São poucas as raças de gado forjadas no Brasil, mas, por outro lado, são expressivamente importantes, pois representam de fato a riqueza e a autoridade que temos na pecuária. Dentre elas, temos o gado Crioulo Lageano, também conhecido como Franqueiro, que, além de ser uma raça que se desenvolveu nas nossas terras, também já é parte da cultura sulista brasileira.
Atualmente, existem mais de 3 mil cabeças de gado Crioulo Lageano no Brasil, com rebanho concentrado especialmente entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Embora exista certa discordância entre catarinenses e gaúchos a respeito da nomenclatura correta, essa raça chama a atenção e vale a pena ser conhecida.
Sendo assim, preparamos esse artigo onde abordaremos as peculiaridades dessa raça, sua história e características. Confira!
História do gado Crioulo Lageano
De acordo com historiadores, os bovinos chegaram ao Brasil no período da colonização, trazidos pelos portugueses e espanhóis a fim de abastecer o país não só como alimento, mas também com o objetivo de contribuir na construção histórica como veículos de tração e de carga.
Os jesuítas é que foram os responsáveis pela primeira introdução dos rebanhos no Sul brasileiro, uma vez que havia necessidade de abastecer os envolvidos nas Missões. Posteriormente, houve uma invasão dos Bandeirantes e grande parte dos animais foram levados para a região de Franca/SP, o que nos leva a nomenclatura gado Franqueiro.
A partir de intensas movimentações no país, sugere-se extravio das tropas de animais na região do Planalto Catarinense, os quais passaram a formar rebanhos selvagens na região de Lages. Subsequentemente, sob o domínio dos colonos, os bovinos que estavam extraviados foram sendo novamente domesticados e trazidos para novos cruzamentos, o que sugere então a nomenclatura Crioula Lageana.
Esses bovinos de origem europeia que tiveram que se adaptar às condições geográficas e climáticas para garantir a sobrevivência em nosso país, apresentam características semelhantes aos zebus, com qualidades produtivas superiores, como suculência e textura da carne e leite rico e nutritivo.
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História do Crioulo Lageano no Sul Brasileiro
Devido a um grande leque de raças que chegaram ao território nacional, o gado Crioulo Lageano (ou Franqueiro) quase entrou para a lista de animais extintos no Brasil, já que os cruzamentos não eram controlados e cada vez mais intensos.
No entanto, a raça forjada na natureza ainda sobrevive e os rebanhos mais volumosos se encontram nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Inclusive, desde 2012 ele é considerado um animal símbolo da região gaúcha e é, atualmente, patrimônio genético e cultural desse estado.
Essa raça tem um grande significado para os moradores dessa região, pois, ao longo da história, o Crioulo Lageano ajudou com bastante eficiência os gaúchos residentes da serra durante o processo de movimentação do comércio dentro do estado.
Mesmo assim, essa raça vem enfrentando um evidente risco de extinção. Por essa razão, a Associação de Criadores de Bovinos Crioulo Lageano (ABCBCL), está movimentando esforços constantes para evitar o desaparecimento desse incrível animal.
Apesar do desacordo regionalista quanto ao nome real da raça, podemos dizer que se tratam de animais que além de contribuírem com a história e o legado nacional, também oferecem muito na questão comercial, tanto que já existem projetos, estudos e esforços para definir e mapear as qualidades genéticas da raça.
Características do gado Crioulo Lageano
Com porte mediano, as fêmeas podem pesar 600 quilos e os machos, mais pesados, atingem cerca de 800 quilos. O couro é grosso e a pelagem é bem pigmentada, sendo que todas as variações são aceitas.
São considerados bovinos de dupla aptidão, com boa produção de leite, que é rico em gordura e até mesmo, segundo alguns estudos recentes, tem predominância no fator A2. Esse alelo é responsável por produzir um leite de baixo potencial nocivo e/ou alérgico para a saúde humana.
A boa habilidade materna garante terneiros desmamados com bom peso e desenvolvimento adequado. Além disso, o bom potencial em precocidade sexual tem sido alvo de estudos científicos, visto que existe possibilidade de melhoria dessa característica.
No mesmo sentido, embora não tenha tido a ênfase necessária para a questão de padrão de carcaça, a produção de carne também é de alta qualidade, já que se trata de animais com origens ibéricas, com maior tendência para produção de uma carne suculenta com textura marmorizada.
Nas épocas mais remotas, a carne do gado Crioulo Lageano foi bastante utilizada na culinária. No entanto, é preciso frisar que hoje o número de exemplares dessa raça é um tanto limitado. Por esse motivo, os criadores têm evitado realizar o processo de abate. O objetivo atualmente é aumentar a quantidade de indivíduos e não produzir em cadeia.
Veja mais sobre a raça Crioula Lageana no vídeo abaixo:
O que é gado rústico?
Um gado rústico é um bovino que tem alta capacidade de sobrevivência em situações desfavoráveis, e apresenta bons índices de produção em situações adversas, com menor taxa de doenças ou comprometimentos.
Se existe uma raça de bovinos que pode ser considerada rústica, essa raça é o gado Crioulo Lageano. Isso se deve ao longo período a que foram expostos às condições climáticas e de escassez de alimento.
Portanto, o comportamento é bastante rústico, além disso, a criação não demanda altos níveis de investimentos. São animais resistentes a doenças, inclusive a algumas patologias perigosas. No mesmo sentido, resistem muito bem a infestações por parte de parasitas, o que é de grande interesse dos criadores, porém, mais estudos precisam focar nessa alta complexidade.
Raça de boi chifrudo
Um detalhe que salta aos olhos é com certeza a posição horizontal dos chifres, que são bastante avantajados, em forma lirada.
Existe a variedade de Crioulo Lageano mocho, mas o destaque é dos chifrudos, que podem atingir até 2 metros de envergadura de chifre, quando analisados de uma ponta a outra. Sem mencionar o fato de que, em alguns casos, os chifres são bem grossos em toda a extensão. Destaque aqui para o fato de que tanto machos como fêmeas podem desenvolver chifres, caso a genética seja favorável para essa característica.
Quanto ao manejo desses animais, é preciso atenção no embarque e na contenção deles, prezando por uma condução respeitosa, de forma a permitir que os bovinos girem a cabeça até a completa passagem de qualquer limitação física.
Ainda vale ressaltar o fato de que os chifres representam instinto de defesa dos animais e tratando-se de um rebanho que sobreviveu a condições bem adversas ao longo de sua história, não seriam por menos, animais com chifres tão destacados.
Você também pode achar interessante saber que os chifres auxiliam na dissipação de calor, atuando na refrigeração nos períodos mais quentes do ano. O contato do vento nos chifres ativa a circulação periférica e refresca o animal.
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Aprimoramento genético do Crioulo Lageano
Sem dúvidas, os mecanismos de conservação genética dessa raça proporcionam a possibilidade de identificação eficiente do seu genoma. Dessa maneira, é possível fortalecer as características positivas apresentadas por esses animais, até mesmo quando ocorrem cruzamentos.
Alguns pesquisadores afirmam que o gado Crioulo Lageano contém virtudes únicas e particulares, que não são encontradas em outras espécies bovinas ao redor do planeta.
Além de tudo isso, raças nativas de uma região são a forma de expressão do povo. “Permitir seu desaparecimento seria o mesmo que permitir a destruição dos marcos físicos de sua civilização” (Octávio Domingues, 1956).
Gostou do artigo? Então aproveite e acesse também o nosso post sobre a raça de gado Caracu. Boa leitura!