De fácil manejo e muito dócil, o gado Devon é uma das mais antigas raças de corte existentes e tem feito grande sucesso no Brasil. Por apresentar boa fertilidade e ausência de problemas de parição, tem sido muito utilizada em cruzamentos industriais com raças zebuínas e europeias. Em ambos os casos, tem apresentado ótimos resultados.
Outras características que reforçam o interesse pela raça são a rusticidade, habilidade materna e precocidade. Além disso, tendo em vista a sua fácil adaptabilidade ao sistema de criação extensivo, a procura pela raça tem aumentado, levando-a a se espalhar por todo país.
A seguir, vamos abordar como se deu a origem da raça Devon, suas características e a sua criação em solo brasileiro. Vamos lá?
Origem e história da raça Devon
A raça de gado de corte Devon é uma das mais antigas do Reino Unido, constituindo uma raça indígena com origem no Sudoeste da Inglaterra. Há relatos de que os primeiros animais datam de 7.000 a 10.000 anos atrás, quando os fenícios estiveram na Europa, entrando pela Península Ibérica e ocuparam também o Sudoeste desse país.
Por ser uma raça muito antiga, apresenta alta capacidade de adaptação a diferentes ambientes no decorrer do tempo. Aliás, trata-se de um de seus pontos fortes, tendo mudado consideravelmente nos últimos 100 anos.
No século XVIII, o Devon começou a disseminar-se do Oeste do Reino Unido e foi considerado pelo famoso escultor inglês, Garrard, como a mais perfeita raça da Grã-Bretanha. Foi nesse ambiente, em que o clima é chuvoso e úmido, com invernos frios e rigorosos, que a raça Devon se proliferou durante séculos.
Já no século XIX ocorreram os primeiros cruzamentos com Zebus indianos – Jamaica Red, Bravon, Makaweli e Santa Gabriela – com o propósito de formação de raças adaptadas ao clima tropical. Hoje, a raça tem provado a sua tolerância a climas quentes, tanto que é criada extensivamente na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Jamaica e Brasil.
No Brasil, os primeiros exemplares da raça chegaram no início do século passado, em 1906, pelo Sul do Rio Grande do Sul e logo se multiplicaram, alcançando Santa Catarina e a região central do Brasil.
O gado Devon também provou a sua capacidade de adaptação quando, em 1960, foi exportada para o Canadá, onde passou a viver em altitudes de 1.400 metros na face leste das Montanhas Rochosas, enfrentando invernos rigorosos e poucos abrigos. Além disso, também há relatos de sua criação no Kenya, em uma fazenda a 1.800 metros de altitude, localizada na região de savana úmida, em que a raça é utilizada para melhorar o gado nativo.
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Características da raça de gado Devon
Os pecuaristas que buscam requisitos para diversificar ou iniciar suas atividades, encontram no gado Devon uma série de atributos que o destacam.
Os animais da raça são simetricamente proporcionais, com pelagem avermelhada e olhos de pigmentação escura que possibilitam a sua adaptação em climas tropicais. Ressalta-se também a coloração de sua pele em tom amarelado que protege a região do úbere de radiações solares.
Tratam-se de animais extremamente rústicos, de fácil manejo e docilidade, que se adaptam a diferentes condições climáticas, conforme abordamos anteriormente, além de muito resistentes, mantendo-se bem em pastagens fracas e fibrosas em habitat de climas frios.
Os reprodutores da raça destacam-se pela rusticidade e eficiência, apresentando alta capacidade de serviço e poder de conversão de pastos em carne de alta qualidade. Por isso, apresentam grande potencial de cruzamentos em diversas regiões do Brasil. Quanto às fêmeas, além de não contarem com problemas de fertilidade e parição, são rústicas, prolíficas e possuem excelente habilidade materna.
Embora as vacas da raça Devon não sejam exploradas para produção de leite, comparando-se com outras raças destinadas ao corte, possuem alta capacidade leiteira. Em controle leiteiro, 61 vacas Devon obtiveram uma média de 2.321 kg de leite com 4,16% de gordura, o que representou o dobro em relação a uma vaca Nelore, por exemplo.
