Qualidade da semente e sua importância como insumo agrícola

Qualidade da semente e sua importância como insumo agrícola

A produção de uma lavoura é influenciada por diversos aspectos, controlados ou não.

O produtor deve ficar atento e ser o mais rigoroso possível nos fatores que ele pode controlar, sendo um destes fatores a qualidade dos produtos adquiridos.

Em uma lista de prioridades, podemos dizer que a semente é o principal insumo que o produtor deve ter grande rigor, pois a semente carrega em si o material genético que irá definir sua máxima produção.

Essa afirmação pode gerar um pouco de dúvida, mas é bem precisa. A qualidade da semente vai definir diversos parâmetros em campo.

Venha entender esta afirmação e outras informações sobre qualidade de sementes neste artigo! 

Influência da qualidade da semente como insumo agrícola

O pensamento de que algo tão pequeno quanto uma semente pode definir a máxima produção de uma lavoura pode ser assustador para algumas pessoas.

Para entender essa afirmação vamos pensar individualmente em cada insumo.

O adubo tem que ser adequado na quantidade correta de cada nutriente, que vai depender do seu tipo de solo, da sua produção desejada e outros fatores.

Insumos como herbicidas, inseticidas, fungicidas, adubos foliares, entre outros, que são aplicados após a semeadura, devem ser utilizados na dosagem correta e no momento ideal, para que sua produção não seja prejudicada.

Todos estes insumos citados acima também são importantes no alcance de uma boa produção. Sem a utilização correta deles, a planta certamente irá reduzir sua produção.

Mas, o que eles fazem é evitar que a produção seja reduzida por falta de nutrientes, ou pelo ataque de pragas e competição por plantas daninhas. Quem define o teto produtivo de uma lavoura é a semente.

Pense: toda a tecnologia genética, como inserção de genes que conferem às plantas resistência a produtos ou tolerância a insetos, como soja RR ou milho Bt, são inseridos e passados para as plantas através das sementes.

A semente carrega em si todo o material genético – genoma – que irá passar para as plantas as características desejadas e adquiridas pelo produtor.

Por isto que cada cultivar tem uma indicação de região de plantio, época de semeadura e tipo de solo, para que ela consiga desempenhar seu máximo potencial nas condições adequadas de clima e solo.

Porém, não basta apenas escolher corretamente a cultivar adequada para região e tipo de solo, as sementes compradas devem ter qualidade, pois somente assim elas irão gerar uma plântula saudável, que formará uma planta com as características desejadas.

Para que a semente tenha qualidade ela precisa ter 4 atributos, que devem estar enquadrados dentro da lei. Veja a seguir.

Leia também: Sementes piratas e os riscos de usá-las nas lavouras.

Atributos que definem a qualidade de sementes  

A qualidade das sementes é dividida em 4 atributos, que são adquiridos ou definidos na produção de sementes em campo, no beneficiamento e armazenamento das mesmas.

Os atributos são: genético, físico, sanitário e fisiológico, e cada um deles é essencial para que a semente expresse seu potencial em campo.

Atributo genético 

O atributo genético tem a finalidade de garantir a pureza varietal das sementes, ou seja, que as sementes produzidas tenham em si o material genético da cultivar produzida, sem influência de outras cultivares.

Essa pureza varietal garante homogeneidade das plantas em campo, com as mesmas características de altura, produção, resistência a pragas e doenças.

Uniformidade da lavoura de soja
Homogeneidade das plantas de uma lavoura.

Atributo físico  

Como pureza física de um lote é preciso quantificar: sementes puras, material inerte e outras sementes.

Pela lei, descrita na Instrução Normativa MAPA 45/2013, cada cultura apresenta um valor, em porcentagem, da quantidade mínima de pureza exigida em um lote de sementes.

Este atributo tem por objetivo garantir que o lote esteja isento de sementes proibidas ou nocivas, e que não tenha danos mecânicos que irão prejudicar a germinação das sementes.

Atributo sanitário  

As sementes são uma das portas de entrada de doenças em novas áreas, por isso, a sanidade de um lote tem grande importância.

Além disso, há patógenos, como fungos e bactérias, que prejudicam a germinação das sementes, ocasionando problemas no estabelecimento das plantas em campo.

No Manual de Análise Sanitária de Sementes são apresentados os principais cuidados no manuseio de amostras para realização dos testes de sanidade de sementes, como fazer os testes e os principais patógenos que atacam as culturas.

Teste de qualidade de sementes atestando infestação por fungos
Fungos presentes em sementes de pau-mocó que prejudicam a germinação detectados pelo teste de sanidade. Fonte: UFERSA.

Veja também: Tratamento de sementes: importância e benefícios.

Atributo fisiológico 

A germinação e vigor das sementes fazem parte do atributo fisiológico, pois estão ligados a parte metabólica da semente, que é o que avalia este atributo.

Germinação e vigor elevados dão maior confiabilidade de que as sementes irão germinar, emergir e formar a planta dentro do tempo esperado, que pode variar em função da cultura semeada.

A germinação é avaliada em laboratório, onde expressa a máxima germinação do lote de sementes em condições ideais de temperatura, umidade e luz.

Já o vigor avalia a quantidade de sementes do lote, que em condições adversas, conseguirão produzir plântulas normais. 

Avaliar o atributo fisiológico, por meio do teste de germinação e testes de vigor, reflete no potencial que as sementes do lote têm em formar um estande adequado em campo.

Mudas de soja germinando uniformidade devido a qualidade das sementes
Exemplo de germinação uniforme de sementes de soja.

Estes atributos citados acima devem estar dentro da lei para cada cultura. A normativa das principais culturas produzidas no Brasil, que regem a padronização e comercialização de sementes, podem ser encontradas na Instrução Normativa MAPA 45/2013.

