Governos gastam mal bilhões de dólares com intenção de proteger seus agricultores.
“Mercado livre” é uma expressão decorativa. Vale tanto quanto um quadro que você coloca na parede da sala, ou um vaso sobre uma mesa de canto, ou seja, não tem muita utilidade, a não ser deixar o ambiente mais bonito, o que não é ruim, claro.
Discursos dos políticos no mundo todo são liberais, pregam o livre mercado, a não intervenção dos governos nas atividades econômicas e outras falas vazias, ou discurso para agradar as plateias em importantes eventos internacionais.
Mas, quando chegam em casa a conversa é outra, bem diferente. O fato é que a agropecuária, pouco ou muito, é subsidiada no mundo inteiro. E mercado livre é ficção, não existe.
![Commodity agrícola](https://blog4.mfrural.com.br/wp-content/uploads/2021/07/cafe-producao.jpg)
Senão, vejamos, em um amplo estudo realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, divulgado recentemente, fica clara a intervenção dos governos nos segmentos da economia.
Nos 54 países analisados por essa organização, os subsídios anuais para a agropecuária entre 2018/20, foram de US$ 720 bilhões, em reais segundo a cotação do último dia 23 de julho de 2021, algo próximo de R$ 3.751 trilhões.
Isso é um oceano de dinheiro. E mal aplicado, segundo comunicado de Marion Jansen, diretora de Comércio e Agricultura da OCDE. “No mundo, somente um em cada seis dólares de apoio governamental à agricultura é gasto de forma eficaz na promoção do crescimento sustentável da produtividade e da resiliência agrícola”, afirmou.
Distorções no mercado
O fato é que os governantes de muitos países se esforçam, inutilmente, em mudar uma lei de mercado imutável, a de oferta e procura, mas subsidiando dessa maneira seus produtores criam distorções no mercado mundial. E no doméstico também. No final quem arca com os custos das medidas intervencionistas é o consumidor.
No Brasil, comparando-se com outros países, os produtores recebem pouca ajuda. Mas a mão governamental está presente no crédito rural com taxa de juros controlada, por exemplo. Se um empresário rural se utilizar do crédito oficial, pagará uma taxa tabelada, 7% ou 8% ao ano.
![Subsídios na agricultura comparação mundial](https://blog4.mfrural.com.br/wp-content/uploads/2021/07/agronegocio.jpg)
Para o cidadão urbano o custo de um empréstimo bancário será bem maior. Quando define um preço mínimo para algum produto, também está agindo contra o mercado. Ou quando dá desconto na conta de energia elétrica para atividades rurais que fazem uso intensivo desse insumo também.
Agem em sentido oposto também. Ou seja, quando o preço de um produto aumenta no mercado interno, reduz taxas para incentivar a importação e tentar controlar os valores internos.
Um exemplo clássico desse tipo ocorreu na Argentina recentemente. Para tentar conter as altas cotações da carne bovina, o governo do nosso vizinho proibiu as exportações.
Proteção falsa ao mercado doméstico
O resultado imediato dessa medida é a queda dos preços no mercado interno pois aumenta a oferta do produto. Mas é uma medida nem um pouco inteligente.
![Subsídios ao agronegócio e na pecuária](https://blog4.mfrural.com.br/wp-content/uploads/2021/07/pecuaria-incentivo.jpg)
Além de perder espaço no mercado mundial, difícil de recuperar, inibe investimentos da indústria frigorífica entre outras coisas. Isto é, uma medida que traz mais danos que fatores positivos para a economia do país.
Revela ainda o levantamento da OCDE que os países membros da entidade são os que mais ajudam seus agricultores com valores que representam algo entre 40% e 60% das suas receitas.
“Nesse cenário, a posição do Brasil é exemplar. Os subsídios e proteções ao setor agrícola são baixos. Os preços domésticos estão alinhados aos mercados globais. Em 20 anos, os subsídios caíram de 7,6% para 1,5% das receitas agrícolas brutas”, segundo um editorial publicado no jornal O Estado de S. Paulo.
De olho nos chineses
Já o jornalista Assis Moreira, de Genebra, escreveu para o jornal Valor Econômico, na edição de 23 de julho de 2021, que “a China é especialmente monitorada em virtude do seu peso no comércio agrícola mundial. A fatia de apoio em relação à receita bruta do agricultor chinês caiu gradualmente desde 2016. Esse apoio ficou em 12,5 em 2018/20, na média, refletindo reformas nas ajudas a óleo de soja, canola, algodão e milho, assim como nos preços mínimos de trigo e arroz. Mas, os pagamentos baseados em área plantada continuam aumentando, sendo uma das formas que mais distorcem o mercado”.
Apenas para efeito de comparação, segundo o levantamento da OCDE, a China, no período analisado, deu US$ 234,4 bilhões, a União Europeia US$ 100,8 bilhões e os EUA US$ 94,3 bilhões.
![Subsídios ao agronegócio mundial](https://blog4.mfrural.com.br/wp-content/uploads/2021/07/china-mercado.jpg)
E o Brasil? Somente US$ 4,6 bilhões. Isso só escancara a competitividade do agronegócio brasileiro. E mais: ao contrário do que mostra o estudo da OCDE, que esses bilhões dados ao agro em muitos países beneficiam grandes produtores e não são aplicados em inovação, sustentabilidade etc.
Aqui, nos últimos anos, o governo tem dado maior atenção aos pequenos agricultores, tem incentivado a prática da agricultura de baixo carbono e a sustentabilidade com tecnologias revolucionárias como a Integração Lavoura, Pecuária e Silvicultura, ILPS, entre outras ações nesse sentido, como recomenda esse organismo.