A moega de grãos desempenha um papel fundamental na atividade agrícola, desempenhando as funções recebimento, armazenamento e pré-processamento de grãos. Essa estrutura é o ponto de entrada dos grãos assim que chegam do transporte, desempenhando um papel crucial ao direcioná-los para as próximas etapas de armazenamento, como os silos.
Este artigo se propõe a explorar em detalhes o funcionamento das moegas, os diferentes tipos existentes e, ao mesmo tempo, os desafios enfrentados na utilização desse equipamento. Boa leitura!
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Produção e armazenamento de grãos
A produção de grãos tem uma importância muito grande no agronegócio brasileiro. Na safra 2020/21, por exemplo, o país produziu um total de 253,2 milhões de toneladas de grãos, cereais, leguminosas e oleaginosas, destacando-se a soja como o maior valor de produção.
No entanto, apesar de apresentar uma produção numerosa, o Brasil ainda enfrenta problemas com falhas nos processos de armazenagem e com a baixa capacidade de estocagem. As perdas são significativas entre a colheita e o armazenamento, chegando a 20% da produção, sendo que grande parte ocorre, principalmente, devido à presença de contaminantes de natureza biológica, física e química nas fases de pré e pós-colheita dos grãos.
Nesse sentido, o armazenamento permite não só a diminuição de perdas, mas também confere ao produtor maior poder de negociação, podendo optar por comercializar grãos em outros momentos, ficando livre das pressões do mercado durante a colheita.
Moega de grãos
O processo de armazenamento de grãos acontece em uma unidade armazenadora, compreendendo as etapas de recebimento, limpeza, secagem, armazenagem e expedição de grãos. No entanto, para que tudo ocorra de maneira correta, o processo é separado em partes, devendo possuir:
- Maquinários de pré-limpeza, limpeza e secadores;
- Transportadores de grãos, como correias transportadoras, elevadores, transportadores de arraste, transportadores helicoidais ou pneumáticos;
- Estrutura para acondicionamento dos grãos durante o pré-processamento, tais como moegas, silos-pulmão, silos para seca-aeração, silos e/ou graneleiros para armazenagem e sistema de expedição.
Com a chegada dos caminhões às centrais de armazenamento, inicia-se o processo de descarregamento dos grãos colhidos e aí entra em cena o tema deste artigo: o uso da moega. A moega consiste na estrutura empregada para a recepção de produtos a granel para, posteriormente, serem transportados à máquina de pré-limpeza para processamento. A seguir, veja como é o seu funcionamento.
Como funciona a operação da moega
Conforme já abordamos anteriormente, a moega de grãos é um equipamento usado com o propósito de descarregar, armazenar e realizar o pré-processamento de grãos.
A moega é um equipamento robusto, construído tanto em alvenaria como em metal, apresentando uma estrutura tronco piramidal com faces internas inclinadas a mais de 40°. Essa concepção visa facilitar a descarga e garantir que os grãos com alta umidade e impurezas não fiquem retidos em seu interior.
Além disso, ela é coberta por uma grelha metálica ou de madeira, que permite o descarregamento ao nível do solo, inclusive para veículos mais pesados que, muitas vezes, necessitam de dispositivos tombadores para a passagem dos grãos.
Já no interior da moega, os grãos são levados até as correias transportadoras, elevadores de canecas ou de caçamba ou diretamente ao beneficiamento. Quando triturados, geralmente passam por outra moega para a sua posterior destinação ou distribuição, tais como produção, armazenagem ou ensaque.
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Principais tipos de moega
As moegas podem ser classificadas em diferentes tipos, dependendo do transporte utilizado para os grãos (rodoviárias ou ferroviárias), da construção (aterradas ou enterradas) e do centro de carregamento (excêntrica ou concêntrica).
- Rodoviárias ou ferroviárias: as moegas rodoviárias são projetadas para receber carga de caminhões, sejam eles veículos comuns ou caminhões basculantes. Por outro lado, as moegas ferroviárias são projetadas especificamente para descarregar carga de trens. No que se refere às rodoviárias, estas podem ser adaptadas para acomodar um dispositivo chamado tombador hidráulico que permite elevar o caminhão, facilitando o despejo da carga de forma mais eficiente e rápida;
- Moegas de aterro ou enterradas: as moegas podem ser construídas de duas maneiras principais: enterradas ou elevadas sobre aterro. Nas moegas enterradas, o solo fornece suporte para as partes inclinadas, resultando em uma estrutura mais leve, porém com a possibilidade de influência do lençol freático. Já as moegas elevadas são mais pesadas, mas não requerem drenagem ou escavação em solos rochosos. No sul do Brasil, a opção mais comum é construir moegas enterradas para facilitar o processo de descarga e evitar grandes estruturas. No entanto, quando o solo é difícil de escavar, a elevação sobre aterro é uma solução eficaz;
- Excêntrica ou concêntrica: o descarregar grãos na moega, os grãos formam um carregamento na estrutura. Quando o centro de gravidade deste carregamento coincide com o centro da boca da tremonha, chamamos a tremonha de concêntrica. Por outro lado, quando o centro deste carregamento não coincide com o centro da tremonha, ou seja, se afasta do centro da boca da tremonha, a moega é considerada excêntrica.
Desafios no uso da moega: riscos de acidentes e explosão
A presença de poeira durante o processo de descarregamento de moegas acarreta uma série de riscos que podem prejudicar tanto a saúde da equipe como aumentar o potencial de acidentes, além de gerar impactos negativos ao meio ambiente. Essa poeira é gerada por pequenas partículas resultantes principalmente da fragmentação e abrasão de partículas maiores durante a manipulação dos grãos. Nos pontos de descarga, a geração de poeira é ainda maior.
As condições críticas para essas explosões incluem o tamanho das partícula, concentração, teor de umidade, concentração de oxigênio, energia e temperatura de ignição. As partículas menores têm maior potencial de queima explosiva, especialmente quando confinadas parcialmente. No caso do transporte, a fricção entre partes móveis é a principal fonte de calor que pode ocasionar uma explosão.
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Como reduzir ou amenizar os riscos?
Diante dos riscos apresentados, é fundamental destacar que a Norma Regulamentadora 31, que estabelece as normas de saúde e segurança aplicáveis ao trabalhador rural, determina que as moegas devem ser projetadas e montadas por profissionais legalmente habilitados. Além disso, essas estruturas devem passar por manutenções regulares com o objetivo de preservar a saúde dos trabalhadores durante as operações.
É de extrema importância também contar com um sistema eficaz de controle de poeira ou uma solução adequada para esse problema, a fim de otimizar as operações e melhorar a qualidade dos resultados. O controle de poeira em moegas proporciona diversos benefícios adicionais, incluindo a redução dos riscos de incêndios e explosões, a promoção de um ambiente de trabalho mais limpo e saudável e a diminuição das chances de infestação por insetos e roedores.
Outras medidas que também devem ser tomadas são a capacitação da equipe e a utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs) sempre que forem realizar operações na moega, visando ter uma condição de trabalho mais segura e riscos atenuados.
Portanto, é crucial tomar medidas preventivas para reduzir os riscos associados à poeira de grãos e garantir a segurança no ambiente de transporte e processamento de grãos.
Visando complementar o conteúdo, confira o vídeo abaixo com alguns detalhes a respeito da construção de uma moega enterrada:
Conforme citamos no artigo, a moega é um equipamento que antecede o armazenamento final, que geralmente ocorre em silos. Com base nisso, nossa sugestão de leitura complementar é a respeito dos principais tipos de silos de grãos. Boa leitura!