Todos os anos os produtores fazem investimentos altos nas lavouras, sempre buscando incremento no rendimento e maiores produtividades. Nenhuma cultura agrícola dispensa um solo corrigido e bem preparado, bem como sementes de qualidade.
Mas, além disso, existem os investimentos necessários para proteger as plantas das adversidades que surgem ao longo da safra, como doenças, pragas e plantas daninhas.
Nesse ponto, os herbicidas cumprem um papel indispensável, pois evitam prejuízos e perdas de produtividade.
Se você quer entender melhor como os herbicidas agem, quais os tipos mais comuns e como realizar o manejo de aplicação correto, continue a leitura e fique por dentro de tudo o que você precisa saber sobre o assunto. Boa leitura!
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O que são os herbicidas e para que eles servem
Os herbicidas são considerados “agentes biológicos ou substâncias químicas capazes de matar ou suprimir o crescimento de espécies específicas”. De forma prática, eles são produtos usados para fazer o controle das plantas daninhas nas lavouras.
Entre os agentes biológicos, estão os fungos e outros microrganismos. As substâncias químicas podem ser orgânicas (maioria dos herbicidas utilizados atualmente) ou inorgânicas (produtos utilizados no passado, como NaCl e H2SO4).
As plantas daninhas interferem na lavoura direta ou indiretamente. Veja bem, além de competir com as culturas por água, nutrientes e até mesmo luz, elas podem ser hospedeiras de pragas e doenças que podem afetar as plantas cultivadas.
Dessa forma, elas prejudicam o desenvolvimento das plantas, o que afeta significativamente a produtividade da lavoura. Vamos entender, a seguir, como os herbicidas agem para controlar essas plantas invasoras.
Como eles agem?
De maneira geral, os herbicidas afetam locais específicos nas plantas, chamados de sítios de ação. Como se fosse uma chave usada para uma fechadura, eles se ligam a esses sítios e inibem funções vitais na planta, ou seja, impedem que ocorram reações como a fotossíntese, deixando a planta sem energia, ou então provocam o acúmulo de substâncias tóxicas à planta.
Em outros casos, os herbicidas causam a morte da planta devido à desregulação de processos de crescimento celular, como ocorre com o 2,4-D.
Sem exceção, os herbicidas necessitam, obrigatoriamente, entrar na célula para atuar. Para isso, eles precisam mover-se de onde foram aplicados (folhas, colmo ou da solução do solo) até chegarem ao local de ação dentro da célula.
Confira também: Dinâmica de herbicida em palhada de Sistema Plantio Direto (SPD)
Quais são os tipos de herbicidas
Os tipos de herbicidas são classificados considerando algumas características. Vamos conhecer as quatro principais formas de classificar os herbicidas:
- Quanto à seletividade;
- Quanto à época de aplicação;
- Quanto à translocação;
- Conforme o mecanismo de ação.
1. Seletividade
Não-seletivos
Alguns herbicidas, como o Glyphosate e o Diquat, não são seletivos pois eles afetam todas as espécies de plantas. Há uma exceção para as cultivares transgênicas, como a soja transgênica, por exemplo, que é resistente ao glyphosate.
Normalmente, esses produtos são recomendados para a dessecação ou em aplicações dirigidas, pois, caso atinjam a cultura, irão matá-la também.
Seletivos
Outros herbicidas, como o 2,4-D, sob algumas condições, são mais tolerados por determinadas espécies de plantas do que por outras, matando as plantas daninhas sem prejudicar a cultura.
Por exemplo, o 2,4-D é seletivo para a cana-de-açúcar, o atrazine para o milho, o fomesafen para o feijão e o imazethapyr para a soja. Em alguns casos, os que controlam folha larga são chamados de “latifolicidas” e os que controlam gramíneas são chamados “graminicidas”.
Vale ressaltar que a seletividade depende de alguns fatores, como o estádio de desenvolvimento das plantas, as condições climáticas, o tipo de solo e a dose aplicada.
2. Época de aplicação
Pré-plantio
As aplicações em pré-plantio têm o objetivo de dessecar as plantas daninhas antes da instalação da cultura principal.
Pré-plantio incorporado
Estes herbicidas precisam de incorporação mecânica ou irrigação após serem aplicados ao solo, pois o produto deve entrar em contato com a plântula antes ou durante a emergência. Além disso, sofrem fotodegradação, ou seja, a luz quebra o efeito da molécula.
Pré-emergência
O produto é aplicado junto com a cultura ou após a semeadura, mas antes da emergência da cultura e das plantas daninhas. Em geral, os herbicidas pré-emergentes atuam nos processos de germinação de sementes ou no crescimento radicular das plantas daninhas.
