É chegada a hora de desmistificar o agronegócio
Perdoem-me, senhores leitores, é um clichê, eu sei, mas o raciocínio, aqui, precisa ser este: vamos “começar do começo”. Peço que me acompanhem nesta jornada que se inicia hoje, com o apoio do MF Rural, a fim de colaborar com a comunicação do agro em nosso país.
Nossas conversas serão sobre as características do agronegócio e como elas operam, dinâmica e sistematicamente, gerando competitividade ao setor, com base em fatos e conhecimento científico. Sigamos.
Agronegócio: o pontapé veio de Harvard
Partimos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. A primeira referência ao agribusiness foi feita pelo pesquisador John Davis, em 1955, durante um seminário.
Mas, somente dois anos depois, ele e o colega Ray Goldberg (1957), ambos da Escola de Administração de Harvard, escreveram as primeiras linhas sobre o assunto, em um estudo, pioneiro, publicado no livro “Um conceito do agronegócio”.
À época, colocaram a nomenclatura na mesma categorização que propuseram para agribusiness, ou seja: “a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles” (1957, p. 2).
Apesar das particularidades que ganhou ao longo do tempo, o conceito se tornou referência academia, para o mercado e ao próprio setor.
Como surgiu o conceito
É importante ressaltar que o conceito do agronegócio surgiu a partir da integração da agricultura aos setores industriais de fornecimento de insumos, de um lado, e de processamento e distribuição da produção, de outro.
Neste contexto, Davis e Goldberg (1957) constataram que o segmento econômico de alimentos e fibras dos Estados Unidos havia evoluído de autossuficiência para interdependência, grande sacada à análise sistêmica do conceito.
Aliás, considerado ponto de encontro dos mais importantes entre “as diferenças de origem e de aporte teórico que existem na literatura” (ZYLBERSZTAJN, 2000, p. 2) sobre o agronegócio.
O conceito se difundiu rapidamente por ser de fácil aplicação na formulação de estratégias corporativas e possuir grande “poder preditivo”, ou seja, precisão às tendências do agribusiness moderno (ZYLBERSZTAJN, 2000).
No Brasil, chama-se a atenção para o fato, fundamental, de que o agronegócio é o “único segmento relevante da economia brasileira, e que tem, no progresso técnico, o centro de seu modelo de negócios. E sua importância é tanto maior quanto mais comparada com a baixa produtividade da economia brasileira” (2014, p. 22) que, em geral, tem crescido timidamente nos últimos anos, escreveu o economista José Roberto Mendonça de Barros, nos Prefácio da obra “O mundo rural no Brasil do século 21”.
A que viemos?
A proposta, nesta coluna, é fazer um passeio pela história do agronegócio mundial, por meio de suas principais formas de análise.
E, de maneira particular, pelos mais de 50 anos no Brasil, a fim de desmistificar, esclarecer e informar o leitor sobre este setor econômico nacional tão robusto e vigoroso em produtividade, mas tão tímido e vulnerável em se tratando de falar de si mesmo e de seu potencial.
A importância disso tudo reside no fato de estarmos tratando do Brasil como o país que se tornou um player global, responsável por propiciar alimentos para 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo (MORETTI, 2019).
A ideia dos artigos é contribuir na construção de um arcabouço científico sobre o agronegócio brasileiro, com temas transversais como inovação, competitividade e comunicação.
Além de fomentar o debate sobre o abastecimento alimentar global, que, se percebe tratar de uma pauta permanente da mídia, nos dias atuais, e que permeará a economia e a sociedade nacional nos próximos vinte anos, conforme constatou o estudo “O futuro da cadeia produtiva da carne bovina brasileira: uma visão para 2040”, realizado pelo Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne), instituído pela Embrapa Gado de Corte.
Por fim, reforça-se que o objetivo será, sempre, tentar superar a fragmentação e a razoabilidade com que a temática do agronegócio tem sido tratada, de maneira teórica ou prática.
Pois, munir o agro e seus agentes de conhecimento científico, significa promover uma evolução robusta, competitiva e responsável do setor. Diminuem-se, assim, as chances de cenários incertos e paramenta-se às previsões complexas.
Referências:
MORETTI, C. Agropecuária brasileira alimenta mais de 1,5 bilhão de pessoas. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 2019. Disponível aqui. Acesso em: 15 abr. 2021.
DAVIS, J.H.; GOLDBERG, R.A. The genesis and evolution of agribusiness. In: DAVIS, J.H.; GOLDBERG, R.A. A concept of Agribusiness. Harvard University. 1957.
ZYLBERSTAJN, D. Conceitos gerais, evolução e apresentação do sistema agroindustrial. In: ZYLBERSZTAJN, Decio.; NEVES, Marcos Fava (orgs). Economia e Gestão dos Negócios Agroalimentares: indústria de Alimentos, Indústria de insumos, Produção Agropecuária, Distribuição. São Paulo: Pioneira, 2000.