Nas últimas semanas nunca se falou tanto se um inseto que, sozinho, poderia passar despercebido e ser inofensivo.
Mas, quando formam nuvens, os gafanhotos podem causar uma verdadeira devastação nas lavouras das fazendas do Brasil. Atualmente atingem o Paraguai e Argentina, bem próximas da fronteira com o nosso país.
Por isso, cidades brasileiras na região sul bem como nos países vizinhos colocaram de prontidão esquadrões de aviões agrícolas prontos para o bombardeio.
Vilão na história
Ainda que cause medo, a espécie de gafanhoto, conhecida como Schistocerca cancellata, não afeta a saúde humana ou de animais, e nem é vetor de nenhum tipo de doença.
Mas, em se tratando de agricultura, os danos causados podem ser graves. Esses insetos consomem uma quantidade de pastagem equivalente a 2 mil vacas.
Aliás, essa não é a primeira vez que o fenômeno ameaça a agricultura de um país. Em diversos momentos da história, causaram estrago pelo mundo.
A primeira delas que se tem notícia ocorreu a 1400 a.C. ou seja, a oitava praga do Egito.
Um dos maiores prejuízos que se tem notícia ocorreu Estados Unidos, no verão de 1874. Milhões de gafanhotos infestaram o céu de Kansas, no estado de Nebraska, além das Dakotas e outros áreas do território americano.
Segundo moradores, a nuvem desses insetos era tão grande que chegou a bloquear o sol por várias horas. Após se dissipar, vieram os estragos: consumiu campos de lavouras nas fazendas, a vegetação, as árvores e até a lã das ovelhas. Os prejuízos chegaram a US$ 200 milhões.
Entre o final do ano passado e o começo de 2020, países do leste africano viveram mais um surto de gafanhotos ameaçando a alimentação de milhões de pessoas na Somália, Etiópia e no Quênia. A praga atingiu plantações de milho e de feijão.
Qual o motivo?
Desde junho, uma nuvem de gafanhotos está preocupando agricultores, o governo e especialistas na Argentina, Paraguai e no sul do Brasil.
Segundo o professor Ângelo Pinto, do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a nuvem é um comportamento de migração, que atinge somente 20 dentre as 7 mil espécies desses insetos.
A migração ocorre quando os gafanhotos atingem a fase adulta e criam asas. Saem de um lugar para outro atrás de alimento ou devido a combinação de fatores climáticos, como temperatura, índice de chuvas e velocidade dos ventos.
Há também um terceiro fator: quando não existem barreiras naturais, como árvores. Forma-se, portanto, um campo aberto nas fazendas, que favorece o deslocamento dessas nuvens, conforme explica o professor da UFPR.
Os insetos são capazes de destruir plantações inteiras em apenas algumas horas. A nuvem atuam que ameaça o solo brasileiro chegou a ter cerca de um quilômetro quadrado com mais de 40 milhões de gafanhotos.
Ameaça ao Brasil
Embora a nuvem ainda não tenha atingido o Brasil, existe um plano de guerra pronto para ser colocado em prática.
O governo e as lideranças do setor agrícola se uniram e pretendem usar uma frota de até 400 aviões agrícolas para combater os insetos, com aplicação de defensivos agrícolas e inseticidas, liberados pelo Ministério da Saúde.
Cerca de 70 aviões agrícolas estão posicionados em locais estratégicos, prontas para o uso caso a nuvem atinja o solo brasileiro.
Cada aeronave pode transportar quase uma tonelada de defensivo agrícola, pulverizando uma área entre 70 e 100 hectares/hora. Portanto, seria um ataque direto na nuvem de gafanhotos.
Toda essa mobilização ocorreu depois da declaração de emergência fitossanitária, feita pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Inseticidas que nunca haviam sido usados antes no Brasil tiveram uso permitido em caso de ação dessas aeronaves.
Alerta
Mas, alguns especialistas discordam da estratégia adotada. Isso porque o uso desses produtos contamina o solo e os próprios insetos mortos, ao caírem ao solo contendo resíduos podem contaminar os rios e até animais.
Para eles, a melhor alternativa seria o controle biológico dos insetos de forma mecânica, como por meio de vassouras e lança-chamas.
O ideal mesmo, segundo eles, seriam técnicas de controle preventivas, com monitoramento constante e controle das populações antes da fase adulta.
Ataque argentino
Numa ação conjunta, o governo da Argentina e os produtores rurais aplicaram inseticidas no último fim de semana, na Província de Entre Rios.
Os aviões agrícolas conseguiram eliminar 80% da nuvem de gafanhotos formada por mais de 400 milhões insetos, segundo o Serviço Nacional de Segurança e Qualidade Alimentar daquele país.
Os insetos estavam a 90 quilômetros da fronteira com o Brasil. De acordo com especialistas, a probabilidade desses gafanhotos chegarem ao Rio Grande do Sul diminuiu, mas a vigilância continua.
As estimativas de agricultores gaúchos são de essa praga, em solo brasileiro, poderia causar prejuízo de R$ 1 milhão por dia às lavouras.
Já se tem informação de uma nova uma nova onda de insetos no Paraguai, muito próxima da divisa com o território argentino. Técnicos dos dois países monitoram o deslocamento dos gafanhotos.
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