Esta normativa apresenta os padrões mínimos exigidos de pureza, sanidade, isolamento do campo de produção de sementes para evitar contaminação genética, germinação, e o tempo de validade do teste de germinação para cada cultura.

Principais testes para avaliar a qualidade do lote de sementes 

Todos os atributos citados acima são definidos por meio de testes realizados em laboratório, casa de vegetação e até mesmo em campo.

Cada teste tem sua finalidade, e a somatória dos resultados dos testes definem a qualidade das sementes do lote.

O Brasil conta com o manual Regras para Análise de Sementes, no qual é possível ver o objetivo das principais análises, o procedimento a ser realizado, os equipamentos necessários e a avaliação dos resultados.

Amostragem

A amostragem não é um teste, mas é o primeiro passo antes de serem realizados.

Para que os resultados dos testes sejam representativos com o lote das sementes que foram avalizadas, a amostragem é fundamental.

No Regras para Análise de Sementes há o passo a passo a ser realizado, indicando a quantidade de sub amostras que devem ser retiradas em relação ao tamanho do lote, e o peso mínimo da amostra para cada espécie.

Realização de testes de qualidade em sementes
Exemplo de amostras de sementes para realização de testes. Fonte: Embrapa.

Testes em laboratório

Cada cultura tem seus principais testes a serem realizados para definir a qualidade das sementes do lote, mas germinação, pureza e umidade são testes básicos em todas as culturas.

Os testes de vigor são os que mais mudam de cultura para cultura. Os laboratórios credenciados, que realizam estas avaliações para definir a qualidade das sementes, já têm pré-definidos os testes a serem realizados, como por exemplo:

  • Teste de frio, que consiste em colocar as sementes um período antes da germinação em condições de baixa temperatura e alta umidade, geralmente usados para gramíneas, como milho e trigo;
  • Testes de envelhecimento acelerado, onde as sementes são colocadas em alta temperatura e alta umidade antes da germinação.

O teste de tetrazólio avalia o tecido vivo das sementes. Este teste é muito utilizado nas empresas produtoras de sementes de soja, entretanto, pode ser utilizado em outras culturas, como milho.

Teste de tetrazólio em sementes de soja
Realização de teste de tetrazólio em sementes de soja. Fonte: Embrapa.

Por este teste é possível definir a causa da redução na qualidade das sementes: danos mecânicos (imediatos e latentes), danos por percevejo e danos por umidade. É um teste rápido, por isso, muito utilizado nas empresas que precisam de rapidez e qualidade dos resultados.

Confira também: Principais regras para importação de sementes.

Testes em campo/canteiro

Ainda, é possível realizar teste em campo, com a montagem de canteiros, que representam a área de plantio.

Para isso, a utilização de terra vinda da área que será realizada a semeadura é importante na avaliação.

Geralmente são canteiros pequenos, com altura de 15 cm, onde as sementes serão distribuídas em sulcos de 3-5 cm.

Utiliza 200 a 400 sementes, para poder fazer 4 repetições. A avaliação é dependente da cultura que está sendo semeada e deve seguir a recomendação de dias presentes na Regras para Análise de Sementes, avaliando as plântulas normais.

No vídeo abaixo temos um exemplo de teste em canteiro para avaliação da germinação de sementes de soja, confira:

Fonte: BASF Agro Brasil.

Fatores que reduzem a qualidade das sementes

A qualidade das sementes é definida em campo, com os tratos culturais realizados corretamente, controlando as principais pragas e doenças que causam perda da qualidade das sementes.

Assim, se for produzir sementes, o cuidado deve ser redobrado em comparação com um campo de produção de grãos.

O cuidado se inicia na limpeza das semeadoras antes mesmo do plantio, para evitar contaminação varietal.

Depois é realizada a avaliação em campo, verificando a presença de plantas atípicas, com doenças e com características diferentes da cultivar que semeou. Estas plantas, se observadas na área, devem ser arrancadas e destruídas.

Após a realização de todos os cuidados fitossanitários necessários, é importante se atentar à época de colheita.

Com 13 a 15% de umidade, sementes de soja já estão prontas para serem colhidas. Já sementes de milho são colhidas com umidade mais elevada (cerca de 35%), devido a isto, são colhidas com espiga.

São colhidas nestes momentos, pois evitam que as sementes fiquem expostas a intempéries que possam ocorrer, como chuvas, secas, entre outros, que causam danos nas sementes, prejudicando a qualidade. 

Lavoura de soja afetada por excesso de chuvas
Redução da qualidade de sementes de soja devido à chuva. Fonte: Olhar agro.

Outro ponto que reduz a qualidade das sementes é a regulagem das colhedoras, que podem causar danos mecânicos.

No armazenamento das sementes, os cuidados se voltam mais para temperatura ideal, evitando deterioração das sementes e a presença de patógenos, como fungos, que podem reduzir a qualidade das sementes.

Conclusão

Diversos fatores influenciam negativamente na produção de grãos, e o primeiro deles é a má qualidade das sementes.

A semente é um importante insumo na agricultura, e deve ser corretamente utilizado visando a obtenção de uma boa produção.

Para ter uma semente de qualidade é importante que seus quatro atributos estejam dentro dos padrões exigidos por lei.

Os testes que avaliam os atributos: genético, físico, sanitário e fisiológico podem ser variados, mas seus resultados devem condizer com o lote a ser comercializado.

Quando comprar sua semente fique atento na qualidade visual das mesmas, e se houver alguma dúvida, faça teste do canteiro e envie amostra para laboratórios confiáveis para fazer alguns testes antes da semeadura.

E então, gostou desse artigo? Aproveite e acesse também nosso post sobre 10 causas da degradação do solo. Boa leitura!

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