Durante o monitoramento da lavoura, é comum o produtor observar manchas nas folhas. Isso é sempre um motivo para preocupação, principalmente se for devido a alguma doença.
Essa preocupação não é por nada, afinal, as doenças podem diminuir a produção e trazer sérios prejuízos se não forem controladas. Uma dessas doenças é a Antracnose, que ataca diferentes cultivos e causa grandes perdas.
Por isso, é muito importante entender o que é a Antracnose, como ela se desenvolve e, principalmente, quais as medidas para controlá-la de forma efetiva. Confira tudo isso e muito mais neste artigo. Aproveite a leitura!
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O que é Antracnose?
As doenças causadas por antracnose são muito destrutivas. Elas podem atacar desde frutíferas e hortaliças até cultivos de grãos, causando até 100% de perdas caso não seja feito manejo de prevenção ou controle.
Os dois gêneros de fungos mais importantes causadores de antracnose são: Colletotrichum e Sphaceloma.
O Colletotrichum ataca cultivos como o feijão, soja, milho, sorgo, videira, pessegueiro, manga, entre outros. Já o Sphaceloma ataca principalmente a videira e citros.
A antracnose causa manchas concêntricas (arredondadas), observando-se pontos pretos em várias partes da planta, tais como: nas folhas, nos ramos, nos frutos (afeta principalmente as espécies frutíferas), vagens e sementes.
Portanto, além de diminuir o rendimento das plantas, ela também causa perdas qualitativas, pois as manchas nos frutos, sementes e grãos diminuem o valor de comercialização do produto.
A antracnose é considerada uma das doenças mais importantes em algumas culturas. No feijão, por exemplo, pode ocorrer perdas de até 100%. Em frutas tropicais também pode causar prejuízos de 100%.
No sorgo, as perdas podem variar entre 50% a 80% na produção de grãos. Já na soja, a doença vem ganhando importância nos últimos anos, podendo causar perdas de 10% a 20% na produtividade.
O que leva ao desenvolvimento da antracnose?
A antracnose é disseminada, ou seja, ela entra na lavoura ou na área de cultivo através de mudas e sementes contaminadas, bem como pela água (vento provoca respingos de chuva). Logo, o fungo se dispersa mais facilmente em épocas chuvosas.
Um ambiente úmido e com temperatura moderada a alta favorece o desenvolvimento do fungo. Se a lavoura tiver uma população muito alta, estaremos oferecendo justamente uma condição de maior umidade. Portanto, cuidado com plantios muito adensados!
O fungo pode sobreviver na lavoura por um longo período, inclusive de uma safra para a outra. São três as formas que ele tem de sobreviver:
- Em restos culturais;
- No hospedeiro (a própria cultura); ou
- Em hospedeiros alternativos (outras espécies onde o fungo consegue se alimentar e sobreviver).
Entender a forma como o fungo sobrevive é muito importante para não deixarmos brecha para ele entrar na lavoura, nem para incidir em outras safras. Pensando nisso, conseguimos fazer o manejo mais adequado.
Vamos ver como a antracnose se desenvolve nas principais culturas. Confira!
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Antracnose na soja
A antracnose na soja é causada por espécies do fungo Colletotrichum, sendo que a espécie C. truncatum é a mais comum.
Em safras passadas, foi a segunda doença mais importante da cultura da soja, atrás da ferrugem asiática. Ela acontece, em especial, na região do Cerrado, mas já vem se destacando, também, na região Sul do Brasil, principalmente em safras chuvosas.
A doença afeta todas as fases de desenvolvimento da cultura, desde o estabelecimento da lavoura até o enchimento de grãos, atingindo as folhas, hastes e vagens.
A origem da antracnose na lavoura de soja está em sementes contaminadas ou restos culturais contaminados. Se a semente estiver contaminada, a plântula pode morrer ainda no processo de germinação ou sofrer tombamento logo em seguida.
