A qualidade da produção de mel está intimamente ligada às flores. Entretanto, você tem conhecimento de que algumas plantas são mais apreciadas pelas abelhas em relação a outras? Pois bem, existem espécies que exercem um maior poder de atração sobre esses polinizadores.
As abelhas buscam o néctar e o pólen – elementos essenciais para o processo natural de fabricação de um produto reverenciado globalmente. No entanto, essas plantas não se limitam apenas a impulsionar a produção do mel, pois, ao desempenharem o fundamental papel da polinização, as abelhas asseguram a preservação da biodiversidade e a disseminação de inúmeras espécies vegetais.
Nessa perspectiva, o cultivo de plantas melíferas não apenas assegura a produção contínua do mel, mas também consiste em um investimento essencial para a nossa sobrevivência e a do planeta.
Neste post, falaremos sobre quais são as principais espécies de plantas melíferas, o cenário de produção de mel no país e outras informações relevantes sobre este tema. Confira!
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Importância das abelhas para o ecossistema
Antes de adentrarmos especificamente no universo das plantas melíferas, é importante ressaltar a importância das abelhas para o meio ambiente. Seu papel transcende a mera produção do tão apreciado mel, estendendo-se a contribuições fundamentais que repercutem em toda a cadeia ecológica.
Com mais de 20 mil espécies conhecidas, sendo que cerca de três mil delas estão presentes no Brasil, as abelhas desempenham funções vitais divididas entre a abelha rainha, zangão e operárias. No intrincado processo de fabricação do mel, são as incansáveis abelhas operárias que assumem a tarefa de coletar néctar e pólen das flores. Diariamente, essas dedicadas operárias voam a distâncias de até três quilômetros em busca dos preciosos elementos da natureza para a sustentação da colmeia e, por extensão, para a produção do mel.
O pólen é a principal fonte de proteína, vitamina e lipídeos das abelhas, além de servir também como matéria-prima essencial para a produção de uma gama de produtos de grande valor para a saúde, como o mel, a geleia real, acera e o própolis.
Já o néctar representa a fonte de energia para os insetos adultos e suas crias.
Em uma troca harmoniosa entre a natureza e essas incansáveis operárias, o pólen se transforma em uma rica paleta de substâncias, cada uma com suas propriedades de alto valor nutritivo e contribuições para a colmeia.
Por outro lado, o néctar extraído das flores, desempenha um papel igualmente vital. Além de ser a fonte primária de energia para as abelhas adultas, ele é essencial para nutrir as crias em desenvolvimento. Essa dualidade de propósitos destaca a complexidade e eficiência do sistema de coleta e transformação que as abelhas empregam em sua incessante busca por sustento e preservação da colmeia.
Contudo, essa não é a única função desempenhada pelas abelhas. Ao coletarem diligentemente os materiais das flores, desencadeia-se o fenômeno da polinização. Quando as abelhas transportam o pólen, o gameta masculino, até o estigma, a parte reprodutiva feminina da flor, dá-se início ao processo de germinação das plantas.
Nesse intricado processo da natureza, as abelhas se tornam agentes vitais na reprodução das plantas, promovendo a diversidade e a vitalidade do reino vegetal.
Para ilustrar a magnitude desse fenômeno, 85% das plantas com flores e 70% das culturas agrícolas dependem diretamente dos polinizadores para realizar a polinização cruzada, assegurando assim a produção de frutos e sementes. As abelhas emergem como protagonistas nesse cenário, sendo notavelmente mais eficientes do que a polinização manual.
A habilidade das abelhas em transportar o pólen de uma flor para outra não apenas facilita a reprodução das plantas, mas também promove a variabilidade genética e a adaptação ao ambiente. Esse serviço prestado pelas abelhas resulta na abundância de colheitas, e também ressalta a intrincada rede de interações que sustenta a vida vegetal e, por extensão, a biodiversidade de nosso ecossistema.
Portanto, a polinização desencadeia uma sequência de eventos vitais no ciclo de vida desses vegetais: a fecundação, a produção de sementes, o desenvolvimento dos frutos e, posteriormente, o surgimento de um novo vegetal da mesma espécie.
