Pensar e aplicar práticas sustentáveis no setor agrícola tem deixado de ser um diferencial competitivo para se tornar um requisito em um mercado cada vez mais consciente dos impactos da cadeia produtiva no meio ambiente. As pesquisas na área e a utilização de estratégias que protejam a biodiversidade, o solo e a água são fundamentais.
Nesse contexto, apresentamos as tecnologias poupa-terra, que são capazes de garantir o aumento da produção agrícola sem precisar expandir as áreas de cultivo, ajudando a promover a preservação de nossas florestas.
Quer saber mais sobre o assunto? Então, confira o post que preparamos especialmente para você.
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O que são as tecnologias poupa-terra?
O embate gerado entre o aumento da produção agrícola e o impacto no meio ambiente é um assunto que tem sido cada vez mais discutido, levando-se em consideração que estamos falando de recursos naturais finitos, principalmente quando não bem gerenciados.
Como forma de resolver essa questão, surgiram as tecnologias poupa-terra, que são estratégias que garantem a expansão da produção ao mesmo tempo que evitam a abertura de novas áreas de cultivo.
Os resultados de áreas poupadas são impressionantes. A título de curiosidade, o Brasil conseguiu economizar mais de 900 mil hectares no cultivo de frutas para exportação e preservou cerca de 71 milhões de hectares na cultura da soja.
Quais são as tecnologias poupa-terra?
As tecnologias poupa-terra são diversas e já existem inúmeras possibilidades sendo utilizadas no Brasil, no entanto, nos aprofundaremos em algumas delas nos tópicos a seguir.
Integração lavoura-pecuária-floresta
Essa prática, que também é conhecida como sistema ILPF, consiste em uma estratégia capaz de combinar na mesma área a produção pecuária, agrícola e florestal, com benefícios mútuos para cada uma delas. É uma das mais utilizadas e chegou a ocupar uma área de mais de 17 milhões de hectares em 2021. As vantagens são as seguintes:
- para o produtor: a diversificação da sua fonte de renda no tempo;
- para o solo: a diversificação da produção impede o exaurimento do recurso com uma única espécie ou tipo de produção.
Segundo o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville, os sistemas ILPF são modelos de produção que se adaptam com facilidade a todas as regiões brasileiras e têm sido bastante importantes para o aumento de renda e geração de empregos na Região Nordeste do país, a partir do consórcio de macaúba com outras culturas.
Agricultura de precisão
Agricultura de precisão é a utilização de um conjunto de ferramentas e tecnologias que permitem ao produtor tomar conhecimento, de maneira detalhada, de toda a área de cultivo. Aqui, podem ser utilizadas tecnologias como Big Data, robótica, internet das coisas, entre outras capazes de tornar o campo um local mais produtivo.
Essa prática também é considerada uma tecnologia poupa-terra pois, com a precisão dos dados obtidos pelos sensores e ferramentas é possível melhorar o rendimento das culturas dentro da área cultivada e também evita a utilização de fertilizantes e defensivos onde não é necessário, aumentando a sustentabilidade da produção.
Sistema de plantio direto
O plantio direto é uma prática essencial para a manutenção das características químicas, físicas e biológicas do solo, auxiliando na manutenção da fertilidade. Para tanto, essa técnica mantém os restos culturais no solo, protegendo sua cobertura e consequentemente diminuindo a compactação e erosão do solo e assoreamento dos recursos hídricos.
Essa técnica acarreta num aumento de produtividade e é amplamente utilizada nos cultivos brasileiros, dispensando a necessidade da expansão de áreas e aumentando a sustentabilidade da produção agrícola.
Zoneamento Agrícola de Risco Climático
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), por sua vez, não é propriamente uma prática agrícola, e sim, uma política pública criada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e executada pela Embrapa, que visa orientar os produtores sobre as melhores épocas de plantio de diferentes culturas nas diferentes regiões do Brasil, levando em consideração o clima, o solo e a fisiologia das espécies.
A adoção dessas orientações é obrigatória para que o produtor tenha acesso aos recursos dos programas Proagro e Seguro Rural. Também é uma ferramenta que possibilita melhores resultados no campo, e portanto, ajuda a evitar a expansão do cultivo para outras áreas.
Fixação biológica de nitrogênio
A fixação biológica de nitrogênio é um processo natural que converte o nitrogênio do ar em outros compostos capazes de serem utilizados pelas plantas. É realizada por bactérias presentes no solo ou que são adicionadas por meio da inoculação.
Essa prática foi escolhida como um dos pilares do Plano ABC – Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, lançado em 2010 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
A vantagem desse processo é a redução da necessidade de adubação química nitrogenada, a diminuição no custo da produção agrícola e redução dos impactos ambientais negativos, o que inclui a contaminação dos mananciais.
Quais são os benefícios dessas tecnologias?
Também de acordo com o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville, a utilização por produtores de todos os portes é uma das principais vantagens das tecnologias poupa-terra.
A utilização de boas práticas no campo também impede o avanço do desmatamento, uma vez que é possível otimizar a produção em áreas já plantadas.
Além disso, não podemos esquecer do impacto positivo no crescimento do setor, que acaba por gerar mais empregos, com maior qualificação, criando renda para a população brasileira e condições mais favoráveis para aqueles que desejam viver na zona rural.
Veja abaixo, uma entrevista com o pesquisador da Embrapa Guy de Capdeville, na qual ele explica os benefícios das tecnologias poupa-terra:
Por que investir em tecnologias sustentáveis no agronegócio?
A estimativa de crescimento da população mundial é que até 2050 serão 10 bilhões de pessoas, o que exigirá um aumento na produção de alimentos em 70% nos próximos 28 anos. O Brasil já tem se mostrado para a comunidade internacional como um grande produtor, sendo que em 2021, tínhamos a capacidade de alimentar cerca de 800 milhões de pessoas, logo, muito além da nossa população.
No entanto, essa equação só será verdadeiramente benéfica se levarmos em consideração que é preciso respeitar os limites impostos pela natureza e evitar problemas ambientais ainda maiores, como o esgotamento do solo e o desmatamento de nossas florestas nativas. Para isso, é de extrema importância o investimento em práticas capazes de manter produções em larga escala com o menor impacto envolvido.
As tecnologias poupa-terra citadas neste post são alguns exemplos. E dentre elas, ainda é possível aliar as práticas de preservação do solo, rios e nascentes, utilização de energia limpa, como é o caso da energia solar e o investimento em mão de obra qualificada, que seja capaz de instituir as melhores práticas na rotina do campo.
E então, gostou de saber mais a respeito das tecnologias poupa-terra? Aproveite e acesse também o nosso post sobre como fazer terraceamento para conservação do solo. Boa leitura!