Um suíno produz, em média, sete litros de dejetos por dia, o que equivale à produção de esgoto de cinco pessoas.
Levando-se em conta que no ano passado foram abatidas cerca de 46 milhões de cabeças, isso significa que foram produzidas mais de 375 mil toneladas de proteína bruta, ou seja, material que pode ser reaproveitado.
Para tentar diminuir o impacto da atividade ao meio ambiente e ao mesmo tempo gerar renda extra ao criador, o Instituto de Zootecnia de São Paulo está desenvolvendo o programa “Suíno Pata Verde IZ”.
O órgão, ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, estuda as causas da carga poluidora e, consequentemente, o desenvolvimento de tecnologias mais sustentáveis, com reaproveitamento como bioenergia, água renovável e biofertilizantes.
Criação de suínos
O Brasil possui o quarto plantel de suínos do mundo, com um efetivo de 51,5 milhões de cabeças, e vem se destacando nos últimos anos como um dos principais produtores e exportadores mundiais desta carne.
A suinocultura se concentra principalmente em Santa Catarina. Com aproximadamente 4,5 milhões, é o maior produtor regional da América Latina.
Dejetos dos suínos
A criação de suínos na maioria das granjas é caracterizada por um nível intenso de confinamento dos animais e, como conseqüência, produz elevada quantidade de dejetos.
Esse material é formado por fezes, urina, sobras de ração, pelos, areia e água utilizada para limpeza das instalações ou desperdiçada pelos animais.
Mas, recentes estudos indicaram que apenas 15% dessas propriedades possuem metodologias de manejo através da valorização e tratamento dos dejetos. O restante é destinado ao meio natural, degradando os recursos hídricos.
Alto valor agregado dos dejetos
Hoje, tanto no Brasil como em todo o mundo, esses dejetos produzido pelos suínos é aproveitado como renda extra ao produtor principalmente como fertilizante na agropecuária, através da prática para manejo dos efluentes da suinocultura.
O estudo realizado pelo Instituto de Zootecnia paulista pretende transformar o “passivo ambiental” desse material em “ativo financeiro” aos criadores, ou seja, gerar lucro com a sua destinação.
O projeto apresenta como diferenciais o menor custo de implantação, a utilização de equipamentos nacionais desenvolvidos em indústrias paulistas e, principalmente, a geração de coprodutos.
Os trabalhos científicos estão direcionados para Produção de Proteína Animal Integrada (PPAI), que visa à produção de carne, água de reuso, energia e biofertilizantes.
A tecnologia de tratamento de efluentes cria alternativas de geração de renda, como o biogás que pode ser utilizado como fonte de energia em uma propriedade; o biocombustível para veículos e também em unidade de processamento em defumadores.
Tudo isso com aplicação de baixo custo, se comparado a outras tecnologias, já que utiliza 100% do material e equipamentos oriundos de empresas nacionais.
O sistema procura, por exemplo, retirar tanto da matéria orgânica quanto de minerais, como carbono, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, ferro, entre outros.
Em uma das etapas do tratamento ocorre a coagulação e floculação desses minerais produzidos pelos suínos que são retirados da água, formando um potente biofertilizante (lodo) para uso na produção agrícola.
Primeiros resultados
Na primeira pesquisa produzida, os esforços foram concentrados no desenvolvimento de metodologias para coleta, processamento e análises químicas e bromatológicas de amostras dos efluentes e coprodutos.
O projeto buscou determinar o custo e o impacto ambiental da ineficiência alimentar de suínos, dos 63 aos 150 dias de idade, e peso vivo médio inicial de 25 kg e final de 110 kg, de 80 animais e com coletas semanais de amostras dos efluentes [bruto, fase líquida e fase sólida].
O resultado foi de 28,11% da proteína bruta e 41,32% do extrato etéreo consumidos foram excretados por animal durante o período de avaliação.
Desperdícios em renda
Portanto, a pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Zootecnia também está sendo realizada no sentido de analisar a alimentação destinada aos suínos, ou seja, torná-la mais eficiente e aumentando a renda e o lucro para o criador de suínos.
Para se ter uma ideia, um suíno, dos 63 aos 147 dias de vida, desperdiça o equivalente a 11,30 kg de farelo de soja e 38,54 kg de milho do total consumido, além de outros nutrientes.
Levando-se em conta o total do rebanho brasileiro, isso representa 1,8 milhão de toneladas de milho e mais de 523 mil toneladas de farelo de soja excretados nos efluentes. Um gasto que atinge US$ 445,5 milhões.
Dessa forma, o Instituto pretende apresentar soluções para reduzir essas perdas em no mínimo 15%, com a soma de ganhos ambientais e econômicos importantes, também são esperados diminuir ao máximo o desperdício nas granjas. Na prática, mais renda ao criador de suínos.
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