Controlar e evitar as doenças bovinas devem ser as prioridades do pecuarista com o propósito de garantir a segurança do rebanho, dos funcionários da fazenda, bem como a qualidade da produção de carne e de leite. Um rebanho saudável é sinônimo de bons resultados!
Tendo isso em vista, é preciso investir em práticas de manejo, como a vacinação do rebanho, que vão influenciar diretamente na sanidade animal.
Neste artigo, iremos apresentar as principais doenças bovinas que devem ser controladas e logicamente evitadas. Além disso, mostraremos os sintomas e tratamentos necessários para cada uma delas. Confira!
Importância do controle das doenças bovinas
Em relação ao gado de corte, algumas doenças podem ocasionar até 20% de redução no ganho de peso. Para o gado de leite, as doenças reprodutivas podem causar até 50% de perdas gestacionais e 25% de redução na produção de leite, além de afetar a qualidade.
De acordo com levantamento feito pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) os prejuízos econômicos provocados por doenças bovinas chegam a R$ 13,96 bilhões por ano.
O rebanho bovino brasileiro conta com 218,2 milhões de cabeças, um aumento de 1,5% em 2020, de acordo com levantamento do IBGE (o maior efetivo desde 2016). Os principais produtos pecuários cresceram 27,1% nesse mesmo ano, sobretudo a produção de leite, que concentrou 74,9% deste valor.
Com esses aspectos econômicos, se torna fundamental combater as doenças bovinas, com o fim de garantir um rebanho saudável e produtivo.
Aliás, mais um motivo para fazer um controle sanitário rigoroso: é essencial cuidar da saúde dos animais, uma vez que é possível contrair diversos tipos de doenças bovinas.
Agora, iremos citar quais são as principais doenças, como os animais podem ser contaminados, tratamento, bem como as formas de prevenção.
Brucelose
A brucelose, também conhecida como aborto infeccioso ou febre de malta, é uma das doenças bovinas que merecem muita atenção do pecuarista, uma vez que essa enfermidade resulta em abortos e em nascimentos de bezerros muito fracos ou mortos. Ela é causada pela bactéria Brucella abortus.
A brucelose é uma das doenças mais conhecidas na pecuária. Infelizmente, causa danos à produção porque a principal forma de tratar a doença é a o sacrifício do animal infectado. No caso da produção de carne, é necessário descartar os animais infectados, sem levar em conta a desvalorização da atividade e dos alimentos produzidos nessa propriedade.
A preocupação é tanta que levou o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) a criar, em 2001, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT), contendo um conjunto de medidas sanitárias com o fim de erradicar essas duas doenças.
Contaminação e sintomas
A contaminação do animal pode ocorrer das seguintes formas:
- Via oral;
- Parto de animais infectados (pode contaminar fontes de água e/ou alimentos);
- Inseminação artificial.
Os sintomas incluem, além dos abortos e nascimento de bezerros fracos, a retenção da placenta, repetição do cio com grande eliminação de bactérias, corrimento vaginal e inflamação das articulações. Nos machos, ocorre infecção do sistema reprodutivo, que pode gerar infertilidade.
Formas de prevenção
Enfim, a prevenção à brucelose, a exemplo de outras doenças bovinas, ocorre por meio de medidas que incluem a vacinação e exame preventivo dos bovinos, que deve ocorrer pelo menos uma vez por ano.
No caso de animais com suspeita da doença, os exames devem ser repetidos após três meses. Já os bovinos doentes, devem ser descartados e as vacas que abortaram devem ser isoladas.
No mercado pecuário, existem vacinas que previnem a brucelose. A vacinação é obrigatória em bezerras de três a oito meses de idade, em dose única, isto é, não precisa ser repetida no decorrer da vida útil do animal. Os machos não precisam ser obrigatoriamente vacinados, porém recomenda-se para uma bem-estar geral do rebanho.
Febre aftosa
A febre aftosa é uma doença proveniente do vírus da família Picornaviridae, gênero Aphthovírus. O microrganismo é muito resistente e pode ser encontrado ativo na pastagem, em couros, assim como na medula óssea e depois da morte do animal contaminado.