De fato, as abelhas se revelam como seres vivos fundamentais na manutenção da vida no planeta. Sua presença é tão crucial que, sem eles, a sobrevivência do mundo estaria ameaçada em poucos anos. A interdependência entre as abelhas e o meio ambiente destaca a fragilidade e, ao mesmo tempo, a relevância desses polinizadores para a sustentabilidade e equilíbrio do ecossistema global. Preservar e proteger as abelhas torna-se não apenas uma necessidade biológica, mas também uma responsabilidade compartilhada na preservação da vida em nosso precioso planeta.
Visto isso, é importante ressaltar que a forma, a cor e o cheiro de determinadas espécies de flores são mais atraentes a esses insetos, com efeito de executar todo esse processo que citamos acima. São as chamadas plantas melíferas, tema principal do nosso post.
Antes de prosseguirmos, vamos explorar a importância da produção de mel para a nossa economia e analisar o papel da exportação desse produto, que contribui para a geração de divisas ao Brasil. Essa perspectiva oferecerá uma visão abrangente do impacto econômico e global da apicultura em nosso país.
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Produção de mel no Brasil
Como evidenciamos anteriormente, as abelhas desempenham um papel fundamental na preservação do ecossistema do planeta. No entanto, a importância destes insetos vai além, exercendo um impacto significativo na economia mundial. Esses pequenos polinizadores desempenham um grande papel na agricultura e, por conseguinte, na produção de alimentos, contribuindo para a segurança alimentar global.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 2022, a produção mundial de mel alcançou aproximadamente 1,7 milhão de toneladas. Esse expressivo volume destaca a relevância global da apicultura e da produção de mel como uma indústria vibrante e vital.
Desse total, o Brasil foi responsável pela produção de 60.966 toneladas. O maior estado produtor é o Rio Grande do Sul, com 9 mil toneladas, seguido por Paraná e Piauí (respectivamente 8,6 e 8,3 mil toneladas). Portanto, o mel constitui uma parte importante da economia do país.
A produção nacional de mel proporcionou uma movimentação financeira de R$ 957,8 milhões. A maior parte é destinada ao mercado exterior: 36.885 mil toneladas (60,5% do total). A exportação é de suma importância para a economia do país, sendo que o Brasil figura, atualmente, como um dos principais produtores de mel no mundo.
O nosso país é o quarto maior exportador do produto (5,5% do mercado internacional), ficando atrás apenas da Nova Zelândia (12,2%), China (8%) e Argentina (6,1%). Os principais compradores do mel brasileiro são os Estados Unidos (76% do total exportado), Alemanha (10%) e, em seguida, o Canadá, com 8%.
Separamos um vídeo com 5 espécies para quem quer dar início à criação de abelhas:
Sem dúvidas, a produção de mel desempenha um papel crucial na esfera econômica, mas também exerce um impacto social significativo. A apicultura, como atividade econômica, emerge como fonte de renda para centenas de milhares de pessoas em todo o Brasil.
Essa interseção entre benefícios econômicos e sociais destaca a apicultura como uma atividade que não apenas contribui para o desenvolvimento econômico, mas também para a promoção da sustentabilidade e do bem-estar social de famílias. A produção de mel, portanto, transcende as fronteiras econômicas, influenciando positivamente as vidas de muitos ao proporcionar meios de subsistência e fomentar o crescimento comunitário.
Vamos explorar agora um dos pilares essenciais para a produção de mel: as plantas melíferas. A atração exercida por essas plantas é fundamental para a atividade apícola.
Vamos lá?
O que são plantas melíferas?
As plantas melíferas são aquelas que possuem uma forte relação com a produção de mel, graças à sua capacidade de atrair abelhas. Diversas espécies de plantas são consideradas melíferas, e elas variam em termos de características e habitats. Alguns exemplos de plantas melíferas incluem:
- Rosmaninho (Lavandula stoechas): uma planta com flores roxas que atrai abelhas;
- Urze (Erica umbellata): também conhecida como “brejo” ou “calluna”, é uma planta com flores pequenas e abundantes;
- Castanheiro (Castanea sativa): as flores do castanheiro são ricas em néctar e atraem abelhas;
- Alecrim (Rosmarinus officinalis): suas flores azuis são uma fonte de néctar para as abelhas;
- Medronheiro (Arbutus unedo): produz flores brancas e frutos comestíveis;
- Soagem (Echium plantagineum): uma planta com flores rosa ou roxas que é muito visitada por abelhas;
- Poejo (Mentha pulegium): suas flores atraem abelhas e outros polinizadores;
- Laranjeira (Citrus sinensis): as flores de laranjeira são ricas em néctar;
- Eucalipto (Eucalyptus spp): algumas espécies de eucalipto são melíferas e atraem abelhas;
- Girassol (Helianthus annuus): as flores do girassol são uma excelente fonte de néctar.
