A nutrição é tão fundamental para o desenvolvimento das plantas quanto é para os seres humanos e animais. Embora as plantas possam captar a luz solar e transformá-la em energia para seu metabolismo, elas também necessitam de uma nutrição equilibrada para que todas as suas funções sejam desempenhadas adequadamente. As deficiências nutricionais em plantas podem resultar em sérios comprometimentos no crescimento e na produtividade.
A nutrição das plantas está intimamente relacionada à produção e a produtividade das lavouras ou pomares, não somente em quantidade, mas também em qualidade dos frutos, grãos ou produtos colhidos. Além disso, a nutrição de plantas está associada ainda à resiliência e capacidade dos cultivos de tolerarem e resistirem ao ataque de pragas e doenças.
Os sintomas de deficiências nutricionais podem variar dependendo da espécie e das condições de cultivo, muitas vezes sendo confundidos com outras causas, incluindo doenças.
Por isso, é crucial que os produtores identifiquem corretamente esses sintomas e compreendam a importância de um bom manejo da fertilidade do solo, que não apenas extrai nutrientes, mas também os repõe.
A reposição de nutrientes é indispensável tanto para as plantas quanto para os microrganismos presentes no solo, que auxiliam as plantas de diversas formas.
Neste artigo, vamos compreender os principais nutrientes necessários para as plantas, os tipos de deficiências nutricionais e sintomas associados. Continue a leitura e aproveite o tópico bônus: deficiências nutricionais e ocorrência de doenças em plantas. Boa leitura!
Importância da nutrição de plantas
A nutrição de plantas é uma área essencial da agronomia, que se concentra nas interações entre os elementos químicos do solo e o desenvolvimento ideal das plantas. Esta ciência examina todos os processos fisiológicos relacionados à nutrição, incluindo a absorção, transporte e redistribuição de nutrientes por toda a planta. A falta de atenção a esses processos pode levar a deficiências nutricionais, impactando negativamente a saúde e o rendimento das culturas.
Para os produtores rurais, garantir uma nutrição adequada das lavouras é crucial para que as plantas atinjam seu máximo potencial genético e, consequentemente, maximizem a produtividade. Plantas bem nutridas resultam em colheitas de alta qualidade, pois tiveram um ambiente nutricional adequado ao longo de todo o ciclo produtivo.
A nutrição das plantas é um tema fundamental em qualquer propriedade agrícola. Não basta apenas realizar a adubação com fertilizantes, sejam eles químicos ou orgânicos. É crucial compreender que a saúde das plantas depende de um equilíbrio nutricional no solo – ou seja, baseado em dados, tendo em vista que tanto a deficiência quanto o excesso de nutrientes podem ser prejudiciais.
Quando um elemento encontra-se em excesso, o mesmo pode prejudicar a absorção de outro nutriente importante, por isso, basear as aplicações de fertilizantes em análises de solo, realizadas de forma correta, torna-se fundamental.
Na tabela abaixo é possível observar a interação entre os principais nutrientes requeridos pelas plantas no solo, no que diz respeito a sua concentração: positivas (+) e negativas (↓). Ou seja, o excesso de cálcio e magnésio prejudicam a absorção de potássio. Boro (B) e zinco (Zn) em excesso limitam a absorção de fósforo (P). Esses desequilíbrios podem levar a deficiências nutricionais, comprometendo o desenvolvimento desejável das plantas.
Principais nutrientes necessários pelas plantas
As plantas necessitam de nutrientes em diferentes quantidades para seu crescimento e desenvolvimento. Os macronutrientes são assim denominados porque são requeridos em grandes quantidades.
Entre os macronutrientes primários não metálicos, destacam-se o Nitrogênio (N) e o Fósforo (P). Já entre os macronutrientes secundários não metálicos, temos o Enxofre (S).
Os macronutrientes metálicos primários incluem o Potássio (K), enquanto os secundários são o Cálcio (Ca) e o Magnésio (Mg). Cada um desses nutrientes desempenha funções específicas e muitas vezes estão inter-relacionados.
Por exemplo, o nitrogênio é essencial para a formação de proteínas e clorofila, o fósforo é crucial para a transferência de energia, e o potássio regula processos como a fotossíntese e a resistência a doenças. O cálcio, magnésio e enxofre também são fundamentais para a estrutura celular, a fotossíntese e a síntese de aminoácidos, respectivamente.
Já os micronutrientes, embora necessários em pequenas quantidades, são igualmente essenciais para o pleno funcionamento do metabolismo das plantas. Os micronutrientes não metálicos incluem o Boro (B) e o Cloro (Cl).
Os micronutrientes metálicos compreendem o Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Molibdênio (Mo), Níquel (Ni) e Zinco (Zn). Cada um desses elementos desempenha funções críticas, como a ativação de enzimas, a formação de clorofila e a facilitação da fixação de nitrogênio, garantindo um desenvolvimento saudável e produtivo das plantas.
