Boas práticas na alimentação do gado

Boas práticas na alimentação do gado

Nutrir ou fornecer elementos que compõem a alimentação do gado adequadamente representa um imenso gargalo por onde boa parte da renda escoa. Por outro lado, se associada às boas práticas, a alimentação pode trazer acréscimos importantes ao bolso do produtor.

Tendo em mente o grande impacto que a oferta alimentar do rebanho representa em sua propriedade, já que cerca da metade dos seus recursos estão envolvidos nesse fim, te aconselho a conferir agora a sequência da série Boas Práticas de Manejo do Gado. Dessa vez, trataremos da alimentação do gado, considerando 5 pilares práticos, assim como os benefícios da adoção das boas práticas. Confira!

Leia também: Boas práticas na identificação do gado.

O que está envolvido na nutrição animal?

De início, é importante definir o que é valor alimentar. De acordo com o Manual de Nutrição Animal da Embrapa, se trata do valor nutritivo (considerando o teor dos nutrientes) mais o consumo, ou seja:

VALOR ALIMENTAR = TEOR NUTRITIVO + CONSUMO

Com essa definição como premissa, entendemos que não basta considerar o teor nutritivo do que é ofertado. Primeiramente, é fundamental ter a certeza do que é ingerido, especialmente em termos de quantidade.

Para absoluta certeza da quantidade ingerida é preciso fornecimento controlado e individualizado, pesando o que é oferecido antes e as sobras no cocho após se alimentarem, além de realizar a pesagem do gado em intervalos de tempo bem determinados.

Por outro lado, o pastejo exige oferta de massa verde suficiente para a densidade populacional. Para fins de controle das áreas que forem sendo consumidas/animal, é necessária observação contínua e manejo adequado das áreas. Nesse sentido, o manejo rotativo de piquetes visa facilitar e permitir melhor manejo forrageiro.

Ademais, é fato que os bovinos são essencialmente animais que vivem em grupos, o que influencia diretamente todos os seus comportamentos (falaremos um pouco mais sobre isso adiante). De qualquer forma, a principal atividade realizada por eles envolve a alimentação, sendo que o gado passa mais da metade do dia entre a ingestão e a ruminação.

Alimentação do gado no pasto
Seja gado de leite ou de corte, sistema a pasto e arraçoamento no cocho, ou em confinamento, é importante que os animais sejam acompanhados de perto.

Categorize os animais a partir das fases da vida

Cada categoria da vida do bovino tem suas próprias exigências. Com isso, a formação de lotes é uma medida simples que favorece seu controle e a aplicação de um plano mais direcionado a cada necessidade.

Idealmente, a oferta balanceada e o acompanhamento nutricional dos lotes deve seguir uma ordem:

  • Bezerros – fase de cria;
  • Novilhas – fase de recria;
  • Machos e fêmeas (fora do período reprodutivo) – fase adulta produtiva;
  • Machos – fase de terminação.

Ainda nesse mesmo contexto, a fase reprodutiva é representativa para as fêmeas. Considere:

  • novilhas que vão apresentar o primeiro ciclo – (separar lotes de primíparas);
  • fêmeas que já estão cobertas e confirmadas de prenhez – (gestantes);
  • fase de pré parto, ou pós parto imediato – (direcionar as crias para os seus próprios lotes).

Portanto, cabe ressaltar que as criações focadas em apenas uma categoria são uma realidade fortemente destacada em nosso país. A exemplo disso, temos na cadeia de lactação intensiva o foco apenas em matrizes, e na cadeia de corte foco apenas na terminação e ganho de peso.

Nesses casos, por exemplo, os lotes podem ser formados a partir do peso, ou da idade contada a partir da chegada do animal na propriedade.

Resumidamente, a grande importância que os lotes têm no direcionamento das boas práticas na alimentação do gado é no sentido de facilitar e contribuir para menores desperdícios, respeitando as necessidades de cada fase.

