O mercado da estabilização química vem crescendo a passos largos no Brasil e este é um movimento relativamente recente. Com o aumento da procura, alguns fornecedores se aproveitam do desconhecimento técnico no campo da pavimentação/infraestrutura para ofertar soluções sem fundamentos, afirmando garantias e comparações duvidosas ou até perigosas.
A engenharia viária, quando aprofundada e levada a sério, promove resultados duradouros e garante a segurança dos usuários. A indústria química é uma grande aliada da pavimentação quando o assunto é pavimentos de baixo custo. Com ciência e tecnologia é possível fazer mais com menos. No entanto, é preciso que haja o comum entendimento de que não existem garantias e segurança em soluções genéricas que dispensam as etapas de levantamentos, ensaios e inspeções durante a execução.
Este artigo pretende instigar a reflexão e combater a desinformação por meio de uma linguagem acessível a todos.
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Utilização de estabilizante químico para vias vicinais/rurais
Há diversas alternativas de estabilizantes químicos, tais como: baba de cupim, “asfalto ecológico”, cimento, cal, polímeros, resinas vegetais, estabilizantes iônicos, estabilizantes líquidos, estabilizantes sólidos, dentre outros. Diante dessa variedade, é compreensível que surjam dúvidas, tais como: qual a melhor escolha? Qual o rendimento e o preço por litro? Aplico uma vez e vai durar 5 anos igual uma capa asfáltica?
Iniciar uma contratação de estabilização para vias com estas perguntas seria o mesmo que perguntar qual fck (resistência) de concreto vamos usar em um edifício de 10 andares, que não tem projeto e não sabemos nada sobre o lugar da obra. O solo local é o grande responsável por apoiar a fundação e será o suporte de toda a estrutura que acomodará dezenas de vidas. Pergunte a pessoas que tenham conhecimento na área de engenharia civil se já ouviram falar de alguma obra com mais de 3 pavimentos que tenha sido realizada sem sondagem e sem um projeto prévio.
Isso nos leva a outros questionamentos. Você tem visto no Brasil uma capa asfáltica durar mais do que 2 anos, sem tapa-buracos? Você sabia que somente tapar buracos não resolve o problema, da mesma maneira que trocar um azulejo não resolve a infiltração da parede? A capa asfáltica, assim como o azulejo, é um revestimento que serve apenas para proteger as camadas abaixo, e promover conforto e aderência aos usuários da via. Ou seja, o suporte e a estrutura são as camadas de base, sub-base e subleito.
Você sabia que existem literalmente infinitas composições de solo em nosso país e cada uma delas reage de uma maneira diferente a cada tipo de estabilizante? E que essa reação depende da execução para acontecer? Assim sendo, o estabilizante é apenas uma das peças de um quebra-cabeças muito maior.
Se na engenharia viária, onde há projetos elaborados, estudos detalhados, utilização de 3 a 4 camadas, capa asfáltica, fiscalização rigorosa, cumprimento de normas estabelecidas pelo DNIT etc., os pavimentos estão apresentando problemas de durabilidade, você consideraria a aplicação de uma solução “milagrosa” como a “baba asfáltica do cupim nanotecnológico ecológico importado”, seguindo uma tabela de dosagem genérica e instruções de execução em 4 simples passos (“escarificar, molhar, homogeneizar e compactar”)? Será que faz sentido acreditar cegamente no que é dito, quando podemos ensaiar e comprovar tudo antes de partirmos para os grandes custos de uma obra?
Profissionais responsáveis da infraestrutura e pavimentação, via de regra, não sugerem qualquer solução sem antes executar levantamentos e perguntas eficientes que norteiam um resultado de excelência, tais como:
- Transitam caminhões de até quantas toneladas na via?
- Qual é a resistência do leito natural, o verdadeiro suporte/apoio de tudo?
- Durante as chuvas, há água empoçada sobre a pista? Devo me preocupar com isso?
- Qual é a composição do solo? Vale a pena investir nele ou seria tempo e dinheiro jogados fora? Seria mais barato remover? Incorporar agregados? Estabilizar quimicamente? Como fazer isso com menos?
- Quero comparar a aquisição de cascalho, piso intertravado, capa asfáltica, estabilização química do solo local e me decidir. Devo acreditar quando me falam que é possível obter valores verdadeiros, previsíveis e seguros sem inspeção de campo e ensaios básicos?
- Qual o meu teto de investimento? Consigo garantir a execução ou preciso economizar mesmo que tenha que assumir incertezas?
- Após o levantamento de necessidades básicas: qual é o rendimento e o preço do estabilizante químico?
Em resumo, quem estiver disposto a responder às 7 perguntas referentes à obra que se pretende realizar, entenderá que vale a pena realizar os seguintes procedimentos:
- Inspeção e coleta por profissionais da área;
- Estudo de dosagem, projeto e caracterização do solo a ser estabilizado;
- Compra do estabilizante mais apropriado baseada nas informações obtidas sobre a composição/mineralogia do solo em questão;
- Instrução de execução com técnico especialista e laboratório móvel, terceirizando a responsabilidade técnica.