Certamente, a maior parte desse néctar, secreção açucarada proveniente da seiva vegetal utilizada na apicultura brasileira, origina-se de espécies nativas. Isso evidencia que em áreas com uma abundância de flores, o desenvolvimento da atividade apícola tende a ser mais eficaz e produtiva.
A riqueza da flora nativa não apenas fornece um suprimento contínuo de néctar, mas também promove a diversidade de sabores e características únicas no mel produzido, agregando valor à atividade apícola em diferentes regiões do Brasil. A preservação e incentivo do crescimento de espécies nativas, portanto, desempenham um papel vital na sustentabilidade e no sucesso da apicultura no país.
De fato, essa é uma consideração intrigante. Esses polinizadores buscam, especificamente, flores que ofereçam uma elevada concentração de açúcar nessa substância, preferencialmente com uma consistência menos aquosa. Esse critério seletivo das abelhas destaca a sofisticada adaptação desses insetos, direcionando suas energias para fontes de néctar mais ricas em nutrientes, otimizando assim o processo de produção de mel.
Essa dinâmica refinada entre as abelhas e as plantas melíferas adiciona uma camada de complexidade fascinante à interação entre esses dois elementos essenciais da apicultura.
Um detalhe: se os nectários considerados “mais atraentes” estiverem fechados ou protegidos por tecidos, tornam-se inacessíveis para as abelhas, uma vez que esses insetos não possuem um aparelho mandibular cortador. Essa limitação física destaca a importância não apenas da abundância, mas também da acessibilidade das flores aos polinizadores.
Ao selecionar cuidadosamente as melhores plantas melíferas para a região, o produtor não só garante um suprimento constante de néctar de alta qualidade, mas também cria um ambiente propício para o florescimento de novas colônias apícolas. Esse conhecimento detalhado das interações entre as abelhas e as plantas melíferas é um componente importante para orientar escolhas e maximizar os benefícios da apicultura.
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Quais são as principais árvores nativas melíferas?
Conforme demostramos, conhecer as plantas preferidas pelas abelhas e seus períodos de florescimento são informações importantes para que os apicultores entendam o relacionamento entre essa flora e suas colônias. Além disso, poderão identificar períodos de abundância ou de escassez de alimentos.
A Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) relacionou 25 árvores nativas mais utilizadas pelas abelhas, com o propósito de coletar alimento, envolvendo os biomas e os estados brasileiros com ocorrência confirmada desses insetos.
Confira as 25 espécies:
- Angico (Anadenanthera colubrina);
- Angico–branco, guarucaia, monjoleiro (Senegalia polyphylla);
- Aroeira–vermelha (Schinus terebinthifolia);
- Aroeira, aroeira–verdadeira, urundeuva (Astronium urundeuva);
- Camboatá, pau–pombo (Tapirira guianensis);
- Caraibinha, caraíba, ipê–amarelo (Handroanthus ochraceus);
- Caroba–de–flor–verde, ipê–pardo (Cybistax antisyphilitica);
- Cássia–grande (Cassia grandis);
- Catingueira (Cenostigma_nordestinum);
- Grandiúva (Trema micrantha);
- Guaçatonga (Casearia sylvestris);
- Imburana (Commiphora leptophloeos);
- Ipê–amarelo do cerrado (Handroanthus chrysotrichus);
- Ipê–roxo (Handroanthus impetiginosus);
- Jurema–preta (Mimosa tenuiflora);
- Louro–pardo (Cordia trichotoma);
- Manduirana (Senna silvestris);
- Marmeleiro–branco, sangra-d’água (Croton floribundus);
- Paineira (Ceiba speciosa);
- Pau–ferro (Libidibia ferrea);
- Pequi (Caryocar brasiliense);
- Pitanga (Eugenia uniflora);
- Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia);
- Timburi, timbaúva (Enterolobium contortisiliquum);
- Urucum (Bixa orellana).
Conheça o Angico
Trata-se de uma árvore com porte mediano, atingindo até 15 m de altura, com casca grossa e muito rugosa. Suas flores são pequenas (tipo pincel), de cor creme e agrupadas em inflorescências globosas.
