O preço do litro de leite no Brasil disparou e é o maior valor registrado para um mês de julho e o segundo mais alto de toda a série histórica do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), desenvolvido desde 2004.
O valor do litro de leite atingiu R$ 1,7573 na “Média Brasil”. Só ficou abaixo do registrado em julho de 2016, quando foi de R$ 1,7751/litro.
O principal motivo desse valor recorde no preço é a disputa dos laticínios para refazer estoques de derivados lácteos.
As empresas não esperavam um aumento tão grande no consumo, causado principalmente pelo auxílio emergencial do governo por causa da pandemia.
Nas fazendas, o clima é de otimismo, mas ao mesmo tempo de incertezas quanto ao segundo semestre.
Por que o preço do leite subiu?
Normalmente os laticínios fazem compras maiores antes de abril, prevendo que a captação caia nos meses seguintes.
Mas, neste ano, devido a pandemia do novo coronavírus, as incertezas foram ainda maiores e, por isso, as indústrias reduziram os investimentos na composição dos estoques.
O que o setor não previa era que, com os programas de auxílio emergencial do governo federal, com valor médio de R$ 600,00 para até duas pessoas por família, as vendas de leite e dos seus produtos dispararam.
As vendas aumentaram principalmente nos supermercados já que ficaram livres das restrições de funcionamento por estarem entre os serviços essenciais.
De acordo com o Cepea, o aquecimento nas vendas em maio e junho, reduziram ainda mais os estoques.
Diante da lei da oferta e procura, houve elevação do preço dos derivados lácteos em junho: de 17,7% no caso do UHT, de 23% para a muçarela e de 10,9% no leite em pó.
No campo, a oferta menor em junho provocou uma disparada no valor do leite spot. Em Minas Gerais, a média o preço do leite spot ficou 45% acima do de maio, chegando a R$ 2,28/litro.
É preciso lembrar ainda que, entre março e agosto, os preços já estariam elevados para produtores por causa da redução do período de chuva, afetando a pastagem.
Aumento dos custos de produção do leite
Mas, se essa combinação de fatores está gerando bons lucros neste momento, o pecuarista leiteiro está gastando mais para produzir.
Pesquisa do Cepea aponta que os custos de produção leiteira estão maiores se comparados com o ano passado.
O principal motivo dessa elevação foi o aumento do preço do milho. Para se ter uma ideia, no Brasil entre 60 a 80% de todo custo de produção é direcionada para a alimentação animal.
Neste ano, o produtor está precisando gastar o equivalente a 35,2 litros de leite para compra de uma saca de 60 kg de milho. Em junho de 2019, essa relação era de 24,9 litros por saca de 60 kg.
Dessa forma, o poder de compra do produtor de leite diminuiu quase 30% na comparação anual. Esses fatores afetam diretamente no preço do produto.
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Perspectivas para o segundo semestre
Os custos de produção para o produtor de leite deve continuar desafiador ao longo do segundo semestre deste ano, em virtude da forte demanda interna por rações e o alto preço do insumo, refletindo a expansão das produções de carnes, sobretudo de aves e suínos.
Além disso, com a chegada da safra de leite de inverno da Região Sul, a tendência é de aumento sazonal da captação, o que em geral se reforça no último trimestre do ano com o aumento da produção do Sudeste.
Para os laticínios, o desafio será a disputa pela matéria prima, que pode ficar mais acirrada caso as margens mais apertadas desestimulem o produtor.
Outro ponto que serve de alerta ao produtor é quanto à duração do efeito renda causado pelos auxílios emergenciais.
Assim que a pandemia cair no Brasil e a situação aos poucos comece a se normalizar, a tendência é de que o governo federal reduza ou até elimine os auxílios emergenciais. Com isso, o consumo de leite poderá cair, afetando nas cotações do leite.
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