Em um primeiro olhar, o trabalho de uma colhedora de cana pode parecer simples. Afinal, vemos a cana passar pela máquina e ser lançada pelo outro lado para o veículo de transbordo. Porém, o sistema de colheita de cana-de-açúcar tem vários componentes e detalhes para que ela possa sair parcialmente limpa até o transbordo.
A colheita mecanizada, que vem sendo cada vez mais adotada não apenas pela eficiência operacional, como também por questões legais, tem a colhedora como sua principal máquina.
A 1ª patente de uma colhedora foi registrada em 1894 por Hiram Moore e, a partir dela, diversas outras máquinas foram surgindo, apresentando novas funções, melhorando em desempenho e ficando cada vez mais eficientes.
Mas como exatamente funciona uma colhedora de cana?
Nesse texto, falaremos mais sobre os componentes de colhedoras de cana e também vamos compreender como essas máquinas fazem o corte, separação, limpeza parcial e transporte da cana-de-açúcar, bem como conhecer os diferentes tipos de colhedora e algumas dicas importantes na hora de escolher a melhor máquina para a sua lavoura. Confira!
Brasil: o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo
Segundo dados da Embrapa, o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, com uma produção de mais de 480 milhões de toneladas, sendo matéria prima para a produção de açúcar, etanol e subprodutos.
Cultivada em condições climáticas tropicais e subtropicais, como Ásia, África e América Latina, a cana é plantada em campo através do sistema convencional, sistema de cultivo mínimo ou pelo sistema de plantio direto. Embora a maior parte da colheita em países como Índia e outros países não industriais seja manual, a principal máquina responsável pelo corte de base, fração, limpeza e transporte é a colheitadeira.
Leia também: Qual a diferença entre plantio direto e plantio convencional?
De olho na legislação
Até pouco tempo atrás, a colheita de cana-de-açúcar era feita principalmente de forma semimecanizada, ou seja, o corte era feito manualmente e o transporte era feito através de máquinas.
Para a realização do corte manual, no entanto, era preciso queimar previamente a cana-de-açúcar, as chamadas “queimas controladas”, uma vez que as linhas de cultivo são muito estreitas e há uma grande quantidade de folhas, havendo necessidade de queimar essa palhagem para realizar o corte da planta madura.
O problema com esse método é que ele causa muita poluição, agredindo o meio ambiente e reduzindo a qualidade do ar.
Assim, a colheita mecânica vem ganhando cada vez mais espaço, não apenas por ser mais eficiente, mas também por dispensar o uso de fogo.
Com o Código Florestal Brasileiro (Lei Federal nº 12.651/2012), o uso de fogo passou a ser proibido, excetuando-se em 3 situações:
- em locais onde o fogo seja justificado e haja aprovação do órgão estadual ambiental competente do SISNAMA;
- em Unidades de Conservação, com devida aprovação do órgão gestor e com intenção de conservar a vegetação nativa;
- em pesquisas científicas vinculadas a projetos devidamente aprovados por órgão competente.
Enquanto no sistema de colheita manual era necessário queimar a cana para a realização do corte com facão, no sistema mecanizado essa etapa do processo é feita sem a queima, com colheitadeiras, tratores e veículos de transbordo.
Com isso, agricultores precisam abandonar a prática de queima controlada a partir do uso de máquinas e técnicas que abram mão da necessidade de fogo e adotar outras formas de lidar com a colheita da cana crua.
Tipos de colhedora de cana
Uma colhedora de cana pode fazer o serviço de até 100 homens no campo, mas nem todas as colhedoras são iguais. Elas são classificadas conforme o tipo de funcionamento:
- Máquinas automotrizes, que se deslocam por meio de propulsão próprio, realizando todas as operações que compõem a colheita;
- Máquinas de arrasto, que possuem um motor auxiliar ou são tracionadas por um trator;
- Máquinas montadas, que são acopladas a um trator responsável pelo movimento.
A maioria das colhedoras de cana-de-açúcar é automotriz. No entanto, algumas máquinas puxadas por trator são acessíveis e utilizadas adicionalmente.
Como funciona uma colhedora de cana
A colhedora de cana é um equipamento que tem por função cortar, fracionar, limpar parcialmente e carregar a cana em veículos de transporte.
Quando dizemos “parcialmente”, é porque depois que o produto é transportado para a indústria, ainda é necessária uma limpeza maior, mas há, dentro da máquina, dois ventiladores axiais que colaboram para separar as impurezas minerais e vegetais dos toletes de cana.