Funções dos macronutrientes e sintomas de deficiência nutricional
Como destacado no início deste artigo, os sintomas de deficiência nutricional em plantas muitas vezes são confundidos com os sinais de ataques de pragas ou doenças. Nesse contexto, surge a pergunta: como diferenciar sintomas de deficiência nutricional dos causados por pragas e patógenos (fungos, bactérias, vírus, nematoides, fitoplasmas espiroplasmas)?
A resposta não é simples, mas certas características fornecem pistas valiosas. Em geral, os sintomas causados por pragas ou doenças, permitem uma associação direta entre o sintoma e a causa (agente causal). Por exemplo, no caso de um ataque de ácaros, pode-se observar clorose e amarelecimento das plantas, com a identificação dos ácaros por meio de uma lupa.
Em contraste, as doenças apresentam sintomas característicos e, em alguns casos, sinais visíveis do patógeno podem ser visualizados (como esporos, micélios e hifas). Um exemplo comum é a ferrugem-asiática da soja, onde estruturas alaranjadas do fungo podem ser vistas na face inferior das folhas.
No entanto, a diferença principal entre os sintomas de deficiência nutricional, doenças e ataques de pragas é a sua extensão. Enquanto os sintomas de pragas e doenças são observados de forma assimétrica, podendo afetar apenas uma parte da lavoura ou algumas plantas específicas, os sintomas de deficiência tendem a ser mais simétricos. Dependendo do tipo de nutriente, podem estar localizados em toda a folha, nas extremidades, nas nervuras ou ao redor delas.
A seguir, poderemos conhecer a função de cada um dos nutrientes essenciais à plantas, causas de sua deficiência e sintomas que podem ser observados.
Principais sintomas de deficiência nutricional
Macronutrientes primários
Nitrogênio (N)
O nitrogênio é componente essencial de muitos compostos importantes nas plantas, incluindo clorofila, aminoácidos, proteínas, hormônios, DNA e RNA.
A deficiência do nitrogênio é causada, principalmente por:
- excesso de chuva ou irrigação;
- baixa atividade biológica no solo;
- pH baixo com baixo teor de matéria orgânica;
- períodos prolongados de seca.
Os sintomas de deficiência de nitrogênio geralmente se manifestam pelo amarelecimento generalizado das folhas, começando pelas folhas mais velhas, pois a planta tende a translocar o nitrogênio para as folhas mais novas.
Em consequência das deficiências nutricionais, o crescimento reduzido das plantas resulta em redução da produção.
Fósforo (P)
O fósforo desempenha um papel fundamental na aquisição, armazenamento e liberação de energia necessária para o metabolismo celular. Além disso, é um constituinte essencial de componentes celulares presentes na estrutura dos ácidos nucleicos (DNA e RNA), que controlam a transferência da informação genética.
Os sintomas de deficiência de fósforo incluem manchas irregulares que começam dispersas pelas bordas das folhas medianas, principalmente nas mais velhas.
Essas manchas se juntam ao longo do limbo da folha em três direções – em direção à bainha, à nervura central e à ponta da folha. Elas têm uma coloração marrom opaca, muitas vezes cercadas por uma coloração vermelho-escura, e apresentam estrias e pontuações marrons-avermelhadas suaves.
A borda das folhas pode desenvolver necrose retilínea, começando nas folhas mais velhas, e o crescimento da planta é significativamente reduzido.
Potássio (K)
Já o potássio desempenha funções essenciais como estabilizador estrutural e ativador de várias enzimas. Ele regula o conteúdo de água e a turgidez das células, controlando a abertura e fechamento dos estômatos ao regular a pressão de turgor das células guardas.
Os sintomas de deficiência de potássio incluem manchas escuras avermelhadas e necrose ao longo das nervuras secundárias e bordas das folhas mais velhas, seguido de secamento das pontas.
As bordas das folhas podem enrolar para dentro e há uma interrupção no crescimento dos internódios, resultando em uma aparência de leque, com as bainhas das folhas sobrepostas.
Macronutrientes secundários
Enxofre (S)
O enxofre é um componente crucial de várias moléculas, incluindo aminoácidos como cisteína e metionina, proteínas, enzimas, coenzimas, vitaminas e compostos secundários.
Ele desempenha um papel essencial em processos como fotossíntese, respiração, síntese de gorduras e proteínas, além da fixação não fotossintética do CO2.
Os sintomas de deficiência de enxofre incluem clorose nas folhas, inicialmente nas mais novas e mais evidente entre as nervuras, além de colmos mais claros.
Magnésio (Mg)
O magnésio desempenha múltiplos papéis na planta, atuando como elemento estrutural na molécula de clorofila e como ativador de diversas enzimas relacionadas ao metabolismo energético. Ele também influencia o equilíbrio hormonal e a redução química do nitrato.
Os sintomas de deficiência de magnésio geralmente se manifestam em folhas mais velhas, apresentando manchas avermelhadas ou alaranjadas, além de clorose amarelo-alaranjada que se expande para o centro da folha, formando manchas necróticas irregulares de cor marrom-avermelhada.