Aliás, esse vírus tem sete tipos diferentes que podem se espalhar rapidamente, caso as medidas de controle e erradicação não sejam adotadas logo após sua detecção.
Contaminação e sintomas
O bovino pode ser contaminado por meio da saliva, do leite, do sangue, bem como pelas fezes de outros animais que estejam infectados. Além disso, a transmissão pode ocorrer pela água e por pessoas contaminadas que entram em contato com o rebanho. Assim sendo, deve-se tomar muito cuidado, devido ao alto grau de disseminação.
No pico da doença, o vírus está presente na corrente sanguínea. Nesse estágio, os animais infectados começam a excretar o vírus poucos dias antes do aparecimento dos sinais clínicos.
Os sintomas são muitos, o que é um grande problema aos bovinos infectados e aos sadios. Os principais são:
- Aftas em toda a boca;
- Febre;
- Falta de apetite;
- Inquietação e tremores;
- Dificuldade de locomoção, de mastigar e engolir alimentos, provocando perda de peso;
- Queda da produção de leite, dor nos tetos ao ordenhar ou amamentar;
- Machucados no casco e manqueira.
Prevenção e tratamento
Então, a melhor forma de prevenção de doenças bovinas, como a aftosa, é a vacinação que deve ser feita a cada seis meses, a partir do terceiro mês de vida do animal. No Brasil, o calendário varia em cada Estado.
Aliás, atualmente sete estados brasileiros (Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e parte do Amazonas e do Mato Grosso) foram considerados zonas livres de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), ou seja, a vacinação deixou de ser obrigatória.
No caso dos animais infectados com a febre aftosa, a única alternativa é serem sacrificados. A propriedade precisa ficar em quarentena, passando pelo processo de desinfecção, pois, assim, evitará a disseminação do vírus. O gado que teve contato com animal infectado deve ser revacinado.
Mastite bovina ou mamite
A mastite bovina, também conhecida como mamite, é uma doença proveniente das bactérias Estreptococos e Estafilococos, e afeta as glândulas mamárias das fêmeas, causando inflamação. A mamite pode ser clínica ou subclínica.
A mastite clínica é vista a olho nu, provocando alterações visíveis no leite, como na coloração, presenças de grumos e coágulos. Já a subclínica é mais difícil de ser detectada porque não causa alterações visíveis na qualidade do leite e na vaca. Ela provoca queda na produção e na alteração do leite.
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Sintomas
Os sintomas dessa doença são diversos, dentre eles:
- Úbere avermelhado, quente e inchado;
- Leite aguado ou grosso constituído por coágulos ou flocos;
- Falta de apetite;
- Perda de peso;
- Morte do animal em casos mais graves.
Prevenção e tratamento
Na prevenção da mastite, o ideal é analisar as fases de retirada do leite. Além disso, assegurar a limpeza correta do espaço e dos equipamentos utilizados na ordenha, que devem ser usados conforme recomendação do fabricante. No caso da mastite clínica, uma recomendação é fazer o teste da caneca de fundo escuro antes de cada ordenha, logo nos primeiros jatos.
Sobre o tratamento, não existe apenas um método. O primeiro passo é afastar o animal afetado pela mastite do restante do rebanho.
Além disso, o tratamento vai depender da gravidade da doença, isto é, do quadro em que o animal se encontra, sendo que geralmente, após a última ordenha, são ministrados os medicamentos anti-inflamatórios por via intramamária.
No vídeo abaixo, confira como tratar a mastite bovina:
Tuberculose
A tuberculose é uma doença transmitida pela bactéria Mycobacterium bovis. A forma de contaminação ocorre pelo ar, gotículas ou inalação de pó, contato direto com secreções nasais e a ingestão de leite cru de animais infectados. Essa doença pode se tornar crônica nos animais e é transmissível ao ser humano.
Sintomas
Os principais sintomas da tuberculose bovina são: tosse, falta de ar, perda de peso progressivo, mastite e infertilidade. Entretanto, um dos problemas dessa doença é que quase sempre os sinais não são perceptíveis. Assim, outros animais podem ser contaminados facilmente, além de o criador correr o risco de descobrir quando a enfermidade está em seu pior estado.
