Um dos grandes desafios dos pecuaristas brasileiros, na produção de leite ou carne, está em controlar um parasita quase minúsculo que ataca o rebanho bovino e causa muitos prejuízos: o carrapato.
A esperança agora está num carrapaticida biológico desenvolvido por uma startup brasileira. O produto está em fase de testes com a participação de aproximadamente 400 pecuaristas.
Os carrapatos (Ixodoidea) estão espalhados por todos os continentes, em diferentes tipos de clima e em diversas espécies de animais. O carrapato pode parasitar boi, cavalo, cachorro, capivaras e até em pinguim. Ao todo, os cientistas já identificaram mais 900 espécies pelo mundo.
Eles são responsáveis pela transmissão de inúmeras doenças, como a babesiose que causa anemia e apatia no animal infectado, resultando em um longo tratamento. No homem, a enfermidade mais conhecida é a febre maculosa, através da picada do carrapato estrela, que pode até matar.
Carrapato bovino: preocupação nacional
Como dissemos acima, nos bovinos o carrapato causa muitos prejuízos, por isso, é um dos principais inimigos da pecuária brasileira. Esse parasita se multiplica com facilidade, cria resistência aos tratamentos e causa prejuízos de R$ 10 bilhões por ano, segundo dados do Ministério da Agricultura.
O carrapato-do-boi (Rhipicephalus microplus) está disseminado no rebanho de todo o Brasil, principalmente entre as raças europeias, como Angus e o gado Holandês. Nos bovinos jovens, pode provocar a morte e, nos adultos, a perda de peso de até 100 quilos.
Confira alguns dos prejuízos causados pelo carrapato em bovinos:
- Queda na produção de leite e carne
- Manejo e mão de obra: enquanto aplicam produtos no rebanho, para combater o carrapato, os funcionários deixam de exercer outras atividades na fazenda
- Instalações para que os animais sejam tratados para eliminação do parasita
- Custos com acaricida utilizado para combater o carrapato
Métodos atuais de controle do carrapato
Antes da novidade desenvolvida pela startup, o controle do carrapato dos bovinos na sua fase parasitária, isto é, sobre o hospedeiro, é realizado atualmente das seguintes maneiras:
– Vacinas: apresentam como vantagens a segurança e não há período de carência na sua aplicação. Existem duas que já foram registradas. Mas, no Brasil não são utilizadas pelos pecuaristas devido ao seu custo elevado e eficiência abaixo do ideal no controle do carrapato.
– Produtos naturais: terapias alternativas baseadas na fitoterapia são recomendadas em fazendas orgânicas. Mas, ainda precisam ser melhor estudadas para o desenvolvimento de um produto altamente eficaz.
– Produtos homeopáticos: o Instituto de Zootecnia de São Paulo, em parceria com a empresa HYG System, desenvolveu um produto natural com capacidade de eliminar cerca de 80% dos carrapatos dos bovinos na primeira semana de aplicação.
– Carrapaticidas: é a principal medida para o combate do carrapato. Porém, o uso indiscriminado e a má utilização do remédio podem acarretar sérios problemas de resistência, além do risco de contaminar o solo e quem está aplicando, e resíduos do produto atingirem o leite e a carne.
Abaixo, vídeo explicativo mostrando o ciclo biológico do carrapato bovino:
Fonte: Rovaina Doyle
Surge uma nova alternativa: o controle biológico
Agora, surge mais um método de controle: uma solução biológica que pode substituir o uso de produtos químicos e ser aplicada em animais e pastagens. Desenvolvido pela startup brasileira de biotecnologia Decoy Smart Control, o carrapaticida biológico têm como princípio ativo esporos de fungos inimigos naturais do parasita.
Localizada em Ribeirão Preto, a startup foi criada com objetivo de desenvolver o controle biológico de pragas em animais de produção, dispensando o uso de agrotóxicos. O primeiro foco da empresa foi justamente criar um produto para combater a proliferação do carrapato em bovinos.
O carrapaticida biológico está sendo testado por cerca de 400 pecuaristas, sendo aplicado em mais de 35 mil cabeças. Dentre os parceiros, estão desde pequenos criadores de leite orgânico da Nestlé, Associação Brasileira de Angus e a Coopatos-Cooperativa Agropecuária.
O protocolo padrão do produto para combater o carrapato prevê uso nos animais a cada 20 dias, a um custo de R$ 4,50 ao mês (R$ 3,00 a dose) e uma vez por mês na pastagem (R$ 25,00 por hectare/mês). Segundo a empresa, além do custo com os produtos químicos ser mais elevado, o carrapaticida biológico apresenta como vantagens não contaminar a carne ou o leite, evitando descarte da produção, e não intoxicar o animal e nem o profissional que faz a aplicação.
A startup garante que tem capacidade para produzir o carrapaticida biológico em larga escala e imunizar cerca de 1,2 milhão de cabeças de gado por mês. Todo o desenvolvimento e as espécies dos fungos usados são considerados “segredos industriais”. O produto está em processo de regulamentação junto ao Ministério da Agricultura para iniciar a comercialização.
Portanto, a expectativa dos pecuaristas é de que esse produto biológico, possa ser uma alternativa para combater o carrapato bovino que, como dissemos, causa prejuízos bilionários à pecuária brasileira.
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