La Niña e El Niño: entenda o que são e quais os seus efeitos na agricultura

La Niña e El Niño: entenda o que são e quais os seus efeitos na agricultura

Existem inúmeros fatores que interferem no sucesso de uma lavoura. Muitos deles conseguimos controlar, pelo menos em parte, com práticas e técnicas de manejo. 

Ajustes na data de semeadura, escolha da cultivar, correção e adubação do solo, manejo integrado de pragas e doenças, manejo preventivo, controle químico, entre outros, são estratégias para ter o maior sucesso possível, com os maiores rendimentos.

No entanto, as mudanças climáticas não podem ser controladas, mas elas podem ser previstas, estudadas, analisadas e, a partir disso, podemos traçar estratégias para minimizar seus efeitos.

Os fenômenos La Niña e El Niño são conhecidos por mudar o regime de chuvas e as temperaturas no país, afetando diretamente os cultivos agrícolas. 

Por isso, vamos entender o que são estes fenômenos, quais as suas características e seus efeitos sobre o clima. Confira!

Leia também: Clima x Tempo: Entenda as diferenças

Um mesmo fenômeno com consequências opostas

O La Niña e o El Niño fazem parte de um mesmo fenômeno chamado de El Niño Oscilações Sul (ENOS). É um fenômeno atmosférico-oceânico que ocorre no Oceano Pacífico Equatorial e na atmosfera adjacente, ou seja, na região próxima. 

Acontece que cada fase do fenômeno ENOS causa um efeito diferente na temperatura do oceano Pacífico Equatorial:

  • Fase El Niño: o oceano está mais quente do que a média histórica (climatológica);
  • Fase La Niña: é o oposto do El Niño, ou seja, o oceano está mais frio do que a média histórica.
Dois globos terrestres um ao lado do outro representando o aquecimento e resfriamento das temperaturas no Oceano Pacífico de acordo com os fenômenos El niño e La ninã
Ilustração da variação na temperatura do Oceano Pacífico Equatorial: aquecimento durante o El Niño e resfriamento durante o La Niña.

Por causa dessa mudança de temperatura do oceano Pacífico Equatorial, ocorre uma série de efeitos nos padrões de circulação atmosférica, no transporte de umidade, e também na temperatura do ar e na precipitação.

Assim, esses fenômenos podem provocar secas ou excesso de chuvas, sendo capaz de prejudicar seriamente o rendimento das plantas, bem como interferir nas práticas de semeadura e de colheita.

Os ENOS são acontecimentos naturais e suas causas não são precisamente claras ainda, mas o aquecimento global pode fazer com que eles ocorram com mais frequência, com maior intensidade ou que durem mais tempo.

Depois da predominância do La Niña nos últimos anos, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), as previsões indicam 99% de probabilidade de ocorrência de um El Niño para os próximos três meses (setembro, outubro e novembro).

Há também os anos neutros, explicados quando as águas do oceano Pacífico permanecem com as temperaturas próximas à média, não ocorrendo resfriamento ou aquecimento.

Agora, vamos entender melhor cada uma das fases do fenômeno ENOS. Confira!

O que é o La Niña?

Como mencionado acima, o La Niña é o resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico Equatorial. 

Os ventos de superfície em todo Pacífico Equatorial (chamados alísios) sopram no sentido Oeste e ganham força, aumentando a ressurgência. A ressurgência ocorre quando as águas frias de profundidade sobem para a superfície do mar. 

A mudança dos ventos provoca acúmulo de grande quantidade de água quente no oceano Pacífico Equatorial Oeste, enquanto águas mais frias acumulam-se no Pacífico Leste, próximo ao Peru e ao Equador.

Esse acúmulo de água quente gera grande volume de evaporação, resultando em abundantes chuvas nas regiões Norte e Nordeste, e secas no Sul e Sudeste.

Demonstração por meio de flechas da direção dos ventos alísios que interferem na ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña.
Direção dos ventos alísios que interferem na ocorrência (La Niña) ou não (El Niño) da ressurgência e no aquecimento ou resfriamento das águas do oceano. Fonte: CSIRO.

O La Niña esteve presente no país nos últimos três anos, e o que observamos foi ocorrência de seca severa no Rio Grande do Sul, que resultou em quebras expressivas na produção de soja

No Nordeste, por outro lado, houve excesso de chuvas, o que também foi muito prejudicial, já que chuvas concentradas em poucos dias afetam práticas, como a semeadura e o manejo com máquinas.

Confira também: Confira o clima ideal para produção de soja e aumente seus lucros

O que é o El Niño?

Bom, ao contrário do La Niña, o El Niño causa aumento da temperatura da superfície do oceano Pacífico.

