A identificação do nematoide nas áreas de cultivo é fundamental para o melhor planejamento de controle a ser adotado.
Nematoide-das-lesões-radiculares
O P. brachyurus é um tipo de parasita que está disseminado por todo o Brasil. Nos últimos anos, tem causado problemas principalmente na região do Cerrado brasileiro, com perdas de produtividade de até 50%.
A expansão da soja em áreas de solos arenosos, combinada à utilização de cultivares muito suscetíveis e à semeadura de espécies vegetais hospedeiras como o milho e o algodão, na entressafra da soja, são os fatores que melhor explicam o aumento da importância do nematoide para a cultura.
As áreas afetadas pelo nematoide-das-lesões podem apresentar características diferentes, de acordo com a composição do solo.
Entretanto, alguns sintomas são recorrentes e podem ser visualizados em diferentes níveis, a depender principalmente da cultivar utilizada e do ano agrícola (em anos com déficit hídrico podem ser visualizados com mais intensidade).
- Formação, ao acaso, de espaços dentro da plantação com plantas menores, mas ainda verdes, denominadas reboleiras;
- Raízes das plantas afetadas pelos nematoides apresentam coloração escurecida.
A identificação da infestação pode ser complicada, já que os sintomas podem ser confundidos com problemas no solo.
Portanto, amostras de solo e das raízes devem ser enviadas aos laboratórios especializados que irão diagnosticar a existência ou não desse tipo de nematoide.
Outra ferramenta que pode orientar a amostragem de solo é o uso e acompanhamento das áreas por imagens de satélite, observando pontos que apresentam crescimento anormal, manchas e produtividade reduzida.
Este acompanhamento pode ser realizado via imagens de satélite e posterior processamento por índices de vegetação, como o NDVI, que estimam o crescimento da cultura. Desta maneira é possível detectar inclusive alterações sutis, que não são perceptíveis a olho nu em grandes áreas de cultivo.
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Controle dos nematoides
O controle de nematoides pode ser realizado através de diferentes formas, incluindo o controle cultural, genético, biológico e químico.
A seguir, entenda um pouco mais sobre cada um deles.
Controle cultural
O manejo cultural consiste na utilização de espécies de plantas que não são hospedeiras dos nematoides que ocorrem na área de cultivo. A partir da implantação destas nas áreas, durante a entressafra, é possível reduzir a população destes parasitas, evitando danos.
No entanto, cabe salientar que o manejo cultural deve ser realizado ano a ano, assim como o uso de outros métodos de controle, para evitar que a população destes vermes volte a aumentar.
Para o nematoide-das-lesões P. brachyurus, o manejo cultural com espécies não hospedeiras e a utilização de cultivos resistentes podem ser boas estratégias.
Existem duas plantas que têm mostrado bons resultados quando utilizadas no manejo cultural junto com a soja: o milheto (Pennisetum glaucum) e a crotalária (Crotalaria spectabilis e C. ochroleuca).
O milheto é uma forrageira de clima tropical muito utilizada na rotação de culturas, mas também possui boa qualidade nutricional quando usada como ração para aves, suínos e ruminantes.
Já a crotalária é uma planta leguminosa, originária da Índia, que serve como forrageira para adubação verde, depositando nitrogênio no solo, melhorando assim sua fertilidade. Ela também é fibra vegetal para fabricação de alguns tipos de papel, sendo um deles o carbono.
A crotalária funciona como “planta armadilha”: ela permite a penetração do nematoide em suas raízes, mas impede o seu desenvolvimento até a fase adulta, graças a sua resistência.
Com isso, os parasitas terão dificuldades de se alimentar e multiplicar. Sendo assim, a infestação diminuirá, o que tornará a próxima safra de soja viável.
As espécies a serem utilizadas na rotação de culturas ou controle cultural devem ser planejadas em função dos nematoides presentes na área de cultivo, do nível da infestação e das culturas de interesse agrícola que serão cultivadas.
Controle genético
Neste caso, utilizam-se cultivares resistentes ou tolerantes aos nematoides. No entanto, para este planejamento, é primordial o conhecimento sobre qual a espécie e muitas vezes qual a raça que está ocorrendo na área, uma vez que para o nematoide-das-galhas, por exemplo, já foram identificadas diferentes raças.
Controle biológico
O controle biológico consiste na introdução massal (ou seja, em altas populações) de um agente/organismo considerado inimigo natural dos nematoides.
Para isso, mais uma vez é indispensável a identificação correta dos nematoides.
Existem inúmeros produtos registrados para o controle de nematoides, principalmente bactérias e fungos.
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Controle químico
Tendo em vista que os nematoides permanecem no interior do solo e afetam principalmente as raízes, a principal forma de controle é através do tratamento de sementes com produtos biológicos ou químicos, como os nematicidas.
No Sistema de Agrotóxicos Fitossanitário, a lista de nematicidas registrados para a cultura pode ser consultada.
Cuidados com o manejo de nematoides na cultura da soja
Alguns cuidados precisam ser tomados para garantir o controle dos nematoides na cultura da soja, incluindo:
- Controle das ervas daninhas, já que elas também são parasitadas pelo nematoide e permitem a sua sobrevivência e reprodução;
- Sempre limpe os equipamentos e maquinários utilizados nas áreas infestadas. Assim, evita-se que o parasita chegue a áreas em que estão ausentes;
- Escolha o tipo adequado de cultivo para o manejo cultural. Além da resistência, ele precisa estar adequado às condições climáticas da região e às características do solo;
- Sempre que possível utilize o manejo integrado de nematoides, que consiste na combinação de diferentes métodos de controle;
- Quando optar por controle biológico e químico, observe a compatibilidade entre as formas de controle;
- Mesmo que o nematoide seja identificado visualmente, encaminhe amostras para um laboratório especializado para identificação exata de qual espécie e raça está ocorrendo na área;
- O tratamento anual de sementes, com outros métodos de controle, como o controle cultural, são indispensáveis para bons resultados produtivos e para manter a população dos nematoides abaixo daquela que causa danos econômicos.
O controle de nematoides pode ser difícil devido ao local em que se encontram, no interior do solo e exige esforços anualmente, no entanto, o conhecimento sobre as espécies e planejamento do controle adequado e direcionado pode auxiliar no convívio com estes parasitas, sem prejudicar os resultados produtivos.
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