O gado Pantaneiro não só é considerado o símbolo do bioma, como também possui o título de patrimônio cultural e genético do Pantanal.
Ele faz parte da história da região como poucos animais, e ainda ganha destaque por diversos outros fatores: produção de carne e leite de alta qualidade, habilidades adaptativas, comportamento de rebanho e proteção contra predadores, entre outras características.
A raça é europeia e traz em seu DNA sangue português e espanhol de 11 raças diferentes. Atualmente, são totalmente adaptados ao bioma pantaneiro.
Devido a importância histórica e genética, o alto potencial produtivo e a competência de se adaptar ao ambiente, essa raça de gado é muito importante para seleções. Tem sido alvo de estudos consecutivos que objetivam – além de proteger a raça – garantir a perpetuação de suas qualidades.
Ficou curioso e quer saber mais sobre o gado Pantaneiro? Confira neste artigo tudo o que você precisa saber sobre a história, características físicas e outros aspectos importantes dessa raça.
História do gado Pantaneiro
O gado Pantaneiro chega ao Brasil ainda no período colonial, quando os portugueses estavam dando os primeiros passos em nossas terras. Por mais que estejam aqui há muito tempo, essa raça ainda preserva sua rusticidade, além de grande potencial produtivo.
Mesmo com temperaturas totalmente diferentes, longos períodos de alagamentos e secas e presença de predadores importantes, o Pantaneiro ainda consegue produzir boa carne e leite.
Na região central do Brasil, até meados do século XX, a base da economia regional foi composta por rebanhos de gado Pantaneiro. Com boa capacidade produtiva, os Pantaneiros serviam como meio de transporte, bois de sela, bois de carga e para impulsionar os moinhos.
Devido a forte presença em quase todos os segmentos regionais, eles também figuram poemas e modas de viola tais como: “Boiada Cuiabana”, “Boi Fumaça” e “Boi Soberano”.
Cruzamentos entre o Pantaneiro e o Nelore aconteceram desordenadamente, visando facilitar o transporte dos rebanhos, na época em que esse trâmite era feito predominantemente à marcha.
O resultado disso foi a perda da pureza genética, além de beirar o risco de extinção da raça, sendo que, atualmente, há apenas cerca de 500 exemplares puros, que são criados por um núcleo de conservação ligado a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), além de algumas dezenas em situação completamente selvagem no MS.
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Características do gado pantaneiro
São animais com grande variedade consanguínea resultante de cruzamentos, portanto, o padrão racial físico varia bastante.
A alta resistência ao calor é uma característica importante, já que são animais de sangue predominantemente europeu, que normalmente têm bastante dificuldade com a condição climática brasileira.
A fertilidade é bem viável, e estudos apontam ótimos resultados com a precocidade sexual. Porém, no contexto atual, esse fato exerce pouca influência, já que a quantidade de animais puros sangue é bastante limitada, e quanto mais cruzamentos com raças diferentes, maiores as chances de perda do padrão genético do Pantaneiro.
Existe nessa raça alta resistência aos parasitas da região, o que também merece destaque, já que o Pantanal oferece condições imprevisíveis de clima e ciclo da água. Além disso, apresenta cascos resistentes, mesmo em condições de clima intermitente de alagamentos e secas prolongadas.
A habilidade materna elevada das vacas dessa raça é bem relevante, além da habilidade do bezerro em permanecer estático, o que, inclusive, facilita a camuflagem, os fazendo passar despercebidos no cenário pantaneiro.
Esses pontos merecem destaque, pois favorecem fortemente a sobrevivência e o estabelecimento da raça, mesmo em um local que tem tanta incidência de predadores.
O gado Pantaneiro é altamente gregário, e esse instinto faz com que em casos de ameaças formem uma forte barreira de chifres e cascos, com temperamento ativo e coragem para enfrentar situações comuns em ambientes selvagens.
Em contrapartida, para o manejo esse gado não representa uma ameaça, partindo do respeito às questões de rebanho, especialmente na hierarquia social.
Características físicas
Apesar de estar no Brasil há bastante tempo, o gado Pantaneiro ainda é, visivelmente, um animal de traços europeus. São bovinos de pequeno a médio porte, com tronco robusto e patas curtas.
Contudo, mesmo com altura média de 1,30 m, o peso pode chegar a 450 quilos em média. E isso, para um animal que cresce no Pantanal, é algo muito relevante.
Além disso, a variação da coloração da pelagem é atrelada ao tipo de alimentação que os animais consomem e às épocas do ano, variando da cor brasina até o baio claro, para um mesmo animal. Predominantemente castanhos, se camuflam bem em meio a paisagem, especialmente na época de seca.
Com a cabeça triangular, olhos redondos e orelhas pequenas, chifres destacados e de tonalidades diferentes, temos um padrão racial bastante peculiar. Pelo fino e sedoso, pele geralmente preta, sem cupim ou barbela e com umbigo proeminente, os Pantaneiros apresentam carne marmoreada e leite com sabor único.