Considerando que se trata de uma raça de gado de corte, é muito utilizada em confinamento para produção de carne de primeira qualidade, apresentando carcaças bem marmorizadas, de fibra fina e sabor único, possibilitando um bom valor agregado ao produto.
Além de todas as vantagens já apresentadas sobre a raça Devon, cabe ainda ressaltar que possuem fácil acabamento e excelente conversão alimentar, o que possibilita a produção de animais precoces e de baixo custo de terminação. Em média, estão prontos para o abate com até 21 meses e, no cruzamento com zebuínos, aos 20 meses.
Em resumo, as principais características da raça são:
- Fertilidade;
- Capacidade leiteira;
- Habilidade materna;
- Longevidade;
- Habilidade na conversão alimentar;
- Docilidade;
- Rusticidade (adaptação a diversos climas e altitudes);
- Conformação de carcaça.
Fertilidade e longevidade
Das características que citamos acima, vamos aprofundar um pouco mais duas delas: a fertilidade e longevidade.
Essa raça é conhecida por contar com precocidade sexual, já que estão aptos a procriar muito jovens. As fêmeas estão naturalmente aptas à reprodução aos 24 meses de idade, sendo que, em condições ideais de alimentação, podem apresentar cios férteis ainda aos 12 meses. Já os machos estão aptos a se reproduzir antes mesmo dos 24 meses, principalmente se estiverem submetidos à condições ideais.
As fêmeas ainda contam com capacidade de repetir o parto anualmente, desde que recebam cuidados sanitários e nutricionais de qualidade. A sua habilidade materna é reconhecida em todo o mundo, sendo muito protetoras com suas crias, gerando maior taxa de sobrevivência após o nascimento e maior peso ao desmame.
Quanto à longevidade, as vacas Devon são conhecidas mundialmente por essa característica, podendo encontrar fêmeas em plena produção mesmo após atingirem os 15 anos de idade.
Qualidade da carne
A qualidade da carne do gado Devon é considerada uma das melhores do mundo, conforme pesquisas realizadas como da Universidade Federal de Santa Maria/RS (UFSM).
Com base nos dados da pesquisa, considerando os animais da raça criados em confinamento, foram observadas as seguintes características qualitativas:
- Maciez da carne: alcançou a pontuação de 8,25 (de 1 a 9), uma das maiores notas entre todas;
- Marmoreio: atingiu a marca de 5,38 pontos;
- Suculência da carne: atingiu o patamar de 7,12 (de 1 a 9), demonstrando alta qualidade no mercado;
- Textura da carne: obteve a pontuação de 4,25 (de 1 a 5), conhecida por apresentar uma textura delicada e fina;
- Palatabilidade: em uma escala de 1 a 9, a carne Devon recebeu a nota 7,02 quanto à sua agradabilidade ao paladar.
Apresentando, portanto, carcaça de alta qualidade, com fibras delicadas e marmoreio, a carne da raça Devon se encaixa perfeitamente na qualificação de carne premium, permitindo uma elevada agregação de valor ao produto.
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Criação do gado Devon no Brasil
Os primeiros animais PO (Puros de Origem) da raça Devon chegaram ao Brasil em 1906, pelo Rio Grande do Sul, importados do Uruguai pelo criador Joaquim Francisco de Assis Brasil. Responsável por trazer as primeiras 40 novilhas, mais tarde importou ainda outros animais diretamente da Inglaterra. Atualmente, o rebanho brasileiro da raça Devon é estimado em 250 mil cabeças.
O Devon tem se desenvolvido e crescido de forma extraordinária, comprovando a sua capacidade produtiva e adaptabilidade, principalmente em condições desfavoráveis.
No Brasil, inclusive, é muito utilizada em cruzamentos industriais, tanto com raças zebuínas para a criação da raça sintética Bravon, quanto com outras raças europeias. O Bravon é um cruzamento muito bem-sucedido, que reúne as qualidades da raça inglesa, apresentando rusticidade, grande resistência ao calor e aos ectoparasitas dos zebuínos.
E então, gostou de conhecer mais sobre essa raça de gado de corte? Que tal conhecer agora uma raça “do futuro”? Estamos nos referindo ao Bonsmara. Acesse o artigo e boa leitura!