É possível visualizar as manchas da doença já nos cotilédones das plântulas. Nas folhas, os sintomas são lesões necróticas (manchas de cor marrom), podendo haver lesões avermelhadas nas nervuras. Ela pode ainda causar o estrangulamento dos trifólios.
Porém, a antracnose é mais frequentemente observada na fase de floração e no enchimento de grãos. Isso acontece pois o fungo é transmitido da folha para a flor, a qual não é fecundada, resultando em abortamento de legumes ou em legumes sem grão.
Se o fungo infectar os legumes, causa a abertura dos mesmos, provocando sintomas como lesões escuras de formato irregular e com depressões (como se fossem afundadas). Os grãos ficam com manchas, o que reduz a sua qualidade e valor de comercialização.
Muitas vezes, os sintomas de antracnose passam despercebidos, pois acontecem no interior da lavoura. Por isso, o monitoramento deve ser feito com muito cuidado.
Fique atento, pois fatores como o atraso na colheita ou muita chuva ao final do ciclo promovem a contaminação massiva dos grãos, constituindo uma fonte de disseminação.
Antracnose no milho
A espécie que causa antracnose no milho é a Colletotrichum graminicola. Seus sintomas no milho diferem dos da soja e podem ser visualizados no colmo, na espiga, nas raízes, nas folhas e no pendão.
A antracnose pode reduzir de 18% a 40% da produção de grãos de milho, pois o ataque nas folhas e no colmo pode causar o tombamento da planta, o que impacta consideravelmente o rendimento da cultura.
A ocorrência de antracnose no milho se agravou com o aumento das áreas de plantio direto e de cultivos de safrinha. Como o fungo consegue sobreviver nos restos culturais, ele se aproveita disso para garantir a sua permanência na área para infecção de novas plantas.
No entanto, a doença ocorre em todas as principais regiões produtoras de milho do Brasil, seja em plantios tardios ou em períodos normais.
Os sintomas observados nas folhas são lesões necróticas escuras, arredondadas e alongadas. Normalmente, os sintomas começam pelas folhas baixeiras, distribuindo-se para o ápice da planta.
No colmo, surgem manchas estreitas e escuras ao longo da parte externa. O colmo fica necrosado por dentro, como se estivesse apodrecendo, sendo fácil detectar este sintoma pressionando os entrenós com os dedos.
Esse enfraquecimento dos entrenós pode resultar na morte prematura da parte superior da planta ou no tombamento. Além de comprometer a colheita mecânica, isso reduz a produtividade da lavoura.
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Antracnose na cultura do sorgo
No sorgo, a antracnose é a doença de maior importância, atacando folhas, colmo, panícula e grãos.
Presente em todas as áreas de produção de sorgo no Brasil, a espécie de fungo que causa essa doença também é o Colletotrichum graminicola.
Os sintomas nas folhas incluem lesões circulares a ovais, com centros necróticos (escuros) e coloração palha. As margens das manchas podem ter coloração avermelhada, dependendo da variedade.
Nos colmos formam-se cancros de coloração clara e contornados pela cor da planta hospedeira. Já na panícula, formam-se lesões abaixo da epiderme (casca) com aspecto encharcado, de cor cinza a avermelhada.
Normalmente, as plantas infectadas amadurecem mais cedo e são menores.
Antracnose no feijoeiro
A antracnose no feijoeiro é causada pelo fungo Colletotrichum lindemithianum, e é uma das doenças mais comuns da cultura por causar grandes perdas de produção e comprometer a qualidade dos grãos.
Os sintomas nas folhas do feijoeiro são lesões necróticas de coloração marrom escura nas nervuras, principalmente na parte de baixo da folha.
Nas vagens, as lesões são deprimidas (levemente “afundadas”), circulares, com borda escura de coloração marrom a avermelhada.
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Antracnose na manga
O fungo que causa antracnose na manga é o Colletotrichum gloesporioides, o qual ataca ramos, folhas, inflorescências e, principalmente, frutos.