Oferecimento de alimento ao gado confinado
Com a atitude voltada para o respeito ao bem estar animal, você terá produtos rentáveis e competitivos, além de maior valor agregado por conta da qualidade, segurança alimentar e sustentabilidade.

Veja também: Conheça as principais espécies de brachiaria.

A importância do planejamento na alimentação do gado

Definir com muita clareza o objetivo de cada categoria, ou de cada lote, é fundamental! Partindo dessa definição, em uma criação em cadeia vai ser necessário lidar, por exemplo, com:

  • lotes de fêmeas que devem alcançar a condição corpórea para a primeira cobertura;
  • bezerras que já podem ser totalmente desmamadas;
  • matrizes que estão em fase de pós parto imediato em picos de lactação.

Cada lote deve receber oferta de plano alimentar ideal e de acordo com o objetivo traçado inicialmente.

Alguns estudos já comprovam que vacas alimentadas em grupos (corretamente formados) terão maiores índices sanitários, além de expressarem menor índice de comportamentos prejudiciais de dominância e estresse. Dessa forma, o resultado será a maior expressão de picos produtivos.

Ademais, conforme dissemos no artigo de Boas Práticas na Identificação do Gado, reforça-se a necessidade de acompanhamento de escrituração (anotação dos dados de forma dinâmica), o que prevê a identificação de todos os animais.

O planejamento vai garantir resultados se o objetivo for claro e específico. O que quer dizer que não basta separar os lotes e partir do desejo de querer maior lucro. Definir metas e alvos claros, com delineamento de um caminho a ser percorrido, vai te trazer maior segurança e contribuir para resultados mais claros.

Uma vez bem direcionado na questão alimentar, você vai ser conduzido a resultados como:

  • aumento em litros de leite por vaca ao dia;
  • precocidade e aumento do ganho de peso;
  • redução da quantidade de animais doentes, seja qual for a categoria animal;
  • taxa de mortalidade mínima possível;
  • proporciona melhor capacidade reprodutiva ao rebanho.
Acesso do rebanho ao cocho com água limpa e de qualidade
A oferta de água de qualidade é parte importantíssima do plano alimentar do rebanho, assim como garantir o livre e fácil acesso por parte de todos do lote.

Relação entre comportamento e alimentação

Lembrando que considerar apenas o teor nutritivo do alimento, ou seja, a composição bromatológica, não engloba aspectos relacionados ao comportamento de ingestão, isto é, a questão física, fisiológica e psicológica.

A fim de garantir a qualidade final do processo, observe atentamente as seguintes questões:

  • Física – referente a saciedade ou absorção proveniente da ingestão do teor de fibras. Lembrando que os ruminantes essencialmente se alimentam de forragens, o que leva a distensão abdominal e a ruminação;
  • Fisiológica – manutenção do equilíbrio energético, ou seja, a forma como o organismo encontrou para equilibrar a homeostase e a capacidade produtiva desse individuo;
  • Psicológica – relaciona-se à resposta desse animal frente ao ambiente e aos estímulos presentes no alimento (palatabilidade, clima, instalações, formação do grupo social).

Conforme citado, a expressão de comportamento inerente à espécie dos bovinos prevê a vivência em grupos e inclusive, o fato de existirem líderes e reconhecimento dessa hierarquia estabelecida. A relação de dominância social vai se estabelecer a partir do tamanho corporal, da idade do animal e do tempo de permanência dele no rebanho.

Saiba que, a partir da relação de dominância podem existir situações de estresse, o que é determinante na relação oferta X consumo. Esteja atento a isso para possíveis mudanças nos lotes já formados, a fim de possibilitar melhor convivência e acesso garantido a alimentação de todos os indivíduos.

Relação ideal de oferta de alimento no cocho
Considere o comedouro como o ponto de conexão direta entre seus animais e você! Observe atentamente a esfera da oferta de alimento.

Confira também: Confinamento a pasto reduz custo na engorda de bovinos.

Como garantir a qualidade nutritiva em sua propriedade?

