Devido à crescente preocupação com as mudanças climáticas pelas quais o mundo está passando, intensificou-se a pressão pela substituição do uso de combustível de origem fóssil por combustíveis de origens renováveis. Neste contexto, o biodiesel é uma alternativa de grande potencial, e alguns empecilhos.
Neste artigo, vamos abordar o que é o biodiesel, o seu processo de produção, vantagens e desvantagens da sua adoção, e a utilização no Brasil. Confira!
O que é o biodiesel?
O biodiesel é um combustível produzido a partir de fontes renováveis, que surge como uma alternativa mais sustentável ao uso do diesel oriundo do petróleo. Ele é não-tóxico, pouco poluente e pode ser utilizado em motores ciclo diesel automotores – como tratores, caminhões, caminhonetes – e estacionários (geradores de eletricidade, etc).
Quimicamente, trata-se de ésteres obtidos por meio de uma reação de transesterificação a partir de triglicerídeos e um álcool de cadeia curta.
Matérias-primas
Diversas fontes de triglicerídeos podem servir como matéria-prima para fabricação de biodiesel, como óleos vegetais, gordura animal, algas, óleo de fritura usado e até esgoto. Dentre as oleaginosas, algumas espécies com potencial de utilização são:
- soja;
- algodão;
- canola;
- dendê;
- amendoim;
- gergelim;
- girassol;
- mamona;
- macaúba;
- pinhão-manso;
- babaçu;
- indaiá;
- nabo-forrageiro;
- entre outras.
A adoção de determinada matéria-prima para fabricação de biodiesel depende muito de alguns fatores, como: cadeia de produção pré-existente, altos níveis de produtividade, alto teor de óleo, adequação do óleo combustível obtido às necessidades dos motores.
Das espécies acima, podemos destacar o uso de óleo de soja, por ter uma cadeia produtiva já bem estabelecida no Brasil, representando uma vantagem em termos de logística e custos de produção.
Ademais, a utilização de gordura bovina também é facilitada pelo fato do Brasil possuir um dos maiores rebanhos do mundo. Além de gordura bovina, são usadas gorduras de porco e de frango.
Por outro lado, algumas oleaginosas, como a mamona, o pinhão-manso, a macaúba, o babaçu, possuem altíssimo teor de óleo em suas sementes, porém, por necessitarem de maior mão-de-obra em sua cadeia de produção, não são tão usadas.
Como produz biodiesel?
O biodiesel é obtido através de uma reação química entre o óleo vegetal ou gordura animal usados como matéria-prima, e um álcool, etanol ou metanol, juntamente com um catalisador. Dessa reação química, chamada de transesterificação, resultam o biodiesel e a glicerina.
Geralmente, o metanol é o álcool mais utilizado no processo de produção pois, apesar de ser mais tóxico, é mais reativo, proporciona uma reação mais completa e um processo de separação mais fácil do que o etanol.
Como catalisadores, podem ser usados hidróxidos ou metilatos de potássio ou de sódio. Eles servem para acelerar o processo de reação.
Depois de extraído o óleo da matéria-prima, ele é encaminhado para o reator, aonde, juntamente com o metanol e o catalisador, irá ocorrer a reação de transesterificação. Depois da reação, é necessário realizar a separação do produto final, que consiste em uma fase leve (biodiesel) e uma fase pesada (glicerina).
Tanto o biodiesel quanto a glicerina passam por uma etapa de recuperação do álcool residual, onde o excesso de álcool é retirado, passa por destilação, e depois é reutilizado no processo.
Na próxima etapa, o biodiesel passa por um processo de purificação, e a glicerina por um processo de destilação, aonde os produtos finais estarão puros e prontos para sua destinação.
Confira no vídeo abaixo todo o processo de produção do biodiesel, da colheita da soja até a comercialização nas bombas de combustível:
Leia também: Sustentabilidade e agronegócio.
