Entenda como funciona o sistema de distribuição de fertilizantes em taxa variável

Entenda como funciona o sistema de distribuição de fertilizantes em taxa variável

A crescente demanda mundial por alimentos fez com que os produtores rurais se adequassem para produzir mais, com a mesma extensão em área cultivável, porém observando a necessidade de reduzir o uso de insumos, buscando uma produção otimizada e de melhor qualidade.

Nesse contexto, a agricultura de precisão é um termo cada vez mais relevante no mundo agrícola. Uma das formas de se reduzir a utilização dos insumos e otimizar a produção é trabalhar com sistemas de taxa variável, uma técnica que permite ao produtor utilizar os insumos de acordo com a necessidade específica de cada ponto da área cultivada.

Dentre as práticas de AP é possível trabalhar em várias operações com essa técnica, sendo uma delas a distribuição de fertilizantes.

Neste texto iremos abordar a importância dos fertilizantes na agricultura, como funciona o sistema de distribuição em taxa variável e quais os seus benefícios. Confira!

Importância dos fertilizantes na agricultura

Os fertilizantes desempenham um papel crucial na agricultura brasileira, pois auxiliam a suprir os nutrientes essenciais para o bom desenvolvimento e crescimento das culturas. Esses insumos representam um importante meio de atingir a maximização da produtividade e a melhoria da qualidade dos produtos cultivados.

Trator com distribuidor de fertilizantes em operação
A utilização de fertilizantes na agricultura brasileira é de grande importância, visto que os solos em sua maioria são ácidos e pobres em nutrientes.

Embora o Brasil seja um dos maiores produtores agrícolas do mundo, a grande maioria dos solos do país é ácida e pobre em nutrientes para o desenvolvimento e crescimento das principais culturas. Portanto, a utilização dos fertilizantes é essencial para garantir o bom resultado da produção agrícola nacional.

Esses insumos são importantes para a correção e equilíbrio dos nutrientes do solo, fornecendo macronutrientes como nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes como cálcio, magnésio, boro, cloro, molibdênio, entre outros essenciais para o bom desenvolvimento das culturas.

Nesse contexto, existem fertilizantes minerais e biofertilizantes que são produtos orgânicos fabricados com microrganismos vivos e que têm tomado uma fatia considerável do mercado, sendo que ambos podem ser trabalhados em sistema de distribuição em taxa variável.

Leia também: Confira os cuidados necessários na compra de fertilizantes.

Distribuição de fertilizantes em taxa variável

A aplicação de fertilizantes em taxa variável é uma abordagem que consiste em ajustar a quantidade de fertilizantes a cada local do talhão de acordo com as necessidades específicas dessas subáreas.

Sendo assim, ao invés de aplicar a mesma dose em toda extensão da propriedade, utiliza-se a tecnologia por meio de mapas de recomendação, em que a máquina ajusta a distribuição dos fertilizantes com base nas recomendações específicas em cada ponto da lavoura.

Homem com tablet visualizando mapa de recomendação de fertilizantes
A partir de um mapa de recomendação é possível realizar a distribuição de fertilizantes em taxa variável.

No Brasil é muito comum encontrarmos áreas próximas com diferenças de textura, relevo, quantidade de nutrientes e outros aspectos. Isso ocorre porque existe a chamada variabilidade espacial dos solos.

A variabilidade espacial dos solos faz com que a utilização de práticas homogêneas de manejo em uma mesma área produtiva apresente diferenças no resultado da produção agrícola.

Essa variabilidade é consequência de interações complexas e de processos pedogenéticos. Além disso, as práticas de manejo do solo e da cultura também influenciam nessas diferenças, sendo consideradas causas adicionais de variabilidade.

Sendo assim, a melhor maneira de proporcionar maior homogeneidade de solo, melhorando a sua fertilidade, é trabalhando com a fertilização em taxa variável.

O principal objetivo do sistema de distribuição em taxa variável é melhorar os aspectos químicos do solo no que se refere à disponibilidade de nutrientes às culturas, visando a melhora na produtividade.

Confira também: Conheça as leis fundamentais e derivadas da adubação.

Funcionamento do sistema de distribuição em taxa variável

Antes de realizar a adubação na área, é feita uma coleta e análise de dados, tanto do solo quanto da cultura. Esses dados são obtidos por meio de análises de solo, sensores, imagens de satélite, drones, mapas de produtividade e outras ferramentas de agricultura de precisão.

Pessoa segurando amostra de solo em vidro de laboratório
Um dos passos antes de realizar a adubação em taxa variável é realizar a coleta e análise do solo.

Com esses dados é gerado um mapa de recomendação que indica quantidades e locais específicos para a aplicação de nutrientes. Esses mapas são transferidos em formato shapefile, por meio de um pendrive com polígonos georreferenciados contendo informações de doses de aplicação, para um monitor no trator ou distribuidor autopropelido que, por sua vez, realiza de forma automática a aplicação do fertilizante, ajustando as taxas de distribuição conforme a recomendação.

A distribuição é realizada por meio de controlador eletrônico, que recebe sinais de satélites para identificar e calcular a posição geográfica e a velocidade de deslocamento da máquina, podendo também ser calculada por meio de sensores instalados em uma das rodas do implemento.

É possível realizar o controle de dose do produto por meio das comportas. O sistema vincula a posição atual com a taxa indicada no mapa de recomendação inserido no monitor do equipamento e regula o motor hidráulico para atingir a taxa necessária.