A qualidade nutritiva está diretamente relacionada à observação de todos os fatores que envolvem a oferta de alimentos.

Por este ângulo, a fim de garantir a qualidade nutritiva do pasto, tenha em mente as fases de seca e das águas, e a relação direta com a concentração nutritiva desse pasto, o que vai te fazer lembrar da importância, também, do bom planejamento de plantio e de rebrota do pasto.

Nesse aspecto, convém lembrar que o solo é muitas vezes pobre em minerais, o que impacta diretamente na saúde reprodutiva, por exemplo. Dessa maneira, a mineralização é tão importante quanto a forragem e os concentrados. Quanto mais próximo do que é o elemento fresco, maior é a integridade mantida e a qualidade preservada.

No mesmo sentido, ter uma reserva de alimento armazenado é vital e vai trazer resultados significativos, sendo necessário ter atenção com o equilíbrio ideal na oferta e com vetores de doenças.

Então, como calibrar a qualidade do que é ofertado? Considere grande influência por parte de questões como odor, sabor, textura e temperatura, além de questões individuais, do equilíbrio nutritivo da dieta e a forma de apresentação. Para mais detalhes, dê uma olhada no livro Alimentação do Gado de Leite, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Ademais, seus animais vão optar por consumir alimento se tiverem tempo disponível e acesso fácil, sendo esperado cerca de 10% de sobras no comedouro, mesmo em condições de alta qualidade do que é ofertado.

Silagem armazenada no pasto para alimentação do gado
O armazenamento correto de todos os alimentos – que garante a conservação, impedindo presenças de vetores de doenças – permite a qualidade dos nutrientes e melhor alimentação do gado. Na foto, silagem bem armazenada.

Relação financeira da alimentação do gado

Os aspectos econômicos sempre vão nortear a sua criação produtiva. Isso prevê 3 passos importantes:

  1. Avaliar previamente a realidade do que é ingerido e, dentro do plano, prever a disponibilidade do alimento;
  2. Considerar as épocas e a cotação do alimento, priorizando o que tem menor valor de compra em determinado período do ano;
  3. Ao planejar estoque de alimento (feno, por exemplo), considere o valor agregado para dispor desse alimento (como o envolvimento do pessoal, do maquinário e todos os detalhes).

A relação investimento X retorno precisa se equilibrar, caso contrário, seu lucro não vai ser observado.

Por exemplo, a ração oferecida em balanço incorreto, mesmo com oferta de forrageira de qualidade em pasto, é um comportamento comum que pode inclusive inviabilizar a expressão do potencial genético do animal.

Determinar um objetivo claro para o lote e considerar o seu poder de investimento econômico vai envolver avaliar aspectos regionais e os demais que estão envolvidos, como transporte e mão de obra, por exemplo.

Para tanto, pergunte-se: esse balanço é (ou pode ser) realmente lucrativo? Trazer a questão para sua realidade produtiva é o ingrediente que falta na sua receita final!

Monitore seu plano e avalie constantemente

A essa altura, você já deve concordar que a adoção das boas práticas é de fato, favorável. No decorrer do texto apontamos também como aplicar essa mudança de atitude plano alimentar do seu rebanho.

Agora, considere a importância do acompanhamento de perto: monitorar é o segredo do sucesso na adoção das boas práticas! Se você conhecer de perto a evolução do lote, vai poder comemorar cada pequeno ganho de peso, e ter consciência ao menor desperdício de dinheiro.

A fim de facilitar pra você, nós, do grupo MF Rural, disponibilizamos abaixo um Guia de Boas Práticas para Alimentação do Gado, contendo 5 dicas. Aproveite e compartilhe com seus colegas pecuaristas!

Guia de boas práticas de manejo do gado: parte 2: alimentação
Dedicação e monitoramento: assegure-se dos pontos que merecem maior atenção a partir do nosso Guia de Boas Práticas na Alimentação do Gado.

E então, esse artigo foi útil para você? Aproveite e acesse também o nosso post sobre como escolher ração para gado. Boa leitura!

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