Os asininos (Equus asinus), mais conhecidos como asnos, jumentos, ou jegues, estão presentes em praticamente todo o planeta, seja para trabalhos mais pesados, de sela ou de tração, ou ainda para reprodução e preservação da espécie.
Embora não sejam originários do nosso território, certamente são animais extremamente populares no Brasil. Além de sua inteligência, se destacam por conta da força e também pela longevidade, com média de vida chegando aos 45 anos.
Afinal, foi no lombo de um jumento que o Brasil foi construído? Se assim como eu, você também pensa que sim, vale a pena conhecer um pouco mais sobre a criação dos asininos.
Neste artigo, vamos abordar curiosidades, características, utilidades, manejo geral e ainda alguns detalhes que vão te apresentar a realidade por trás dessas longas orelhas! Confira!
Características e qualidades dos asininos
De acordo com estudos arqueológicos, os asininos estão ao lado do ser humano muito antes dos cavalos, que são naturalmente mais selvagens. Estima-se que eles convivem com o homem desde a pré-história.
Em termos de “personalidade”, você já deve ter escutado por aí a respeito da “teimosia” dos jumentos. Entretanto, a tenacidade que motivou a sobrevivência desses animais ao longo da história não pode ser resumida a teimosia! Afinal, os asininos que empacam, o fazem por inteligência. Com os sentidos sempre atentos, se recusam a obedecer ordens às cegas. De toda forma, são animais espertos e afetuosos.
Ao contrário dos cavalos, os jumentos dificilmente vão largar em disparada motivados por medo. Criteriosamente parados, vão avaliar o risco e enfrentar bravamente. Aliás, podem contribuir muito bem para a proteção de rebanhos de ovinos, já que confrontam tanto cães como lobos.
Quanto às características físicas, esses animais apresentam considerável força e resistência, podendo permanecer na mesma tarefa por longos períodos, e até mesmo criar uma rotina. Ademais, para sobreviver com recursos escassos, a espécie aos poucos desenvolveu enorme rusticidade e características que se estabeleceram fortemente, como olfato e audição apuradas, além de visão muito boa.
Em contrapartida aos cavalos, a crina dos jumentos é em pé e curta, e outros aspectos físicos também são contrastantes e facilmente identificáveis. Paralelamente, são muito variáveis na questão do tamanho e peso, apresentando de 90 cm até 1,5 metro, pesando no máximo 400 kg. Ou seja, são animais grandes, resistentes e propícios a cuidar de tarefas pesadas na rotina.
Leia também: Cavalo para lida diária: confira quais são as características.
Taxonomia e fertilidade
Os asininos pertencem à família dos equídeos, assim como os cavalos e as zebras. Ao contrário do que muita gente pensa, eles são animais férteis, e costumam gerar descendentes com a qualidade tão elevada quanto seus parentes mais próximos, com períodos de gestação que variam entre 11 e 13 meses.
O que geram descendentes inférteis são os cruzamentos entre esses “primos”. Isto é, o cruzamento entre jumento e égua, que gera um burro ou uma mula, ou ainda o cruzamento entre cavalo e jumenta, que gera o bardoto, ou bardota. Ademais, ainda pode haver cruzamento entre zebras e asininos, gerando os chamados “zebrasnos” e também entre zebras e cavalos, que geram os “zebralos”.
O que explica a infertilidade dos descendentes desses cruzamentos é o fato dessas espécies “primas” terem números de cromossomos diferentes. Os cavalos apresentam 64 cromossomos, os asininos 62, e as zebras 32, 44 ou 46, dependendo da subespécie. Os produtos da reprodução entre essas espécies diferentes serão invariavelmente estéreis.
Criação de asininos no Brasil
A necessidade nutricional dos asininos é diferente da alta seletividade dos cavalos, assim, a criação desse animais soltos a pasto é bem indicada e traz menos complicações, o que favorece muito a criação no Brasil.