Pós-emergência
O herbicida deve ser aplicado e absorvido pelas folhas ou partes verdes da planta. É importante que a cultura tenha boa tolerância à exposição do produto. A aplicação pode ser em área total, quando os herbicidas são seletivos à cultura, ou dirigida, com aplicações nas entrelinhas.
3. Translocação
Herbicidas de contato (ou tópicos)
Estes herbicidas não se translocam, ou seja, não se movimentam no interior da planta, e quando o fazem, acontece de maneira muito limitada.
Isso significa que o produto tem efeito somente sobre as partes da planta que ele entra em contato, portanto, a pulverização necessita ter uma boa cobertura. Seu efeito é rápido, matando a planta em poucas horas, normalmente.
Herbicidas sistêmicos
Estes herbicidas são aplicados na folha em pós-emergência, e são transportados (translocam-se) pela planta através dos vasos condutores (xilema e floema).
4. Mecanismos de ação
Para compreender os tipos de herbicidas dessa categoria, primeiro precisamos entender dois conceitos: mecanismo de ação e modo de ação.
O modo de ação refere-se ao conjunto de eventos metabólicos, e está associado aos sintomas visíveis da ação do herbicida sobre a planta. Por outro lado, o mecanismo de ação diz respeito somente ao primeiro evento metabólico ocasionado pelo herbicida, ou seja, a primeira lesão que ele causa na planta.
Agora, vamos conhecer alguns dos principais mecanismos de ação existentes:
Herbicidas auxínicos ou hormonais
A auxina é um hormônio produzido pelas plantas, envolvido no seu crescimento. Estes herbicidas simulam uma auxina sintética, causando desequilíbrio deste hormônio na planta e um crescimento desordenado.
Este mecanismo é o único que não inibe função alguma na planta, mas provoca um desequilíbrio no crescimento. São exemplos o 2,4-D, o Triclopyr e o Dicamba.
Inibidores do fotossistema I
Estes herbicidas inibem o transporte de elétrons no fotossistema I. Assim, além de a planta não produzir energia, ela forma radicais livres que oxidam as moléculas de clorofila, resultando em clorose, necrose e morte da planta. São exemplos: o Diquat e o Paraquat (atualmente proibido no Brasil).
Inibidores de fotossistema II
Estas moléculas inibem o transporte de elétrons no fotossistema II, causando a paralisação da fotossíntese, a formação de radicais livres, paralisação do crescimento, necrose e morte rápida das plantas. São exemplos: a atrazina, ametryn e bentazona.
Inibidores de ACCase
Inibem a ação da enzima acetilcoenzima-A carboxilase (ACCase), chave na síntese de lipídeos, que são constituintes das membranas celulares, ceras da cutícula e armazenamento de energia. São exemplos o haloxufop-ethyl (Verdict R) e o clodinafop-propargyl (Topik 240 EC).
Inibidores de ALS
Inibem a enzima acetatolactato sintase (ALS), a qual está envolvida na síntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina. São exemplos: o metsulfuron-methyl (Ally), o imazethapyr (Pivot) e o nicosulfuron. Esse é o mecanismo de ação com maior quantidade de herbicidas, razão pela qual existem tantas plantas resistentes a esse mecanismo.
Inibidores de EPSPs
Inibem a enzima Enoil Piruvil Shiquimato Fosfato Sintase (EPSPs), enzima chave na síntese dos aminoácidos aromáticos fenilalanina, tirosina e triptofano. O principal exemplo é o glyphosate, o herbicida mais utilizado e mais estudado do mundo.
Inibidores da Protox
Inibem a enzima protoporfirinogênio oxidase (Protox), atuante na rota metabólica de síntese de clorofila. São destinados ao controle de plantas daninhas de folhas largas. São exemplos: o fomesafen e o saflufenacil (Heat).
Inibidores de carotenoides
Impedem a produção de carotenoides, que está envolvido na proteção da molécula de clorofila. São exemplos: o clomazone e o mesotrione.
Inibidores de GS
Inibem a ação da enzima glutamina sintetase (GS), causando a morte da planta pelo acúmulo de amônia ou por destruição dos tecidos da epiderme. O principal exemplo é o Glufosinate (Finale).
Inibidores de divisão celular
Existem dois mecanismos que inibem a divisão celular:
- Inibidores do crescimento da parte aérea: provocam a falta de energia para o desenvolvimento das plântulas após a germinação da semente;
- Inibem o crescimento da raiz ou da polimerização da tubulina: causam a interrupção da divisão celular, não havendo crescimento da planta.