Os frutos apresentam lesões escuras deprimidas e com aspecto úmido. Se a casca se romper devido à doença, os frutos podem chegar ao mercado apodrecidos. Os frutos novos podem cair ainda imaturos (verdes).
As flores enegrecem e secam o pedúnculo, prejudicando a frutificação. Nas folhas, podem aparecer manchas marrons de formato oval ou irregular e tamanho variável.
Os frutos podem apresentar podridão causada por antracnose no momento da comercialização. Portanto, tratamentos pós-colheita com a imersão de frutos em thiabendazole a 0,01%, imazalil ou prochlaroz podem resolver esse problema.
Antracnose na videira
Na videira, a antracnose é causada por outro gênero de fungo, o Sphaceloma ampelinum, e é considerada uma das doenças mais importantes que atingem a cultura. Pode comprometer a safra do ano e a dos próximos anos, dependendo da severidade.
A antracnose pode atingir todos os tecidos verdes da planta, incluindo folhas, caule, inflorescências, frutos e até gavinhas, sendo que os tecidos jovens são os mais sensíveis.
Assim como para a antracnose em grãos causada por Colletotrichum, a antracnose em videira é favorecida por altas umidades e temperaturas. Além disso, o fungo também consegue sobreviver em sarmentos, gavinhas e restos culturais.
Os sintomas incluem manchas castanho-escuras no limbo, levemente deprimidas, que podem vir a se tornar furos.
Nas nervuras, pecíolos e ramos, é possível visualizar cancros de contorno irregular, que podem provocar o desenvolvimento irregular dos tecidos foliares.
Nas bagas também se formam manchas necróticas deprimidas de cor castanho-escura, circundada por um halo vermelho.
Além de prejudicar o vigor das plantas, a antracnose em videira afeta significativamente a qualidade das bagas, devido às manchas que comprometem o seu aspecto visual e interferem na sua atratividade.
Para a videira, é importante realizar o tratamento de inverno com o uso de calda bordalesa e calda sulfocálcica, além do tratamento de primavera com fungicidas sistêmicos e protetores desde a brotação.
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Métodos de controle da antracnose
Vamos aprender algumas dicas para controlar a antracnose:
1 – Rotação de culturas
Como o fungo pode sobreviver em restos culturais, é importante realizar o plantio alternado de diferentes espécies na área de cultivo, utilizando espécies que não sejam hospedeiras do fungo.
Para o feijão, por exemplo, uma rotação com gramíneas, na qual o feijoeiro seja cultivado apenas uma vez por ano, é suficiente para proteger a lavoura.
2 – Espaçamento e densidade de plantas
Indiferente se for uma cultura de grãos ou arbórea, é importante favorecer a ventilação e a insolação nas plantas para que o ambiente não fique com umidade elevada.
Portanto, adeque o espaçamento e a densidade de plantas na área de cultivo.
3 – Controle químico
O controle químico pode ser utilizado tanto no tratamento de sementes quanto em pulverizações nas plantas. Mas, lembre-se de sempre utilizar produtos registrados para a cultura. Os produtos indicados para cada cultura estão disponíveis no site do AGROFIT (banco de informações sobre os produtos agroquímicos e afins registrados no Ministério da Agricultura).
Outras técnicas que podem auxiliar para um controle efetivo:
- Uso de cultivares resistentes;
- Construção de quebra-ventos;
- Utilização de material propagativo (sementes ou mudas) livres da doença;
- Adubação equilibrada;
- Eliminação de partes infectadas das plantas, no caso de espécies arbóreas (perenes);
- Para espécies arbóreas: tratamento de inverno com calda sulfocálcica ou fungicida à base de cobre.
Agora que você já conhece tudo sobre a antracnose, siga as nossas dicas e não deixe que a doença cause prejuízos no seu cultivo.
Lembre-se: o controle químico isolado não é um manejo eficiente e deve ser utilizado junto com outras técnicas!
E então, gostou desse conteúdo? Leia mais sobre as principais doenças da cultura do algodão. Boa leitura!