Principais doenças do arroz: identificação, sintomas e controle

Principais doenças do arroz: identificação, sintomas e controle

Embora para a próxima safra as estimativas indiquem redução da produção no Brasil, o arroz é uma cultura extremamente importante, especialmente por estar presente diariamente na maioria das casas brasileiras.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o brasileiro consome cerca de 19,76 kg de arroz por ano. Desta forma, o Brasil ocupa a décima posição entre os maiores consumidores do grão no mundo. 

O maior consumidor de arroz no mundo é a China, seguida da Indonésia. Há quem pensasse que o Japão estivesse melhor colocado nesta lista, no entanto, o país ocupa a nona posição. Há de lembrar que a população do Japão é de 125,9 milhões de habitantes e a do Brasil é de aproximadamente 208 milhões de habitantes, desta forma, o consumo do grão no país ocidental é de quase 60 kg por habitante.

Do quantitativo do arroz consumido no país, 8,9% são importados e 10,2% exportados, o restante é destinado ao mercado interno. A produção concentra-se principalmente em quatro estados, sendo o Rio Grande do Sul o principal produtor de arroz, seguido por Santa Catarina, Tocantins e Mato Grosso.

Por outro lado, a cultura do arroz é uma das que mais exigem esforços, especialmente pelo fato de que a maioria das lavouras cultivadas são em sistema irrigado (com presença constante de água por quase todo ciclo da cultura). Além do preparo da área, adubação, controle de pragas e daninhas, as doenças são um limitante a altas produtividades e, se não manejadas da forma correta, podem comprometer severamente a produção da cultura.

A seguir, entenda o panorama da produção de arroz no Brasil e conheça as três principais doenças que ocorrem nas lavouras de arroz, seus sintomas, identificação e controle. Boa leitura!

Leia também: Principais doenças do trigo: identificação e controle.

Panorama da produção de arroz no Brasil

Segundo o último levantamento da produção de arroz no Brasil, realizado pela Conab, a produção da cultura do arroz para a safra 22/23 deve recuar em 5,7%, embora a produtividade da cultura cresça em 3%, com estimativas de que sejam colhidos 6.867 kg/ha.

Este recuo pode ser explicado muito em função da redução das áreas de cultivo, que devem passar de 1604 mil ha para pouco mais de 1418 mil ha em comparação à safra anterior. Os principais estados com redução da área semeada da cultura são as regiões do Sul do país, especialmente o Rio Grande do Sul, onde os produtores têm substituído as áreas de produção de arroz pelo cultivo da soja nas últimas safras.

Nessas áreas, especialmente as regiões que compreendem o sul do estado do Rio Grande do Sul, considerado uma nova fronteira agrícola para a cultura da soja, os produtores têm obtido vantagens na utilização da cultura da soja como uma cultura de rotação nas áreas de produção de arroz, muito em função de serem culturas de espécies diferentes, sistema radicular e necessidades nutricionais distintas. Neste sentido, a rotação com soja têm surtido efeitos produtivos para a cultura do arroz.

No entanto, para que bons resultados produtivos sejam alcançados, além do desafio com a ocorrência de pragas, plantas daninhas, principalmente em sistema de cultivo de sequeiro, deve-se ficar atento às mais de dez doenças de importância econômica que podem ocorrer na cultura do arroz, que podem reduzir a produtividade em até 100%.

Vista aérea de colhedora realizando a colheita do arroz
A estimativa de produção de arroz na safra atual é de 10,2 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 5,7% em relação à safra anterior.

Principais doenças do arroz

Embora o número de doenças que possam ocorrer na cultura do arroz seja grande, para as condições das regiões produtoras brasileiras, as que se destacam são:

  • Brusone (Pyricularia grisea): pode reduzir até 100% a produtividade da cultura;
  • Mancha-parda (Bipolaris oryzae): pode causar perdas significativas, especialmente porque a infecção ocorre no período vegetativo e se manifesta de forma severa no período reprodutivo, afetando não somente a produtividade, mas também a qualidade dos grãos produzidos;
  • Escaldadura: as perdas podem variar de 20 a 50%, a depender das condições climáticas, tratos culturais e cultivar utilizada na área de cultivo.

