Como realizar uma pulverização de qualidade

Como realizar uma pulverização de qualidade

Saber como realizar uma pulverização de qualidade é essencial para garantir melhores resultados com a sua lavoura. Porém, para que isso aconteça, é necessário conhecer alguns pontos básicos em relação à essa operação.

Confira nesse artigo a importância de se realizar uma pulverização de qualidade, os fatores que interferem nessa operação e como a tecnologia auxilia no processo de aplicação de defensivos. Confira!

A importância da pulverização

A pulverização é um processo muito importante para o sucesso da produção agrícola. Essa operação é feita com o objetivo de atingir um alvo, seja ele uma praga ou uma doença, ou até mesmo visando a disponibilização de nutrientes. Com a ascensão da tecnologia no campo, essa operação tem se tornado cada vez mais precisa e efetiva.

Pulverizador autopropelido em operação.
Uma pulverização de qualidade é importante para o sucesso da produção agrícola.

A precisão na pulverização auxilia o produtor a utilizar menos insumos, atingir o alvo de maneira efetiva, além de garantir a maximização na qualidade dos produtos e maior produtividade.

Sendo assim, uma má aplicação, com o uso desnecessário de produto, pode causar perdas financeiras estimadas em até 70%, menor produtividade devido à uma possível falha na aplicação, bem como maiores riscos ambientais já que pode causar deriva, impactando regiões vizinhas e até fontes de água e lavouras mais sensíveis.

Fatores que interferem na aplicação

Existem alguns fatores que podem afetar diretamente a qualidade da sua aplicação. São eles:

Qualidade da água

Alguns aspectos devem ser observados em se tratando da água utilizada na pulverização. São eles:

  • Dureza: existem várias classificações de dureza, variando conforme a concentração em mg/L de cátions alcalinos terrosos presentes na água, expressas em ppm de CaCO3. Águas consideradas duras podem interferir negativamente na eficiência do produto. Detectado esse problema, é possível realizar a sua correção com quelantes ou sequestrantes;
  • pH: o pH é o potencial hidrogeniônico da água e apresenta uma escala que varia de 0 a 14, onde níveis entre 0 e 6,5 são considerados mais ácidos, soluções com valor 7 são consideradas neutras e níveis entre 7,5 e 14 são alcalinas. O pH da água utilizada na pulverização pode afetar diretamente o princípio ativo do produto. De maneira geral, o pH mais indicado para a maior parte dos herbicidas, fungicidas e inseticidas é de aproximadamente 5;
Trator com pulverizador em em operação.
A qualidade da água é um fator importante na qualidade da pulverização. Alguns aspectos podem interferir negativamente na eficiência da aplicação.
  • Teor de íons metálicos: teores elevados de íons metálicos geram reações químicas com a formulação, causando precipitação;
  • Teor de argila: altos teores de argila na água podem reduzir em até 50% o tempo de ação do produtoe podem causar também uma redução na vida útil dos bicos. Além disso, alguns produtos, como paraquat e glyphosate, são adsorvidos nas partículas de argila;
  • Teor de matéria orgânica: assim como a argila, altos teores de matéria orgânica interferem na ação dos produtos, causando adsorção, reduzindo assim a eficácia da aplicação.

Produto

Os produtos utilizados na pulverização são classificados conforme a sua toxicidade, podendo ser:

Infográfico clássificação toxicológica, onde I, representado pela faixa vermelha é extremamente tóxico, II representado pela faixa amarela é altamente tóxico, III representado pela faixa azul é medianamente ou moderadamente tóxico e IV representado pela faixa verde é pouco tóxico
Os produtos já vem com a classificação em suas embalagens, podendo ser extremamente tóxico, altamente tóxico, medianamente ou moderadamente tóxico ou pouco tóxico.

Portanto, é importante seguir sempre as recomendações de manuseio e cuidados no momento da aplicação, evitando, assim, contatos desnecessários e perigosos com os produtos que podem causar danos à saúde do trabalhador.

Outra indicação importante é a utilização das quantidades ideais de produto. Essa prática evita riscos de contaminação tanto à cultura quanto ao meio ambiente.

Momento

O momento da aplicação diz respeito:

  • Ao nível populacional do alvo biológico;
  • À melhor fase ou estágio do alvo biológico ou químico;
  • Ao horário do dia, levando em consideração o comportamento diferencial do alvo biológico.

Portanto, é muito importante, sempre que possível, definir o momento da aplicação com base no levantamento da população de plantas daninhas, pragas, doenças e inimigos naturais.

Além disso, é necessário observar a capacidade operacional da propriedade, ajustando o momento do controle ao número de pulverizadores e crescimento populacional do alvo.

Alvo

O monitoramento da lavoura é essencial para a identificar a população do alvo a ser controlado. Normalmente, ele é realizado por meio de plantas individuais.

Os pontos de amostragem irão variar de acordo com a praga e a cultura. Por exemplo, em casos de percevejo, recomenda-se distribuir os pontos no talhão, concentrando 70% na bordadura.

Planta de soja com percevejo de cor predominantemente verde, borda vermelha e extremidades pretas.
Em casos de alvos como o percevejo, recomenda-se distribuir pontos de amostragem no talhão, concentrando 70% desses pontos na bordadura.

Já em casos de lagartas, por se tratar de uma praga que realiza ataques generalizados na área, os pontos de amostragem devem ser distribuídos de maneira mais uniforme dentro do talhão.

Clima

A condição climática afeta diretamente a qualidade da aplicação. Fatores como chuva, intensidade luminosa, vento, umidade relativa e temperatura podem interferir negativamente na eficiência da pulverização.

