Todos os seres vivos precisam perpetuar a espécie, no caso das plantas, muitas delas se propagam via semente.
Para que a propagação seja efetiva, é necessário ter condições ideais para formação de uma nova planta.
Entretanto, podem ocorrer situações em que as condições são desfavoráveis, e para que as sementes não germinem nestes momentos, alguns mecanismos de defesa foram desenvolvidos pelas plantas, um deles é a dormência de sementes.
A dormência se instala nas sementes devido às condições climáticas, seja durante sua formação ou após ela, e será superada se estes mecanismos de proteção forem removidos.
Assim, uma planta consegue produzir sementes com diferentes graus de dormência, seja pelo clima durante sua produção ou por sua posição na planta mãe, o importante é perpetuar a espécie pela germinação ao longo do tempo.
Diversos são os fatores e causas da dormência de sementes, assim como sua superação, sendo um assunto complexo devido às interações que ocorrem entre planta, semente e ambiente.
Para esclarecer algumas dúvidas, venha conferir neste texto as principais informações a respeito deste tema.
Leia também: Qualidade da semente e sua importância como insumo agrícola.
Definição de dormência de sementes
Antes de definir o que é dormência de sementes, temos que entender o que ocorre inicialmente.
Quando as plantas entram no final do período de reprodução, ou seja, no processo de maturação das sementes, alguns fatores internos ou externos podem agir, e as sementes adquirirem o que denominamos de dormência.
Mas, por outro lado, pode não ocorrer estes fatores, e as sementes apenas reduzirem seu metabolismo, que é, de forma geral, a redução da respiração, da atividade enzimática e baixo teor de água, para que, em condições favoráveis de água, luz e oxigênio, ocorra a germinação. Estas sementes são denominadas quiescentes.
A ocorrência destes fatores que levam as sementes a não germinarem, ou seja, que levam a dormência, são ainda foco de debates entre os pesquisadores, por isto, na literatura há muitas definições sobre o que seria dormência das sementes, uma delas é a seguinte:
“Semente dormente não tem capacidade de germinar, num período de tempo especificado, em uma ou mais combinações de condições ambientais nas quais a semente germinaria normalmente se não estivesse com dormência” (Baskin e Baskin, 2004).
Resumindo, temos dois tipos de sementes:
- Quiescentes: que são aquelas que após a maturação não germinam devido a falta de água e luz. Havendo as condições favoráveis, ocorre a germinação;
- Dormentes: que são aquelas que durante o processo de maturação ocorre algum bloqueio, e mesmo após a maturação, em condições ditas favoráveis para germinação, elas não germinam, necessitando de algum desbloqueio.
Por que ocorre dormência nas sementes?
O clima é um fator de grande importância para a formação das plantas, desde a germinação até sua produção.
Entretanto, sabemos que o clima é instável, pode ocorrer chuva, seca, frio ou geadas fora de época, o que prejudica as plantas.
Assim, para que haja garantia de perpetuação da espécie, muitas plantas apresentam o “mecanismo de defesa” de dispersar suas sementes com diferentes graus de dormência.
Desse modo, estas sementes, ao longo do tempo, vão superando os bloqueios existentes, que não permitem sua germinação, para que no final, havendo as condições ideais, germinem e formem uma nova planta.
As sementes destas plantas, portanto, germinam ao longo do tempo, permanecendo no solo por meses ou anos, para enfim germinarem.
A função da dormência é, portanto, impedir que todas as sementes dispersas da planta mãe germinem de uma única vez e em condições desfavoráveis, garantindo que a espécie perpetue na área.
Pensando em culturas agrícolas, a dormência apresenta a vantagem de evitar a germinação das sementes ainda na planta mãe e armazenagem das sementes sem prejuízo.
Por outro lado, quando as sementes têm dormência, sua avaliação após a colheita é dificultada, é necessário fazer a superação da dormência para que os resultados fisiológicos sejam mais precisos.
O mesmo ocorre no momento do plantio, se a superação da dormência não for realizada adequadamente ocorre desuniformidade de germinação e emergência, o que prejudica o cultivo.
Para controle de plantas daninhas também é um problema, pois a maioria das espécies apresenta dormência nas suas sementes, desse modo, a germinação ocorre ao longo do tempo, permanecendo no solo o banco de sementes.
Veja também: Tratamento de sementes: importância e benefícios.
Tipos de dormência
A dormência das sementes pode ser primária e/ou secundária.
Primária: as sementes adquirem os mecanismos de dormência quando estão ligadas à planta mãe, durante a maturação, é independente do ano e local de produção, sendo uma característica programada geneticamente.
Secundária: as sementes podem manifestar a dormência secundária após a dormência primária ser superada; sua ocorrência será após sua dispersão, que só será ativado em situações específicas, podendo ou não ocorrer.
Causas da dormência de sementes
As causas da dormência foram divididas de diferentes modos por alguns pesquisadores, porém, a mais conhecida é a proposta aprimorada por Baskin e Baskin (2004).
