Sete estados brasileiros com status livre de febre aftosa sem vacinação. Isso significa quase 45 milhões de bovinos e bubalinos, um quarto do rebanho nacional.
Caso não seja a principal, ficará entre as mais importantes notícias do ano: a oficialização, pela Organização Internacional de Epizootias (OIE), de novos estados brasileiros como status de livres da febre aftosa sem vacinação. Isso ocorreu em maio de 2021.
Agora são os seguintes: Santa Catarina (livre sem vacinação há 14 anos), Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia, parte do Amazonas e do Mato Grosso.
A notícia é excelente, porém, traz junto uma enorme responsabilidade para o sistema de defesa animal dessas regiões para evitar que a doença reapareça colocando todo esse avanço em risco. Nunca é demais recordar que o Japão registrou um caso dessa enfermidade após 92 anos livre de febre aftosa.
Os primeiros taurinos a pisarem em solo brasileiro foram trazidos pelos navios de Martim Afonso de Sousa, segundo consta, animais da raça Caracu, por volta de 1530.
E desembarcaram no litoral onde Sousa fundou a primeira vila brasileira, hoje a cidade de São Vicente/SP. Além de criar a cidade, introduziu o cultivo de cana-de-açúcar e construiu o primeiro engenho no país.
Chegada das vacinas
Consta que os primeiros relatos sobre essa doença no Brasil tenham ocorrido por volta de 1895, depois de terem sido notificados na Argentina e no Uruguai. Os transmissores teriam sido animais importados da Europa.
Mas há controvérsias. Uma das maiores autoridades no assunto aqui no país, o médico-veterinário Sebastião Costa Guedes, afirma que isso já teria ocorrido em 1878. Relevante, contudo, é que as vacinas só chegaram aqui na década de 1950. E demorou para que fosse encontrada uma realmente eficiente.
“Isso ocorreu somente quando o governo proibiu o uso da vacina em solução aquosa, em 1980, e tornou obrigatório o uso da oleosa, mais difícil de aplicar mas com resultados melhores”, de acordo com o dr. Guedes.
O fato é que atualmente, na maioria dos estados brasileiros, não há notificação de nenhum caso de febre aftosa há mais de uma década. O último foi registrado em 2006 no Mato Grosso do Sul.
E, segundo organismos internacionais, como Panaftosa, não há mais a circulação do vírus. Então, não seria o caso de todo o pais ser livre dessa doença sem vacinação?
Defesa sanitária equipada
Aqui chega-se a uma questão crucial. O serviço de Defesa Sanitária está bem preparado para ficar vigilante e agir com a rapidez necessária se houver um novo foco da doença? Esse é o grande problema.
Estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul e o Paraná, por exemplo, equiparam suas equipes de defesa sanitária. A situação em São Paulo é bem diferente.
Informações extraoficiais dão conta da falta de equipamentos, combustível e, principalmente, de médicos veterinários. Mesmo sem focos da doença, como assegurar uma boa vigilância sanitária sem equipamentos básicos para exercer esse trabalho?
Além do trabalho oficial, outra atitude importante é o comportamento do pecuarista. Ele precisa estar consciente da gravidade da doença e, ao menor sinal suspeito de algum dos seus animais, informar imediatamente as autoridades sanitárias para as providências imediatas.
Bem, mas não há só notícias ruins. O que significa esses novos estados livres sem vacinação? Muita coisa boa. A saber: de um modo geral, melhora a imagem da pecuária brasileira perante todo o mundo, o que não é pouco.
Países como o Japão, Coréia do Sul, entre outros, proíbem a importação de carne de países onde ainda se vacina o rebanho bovino contra a febre aftosa. Embora não haja nenhuma comprovação científica, esses países não aceitam a carne suína de países onde os bovinos ainda são vacinados contra essa enfermidade.
Estados como o Paraná e o Rio Grande do Sul, grandes produtores dessa proteína animal, não tinham acesso a esses mercados.
Novos mercados, novos clientes
Somente o Japão, importa um volume de carne suína igual ao total que o Brasil produz por ano. Então, a expectativa é que novos mercados se abram para a carne suína brasileira. Mesmo aqui, na América do Sul, existe um bom mercado para bovinos, seja carne, animais vivos, sêmen, enfim…
O Paraguai já é livre de febre aftosa sem vacinação, parte da Bolívia também, a Colômbia também tem uma excelente situação sanitária. Ou seja, oportunidades aparecem, resta ter uma defesa sanitária eficiente e conseguir tornar todo o país livre dessa doença sem vacinação.
Além disso, o pecuarista terá um custo menor, atualmente ele é obrigado a vacinar o rebanho e comprovar isso para as autoridades.
Vitória dos pecuaristas, sem dúvida, mas cochilar é perigoso. Mesmo sem ser escoteiros, é preciso estar sempre alerta.
E quem avisa é o médico-veterinário Sebastião Costa Guedes: “Temos que cuidar de outras doenças como a brucelose, pneumonia e a raiva bovina. Rebanho sadio significa, tanto no mercado externo quanto no interno, a produção de um alimento de melhor qualidade”.
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