Boas práticas na reprodução do gado

Boas práticas na reprodução do gado

Imagine um alto grau de tecnificação, onde a reprodução é eficiente e o gado recebe o que necessita para alcançar patamares altos de produção. Onde há o respeito pela categoria animal, onde prevalece condições de bem-estar, oferta adequada de alimento e de cuidados preventivos e sanitários.

Agora, vá um pouco mais além, e imagine um mercado consumidor consciente, conhecedor do potencial produtivo do nosso país, que prioriza alimento de origem certificada e totalmente rastreável, que exige alimentos de alta qualidade, e que incentiva o mercado a oferecer condições ao produtor para validar esse tipo de produto ao fim da sua cadeia de produção.

Cenário maravilhoso, não é mesmo? Concorda comigo que não estamos tão longe dessa realidade? O gado brasileiro têm chegado a mercados extremamente exigentes – como a comunidade europeia, por exemplo.

Sendo assim, como o manejo reprodutivo pode garantir melhores resultados na sua criação? Como potencializar a reprodução do rebanho?

É importante definir uma linha de raciocínio que priorize a sustentabilidade, onde se ofereça a assistência correta à reprodução dos bovinos, com atenção às boas práticas, que envolvem o respeito ao bem-estar animal e ao ambiente de forma geral, favorecendo a produção em cadeia. Tendo isso em vista, neste artigo daremos sequência à nossa série de Boas Práticas de Manejo do Gado, dessa vez abordando a reprodução. Confira!

Aplicando as boas práticas na reprodução

Antes de mais nada, é importante destacar que o coração da cadeia produtiva é a reprodução. Sem sombra de dúvidas, se os rebanhos são bem conduzidos nesse quesito, o reflexo será positivamente proporcional.

É fato que a reprodução é biológica e vai ocorrer naturalmente caso haja condições. Mas, se deseja uma reprodução eficiente e lucrativa, a adoção de um manejo reprodutivo eficiente é primordial.

Vaca cuidando de bezerro recém-nascido
Nascimentos em intervalos curtos garantem não somente o maior lucro e o alicerce para a cadeia produtiva, mas também, a certeza do acerto no manejo reprodutivo.

Nesse sentido, focar na condução de um manejo reprodutivo bem assistido não necessariamente presume o uso de tecnologias, como a inseminação artificial em tempo fixo ou a transferência de embrião. Pelo contrário, as variáveis mais relevantes são a redução dos intervalos entre partos e o aumento da taxa de nascimento e de alto peso na desmama.

Dessa maneira, para implementar mudanças nos manejos levando em conta toda a cadeia produtiva é necessário atentar-se ao planejamento e seguir alguns passos. A adoção de uma postura racional e com respeito aos animais – tendo as boas práticas como centro – vai ser norteada pelos seguintes pontos:

  • Avaliações ginecológicas frequentes;
  • Atenção especial aos machos;
  • Prevenção de doenças de potencial reprodutivo;
  • Classificação dos animais e acompanhamento através de anotações;
  • Estabelecimento de métricas do melhoramento genético aplicado na reprodução.

A seguir, vamos abordar em detalhes cada um desses pontos. Acompanhe!

1. Avaliações ginecológicas frequentes

Tanto em rebanhos de leite como de corte, é imprescindível avaliar as vacas com certa frequência, ou seja, desde as novilhas de reposição que vão compor o rebanho reprodutivo, até as vacas multíparas.

Avaliação ginecológica em vaca para definição do manejo de reprodução
As fêmeas que estão aptas a reprodução devem ser avaliadas, preferivelmente com o uso de ultrassom (US), o que confere maior precisão aos resultados, com acompanhamento de técnico responsável.

Com as avaliações ginecológicas, além de permitir separar os animais em lotes de forma racional, também é possível identificar as seguintes circunstâncias:

  • Vacas prenhas, idade gestacional, e, inclusive, dependendo da idade gestacional, o sexo do embrião;
  • Limitações ginecológicas que podem impedir o desenvolvimento do embrião;
  • Fêmeas que inviabilizam a gestação por fatores hormonais, fisiológicos ou até mesmo patológicos;
  • Definir o melhor momento para dar início nos ajustes reprodutivos. Intervir na sincronização do cio, por exemplo;
  • Descarte bem direcionado e motivado, permitindo resultados plenos em termos financeiros.