A planta também pode apresentar um ângulo maior entre a folha e o colmo, e o crescimento é significativamente reduzido.
Cálcio (Ca)
O cálcio desempenha funções específicas e não específicas nas plantas. Ele contribui para a estabilidade estrutural e fisiológica dos tecidos, formando compostos como o pectato de cálcio na parede celular e atuando como regulador enzimático, ligando-se à calmodulina, uma proteína chave na regulação de várias enzimas. Além disso, está envolvido em processos como o transporte de hormônios, crescimento de meristemas e resposta a sinais ambientais.
Os sintomas de deficiência de cálcio geralmente começam nas folhas mais novas e incluem deformações laterais, lacerações com estrias esbranquiçadas e necrose do ápice do limbo. Conforme a deficiência progride, as bordas das folhas desenvolvem necrose de cor marrom-clara.
Funções dos micronutrientes e seus sintomas de deficiência nutricional
Boro (B)
O boro desempenha um papel vital na estabilidade da parede celular e no crescimento de células em tecidos meristemáticos. Apesar das incertezas sobre suas funções precisas, é essencial para vários processos metabólicos das plantas, incluindo transporte de nutrientes e regulação hormonal.
Os sintomas de deficiência de boro incluem estrias brancas e finas nas folhas jovens, seguidas por manchas avermelhadas ao longo das nervuras. O crescimento é afetado, resultando em uma aparência de leque nas plantas.
Cloro (Cl)
Cobre (Cu)
O cobre participa da ativação de enzimas e seu papel na plastocianina, é essencial para a fotossíntese. Além disso, influencia no metabolismo de carboidratos e nitrogênio.
Os sintomas de deficiência de cobre incluem clorose internerval irregular nas folhas intermediárias e mais novas, seguida por estrias avermelhadas nas nervuras. A descoloração internerval pode progredir para manchas necróticas, com bordas escuras e limbo foliar curvado para baixo.
Ferro (Fe)
O ferro é essencial para a fotossíntese, respiração e equilíbrio hormonal nas plantas, ativando diversas enzimas vitais.
A deficiência se manifesta inicialmente com clorose internerval nas folhas mais jovens, com nervuras verdes. Com o agravamento, as folhas tornam-se uniformemente amarelas, podendo chegar ao branqueamento em casos severos.
Manganês (Mn)
O manganês é essencial na ativação de várias enzimas e processos metabólicos das plantas, incluindo síntese de proteínas, carboidratos e controle hormonal.
Os sintomas de deficiência de manganês se manifestam a partir da clorose entre as nervuras das folhas novas, formando um reticulado verde mais espesso, a depender da cultura.
Zinco (Zn)
O zinco por sua vez, está presente em vários processos metabólicos das plantas, incluindo fotossíntese, respiração e controle hormonal.
Os sinais de deficiências nutricionais começam com clorose nas bordas das folhas mais novas, seguidas de avermelhamento nas nervuras e estrias vermelhas no colmo. À medida que a deficiência se agrava, ocorre necrose nas pontas foliares e manchas avermelhadas e marrons. O diagnóstico pode ser feito observando o padrão de clorose e necrose nas folhas.
Como corrigir a deficiência nutricional da lavoura, afinal?
A resposta para essa pergunta não é simples. Recomendações sobre fertilidade e manutenção de nutrientes no solo devem ser feitas por engenheiros agrônomos, pois exigem um estudo detalhado da área de cultivo, incluindo diferentes coletas de amostras de solo.
Inicialmente, o profissional solicita uma análise do solo para identificar suas limitações. Com base nisso, são feitas recomendações específicas sobre os macro e micronutrientes necessários para a área.
É fundamental entender que esse manejo requer uma abordagem multidisciplinar. Além de corrigir os nutrientes no solo, é essencial implementar boas práticas de manejo e conservação, como rotação de culturas, aumento da cobertura vegetal durante a entressafra, consórcio de culturas quando possível e adoção do plantio direto para evitar o revolvimento excessivo do solo. A calagem e a adubação também são importantes.
A combinação dessas medidas promove a longevidade das áreas de cultivo, permitindo uma produção sustentável e garantindo a saúde do solo, que é fundamental para a produção de alimentos.
Algumas particularidades: nitrogênio
A aplicação de nitrogênio e outros nutrientes no solo pode ser realizada de diversas maneiras, incluindo a incorporação em função do cultivo de plantas de cobertura verde, que protegem a superfície do solo e contribuem para a fixação biológica de nitrogênio por plantas leguminosas. Além disso, a aplicação de fertilizantes químicos é outra opção viável.
É importante destacar que o nitrogênio é altamente volátil, portanto, o planejamento cuidadoso da fórmula utilizada e período em que é aplicado é essencial para evitar perdas.
Alguns tipos de fertilizantes liberam o nitrogênio lentamente no solo, minimizando a volatilização. Recomenda-se consultar um engenheiro agrônomo para orientações específicas.
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