A ocorrência de algumas pragas tem o potencial de devastar lavouras inteiras, como é o caso do bicudo do algodão, da mosca branca e da helicoverpa armigera, causando prejuízos que podem chegar a ser de ordem bilionária. Neste sentido, a melhor estratégia a ser adotada para minimizar a chance de grandes devastações é o chamado Manejo Integrado de Pragas, o MIP.
Sendo assim, preparamos este artigo para falar sobre os fundamentos básicos do manejo integrado de pragas, sua base e pilares. Confira!
O que é o Manejo Integrado de Pragas?
Quando pensamos na ocorrência de pragas nas lavouras, logo vem à mente o uso de defensivos químicos para eliminá-las. Entretanto, esta estratégia está longe de ser a mais adequada, uma vez que a utilização indiscriminada de substâncias ajuda a criar condições de desequilíbrio ambiental, através da eliminação dos inimigos naturais das pragas. Ou seja, quando um ambiente está desequilibrado, fica mais suscetível.
Dessa maneira, realizar um manejo que visa a criação de um ambiente sadio e equilibrado é o mais indicado, visando a manutenção da resistência biótica das lavouras.
Nesse contexto, o Manejo Integrado de Pragas, ou simplesmente MIP, corresponde ao uso planejado de estratégias culturais, genéticas, biológicas e também químicas, com o objetivo de proteger as lavouras, diminuindo a quantidade de pragas presentes no ambiente, principalmente quando há prejuízos econômicos envolvidos.
Os princípios básicos do MIP incluem:
- Identificação prévia das pragas, hospedeiros e inimigos naturais das mesmas;
- Identificação e mensuração de danos causados à lavoura;
- Determinação de diretrizes de monitoramento, feitas separadamente para cada tipo de praga;
- Determinação do nível de controle das pragas e do limite de ação;
- Aplicação das práticas apropriadas de manejo integrado de pragas;
- Monitoramento das ações implementadas;
- Avaliação do sucesso do plano, documentação de observações e correção de possíveis falhas.
Algumas ações, como o monitoramento da lavoura e o controle cultural (que explicaremos abaixo) devem ser iniciadas antes mesmo do início do plantio, em caráter preventivo e permanente.
Ademais, é importante salientar que o objetivo do MIP não é de eliminar totalmente as pragas, e sim, de reduzir a sua população para abaixo do nível de controle, mantendo-as em um limite em que não apresentem potencial para causar prejuízos às lavouras.
Além desses princípios básicos, o manejo integrado possui alguns pilares para o controle de pragas, que detalharemos a seguir.
Controle cultural
Como citado à pouco, o controle cultural deve ser permanente e preventivo. Ele consiste na manipulação do ambiente, visando torná-lo menos favorável às populações de pragas, através da redução da disponibilidade de alimentos para as pragas, evitando que se multipliquem descontroladamente.
Para isso, deve-se acabar com a chamada ponte verde, eliminando plantas daninhas, soqueiras, rebrotas e tigueiras na entressafra, além de realizar rotação de culturas com espécies que não sejam hospedeiras das pragas que comumente atacam a plantação comercial.
Controle comportamental
O controle comportamental consiste na exploração de sinais químicos entre as pragas com o intuito de diminuir sua proliferação. Faz-se uso de armadilhas que são distribuídas pela lavoura, contendo feromônios específicos, que atraem os machos, que por sua vez, ficam presos à armadilha devido ao piso adesivo, diminuindo a taxa de acasalamento.
As armadilhas também podem ser usadas com o fim de captura de pragas para amostragem, avaliando a quantidade de insetos presos nas armadilhas depois de determinado tempo. Com isso, é possível inferir sobre o tamanho da população de pragas, fornecendo subsídio de informações para determinar seu controle.
Além disso, como controle comportamental, também podem ser usadas plantas repelentes e semioquímicos para interrupção do acasalamento.
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Controle genético e varietal
Diz respeito a utilização de variedades resistentes à determinada praga, como é o caso do milho transgênico Bt, que expressa proteínas que têm ação inseticida.
Alguns cuidados devem ser tomados com o uso dessas variedades, como a adoção de áreas de refúgio, com o objetivo de preservar a suscetibilidade genética das pragas.
Controle biológico
No controle biológico, o objetivo é utilizar os inimigos naturais das pragas para contê-las. Normalmente, essa tática pode ser classificada como natural, clássica ou aplicada.
No controle biológico natural, é visada a conservação dos predadores naturais das pragas na região. No controle biológico clássico, predadores são trazidos de outros lugares para combaterem pragas exóticas e, no controle biológico aplicado é feita a liberação de predadores produzidos em laboratório.
Controle químico
O controle químico se refere ao uso de defensivos contra as pragas que afetam a lavoura. Devem ser usados inseticidas seletivos a favor de inimigos naturais e polinizadores. Além disso, também é necessário atentar-se à rotação de ingredientes ativos e modos de ação.
Ademais, é preciso fazer uso controlado na aplicação de tais produtos, para que as pragas não desenvolvam resistência. Durante esse processo é necessário ter em mente que:
- A aplicação dos pesticidas deve ser realizada apenas nos pontos atingidos pelas pragas, protegendo a agricultura local e evitando eventuais desequilíbrios biológicos;
- Devem ser utilizados apenas produtos certificados e liberados pelos órgãos competentes.
Para saber mais sobre o assunto, leia nosso artigo sobre o manejo adequado de pesticidas na agricultura.
O que são níveis de controle quando falamos de MIP?
Níveis de controle podem ser descritos como os resultados alcançados, de forma satisfatória, após a aplicação de um programa de manejo integrado de pragas. Para alcançar esses níveis é preciso:
- Conseguir uma redução significativa na população de pragas, ao ponto que essas já não sejam mais uma ameaça à lavoura;
- Impossibilitar a população de pragas de se proliferar através dos conhecimentos adquiridos durante o manejo integrado.
Quando um programa de MIP é bem aplicado e administrado, suas estratégias são capazes de resultar em sucesso dentro do tempo planejado. No entanto, é preciso ter em mente que cada praga é única e precisa de um “tratamento” específico e bem estruturado para combatê-la de forma eficiente.
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Fique de olho nas diretrizes dos órgãos responsáveis
No Brasil, o órgão responsável pela regulamentação das diretrizes de um MIP é o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que gerencia as políticas públicas do setor da agropecuária.
Além das normas “padrão”, aplicadas na maioria das culturas, como a rotação de plantio, a antecipação da colheita, a correção da acidez do solo, a escolha da área e o isolamento da plantação, existem pontos que precisam de consulta legal, como no caso do uso de defensivos.
A recomendação, no entanto, é que tais substâncias sejam utilizadas apenas em último caso. Para saber mais sobre os ingredientes ativos liberados para o MIP, seu grupo químico, praga-alvo e intervalo de aplicação de segurança, basta consultar o próprio site do MAPA.
E então, gostou de conhecer um pouco mais sobre esse assunto de extrema importância para o produtor rural? Confira também o vídeo que preparamos com um resumo dos principais pontos sobre o MIP:
Aproveite e acesse também o nosso artigo sobre como fazer o controle de lepidópteros na lavoura. Boa leitura!