O Angico é encontrado principalmente na Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. A floração ocorre no mês de novembro, proporcionando o néctar como recurso floral. Essa espécie de árvore é usada na construção de ninhos pelas abelhas sem ferrão.
Imburana, exemplo de plantas melíferas
A Imburana é uma planta popular da Caatinga brasileira, encontrada também na Amazônia e Cerrado. É muito usada na cultura, na fabricação de medicamentos (xarope contra tosses/bronquites e tônico) e utensílios regionais em todo o sertão brasileiro.
É considerada uma espécie fundamental para a manutenção das abelhas nativas. Várias espécies de abelhas sociais e solitárias constroem seus ninhos em ocos localizados nos seus troncos.
A floração ocorre também no mês de novembro e, como o Angico, pode abrigar abelhas sem ferrão.
Ipê-amarelo do Cerrado
Trata-se de uma árvore encontrada em diversas regiões brasileiras (como Cerrado, Mata Atlântica e Pampa), ou seja, desde Pernambuco até ao Rio Grande do Sul. Com um tronco reto a levemente tortuoso, a altura média varia de 5 a 15 metros.
Com uma coloração amarelada, suas flores podem ser vista à distância, possuindo de 04 a 10 cm de comprimento. O Ipê é muito usado no paisagismo urbano, embelezando praças.
A floração depende do estado de plantio, normalmente nos meses de abril, junho, julho, agosto, setembro e outubro. Proporciona o néctar para as abelhas, porém não abriga ninhos de abelhas sem ferrão.
Paineira: benefícios à natureza
A Paineira é outra árvore cujo plantio ocorre em diversas regiões do país (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal), sendo considerada de grande importância à fauna silvestre.
As abelhas buscam o seu néctar e, em troca, polinizam suas flores, enquanto que os pequenos beija-flores usam a paina para a construção dos ninhos. O periquito verde e outras aves se alimentam de suas sementes ricas em nutrientes.
Urucum fornece o pólen às abelhas
O Urucuzeiro é uma planta rústica, perene, de origem pré-colombiana e pertence à flora amazônica, com plantio também nas regiões do Cerrado e Mata Atlântica.
É uma árvore que pode alcançar até 6 metros de altura. O corante do urucum, existente na fina camada do arilo, é muito usado na culinária, com o fim de realçar a cor dos alimentos, embora não possua aroma nem sabor.
A floração do urucum ocorre depois de 6 a 10 meses do plantio no local definitivo (em maio), repetindo-se entre 12 e 15 meses. Após cerca de 90 dias dessa segunda floração, as cápsulas estarão em ponto de colheita.
Diferentemente das outras espécies que citamos acima, no caso do urucuzeiro, as abelhas buscam o pólen e, por sua vez, proporcionam a polinização cruzada da planta: a troca de pólen entre a antera de uma flor para o estigma de outra flor.
Conclusão
Como demonstrado ao longo deste artigo, as abelhas desempenham um papel verdadeiramente vital que vai além da produção de mel. Elas emergem como guardiãs da manutenção e desenvolvimento da biodiversidade do nosso planeta, realizando uma tarefa aparentemente simples: pousar nas flores em busca de alimento. Essa ação cotidiana, aparentemente singela, é, na verdade, um elo essencial na complexa teia da vida, promovendo a polinização e, por conseguinte, sustentando a reprodução de inúmeras espécies vegetais.
A compreensão do impacto abrangente das abelhas na biodiversidade destaca a importância crítica de proteger e preservar esses polinizadores. Ao fazê-lo, não apenas garantimos a produção de mel, mas também contribuímos para a saúde e equilíbrio do ecossistema global. Essa é uma narrativa fascinante e essencial que ilustra como até as ações mais modestas das abelhas têm impacto na preservação da vida em nosso precioso planeta.
Ao plantar espécies que atraem abelhas e outros polinizadores, você está participando ativamente na preservação e no fortalecimento do ecossistema em sua propriedade. Essa abordagem holística pode gerar impactos positivos em diversas esferas, desde a saúde ambiental até o potencial aumento da produtividade agrícola. Certamente, é uma reflexão inspiradora sobre como ações individuais podem ter consequências positivas em larga escala.
Gostou desse conteúdo? Como sugestão de leitura complementar, confira também o nosso artigo sobre como as abelhas produzem o mel. Boa leitura!