Logo no início da máquina, há um ordenamento das linhas da cana-de-açúcar em um divisor de linha. A planta de cana é, então, defletida por um rolo tombador e levada à parte onde é feito o corte de base.
Em seguida, o produto é guiado para o interior da colheitadeira através de um sistema de rolos alimentadores até ser cortado em pedaços em um rolo que possui facões.
Durante esse intervalo em que os pedaços são depositados no cesto, a cana-de-açúcar passa por um primeiro processo de limpeza, realizado pelo extrator primário – uma região onde há um ventilador axial que faz a principal limpeza das impurezas.
Em seguida, o produto mais limpo vai ser depositado no cesto, transportado pelo elevador por esteiras, que levarão os pedaços cortados até o veículo de transbordo.
Antes de ser lançada no transbordo, no entanto, a cana ainda passa por um segundo ventilador axial, na região do extrator secundário, que realiza uma segunda limpeza.
Componentes da colhedora de cana
A colhedora de cana-de-açúcar é uma máquina complexa, com diversos componentes que contribuem para a realização de todo trabalho mencionado anteriormente, de cortar, fracionar, limpar parcialmente e carregar a cana até um transbordo.
Veja a seguir os principais componentes da colheitadeira de cana-de-açúcar:
- Cortador de pontas: tem por função despontar a cana, com objetivo de reduzir impurezas vegetais como folhas, ponteiros e palmitos da cana;
- Ponteira da sapata: levanta a cana caída;
- Divisores de linhas: o divisor de linhas tem a função de coordenar a linha de cana-de-açúcar para alimentar a máquina;
- Sapata flutuante: direciona a cana para o centro do corte de base;
- Rolos tombadores: antes de alimentar a máquina, as plantas são defletidas pelos rolos tombadores. Essa deflexão auxilia nesse processo, que é um dos principais: a realização do corte;
- Rolo alinhador: separa e alinha a cana até o picador;
- Cortador de base: como o nome sugere, é o componente que realizará o corte da cana-de-açúcar;
- Sistema de rolos: composto pelo rolo tombador (fixo e móvel), rolo levantador (fixo e móvel), rolo alimentador e rolo picador. O processo de alimentação dos mecanismos internos da máquina só acontece porque os rolos realizam o transporte das plantas e no final dos rolos alimentadores, elas passam por dois rolos que irão fracionar os colmos;
- Rolo lançador: lança os toletes de cana de maneira distribuída para o cesto do elevador. Facilita a extração de impurezas vegetais pelo extrator;
- Chapa defletora: possui três estágios de regulagem – cana alta, média e baixa produtividade. Tem a função de diminuir as perdas;
- Extrator primário: no processo de deslocamento dos rolos até o cesto, os colmos passam pelo extrator primário, que possui um ventilador axial que realiza a primeira limpeza, retirando e ejetando principalmente palhagem;
- Cesto: armazena os toletes e alimenta a esteira do elevador;
- Elevador: o produto no cesto é transportado pelo elevador através de uma esteira;
- Extrator secundário: localizado no final do elevador, é um segundo ventilador axial que remove toda impureza restante antes de jogar a cana para o transbordo;
- Resguardo da carreta: no elevador, esse resguardo auxilia no equilíbrio da máquina;
- Flap: lâmina de borracha que direciona a cana picada até o transbordo.
Veja no vídeo abaixo o funcionamento da colhedora de cana-de-açúcar:
Veja também: Como reduzir as perdas na colheita de cana.
Como escolher a melhor colhedora de cana para a sua lavoura
Percebemos até aqui que o uso de colheitadeiras reduz a dependência de mão de obra e economiza o tempo dos agricultores.
Mas, como escolher a melhor colhedora de cana para a sua lavoura?
Essas máquinas podem custar de R$100 mil a R$3 milhões. Trata-se de um grande investimento para o agricultor e, por isso, há algumas dicas importantes para as quais você deve se atentar.
A primeira questão tem a ver com a disponibilidade de peças de reposição. Vimos aqui que colhedoras dependem de vários componentes para funcionar. Caso a máquina tenha algum problema mecânico e necessite de peças que sejam difíceis de se encontrar, haverá um grande prejuízo para a produção e para o produtor, devido ao tempo de parada da máquina. O bom funcionamento das colhedoras está diretamente ligado ao uso de peças originais, então verifique primeiro se as peças de reposição são de fácil acesso.