Todavia, não existe tratamento para a tuberculose, muito menos uma vacina a ser utilizada como forma de prevenção. Ademais, os animais infectados deverão ser sacrificados no período de até 30 dias, sendo que essa tarefa precisa ser acompanhada pelo serviço oficial de defesa sanitária animal.
Por isso, o criador do rebanho deve proteger seus animais e, quando for ampliar o seu rebanho, deve exigir o teste intradérmico para tuberculose que é realizado por um médico veterinário habilitado.
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Prevenção
Com o propósito de deixar sua propriedade livre do risco dessa doença, veja algumas medidas preventivas:
- Limpeza e higiene dos equipamentos e procedimento de manejo;
- Evite contato de funcionários com a doença porque podem transmitir aos animais;
- Realizar o teste intradérmico no período de 6 meses;
- Consumir apenas leite pasteurizado;
- Identificação e eliminação de animais infectados.
Clostridiose
A clostridiose é um termo que engloba diversas doenças causadas por bactérias anaeróbias do tipo Clostridium. Esses tipos de bactérias são detectadas no organismo dos animais, até mesmo quando eles se encontram saudáveis. Elas estão entre as doenças que mais matam bovinos no Brasil, ou seja, podem ocasionar muitos prejuízos ao produtor rural.
Ao todo, a clostridiose pode ser dividida em quatro grupos de doenças bovinas:
- Entérica: enterite hemorrágica, evolui entre uma e 24 horas;
- Hepatonecrótica: hepatite necrótica;
- Mionecrosante: gangrena gasosa ou edema maligno, evolui entre dois e três dias;
- Neurotrópica: tétano e botulismo.
Sintomas
Os sintomas podem ser variados, pois isso depende do tipo de clostridiose com o qual o animal se infectou. Vamos às doenças bovinas causadas pela bactéria e os sintomas de cada uma delas:
- Enterite hemorrágica – coma, convulsões, diarreia hemorrágica, fraqueza e morte súbita;
- Hepatite necrótica – incômodo abdominal, fraqueza, imobilidade, febre e morte súbita;
- Gangrena gasosa ou Edema maligno – edema viscoso (com acúmulo de gás no tecido subcutâneo e músculos adjacente) e congestão no local, febre, falta de apetite;
- Carbúnculo sintomático, Manqueira ou Mal-de-ano – infecção atinge os músculos através da corrente sanguínea, com a taxa de mortalidade de 100%;
- Tétano – andar dificultoso, trismo mandibular, orelhas eretas, prolapso da glândula da terceira pálpebra, rigidez do corpo e timpanismo. Afeta o sistema nervoso e altamente letal;
- Botulismo – é uma das principais doenças bovinas, causando paralisia da musculatura, principalmente em bovinos adultos.
Prevenção e tratamento
Todas as enfermidades originadas dessa bactéria têm o mesmo tipo de tratamento, ou seja, geralmente, são utilizados antibióticos (preferencialmente a Penicilina) e antitoxinas (no caso de botulismo e tétano) que podem salvar o animal. Entretanto, vale lembrar que eles não são eficazes à todos os casos, por serem doenças bovinas graves com altos índices de letalidade.
Por isso, foque na prevenção, principalmente na vacinação sistemática de todo o rebanho bovino. Além disso, retire materiais que podem furar ou cortar os animais, descarte de forma correta as carcaças de bovinos e não utilize a mesma seringa na imunização e administração de medicamentos.
Aliás, outro detalhe importante é que todas as pessoas envolvidas no manejo desses animais estejam treinados e saibam o momento exato de agir visando evitar maiores prejuízos à fazenda.
Conclusão
Portanto, mostramos neste artigo as principais doenças bovinas que podem afetar o seu rebanho. Além dessas, existem outras, como a Leptospirose (bactéria que aloja-se nos rins e fígado), Doenças de Casco (afetam a extremidade dos membros do bovino) e a Tristeza Parasitária Bovina (babesiose / anaplasmose – causada por protozoários).
O mais importante é que o pecuarista esteja sempre atento às vacinações preventivas e procure ter o acompanhamento de profissionais, com o intuito de garantir a saúde dos animais e, consequentemente, a qualidade da carne vendida no mercado interno e externo.
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