Como dissemos, o período que ele está no Brasil fez com que ele se adaptasse totalmente ao Pantanal, e por isso, o mimetismo com a paisagem acaba acontecendo. É a raça de gado que, provavelmente, mais está adaptada ao bioma da região do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Gado pantaneiro e produção leiteira
A raça de gado Pantaneiro também é capaz de produzir leite de alta qualidade na região. Em termos de quantidade, não consegue competir com raças tecnificadas, como a Jersey. Contudo, é uma litragem bastante considerável: os animais da raça conseguem produzir até 6 litros de leite por dia, com os bezerros ao pé.
A qualidade, por sua vez, é indiscutível. O leite é de cor amarela forte, rico em gordura e bastante utilizado na fabricação de um queijo típico da região, muito apreciado na culinária pantaneira e fronteiriça. É um queijo chamado Nicola, ou “de saco”, que traz sabor, cor e textura únicos.
A persistência da lactação é de cerca de 6 meses, com picos de produção que podem alcançar os 7 litros diários no pós nascimento imediato do bezerro, que geralmente nasce pequeno e com peso baixo, provavelmente por conta da questão adaptativa de sobrevivência.
Com todos esses aspectos em vista, o gado Pantaneiro é uma excelente opção para produção familiar, sem grandes pretensões intensivistas. Sabe-se que 70% das propriedades rurais do Mato Grosso do Sul têm exatamente esse contexto, de assentamentos rurais e pequenas propriedades.
Queijo é famoso na região do Pantanal
O queijo de saco ou Nicola é o produto excedente dos picos leiteiros e é ordenhado das vacas Pantaneiras para utilização em diversos pratos da região. Além disso, é um produto de extremo valor para os fazendeiros, seja para consumo in natura, ou para fazer parte do preparo de outros pratos.
A sopa paraguaia, por exemplo, é um dos pratos mais conhecidos que conta com o queijo proveniente do leite da raça Pantaneiro. O produto pode ser uma grande fonte de renda para quem pretende fazer da criação do gado algo realmente lucrativo.
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Carne valorizada e de qualidade
O sabor da carne do gado Pantaneiro é extremamente diferenciado, especialmente quando se trata dos rebanhos locais. O mercado acessa carne de qualidade com marmoreio, espécie de gordura entremeada que confere sabor diferenciado para o produto, além de suculência e qualidades nutricionais.
Sendo prevalentemente sangue europeu presente na composição genética dessa raça, a qualidade do genótipo é refletida na carne e, comparativamente em relação as outras carnes do Pantanal, torna-se a preferida, já que o sabor é mais agradável ao paladar, tratando-se de uma carne muito mais macia.
Por conta da raça estar no local há muito tempo, o sabor da carne acabou transformando-se em sinônimo de culinária pantaneira. Por isso, muitos restaurantes temáticos já utilizam a carne obtida do gado Pantaneiro como prato principal e, dessa forma, é possível atrair novos visitantes.
Abaixo, preparamos um vídeo com as principais características do gado Pantaneiro, confira:
Preservação da raça Pantaneiro
Esse animal – considerado protagonista na criação de gado na região do Pantanal – é patrimônio cultural, histórico e genético. Nesse sentido, os esforços regionais são marcados para preservação da raça e história do gado Pantaneiro.
Desde o couro (que dá ótimos laços trançados para incrementar a “tralha” de trabalho com o cavalos), chifres (que produzem berrantes para tocar a boiada), passando pelo leite e carne (que podem ser muito bem aproveitados), o gado Pantaneiro contribui muitíssimo também com o banco genético para incrementar as seleções, contribuindo com alta resistência e condições de sobrevivência.
Com estudos constantes e aprofundados, em 2013 foi criada a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos Pantaneiro (ABCBP), a fim de fomentar e valorizar a raça, incentivando os criatórios e o padrão racial, além do registro dos animais junto ao MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento).
Os esforços da ABCBP, aliados ao Centro de Pesquisa do Pantanal, Embrapa Pantanal e Núcleo de Conservação de Bovinos Pantaneiros de Aquidauana (NUBOPAN), têm assegurado a preservação da espécie, bem como mapeado as qualidades produtivas e particularidades inerentes a espécie.
Portanto, essa raça atualmente é protegida e há preocupação sincera com a sua preservação, devido ao seu alto potencial genético e produtivo, que também reflete na conservação de áreas naturais do Pantanal. Conheça mais sobre a raça e esse trabalho de preservação, no vídeo abaixo:
Essas são as informações principais sobre o gado pantaneiro e esperamos que tenha conhecido melhor essa raça tão especial que temos no Brasil. Aproveite e também conheça mais sobre a raça Indubrasil. Boa leitura!