2. Atenção especial aos machos

No que se refere aos machos do rebanho, é bom determinar a fertilidade por meio de exames andrológicos. Touros podem ser considerados clinicamente aptos ao manejo reprodutivo e ainda assim serem subférteis.

Evidentemente, o prejuízo é tremendo quando o macho é infértil. Por exemplo, se uma vaca infértil perde 1 bezerro ao ano, por outro lado, o touro vai deixar de oferecer de 25 a 50 bezerros ao ano.

Representativamente, os touros subférteis totalizam até 40% de todos os machos reprodutores dos rebanhos brasileiros, e, para a identificação dessa categoria de animais, é fundamental que o exame andrológico seja rotina.

Close nos testículos de um boi
O médico veterinário é o técnico capaz de avaliar o reprodutor na propriedade e, posteriormente, definir a viabilidade, motilidade e presença de patologias dos espermatozoides.

Exame andrológico: exame clínico

São avaliadas as condições gerais de saúde do animal, considerando a sanidade, as vacinas (especialmente de cunho reprodutivo) e o histórico geral do animal.

Exame andrológico: exame físico

A avaliação passa a ser totalmente reprodutiva. Saco escrotal (testículos e epidídimos), glândulas anexas por palpação retal e pênis e prepúcio. Atenção a:

  1. Temperatura e consistência;
  2. Sensibilidade dolorosa ou lesões;
  3. Circunferência escrotal e dimensões, altura, largura, comprimento e perímetro escrotal.

A partir do sêmen coletado (com uso do eletroejaculador), serão avaliadas a motilidade, a viabilidade, e a concentração dos espermatozoides. O médico veterinário responsável por avaliar e atestar a capacidade reprodutiva dos reprodutores vai fornecer um laudo de acordo com a avaliação do sêmen coletado, constando a informação:

  • Animal apto;
  • Apto com reservas;
  • Inapto.

A fim de validar essas informações, o vídeo da Embrapa a seguir vai evidenciar a sequência e a importância da avaliação dos reprodutores da propriedade:

Fonte: Embrapa.

A validade do laudo é de 30 dias e o exame deve ser realizado antes da estação de monta para o gado de corte, ou antes de emprenhar suas vacas de leite. Em caso de comercializar essa categoria de animais, é importante que o comprador se certifique da procedência do exame, que deve estar no prazo de validade e ser recente.

Caso opte por não colocar o macho para reprodução, é interessante castrar, pois isso reduz os distúrbios de conduta sexual e os torna mais dóceis entre a vacada. Recomenda-se castrar em períodos secos e, preferencialmente, fora do período de desmama.

3. Prevenção de doenças de potencial reprodutivo

Considerando seus animais e o ambiente em que estão inseridos, com certeza a prevenção é a melhor medida. Para isso, seguem as principais doenças reprodutivas que podem inviabilizar as respostas positivas:

  • Brucelose;
  • Rinotraqueíte Viral Bovina;
  • Campilobacteriose genital bovina;
  • Tricomoníase bovina;
  • Leptospirose;
  • Neospora;
  • Diarréia Viral Bovina.

O cuidado em realizar o acompanhamento dos seus animais é um ponto importante na questão de profilaxia, já que assim, a partir da vacinação do rebanho, se assegura a sanidade, prevenindo inclusive o custo com tratamentos e descarte das vacas.

Acompanhe no vídeo abaixo, a palavra do técnico especialista em reprodução, e entenda mais sobre as principais doenças reprodutivas:

Fonte: Ourofino.

Estabelecer um calendário de vacinação de acordo com os demais manejos da propriedade é uma atitude inteligente pois facilita a introdução desse manejo no dia-a-dia e incorpora o método mais facilmente. Além disso, ajuda a evitar o estresse causado com a contenção dos animais para a vacinação.

Assim, se planeje e faça tudo que for possível em uma única contenção. O poder do estresse é altamente corrosivo na questão do bem-estar, e influencia diretamente a capacidade de produção, já que a homeostase do organismo nesse caso é completamente perdida, e seus resultados reprodutivos então, tendem a ir por água abaixo.