Outras doenças, de menor impacto, mas que também merecem cautela por parte dos produtores incluem:

  • Mancha-estreita (Cercospora janseana);
  • Mancha-circular ou alternariose (Alternaria padwickii);
  • Podridão-de-bainha (Sarocladium oryzae);
  • Carvão da folha (Entyloma oryzae);
  • Cárie ou carvão-do-grão (Tilletia barclayana);
  • Ponta-branca (nematoide ectoparasita, Aphelenchoides besseyi).

Dessas, a brusone e a mancha-parda são destaque pelo potencial de danos à cultura, que pode chegar a 100% da produtividade.

A seguir, conheça um pouco mais sobre as principais doenças do arroz, como identificar na sua lavoura e quais as principais estratégias de controle.

Brusone (Pyricularia grisea)

A brusone é uma das principais doenças da cultura do arroz e pode ocorrer sob uma série de condições ambientais e relacionadas ao solo, que favorecem a incidência e severidade da doença. Pode apresentar fase perfeita, ou sexuada, onde o patógeno tem como nome Magnaporthe oryzae, e fase imperfeita ou assexuada, na qual é denominado de P. oryzae

Esta informação é importante, pois na literatura, a brusone pode ser descrita com os dois nomes, pois correspondem a mesma doença, apenas com diferentes estádios de reprodução. A fase sexuada é a que confere maior variabilidade genética ao patógeno.

Entre as condições climáticas ideais para o desenvolvimento da doença, temperatura diurna entre 25 a 28ºC e noturnas mais amenas (entre 17 e 21ºC), acompanhada de longos períodos de orvalho (que podem ser formados mesmo na ausência de chuvas) e alta umidade relativa (acima de 90%), são as principais que favorecem o patógeno. 

No entanto, condições de dias nublados consecutivos, chuvas leves e constantes, e condições de solo como baixo teor de matéria orgânica, excesso de nutrientes como o nitrogênio (N) e deficiência de potássio (K), e baixa luminosidade, também favorecem a ocorrência da doença.

A identificação da doença pode ser feita a partir da visualização dos sintomas típicos, que incluem lesões nas folhas, de coloração marrom e de centro cinza. No centro das lesões, com auxílio de uma lupa de aumento, é possível visualizar os sinais do fungo (estruturas reprodutivas). Quando a doença manifesta sintomas abaixo da panícula, ela pode inclusive ocasionar o chochamento total das espiguetas, agravando os danos da doença.

Sintomas em gramíneas de diferentes espécies em razão do ataque de espécies de Pyricularia. a. trigo; b. cevada; c. grama; d. aveia. e.arroz e f. espiguetas de trigo. As lesões causadas por Pyricularia oryzae patótipo arroz correspondem às letras PoO abaixo das imagens.
Sintomas em gramíneas de diferentes espécies em razão do ataque de espécies de Pyricularia. a. trigo; b. cevada; c. grama; d. aveia; e. arroz e f. espiguetas de trigo. As lesões causadas por Pyricularia oryzae patótipo arroz correspondem às letras PoO abaixo das imagens. Fonte: Castroagudin et al., 2019.

Sintomas de brusone (figuras a., b. e c). e estruturas do agente causal (conídios em d. e apressório em e.).
Sintomas de brusone (figuras a., b. e c). e estruturas do agente causal (conídios em d. e apressório em e.). Fonte: Wilson; Talbot, 2009.

Para o controle, além da identificação correta da doença a campo, diversas medidas baseadas no Manejo Integrado de Doenças podem ser adotadas, incluindo:

  • com o conhecimento do histórico da ocorrência da doença na área de cultivo, o uso de cultivares resistentes ou tolerantes é fundamental para reduzir os danos;
  • utilização de sementes de alta qualidade física, genética, fisiológica e sanitária;
  • observação da melhor época de semeadura dentro do ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climatológico), divulgado anualmente com base em dados de tipo de solo, clima, precipitação, altitude, dentre outros, em relação às diferentes cultivares disponíveis;
  • adubação equilibrada, evitando principalmente o excesso de nitrogênio nas adubações;
  • aplicação de fungicidas registrados para a cultura e para a doença, que pode ser realizada por meio do próprio tratamento de sementes (protegendo as sementes do inóculo inicial presente na área), e na pulverização foliar em diferentes estádios de desenvolvimento, conforme orientações da bula do produto.

Importante ressaltar que o tratamento de sementes pode fornecer controle variável, a depender do produto e do seu residual, podendo proteger as plântulas entre 25 até 50 dias após a semeadura.

Para as pulverizações foliares, essas devem ser realizadas com fungicidas sistêmicos (que podem translocar entre os tecidos da planta e atuar portanto também como curativos) na fase de início de emissão das panículas.