Aqui, prevalecem as livres áreas de pastejo e condições de clima quente e seco, exigindo rusticidade dos animais. Assim, as regiões onde mais se encontram jumentos são o Norte e Nordeste, onde há uma grande concentração de trabalho para a subsistência das famílias.
Convém lembrar também que a criação dos asininos é completamente adaptável e, paralelamente a eles é possível ter cavalos, ovelhas e cabras, já que eles não são animais territorialistas, e convivem bem com os seus pares.
No Brasil, o jumento Pêga, uma raça formada em Minas Gerais, é a mais valiosa e procurada pelos criadores nacionais devido a qualidade e características genéticas ideais. Essa raça é tão valiosa que roda o Brasil e chama a atenção de muitos interessados na área.
Segundo relatos históricos, a raça surgiu a partir de cruzamentos feitos com raças importadas, aliado ao ambiente tropical brasileiro. O nome surge com base no período escravocrata, em que pêga é o nome da algema colocada nos pés dos fugitivos das propriedades. No início, para deixar claro que a raça era única e criada com rigorosos padrões de qualidade, foi marcada a fogo com essas mesmas algemas.
Veja também: Criação de equinos com pastagem.
População de asininos no Brasil
Afinal de contas, qual o rebanho atual de asininos no Brasil?
Para responder essa questão é necessário considerar o contexto principal em que esse animal foi inserido. Especialmente no Nordeste, região árida e de poucos recursos, os asininos eram parte da existência das famílias, levando todo o trabalho pesado em seus lombos, em uma época onde não existiam carros, tratores ou outros recursos para ajudar no trabalho duro diário.
Porém, com o tempo essa situação foi mudando, e mesmo que o jegue seja ainda hoje um patrimônio cultural e represente a história, especialmente dessa região brasileira, os estudos sobre a quantidade de asininos em solo brasileiro divergem muito entre si. Para entender melhor sobre essa divergência, acesse nosso artigo sobre a subjetividade da pesquisa do IBGE com equinos.
É fato que o asinino nunca se enquadrou em espécie de produção e, os manejos e cuidados também são pouco direcionados até hoje. Devido a resistência que apresentam, muitas vezes adoecem e não demonstram sinais clínicos, e até chegam ao esgotamento físico, por excesso de trabalho e nutrição inadequada.
Entretanto, a China, que detém medicamentos a partir do couro desse animal, passou a importar nossos jegues, que são recolhidos na caatinga e abatidos em grande volume, sem qualquer cadeia de produção.
O produto que é comercializado, feito a partir do couro dos jumentos, denominado ejiao, movimenta milhões de dólares por ano, e mesmo assim, reflexos econômicos dessa atividade não são sentidos aqui no Brasil, já que o abate dos animais não considera uma cadeia produtiva, como acontece com os bovinos.
Dessa forma, o governo federal determinou em fevereiro de 2022 que o abate e exportação – tanto do couro como da carne de jumentos oriundos do Nordeste brasileiro – está suspenso, sendo inclusive comemorada a decisão judicial: “O abate de jumentos é inaceitável do ponto de vista ético, ambiental e cultural” – diz a advogada Gislane Brandão, coordenadora-geral da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos (Fonte: BBC News Brasil).
Veja no vídeo abaixo uma reportagem sobre esse assunto, que aborda todos os aspectos econômicos e sociais dessa atividade. Aviso: contém imagens fortes.
Sendo assim, o Brasil já dá passos iniciais em direção a um posicionamento maior, frente a necessidade de repensar o modo como conduz as criações dessa espécie. Nesse contexto, felizmente, inviabiliza aqui o consumo de carne de equinos, sendo esse um tabu muito forte.
Portanto, com o amparo da lei, espera-se que a criação de asininos, que já é parte da cultura brasileira, não suma e seja ressignificada!
E então, esse artigo foi útil para você? Aproveite e acesse também o nosso post sobre as raças de cavalo mais comuns no Brasil. Boa leitura!