A taxa alvo é alcançada por meio do controle de velocidade de rotação da esteira, a qual é mensurada através de um sensor de rotação acoplado a essa peça. A partir da calibração realizada, o controlador associa a velocidade da esteira com a quantidade de fertilizante que deve ser lançada. Esse controlador possui uma limitação de taxa mínima e máxima, as quais são determinadas pela abertura da comporta.

Como tudo é realizado de maneira automática, a comporta pode ser movimentada durante a operação atingindo diferentes faixas de aplicação. Esse sistema é realizado por meio de válvulas que controlam a abertura e o fechamento dessas peças. Por esse motivo, também é possível realizar cortes de seções utilizando um computador de bordo que controla o ponto de queda do produto no disco de acordo com a faixa desejada.

Trator com distribuidor de fertilizantes acoplado em operação
O sistema recebe sinais de satélites e realiza a distribuição dos fertilizantes em taxa variável por meio de um controlador eletrônico.

O controlador automático de seções é responsável pelo ligamento e desligamento automático das seções do distribuidor, evitando falhas e sobreposições na aplicação. Ele identifica os locais onde o produto já foi distribuído e as áreas que não necessitam ser tratadas.

As seções são parte da largura total de aplicação. Quanto mais seções o equipamento tiver, maior a precisão na redução de falhas e sobreposições.

Basicamente, esse sistema é composto por:

  • Receptor GNSS: recebe os sinais de satélites, podendo ser GPS, GLONASS ou outros, e determina a localização geográfica do equipamento;
  • Monitor: possibilita a configuração das tarefas e a visualização dos dados;
  • Controlador de seções: aciona e desliga as seções de forma automática e manual;
  • Conjunto de atuadores de seções: ativa e desativa seção a seção conforme o comando do controlador de seção;
  • Alimentação: permite a conexão com a fonte de energia do distribuidor.
Distribuidor de fertilizante autopropelido em campo de trigo
O controlador automático de seções auxilia na redução de falhas e sobreposições na aplicação de fertilizantes. Foto: Jacto.

Vale mencionar que essa técnica de distribuição em taxa variável não é recomendada para adubos formulados, visto que os mapas de fertilidade e recomendação são feitos de maneira individual para cada componente.

Também é importante entender que não são todos os casos que a aplicação em taxa variável vai trazer uma melhora na produtividade ou uma redução no uso de insumos.

Tendo em vista que a análise será mais aprofundada dos talhões, em algumas situações pode haver um aumento na utilização do uso de fertilizantes, já que em certos pontos da lavoura a necessidade específica pode ser maior comparando-se com a média em um manejo homogêneo.

Porém, ainda assim, a técnica seria indicada para que o produtor busque um maior equilíbrio dos nutrientes do solo, visando otimizar a produtividade.

Em relação à produtividade, alguns problemas de variabilidade na produção podem não estar necessariamente ligados às questões nutricionais. Assim, os mapas de produtividade são importantes para guiar o produtor nessa análise. Pontos de menor produtividade no mapa devem direcionar o agricultor a realizar uma inspeção mais aprofundada nesses locais para averiguar se o problema é nutricional ou um estresse hídrico, compactação de solo, ataques de pragas ou doenças, entre outros, que determinarão um outro sentido na tomada de decisão.

Leia também: O que são agregados do solo e como estruturar seus processos.

Benefícios da aplicação em taxa variável

A aplicação de fertilizantes em taxa variável traz uma série de benefícios ao produtor agrícola. Aplicando-se nutrientes de forma individualizada, levando em consideração as necessidades específicas de cada área, o produtor tem os seguintes benefícios:

  • Otimização do uso de fertilizantes: com a técnica de distribuição em taxa variável, o produtor trabalha com maior precisão, podendo, na maioria dos casos, reduzir custos com esses insumos;
  • Equilíbrio de nutrientes no solo: ao realizar a distribuição em taxa variável observando as necessidades específicas de cada subárea, é possível obter um certo equilíbrio de nutrientes em toda a área cultivada, reduzindo deficiências de nutrientes e tornando a área mais homogênea;
  • Melhoria na produtividade: quando o solo disponibiliza os nutrientes necessários na quantidade ideal para a cultura, com os devidos tratos culturais, a produtividade é maximizada e o produtor pode obter um melhor resultado na sua colheita.

Veja no vídeo abaixo como funciona a adubação em taxa variável:

Fonte: Verde Agritech.

Conclusão

O uso dos fertilizantes é de suma importância na agricultura brasileira, tendo em vista que grande parte dos solos nacionais são relativamente pobres em nutrientes. Um solo fértil com as quantidades ideais de nutrientes é essencial para o bom desenvolvimento e crescimento das culturas.

Uma mesma área pode apresentar grande variabilidade espacial de solo, causando problemas na produção por falta de determinados nutrientes em diferentes subáreas. Realizar a aplicação de fertilizantes em taxa variável é uma forma de maximizar a eficiência e a produtividade das lavouras.

Ao ajustar a quantidade ideal de fertilizantes para cada área, indicadas previamente por dados coletados a partir de análise de solo ou da cultura por meio de sensores, drones, imagens de satélite, entre outras tecnologias, é possível reduzir os custos com esses insumos, além de alcançar uma produção mais homogênea.

Portanto, não levar em consideração a variabilidade espacial da sua lavoura é desconsiderar os diferentes potenciais de maior produtividade da sua propriedade.

Gostou de saber como funciona o sistema de distribuição de fertilizantes em taxa variável? Então aproveite e leia também nosso texto sobre sensoriamento remoto no monitoramento de doenças na agricultura. Boa leitura!

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