Mitos e verdades
Entretanto, é possível que você tenha conhecimento de situações em que o fornecedor da baba asfáltica ecológica do cupim importado não tenha exigido essas etapas. Talvez você tenha ouvido falar de uma obra que perdura há vinte anos sem necessitar de manutenção, onde a utilização da baba ocorreu de maneira autônoma, sem acompanhamento e sem a elaboração de um projeto.
Perfeitamente! Há várias explicações para confirmar essa exceção que foge à regra.
Pela nossa experiência e entendimento, não precisamos de fotos para saber que esta obra contou com:
- Sistemas drenantes econômicos minimamente compatíveis com os picos das chuvas nos períodos extremos do local;
- Nivelamento/abaulamento adequados ao longo de toda a pista;
- Compactação próxima a 100% (suposta) realizada na (suposta) umidade ótima para atingimento da (suposta) densidade máxima (sem projeto e sem referências, apenas suposições e experiência de campo, que podem ou não dar certo);
- Remoção manual de materiais orgânicos e pétreos acima de 5 cm;
- Espessura adequada da camada estabilizada, e leito natural com resistência adequada, reforço e estabilização mecânica;
- Solo com ótima distribuição granulométrica, coesão, baixa plasticidade e ótima capacidade de suporte natural, mesmo sem a estabilização, ou então não duraria 20 anos sem manutenções preventivas não havendo revestimento;
- Cuidados e acompanhamento pós-obra para minimizar efeitos de retração;
- Estabilização com dosagem (suposta) adequada e homogênea ao longo de todo o perímetro;
- Tráfego sem excesso de carga por eixo e baixo tráfego nas chuvas.
A frase mais sábia da engenharia viária é: “Uma estrada só é boa enquanto sua drenagem permitir, seja ela de concreto, asfalto ou não revestida.”
A missão do escoamento das águas de maneira adequada não é do estabilizante do solo ou do asfalto, mas sim do empreiteiro, da execução. Água represada na pista, somada ao bombeamento provocado pelos pneus, resultam em um efeito devastador para qualquer superfície. É importante lembrar que águas correntes perfuram até mesmo rochas.
Atribuir ao encarregado da execução da obra a tarefa de identificar visualmente a umidade ótima de compactação, apertando e rolando o solo na mão, pode resultar em um custo muito alto. Essa prática é comum entre os empreiteiros brasileiros que optam pelo risco de conduzir uma obra sem o suporte de um laboratório de solos.
Sabia que 2% de variação da umidade ótima na hora da compactação pode comprometer toda a obra? A obra custará alguns milhares de reais e a manutenção só poderá ocorrer na próxima seca. Você tem certeza de que quer economizar alguns trocados diante do montante total, optando por dispensar o laboratório para medir a umidade/compactação com equipamentos apropriados e ignorando os procedimentos de nivelamento e os padrões mínimos de execução? Seria o equivalente a rodar o concreto na estrutura de um prédio de 10 andares, dosando a relação água/cimento visualmente. Pode dar certo? Sim. Pode resultar em uma catástrofe? Sim.
Estabilização química dá certo?
Mas, você já deve ter ouvido falar que a estabilização química é algo novo e inovador, em fase de teste nos municípios, e que algumas obras não deram certo.
No Brasil, essa afirmação pode até estar correta. No entanto, em países que nunca tiveram abundância de solos com boas características naturais, como é o caso do nosso cascalho, existem fornecedores de estabilizantes com mais de 150 anos de existência.
Confira trechos de um artigo publicado na primeira edição da revista anual do DNIT ENINFRA de agosto de 2022:
Acesse os demais artigos da edição de agosto de 2022 da Revista ENINFRA aqui.
Os estabilizantes líquidos são misturados no caminhão pipa e não necessitam de nenhuma operação extra em campo. Os equipamentos básicos necessários para a execução são os seguintes:
Quanto mais escassos ou caros se tornam os materiais com boa viabilidade logística disponíveis para uma obra, mais vale a pena contar com a expertise de quem é especialista no assunto. Assim como em quase todas as frentes da engenharia, inclusive na construção civil, um ótimo resultado depende da qualidade do projeto, dos materiais e da execução.
Qualquer afirmação genérica deve ser questionada, pois não existe o melhor produto, e sim o melhor custo-benefício para determinada demanda, localização e durabilidade almejada.
O que a Ecolink pode fazer por você?
A Ecolink Solutions fornece soluções personalizadas para pavimentação, assegurando-lhe a confiança técnica apoiada por especialistas em pavimentação e geotecnia com mais de 15 anos de experiência. Além de entregar produtos de alta qualidade, nossa distinção reside em conduzir uma avaliação detalhada do solo do cliente antes de entregar o produto e estabelecer uma dosagem genérica. Por isso, dispomos de um laboratório completo para auxiliá-lo nessa missão.
Estamos na era da desinformação, e para qualquer setor, o exemplo da medicina deveria ser seguido: um verdadeiro profissional não prescreve remédios sem primeiro realizar um diagnóstico minucioso. Seja cauteloso com soluções que prometem resolver tudo, pois geralmente vêm com efeitos colaterais indesejáveis.
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