Outro ponto é a questão do desempenho. É importante avaliar o quanto a colheitadeira consegue entregar em termos de resultado e a relação entre o gasto de combustível e a área colhida.
Verifique também a capacidade do tanque, o câmbio e o tempo recomendado entre as manutenções.
Outra forma de acertar na escolha é preferir marcas reconhecidas, o que traz a confiabilidade da experiência de outros produtores e canais de suporte mais eficientes.
Manutenção de colheitadeiras
Como mencionamos anteriormente, um dos pontos principais para se levar em consideração na hora de escolher uma boa colheitadeira é verificar a disponibilidade de peças de reposição. Mas o ideal é evitar as manutenções de correção, onde as peças chegam ao desgaste total, a ponto de necessitarem de reparos imediatos, de maneira inesperada.
E, para tal, a manutenção de colheitadeiras constitui uma atividade fundamental para a lavoura, evitando tempos de parada desnecessários que podem ocasionar grandes prejuízos.
Máquinas reguladas de maneira correta e com os componentes em perfeito funcionamento trazem bons resultados na sua produção.
Tipos de manutenção
Como vimos em outros artigos, há duas formas de manutenção de colheitadeiras: corretiva e preventiva.
A manutenção corretiva é aquela que corrige defeitos que a máquina apresenta. Ou seja, há algo que já precisa ser consertado ou substituído.
Já a manutenção preventiva é aquela feita em períodos regulares justamente para que as peças não cheguem a quebrar, evitando tempos de parada.
A estimativa da vida útil de uma colheitadeira é de 3.500 a 5.000 horas. Portanto, se as manutenções forem feitas de maneira correta, nos prazos determinados, uma máquina dessas pode durar até 10 anos.
O indicado é fazer uma checagem a cada 800 horas de uso, mas, a cada ano, esse número vai caindo, pois naturalmente há um desgaste natural esperado dos componentes.
Para planejar essa manutenção, o produtor precisa se organizar e fazer uma lista do que será checado e em que período.
É recomendado, também, manter algumas peças em estoque, evitando que aconteça do maquinário ficar parado, aguardando a chegada da peça de reposição.
O momento mais indicado para as revisões é na entressafra (após a colheita), já que nesse momento a colhedora já trabalhou bastante e é possível observar possíveis desgastes de peças com maior facilidade.
Os principais sistemas a serem considerados nas revisões devem ser o sistema de corte e o sistema de trilha.
Por isso, recomenda-se, por exemplo, lubrificar os cortadores de ponta, divisores de linha, os rolos alimentadores e cilindro de inclinação com maior frequência. É importante também sempre estar atento ao sincronismo das facas de corte, além do seu desgaste.
À medida que a colheitadora trabalha, evidentemente há um desgaste das facas, contrafacas e navalhas. Quando elas ficam cegas, a máquina começa a vibrar mais, o corte fica mais difícil e outros componentes podem acabar sendo danificados.
Algumas perdas na colheita estão associadas às facas do corte de base, rolo picador e desponte, causando prejuízos na produção.
Ou seja, se você tem uma colheitadeira na sua lavoura, o melhor a fazer é se organizar, realizar o check-list da sua máquina com manutenções preventivas, manter peças em estoque, fazendo as checagens regulares e substituição de peças desgastadas, antes que elas provoquem uma parada inesperada na operação.
Conclusão
Como vimos, a colhedora tem um papel fundamental na grande demanda por alimentos, pois auxilia na agilidade da operação, aumento da produtividade, redução de perdas e dos impactos ao meio ambiente, visto que com a colheita mecanizada não há necessidade das queimadas controladas.
Essas máquinas constituem um grande investimento para agricultores e, justamente por isso, saber quais as opções disponíveis no mercado e os diferentes tipos de colhedoras faz toda a diferença na hora de decidir qual delas adquirir.
Se você deseja comprar ou vender colheitadeiras não pode deixar de aproveitar o portal mais completo do Agronegócio Brasileiro: no MF Rural, você encontra vendedores e compradores para todo tipo de produto rural, máquinas agrícolas, insumos, ferramentas, e muito mais!
E então, gostou de entender mais sobre como funciona uma colhedora de cana? Aproveite e acesse também o nosso artigo onde explicamos como funciona uma colhedora de grãos. Boa leitura!