Vantagens e desvantagens
Quando comparado ao uso de óleo diesel, o biodiesel oferece várias vantagens, como:
- é fabricado a partir de fontes renováveis;
- pode ser obtido de diversas oleaginosas;
- reduz a dependência de fontes de origem fóssil;
- é biodegradável;
- proporciona uma queima mais limpa, sem a liberação de monóxido de carbono;
- não contém compostos sulfarados, que contribuem para a chuva ácida;
- não contém compostos aromáticos tóxicos e cancerígenos;
- possui grande poder lubrificante;
- possui índice de cetano mais alto, ou seja, é melhor combustível, proporciona maior torque.
Além disso, pode promover desenvolvimento social, principalmente se for produzido a partir de oleaginosas que demandam maior uso de mão-de-obra.
Por outro lado, também existem algumas críticas ao seu uso:
- alega-se que a intensificação do uso do biodiesel poderá levar a um esgotamento dos recursos do solo, erosão, desmatamento e outros danos ambientais, causados pelo constante uso de terras para o plantio de oleaginosas;
- defende-se que as áreas destinadas ao cultivo de oleaginosas para fins de produção de combustível deveriam ser exploradas para produção de alimentos;
- também há preocupação com a destinação e o tratamento dos subprodutos gerados durante a produção do biodiesel, uma vez que a quantidade de glicerina gerada é maior do que a indústria necessita.
Ademais, algumas queixas começaram a surgir recentemente, alegando que porcentagens maiores de 10% de biodiesel no diesel tem causado danos aos motores e bombas de postos.
Já os produtores do combustível defendem a sua qualidade e atestam que o biodiesel brasileiro passa por um controle de qualidade rigoroso, no qual precisa atender à uma série de especificações. Além disso, em 2019 foi publicada uma resolução que aumentou a exigência de estabilidade à oxidação do biodiesel de 8 para 12 horas e adotou oficialmente o uso de aditivos antioxidantes.
Biodiesel no Brasil
No Brasil, a prática de adição de biodiesel no diesel de petróleo teve início no ano de 2004, em caráter experimental, e entre os anos de 2005 e 2007 passou a ser comercializado voluntariamente no teor de 2% (B2).
Em 2008, a mistura de 2% passou a ser obrigatória, aumentando sucessivamente com o passar dos anos, até atingir a porcentagem de mistura de 13% (B13) em março de 2021, com a previsão de atingir 15% (B15) em março de 2023.
Entretanto, o governo federal decretou a redução do teor de biodiesel na mistura para 10% (B10) em setembro desse ano. A justificativa é o impacto do custo do biodiesel no preço final do óleo diesel.
Isso porquê a maior parte da produção de biodiesel no país atualmente é feita a partir do óleo de soja, que está em crescente demanda de exportação, uma vez que o dólar está valorizado perante ao real, o que acaba refletindo no valor da soja também no mercado interno.
Dados de produção
Segundo dados do Sistema de Movimentação de Produtos da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) disponíveis nesse link, atualmente, o volume de produção de biodiesel no Brasil gira em torno de seis milhões de metros cúbicos, dos quais cerca de 47% são produzidos na região Sul e 38% na região Centro-Oeste. O estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor do combustível, seguido por Mato Grosso e Paraná.
Existem 52 plantas de produção, sendo: 27 no Centro-Oeste, 12 no Sul, 6 no Sudeste, 5 no Nordeste e 2 no Norte do país.
No que diz respeito à matéria-prima, mais de 72% da produção de biodiesel é feita a partir do óleo de soja, quase 12% a partir de uma mistura de ácidos graxos oriundos do reprocessamento dos subprodutos da fabricação do próprio biodiesel, cerca de 7,5% de gordura bovina, seguido pelo uso de óleo de dendê, gordura de porco, óleo de fritura usado, óleo de algodão, gordura de frango, óleo de milho e por fim, óleo de canola.
E então, gostou do artigo? Aproveite e acesse também o nosso post sobre celulose. Boa leitura!