Com o enfraquecimento dos ventos alísios, ocorre o aumento das temperaturas e, com isso, há o afastamento das águas mais frias que afloram nas proximidades da costa da América do Sul. A água quente evapora mais rápido, formando mais nuvens de chuva.

O aquecimento das águas também é um fator que altera o regime de chuvas, só que isso não significa que choverá mais em todos os lugares. No Brasil, a tendência é de chuvas intensas ou acima da média no Sul e Sudeste, e secas no Norte e Nordeste.

Com o fim do La Niña, os últimos meses foram neutros, mas como já comentamos anteriormente, a partir de setembro, teremos influência do El Niño.

Normalmente, o El Niño provoca a ocorrência de temperaturas um pouco acima do normal em algumas áreas do Brasil. 

Tabela com os efeitos da ocorrência do El Niño e La Niña nas diferentes regiões brasileiras
Efeitos da ocorrência de El Niño e La Niña nas regiões do Brasil.

Como estes efeitos afetam a agricultura?

Com a saída do La Niña no início de 2023, já foi possível observar certa influência do El Niño no Brasil, pois o inverno não teve temperaturas muito baixas, e houve pouca incidência de geadas, comparando-se aos anos anteriores.

Para a safra de 2023/2024, independente da intensidade com que o El Niño aconteça, podemos esperar mudanças nos padrões de chuva. Ao que tudo indica, teremos chuvas mais volumosas e bem distribuídas, e o desempenho da safra tende a ser maior.

No entanto, embora o El Niño exerça uma influência sobre o clima global maior que todos os outros fatores, muitos outros fatores climáticos devem ser considerados. 

Por isso, podemos fazer uma previsão e estimar os efeitos desses fenômenos climáticos, mas não sabemos se estas previsões irão se concretizar ou não.

Os possíveis impactos do El Niño para a próxima safra são:

  • Chuvas irregulares: especialmente nas regiões Sul e Sudeste, podendo haver grandes volumes de chuva no período de safra, o que pode ser prejudicial para diversas culturas, por interferir na colheita e aumentar a severidade de doenças. Por isso, a dica é planejar a época de semeadura de acordo com a cultura e a região, atentando-se ao monitoramento das plantas quanto à incidência de doenças;
  • Períodos de seca: pode haver seca nas regiões Norte e Nordeste, principalmente, o que pode prejudicar a produtividade das culturas;
  • Temperaturas mais altas: o aumento das temperaturas, se for em excesso, pode prejudicar o desenvolvimento de algumas culturas sensíveis ao calor, como o café e algumas espécies frutíferas.

A boa notícia é que o El Niño não causa somente efeitos negativos. Ele pode “recuperar”, de certa forma, alguns impactos do La Niña, aumentando a umidade em locais que estejam com baixos volumes de água no solo e em reservatório, como na região Sul.

Vale lembrar que, ainda que muitos alertas orientem os produtores nas tomadas de decisão, os efeitos das variações climáticas nunca são totalmente previsíveis. Mas como podemos preparar a lavoura para os efeitos do clima? Vamos entender melhor a seguir.

Veja também: Como o clima pode interferir na sua produção de feijão

Como se preparar para os efeitos do El Niño e La Niña

Tanto a ocorrência do La Niña como do El Niño apresentam tendências de efeito no clima, principalmente no que se refere às temperaturas e às chuvas. Avaliando essas tendências, sabemos o que podemos esperar pela safra que está por vir para a nossa região. 

Existem ferramentas que auxiliam no planejamento da safra com base no clima, como o ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático). O ZARC é um programa nacional que facilita o acesso e o uso de informações de risco climático.

O programa auxilia o produtor por meio da indicação de datas e/ou períodos de semeadura adequados para cada cultura e cada município, sempre considerando características do clima, tipo de solo e ciclo das cultivares.

Assim, essa ferramenta auxilia no planejamento e na gestão para a tomada de decisão sobre a instalação, o manejo e a colheita da lavoura.

Conclusão

Conforme vimos neste artigo, o El Niño e o La Niña provocam mudanças na temperatura e no regime de chuvas do país, e essas mudanças impactam na produção agrícola.

É importante analisar os prováveis impactos para fazer a organização das práticas agrícolas e obter boa produtividade. Por isso, é fundamental acompanhar as previsões climáticas semanalmente.

Fique de olho no clima, planeje suas práticas e obtenha o melhor rendimento possível que a sua lavoura pode oferecer.

E então, gostou desse conteúdo? Complemente a leitura com o nosso artigo sobre como o clima influencia a agricultura. Boa leitura!

Post Relacionado