Nesta divisão são consideradas duas categorias de dormência de sementes, a exógena e a endógena.
Cada categoria apresenta subdivisões, e dentro das subdivisões estão as causas da dormência, que pode ser de diferentes modos dentro da mesma subcategoria.
Dormência exógena
A dormência exógena está relacionada com outras partes da semente, como: tegumento, resquícios de flores, endosperma e/ou pericarpo, que bloqueiam de algum modo a germinação.
As 3 subdivisões desta categoria são:
- Física: ocorre pela restrição da entrada de água ou gases no interior da semente, devido ao tegumento ou pericarpo, exemplo: quiabo, alfafa, trigo e arroz;
- Mecânica: ocorre pela estrutura do fruto que protege a semente (endocarpo ou mesocarpo) ser uma barreira para o crescimento do embrião, exemplo: azeitona, manga, café, alface e pêssego;
- Química: nos envoltórios da semente, como o pericarpo, há presença de inibidores químicos que impedem o avanço da germinação, exemplo: beterraba, algodão e tremoço-amarelo.
Dormência endógena
Já a dormência endógena é decorrente de fatores ligados ao embrião, seja na sua anatomia ou morfologia, por isso ela também é conhecida como dormência embrionária.
Esta categoria apresenta 3 subdivisões:
- Dormência fisiológica: ocorre devido a inibição de processos metabólicos ligados ao embrião, que impede seu desenvolvimento de algum modo, exemplo: alface, tomate, gramíneas forrageiras e girassol;
- Dormência morfológica: ocorre devido a imaturidade do embrião, as sementes são dispersas com o embrião não totalmente desenvolvido, exemplo: aipo e orquídea;
- Dormência morfofisiológica: ocorre quando o embrião está imaturo e há ainda algum tipo de impedimento metabólico, ou seja, é a junção da dormência morfológica com a fisiológica.
Dentre as subdivisões são determinadas as causas ou mecanismos de dormência. Para resumir, na figura abaixo são listados estes mecanismos.
Ainda há, no ambiente acadêmico, controvérsias a respeito das divisões das categorias e subcategorias das causas da dormência de sementes, pois uma causa pode estar atrelada a outra e, desse modo, não é possível definir com exatidão qual a causa que impede a germinação.
O importante é saber quais os mecanismos de bloqueio presentes na semente de determinada cultura, para conseguir realizar a superação da dormência corretamente e ter sucesso na germinação.
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O que fazer para superar a dormência das sementes?
Como visto acima, as causas para a dormência são inúmeras, e mesmo sendo um mecanismo de sobrevivência, para espécies cultivadas isto se torna um problema para sua avaliação e produção.
A superação da dormência deve ser adequada para que todas as sementes possam germinar e evitar morte do embrião devido ao método de superação ser incorreto.
Nas Regras para Análise de Sementes constam algumas instruções de recomendações para superar dormência e o modo como devem ser feitas, para evitar erros no momento da avaliação do teste de germinação.
Dentre os métodos de quebra de dormência de sementes temos:
- Armazenamento – utilizado em todas as culturas;
- Resfriamento;
- Lavagem em água corrente;
- Escarificação química com ácido sulfúrico – gramíneas forrageiras;
- Escarificação mecânica – quiabo;
- Uso de produtos como nitrato de potássio;
- Uso de hormônios vegetais como giberelina – cereais de clima temperado, como trigo e aveia;
- Água quente.
Muitos destes são utilizados somente em laboratórios para avaliar o atributo fisiológico da qualidade de um lote de semente, para posterior comercialização.
Mas alguns – como o armazenamento – são utilizados em larga escala por empresas, servem para a maioria das dormências, entretanto, pode levar meses ou até mesmo anos para ocorrer a quebra da dormência por este método natural.
Outro método que pode ser utilizado em larga escala é o uso de solução com ácido sulfúrico, onde a concentração do produto e tempo de imersão da semente na solução é dependente da espécie. Este método é muito utilizado em sementes de gramíneas forrageiras.
O uso de água quente e escarificação mecânica são utilizados em locais de produção de sementes ou mudas.
Conclusão
A dormência de sementes é algo natural das plantas, que tem por finalidade a sobrevivência ao longo do tempo.
Plantas com dormência tem suas vantagens e desvantagens agronomicamente.
Existem diversas causas que fazem uma semente ser dormente, que pode ser específica da espécie ou devido a condições impostas no momento ou após a sua formação.
O método de superação da dormência nas sementes é definido conforme o mecanismo de bloqueio que ela apresenta.
Conhecer as causas e os modos de quebra de dormência é o que define a avaliação correta da qualidade da semente e seu tempo de germinação.
Fique atento no momento de adquirir sementes que têm características de apresentarem dormência, verifique o teste de germinação e se tiver dúvida, faça um teste de canteiro na sua área antes da semeadura.
Espero que este artigo tenha fornecido informações úteis para você.
Até mais!
Acesse também: Principais regras para importação de sementes.