A aplicação desses defensivos requer cuidado e responsabilidade, pois além de apresentarem toxicidade ao homem e ao meio ambiente, podem afetar as culturas e provocar o surgimento de resistência das plantas daninhas ao produto.
Portanto, agora vamos entender como utilizá-los, e cuidados que devem ser tomados ao fazer o manejo das plantas daninhas com herbicidas.
Veja também: Manejo de plantas daninhas: desvendando os herbicidas inibidores da glutamina sintetase (GS)
Como utilizar os herbicidas
A utilização dos herbicidas traz diversas vantagens, como por exemplo:
- Possibilidade de prevenir a competição desde o início do ciclo da cultura;
- Ter um controle mais efetivo na linha de plantio;
- Flexibilidade quanto à época de aplicação (controle em etapas);
- Formação de cobertura morta sobre o solo;
- Economia de trabalho e energia, entre outras.
No entanto, também traz algumas limitações, pois todos os herbicidas possuem certo grau de toxicidade. Além disso, necessitam de equipamentos adequados para aplicação, bem como contar com um operador treinado. Também pode causar problemas com a deriva, afetando outras culturas próximas.
A utilização inadequada dos herbicidas é o fator que mais causa problemas, como a ineficiência no controle das plantas daninhas (tipo, dose, época errada e fatores climáticos impróprios para aplicação), injúrias na lavoura ou a seleção de plantas daninhas resistentes.
Portanto, o mais seguro e mais eficiente tratamento químico das plantas daninhas é aquele que combina estes três fatores: herbicida correto, aplicado na dose e na época recomendada.
Para isso, antes de tudo é necessário fazer um levantamento da área para identificar as espécies infestantes predominantes, bem como o seu estádio de desenvolvimento predominante.
Assim, será possível determinar se é necessário a integração com algum outro método de controle, como o controle mecânico, por exemplo.
Um aspecto muito importante se refere à idade das plantas daninhas: quanto mais jovens elas forem, mais fácil será de controlar. Não se pode esperar a mesma eficiência de um herbicida para uma planta jovem e para uma planta adulta. Portanto, nunca deixe que as plantas daninhas se desenvolvam na lavoura.
Para controlar as plantas daninhas com segurança e ter eficiência na aplicação dos herbicidas, vamos ver algumas dicas importantes a seguir:
- Aplicação adequada ao tipo de herbicida;
- Planejar aplicações sequenciais;
- Uso de herbicidas de baixo residual e amplo espectro (que controlem várias espécies);
- Rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação (fundamental para evitar o surgimento de plantas daninhas resistentes);
- Rotação de culturas e sistemas de cultivo (para rotacionar os mecanismos de ação);
- Nunca deixar o solo descoberto, ou em pousio;
- Evitar elevadas densidades de plantas daninhas;
- Ler com atenção as instruções do rótulo dos produtos (não derramar, nunca comer, beber e nem fumar durante o manuseio dos herbicidas);
- Aplicar sempre a favor do vento e quando estiver com baixa velocidade;
- Sempre usar os equipamentos de proteção (máscaras, luvas, macacão, botas especiais, etc.);
- Não lavar o pulverizador em córregos ou nascentes;
- Utilizar pulverizadores próprios para herbicidas;
- Dar destino adequado às embalagens;
- Utilizar surfactantes e/ou adjuvantes para melhorar a eficiência dos herbicidas.
Além disso, vale ressaltar que as plantas daninhas precisam absorver o herbicida para surtir efeito. Portanto, além da aplicação nas plantas ainda jovens, elas não podem estar em déficit hídrico, ou seja, não é recomendado aplicar em períodos de estiagem.
Também devem ser observadas as condições climáticas, não sendo recomendado aplicar com temperaturas muito elevadas e umidade relativa do ar muito baixa, pois estes fatores reduzem a duração da gota sobre a folha.
Para os herbicidas aplicados no solo, a umidade do solo é a chave, pois a umidade elevada favorece a absorção do produto pelas plantas e/ou sementes.
Conclusão
Utilize os herbicidas com cuidado, pois são uma ferramenta muito eficiente e rápida no controle das plantas daninhas. Porém, a resistência das plantas aos produtos pode comprometer sua eficiência a longo prazo. Portanto, lembre sempre de rotacionar os mecanismos de ação!
Agora que você já conhece as principais dicas sobre o manejo com herbicidas, não deixe que as plantas daninhas interfiram na produtividade da sua lavoura!
Fique atento às plantas que precisam ser controladas para realizar o controle químico de forma correta e segura.
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