Antes da aplicação, recomenda-se observar a bula do defensivo que será utilizado, bem como a previsão de chuvas, tendo em vista que uma pulverização mais efetiva acontece quando é seguida de 2 a 8 horas sem chuvas, dependendo do tipo de produto aplicado.

A intensidade luminosa também pode causar problemas na aplicação. A luz solar somada a produto recém aplicado pode causar injúria nas plantas. Nesse sentido, existem duas causas de injúria:

  • Lente de aumento: efeito causado pelas gotas de produto aplicado com incidência da luz do sol;
  • Fitotoxicidade: concentração do ingrediente ativo sobre a superfície das plantas.
Planta com gota de água em sua superfície
Luz solar e produto aplicado recentemente podem causar danos à cultura.

Já o vento é responsável por uma das causas de deriva, sendo um dos maiores problemas enfrentados na pulverização. É importante observar, nesse aspecto, condições seguras para aplicação. Recomenda-se realizar a operação com ventos entre 3,2 e 10 km/h, evitando a pulverização de herbicidas com ventos acima de 6,5 km/h.

Outros aspectos responsáveis pelo desperdício de produto em campo são a umidade relativa e a temperatura. Temperatura elevada e umidade relativa baixa podem causar sérios problemas na pulverização, como a evaporação do produto.

Nesse sentido, recomenda-se que a operação seja realizada bem cedo, no período da manhã ou no final do dia. Em casos de aplicação noturna, o indicado é que se atente à formação de orvalho que pode causar diluição do produto aplicado.

Portanto, de maneira geral, um clima ideal para a aplicação seria:

  • Temperaturas abaixo de 30ºC;
  • Umidade relativa acima de 55%;
  • Ventos entre 3 e 10 km/h.

Equipamento

Existem vários equipamentos destinados à pulverização agrícola. São eles:

  • Costais: podendo ser manuais ou mecânicos;
  • Motorizados: podendo ser de arrasto ou autopropelido;
  • Aeronaves: drones, aviões etc.

Independente do tipo de pulverizador utilizado nas suas operações, é importante manter uma frequência de manutenções, regulagens e calibrações dos seus equipamentos.

Além disso, fique atento a alguns pontos, como a escolha do filtro adequado ao produto, manter a regulagem correta do manômetro, observar se há oscilações excessivas da barra, escolher o tipo de bico ideal para o produto, entre outros.

Confira também: Como fazer uma pulverização com drones.

Tamanho de gota

Para cada tipo de produto, existe uma recomendação de tamanho de gota para melhor eficiência na aplicação. Alguns exemplos são:

  • Gota fina: é indicada para inseticidas e herbicidas de contato e fungicidas de contato ou sistêmicos;
  • Gota média: indicada para aplicação de inseticidas e herbicidas de contato ou sistêmicos e fungicidas sistêmicos;
  • Gota grossa: indicada para herbicidas sistêmicos e pré-emergentes.
Trator com pulverizador em operação em campo de soja.
Para cada tipo de produto existe uma recomendação de tamanho de gota para melhor eficiência da operação.

Existem vários fatores que influenciam no tamanho da gota. São eles:

  • Tipo de bico utilizado: o tipo de bico utilizado na aplicação influencia diretamente no tipo de gota que será produzida;
  • Pressão: quanto menor a pressão aplicada, maior o diâmetro da gota;
  • Tensão superficial do líquido: quanto maior a tensão superficial, maior o tamanho da gota;
  • Viscosidade do líquido: quanto maior a viscosidade, maior o diâmetro da gota. Já em caso de maior viscosidade e baixa tensão superficial, menor o diâmetro da gota.

A tecnologia torna a pulverização muito mais simples

Hoje, é impossível pensar na agricultura sem levar em consideração a tecnologia que pode te ajudar a alcançar melhores resultados.

Com o uso de GPS é possível criar mapas georreferenciados que possibilitam a aplicação em taxa variável. Com isso e com o auxílio de outras tecnologias, é possível ter controle da bordadura, evitando a sobreposição de produtos e aplicação em áreas indesejadas.

O controle bico a bico é outra tecnologia que revolucionou a aplicação de insumos. Por meio dele, pode-se controlar a abertura e o fechamento de cada ponta de pulverização de maneira eletrônica, permitindo, por exemplo, que bicos sejam automaticamente desligados caso saiam da área de aplicação.

Barra de pulverização na cor verde.
A tecnologia ajuda o produtor a alcançar melhores resultados. Mapas de aplicação, controle de bordadura e controle bico a bico reduzem o uso de defensivos e possibilitam uma aplicação mais precisa.

Portanto, a utilização de tecnologias e Inteligência Artificial (IA) no campo auxiliam o produtor a realizar uma pulverização de qualidade, reduzindo o uso de insumos, minimizando desperdícios, maximizando a produtividade, aumentando assim a lucratividade.

Conclusão

A realização de uma pulverização de qualidade é essencial para se ter uma boa colheita. Além de proteger sua lavoura contra pragas e doenças, utilizando as práticas de agricultura de precisão na aplicação de insumos, você reduz o uso de defensivos, gera produtos de maior qualidade e em maior quantidade.

O produtor deve estar sempre atento a pontos como: qualidade da água, produto utilizado, momento da aplicação, alvo, clima, equipamento e tamanho de gota.

Vale lembrar também a importância de treinamentos aos operadores, para que saibam conduzir corretamente os equipamentos e conheçam cada um dos pontos de atenção, além do conhecimento do funcionamento geral da máquina e cuidados na aplicação.

Contar com pessoas capacitadas para realizar uma boa pulverização, utilizando técnicas recomendadas e ferramentas de qualidade é o caminho para o sucesso da operação.

E então? Gostou desse conteúdo? Aproveite e leia também o nosso artigo sobre os desafios e tendências para o mercado de Agricultura de Precisão no Brasil.

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