Outra atenção especial que o produtor deve estabelecer é com respeito as plantas tóxicas, pois o consumo de algumas plantas pode causar complicações sérias. Inclusive, algumas são abortivas e comprometem a reprodução sem deixar vestígios.

4. Classificação dos animais e acompanhamento através de anotações

Deixar todos os animais separados em lotes que respeitem a categoria deles é super viável, já que assim, além de catalogar os dados zootécnicos e acompanhar as capacidades individuais, é possível diferenciar os resultados ao final do processo reprodutivo.

Quando estão apartados segundo a classificação reprodutiva, o impacto positivo é maior, pois além de facilitar o manejo e não trazer prejuízos, você consegue definir de fato o que é possível ajustar.

Organizar com respeito as características individuais é tão importante que vai definir os seus resultados. Portanto, considere:

  • Vacas apartadas antes do período dedicado a reprodução (estação de monta ou de inseminações) que sejam de idades semelhantes;
  • Respeitar esses mesmos lotes para os “piquetes maternidade” ou piquetes de parição;
  • Lotes homogêneos e com fêmeas da mesma categoria produtiva;
  • Machos em lotes de acordo com o peso, idade e presença ou não de chifres.

Todos esses cuidados servem para reduzir consideravelmente a questão de relação de dominância, pois afeta diretamente o comportamento social e sexual, assim como os picos de estresse entre os animais.

Médico veterinário catalogando dados do rebanho
Fazer anotações e ter um controle dos dados permite o controle dos índices e assegura uma reprodução eficiente.

Dedicação a condição corpórea dos animais

Além disso, acompanhe a condição corpórea dos seus animais. O bom potencial reprodutivo está totalmente relacionado a condição corpórea. Isso porque os nutrientes ingeridos vão primeiramente para o crescimento e manutenção das condições básicas. Depois, são destinados para manter ou iniciar a capacidade produtiva (seja leite ou carne), e em ultimo lugar, para a reprodução. Considerando uma escala de importância, reproduzir-se está em último lugar.

Por isso, planeje um escopo considerando sua realidade. Tenha atenção em relação:

  • ao ambiente;
  • às características individuais dos animais;
  • ao objetivo final que deseja atingir.

5. Estabelecimento de métricas do melhoramento genético aplicado na reprodução

É de suma importância a aplicação do melhoramento genético nas criações pecuárias, pois isso permite o aprimoramento das raças.

Direcionar os cruzamentos dos animais e acompanhar as gerações seguintes pode garantir resultados importantes, que poderão ser observados de médio a longo prazo.

Como maior arma, a reprodução bem conduzida te dá altas chances de melhorar índices que levariam de 5 a 10 anos pra se confirmar. Portanto, não tenha medo e invista diretamente na seleção e condução dentro de um objetivo bem direcionado.

Reprodução eficiente resulta de um manejo bem conduzido

Em síntese, para potencializar a capacidade reprodutiva do seu rebanho, inicie a prática de controle dos dados zootécnicos e índices reprodutivos e forneça boas condições de conforto básico, livre ingestão de água e nutrientes de qualidade.

Dedique atenção especial ao melhoramento das futuras gerações, com a opção de conduzir os animais através de técnicas que podem tornar o serviço mais eficiente, como a IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo).

Garanta o menor período de serviço e assegure a indução a ovulação e nova gestação. Isso torna o rebanho de vacas mais precoce e com maior numero de bezerros ao longo de sua vida produtiva.

Abaixo, nós do MF Rural preparamos um infográfico com 5 dicas para ajustar a reprodução do seu rebanho. Faça o download e compartilhe com seus funcionários e colegas pecuaristas. E bom manejo!

Guia de Boas Práticas de Manejo do Gado - foco em Reprodução. Infográfico preparado pelo MF Rural.
Guia de Boas Práticas de Manejo do Gado – Reprodução.

E então, esse artigo foi útil para você? Aproveite e acesse também nossos outros posts da série de Boas Práticas de Manejo do Gado:

Boas práticas na identificação do gado

Boas práticas na alimentação do gado

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