O uso intensivo do solo, principalmente em áreas de monocultura, leva ao empobrecimento e compactação do mesmo, comprometendo sua fertilidade. Nesse sentido, a adubação verde é uma alternativa para a recuperação desses solos, promovendo inúmeros benefícios.
Neste artigo, vamos te explicar o que é a adubação verde, as melhorias que ela promove, como pode ser feita e quais espécies podem ser usadas. Confira!
O que é adubação verde?
A adubação verde é uma prática agrícola que visa recuperar a fertilidade do solo através do plantio de algumas espécies, principalmente gramíneas e leguminosas. As plantas usadas como adubo verde, ao fim do seu ciclo de desenvolvimento, são cortadas ou acamadas, e sua massa é deixada na superfície ou incorporada ao solo.
Esse processo ajuda a aumentar a matéria orgânica do solo, promovendo melhores condições para o crescimento da cultura seguinte. Além disso, o plantio dessas espécies também promove a reciclagem dos nutrientes, a descompactação do solo, a fixação de nitrogênio, entre outras vantagens.
Benefícios da adubação verde
A adoção da adubação verde nos sistemas de produção agrícola proporciona diversas vantagens através da melhoria das características químicas, biológicas e físicas do solo. Entenda melhor a seguir:
Melhoria dos fatores químicos do solo
Algumas plantas utilizadas como adubo verde, mais especificamente as leguminosas, como a crotalária e o amendoim forrageiro, realizam a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).
Isso significa que essas plantas fazem simbiose com um tipo de bactéria denominada rizóbio, que é capaz de absorver o nitrogênio presente na atmosfera e transformá-lo em nitratos e amônia, formas de nitrogênio que as plantas são capazes de assimilar.
Além disso, algumas espécies utilizadas como adubo verde, como a braquiária e o sorgo forrageiro, possuem um sistema radicular bastante vigoroso, o que permite a absorção de nutrientes lixiviados nas camadas mais profundas do solo, como o potássio e o enxofre.
Essa planta, que será incorporada ao solo depois de finalizado seu ciclo, vai então poder “liberar” esses nutrientes nas camadas mais superficiais do solo, tornando-os disponíveis para culturas de interesse econômico que possuem raízes menos profundas. A esse processo dá-se o nome de reciclagem de nutrientes.
A presença de matéria orgânica também faz aumentar a capacidade de troca catiônica (CTC) do solo, isto é, faz com que o solo consiga “se ligar” mais aos nutrientes. Ademais, tem a capacidade de formar quelatos com o alumínio presente no solo. Dessa maneira, o alumínio, que é tóxico para as plantas, fica impossibilitado de ser absorvido por elas.
Melhoria dos fatores biológicos do solo
A adubação verde favorece o aparecimento de fungos micorrízicos, que se associam às raízes das plantas, promovendo seu crescimento e consequentemente possibilitando maior capacidade de absorção de água.
Também ajuda a incrementar a atividade de microrganismos que decompoem a matéria orgânica deixada sobre o solo, transformando-a em nutrientes para as plantas.
Além disso, a presença de palhada no solo serve como barreira para emergência de plantas daninhas, diminuindo a necessidade do uso de herbicidas.
As aplicações de pesticidas também podem ter grande redução, pois a adubação verde promove o controle de insetos-praga, doenças e nematóides.
Melhoria dos fatores físicos do solo
A utilização da adubação verde promove melhorias nas características físicas do solo pois, uma vez finalizado o ciclo das plantas, as raízes se decompõem e abrem espaços que facilitam a penetração da água e dos nutrientes, além de contribuir para a descompactação do solo.
Já a parte aérea da planta forma a camada de palhada, cobrindo a superfície do solo. Isso auxilia no controle da temperatura do solo, que no verão em algumas regiões do Brasil pode passar dos 35 ºC, prejudicando processos vegetais como a germinação das sementes.
Também ajuda no controle da erosão do solo, seja causada por chuvas ou por ventos, e na preservação da umidade.
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Espécies usadas para adubação verde
Como dito anteriormente, são utilizadas principalmente espécies leguminosas e gramíneas, por conta da capacidade de fixação de nitrogênio e do volume de palhada produzido. Entretanto, crucíferas e cereais também podem servir como adubo verde. A escolha da espécie mais adequada vai depender do clima da região, da duração do ciclo, e principalmente, do que o solo está precisando.
O nabo forrageiro, por exemplo, possui um sistema radicular agressivo, sendo indicado para solos com problemas de compactação. Já a crotalária é necessária em áreas infestadas por nematóides. O milheto, por sua vez, é uma ótima gramínea para adubação verde pois produz bastante matéria seca, possui raízes profundas, e consegue se desenvolver com pouca água.
Além dessas, outras espécies também são utilizadas como adubo verde:
- aveias (branca, preta);
- azevém;
- braquiária;
- centeio;
- ervilhaca;
- feijão;
- feijão de porco;
- girassol;
- guandu;
- lablabe (ou lablab);
- mucunas (anã, preta, cinza);
- soja;
- sorgo;
- tremoço;
- trigo;
- triticale;
- entre outras.
No mais, outro fator importante a se observar nos adubos verdes é a relação Carbono/Nitrogênio. A palhada advinda de leguminosas possui baixa relação C/N, ou seja, é degradada facilmente por microorganismos, ficando pouco tempo no campo. Já a biomassa das gramíneas tem alta relação C/N, o que significa que sua decomposição é mais difícil.
Ademais, o plantio e o corte do adubo verde devem ser manejados de forma que os nutrientes, principalmente o nitrogênio, estejam disponíveis no momento de maior demanda pela cultura de interesse econômico. Além disso, deve-se evitar o uso de espécies que sejam suscetíveis aos mesmos patógenos que a cultura principal.
Como fazer adubação verde?
A incorporação da prática de adubação verde no sistema de produção agrícola pode ser de diversas maneiras:
- pré-cultivo ou rotação de culturas: nesse sistema, tem-se um ciclo de cultivo do adubo verde antes da cultura de interesse econômico;
- consórcio: plantio consorciado do adubo verde e da espécie principal;
- cultivo em faixas: cultivo de leguminosas perenes ou semi-perenes em faixas que separam talhões da cultura comercial, com poda periódica das leguminosas para adubação dos talhões.
Para a adoção da adubação verde, será necessário realizar um investimento com sementes, implantação e manejo das espécies. Entretanto, ela pode ser aplicada a qualquer cultivo e colabora com o aumento da diversidade de espécies no local, dos resíduos vegetais e da matéria orgânica, mitigando os impactos negativos da produção agrícola. Além disso, ajuda a incrementar a renda do produtor através da redução no uso de fertilizantes nitrogenados.
E então, esse texto foi útil para você? Aproveite e acesse também o nosso artigo sobre como fazer terraceamento para conservação do solo. Boa leitura!