A utilização da pulverização eletrostática na agricultura teve início na década de 1960. Entretanto, ainda existem muitas dúvidas sobre o funcionamento da técnica e sua eficácia.
Um dos primeiros equipamentos que chegaram no Brasil, com essa tecnologia, foi o “Electrodyn”, bastante conhecido na década de 1980, e desenvolvido nos Estados Unidos. O equipamento havia sido desenvolvido para aplicações manuais a baixos volumes.
A pulverização eletrostática constitui-se, basicamente, da transferência de carga elétrica às gotas da pulverização, processo que pode ser efetivado por várias metodologias.
Um dos processos mais utilizados se dá pela existência de um eletrodo (com a presença de uma corrente elétrica) que fica ao redor da ponta de pulverização, na região próxima ao local onde as gotas são produzidas (Figura 1).
Como a pulverização eletrostática é realizada
Esse processo recebe o nome de “Sistema de Indução”, sendo empregado na maioria dos equipamentos atuais. Em geral, os eletrodos recebem uma voltagem positiva, gerando um campo eletrostático que induz a formação de gotas com cargas negativas (oposta à carga do eletrodo).
A unidade que mede a quantidade de carga em uma gota é chamada de milicoulomb por quilograma (mC kg-1), sendo que idealmente deve ser acima de 1,0 mC kg-1. Também é importante que a calda usada apresente certa condutividade elétrica, pois deve haver a transferência de carga do eletrodo para a gota em um pequeno intervalo de tempo.
Apesar de existir há mais de 50 anos, ainda há dúvidas sobre a utilização e eficácia da pulverização eletrostática. Porém, alguns aspectos são importantes para o entendimento do porquê as dúvidas ainda ocorrem, conforme será discutido a seguir:
Não se pode generalizar e achar que todo equipamento de pulverização eletrostática é igual. A relação carga/massa por exemplo, que vai resultar na carga das gotas (mC kg-1) varia de acordo com o projeto das máquinas, a perda de carga no eletrodo, o tamanho das gotas, entre outros fatores. Ainda, há sistemas que unem a transferência de carga com a assistência de ar (e há particularidades entre os sistemas também).
Nesse ponto, o vento gerado pela assistência de ar pode favorecer o deslocamento de ar entre as folhas da cultura, e favorecer a ação da pulverização eletrostática, que sozinha teria menos chances de atingir os alvos mais difíceis, com aqueles no terço inferior das plantas.
Experimento usando a pulverização eletrostática
Em 2019 foi feita uma pesquisa pela AgroEfetiva utilizando um pulverizador Uniport 3030 Eletrovortex, da Jacto (Figura 2). O equipamento une a assistência de ar mais transferência de carga elétrica às gotas da pulverização, e foram obtidos resultados positivos na deposição de calda com fungicidas na cultura do algodão.
A pesquisa foi realizada em uma fazenda na região de Campo Novo do Parecis, MT, utilizando a taxa de aplicação de 60 L/ha. A ponta de pulverização utilizada foi a ATR 80-2,0 (Jacto), com pressão de operação de 5,7 bar (570 kPa) e uso de gotas muito finas (MF).
Foi observado que a integração das tecnologias (assistência de ar + transferência de carga) aumentou a deposição em todos os extratos da cultura (superior, médio e inferior) comparado ao sistema deligado (sem carregamento ou ar).
O maior ganho na deposição, foi no terço médio das plantas de algodão, local que possui a maior volume de folhas. Esse ganho foi equivalente a 116% de aumento, seguido do terço superior e inferior, com 18,7% e 22,2%, respectivamente.
Características do carregamento eletrostático
Portanto, observa-se que o uso do carregamento eletrostático auxilia nas pulverizações quando associado à assistência de ar. Entretanto, deve-se considerar algumas características, como o projeto da máquina e do sistema de carregamento eletrostático, a classe das gotas, entre outros, para que haja a correta carga elétrica às gotas.
A velocidade do vento utilizado também é importante, e deve estar adequada ao índice de área foliar da cultura. O uso de altas velocidades em uma cultura com pouco enfolhamento, por exemplo, pode prejudicar a deposição, ou até mesmo aumentar o risco de deriva.
Fernando K. Carvalho1, Michael Althman2, Ulisses R. Antuniassi3, Rodolfo G. Chechetto1; Alisson A. B. Mota1
1Engenheiros Agrônomos, Pesquisadores, AgroEfetiva, Botucatu/SP. fernando@agroefetiva.com.br
2Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Agronomia, FCA/UNESP, Botucatu/SP. michael_althman@hotmail.com
3Engenheiro Agrônomo, Professor Titular, FCA/UNESP, Botucatu/SP, Brasil. ulisses.antuniassi@unesp.br
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