Veja também: Tipos de bicos para pulverização agrícola e indicações.

Mancha-parda (Bipolaris oryzae)

É uma das principais doenças da cultura e pode ocorrer em todas as regiões produtoras do país. Assim como a brusone, o patógeno causador da mancha-parda também possui dois nomes a depender da fase de reprodução – sexuada é conhecido como Cochliobolus miyabeanus, e assexuada como B. oryzae.

As condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da doença são semelhantes às necessárias para brusone, no entanto, no caso da mancha-parda, o patógeno tem preferência por temperaturas inferiores (entre 20 a 30 ºC). Ademais, nesse caso, há menor interferência dos dias nublados.

Além das condições ambientais necessárias à ocorrência da mancha-parda, a nutrição das plantas tem papel fundamental, podendo tornar as plantas mais suscetíveis à doença, especialmente em solos com deficiência de nutrientes importantes como o potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), ferro (Fe), manganês (Mn) e silício (Si).

Para a identificação da doença, é necessário que os sintomas sejam conhecidos, e para a mancha-parda incluem principalmente a presença de manchas ovais ou circulares de coloração castanho-avermelhada, castanho-escuro, com centro de coloração mais clara (palha a bege). 

Sintomas típicos de mancha-parda nas folhas do arroz (A), e lesões atípicas (B e C).
Sintomas típicos de mancha-parda nas folhas do arroz (A), e lesões atípicas (B e C). Fonte: Silva-Lobo; Filippi, 2017.

Embora a doença possa ocorrer em todas as fases de desenvolvimento da cultura, é no período reprodutivo que se manifesta de forma mais evidente e agressiva, comprometendo a qualidade dos grãos de arroz produzidos, bem como reduzindo o rendimento do engenho.

O controle da doença é semelhante à brusone, e inclui:

  • uso de sementes sadias, de boa qualidade fisiológica e sanitária, e quando disponível com resistência ou tolerância à doença;
  • destruição dos restos culturais contaminados, que pode ser acelerada pela aração da área de cultivo;
  • tratamento de sementes é indispensável em áreas com histórico da doença;
  • pulverizações foliares são necessárias em áreas com histórico da doença e condições ambientais favoráveis;
  • para um manejo mais eficiente, quando brusone e mancha-parda estejam ocorrendo, pode-se planejar a utilização de um fungicida que seja eficiente para ambas as doenças, por isso, o conhecimento dos sintomas e identificação da doença à campo, bem como conhecimento do histórico da área são fundamentais para um bom planejamento e otimização dos defensivos utilizados durante o cultivo.

Escaldadura (Microdochium oryzae)

A escaldadura também compõe o grupo das principais doenças que ocorrem na cultura do arroz, isto porque pode ocorrer em sistema de arroz irrigado e de terras altas principalmente, localizadas nas mais diversas regiões do país.

Condições como lavouras em rotação com a cultura da soja, ou até mesmo recém abertas (como ocorre no Cerrado e em algumas regiões do Sul do Brasil), associados a irrigação por aspersão, altas doses de adubação com nitrogênio, plantas adensadas, ocorrência de chuvas frequentes e o próprio orvalho, são favoráveis a doença.

Os sintomas observados remetem ao nome da doença: escaldadura. Isto porque o sintoma inicial, que começa na extremidade apical das folhas, é semelhante a uma escaldadura por água quente. As lesões paralisam o crescimento da planta, tornam-se de coloração palha a amarronzada, avançando da ponta para a base, com isso, as folhas secam e morrem, reduzindo a área foliar da cultura e por consequência a sua produtividade.

À esquerda estruturas reprodutivas (conídios) do agente causal da escaldadura-das-folhas na cultura do arroz. À direita podem ser visualizados os sintomas típicos da doença.
À esquerda estruturas reprodutivas (conídios) do agente causal da escaldadura-das-folhas na cultura do arroz. À direita podem ser visualizados os sintomas típicos da doença. Fonte: Nunes, 2013.

Assim como para as demais doenças da cultura, as medidas de controle devem priorizar:

  • uso de sementes sadias e com resistência/tolerância quando disponíveis para a região;
  • aração para reduzir os restos culturais presentes na área de cultivo;
  • tratamento de sementes com fungicidas e pulverizações foliares com fungicidas registrados para a doença.

Conclusão

Como vimos, inúmeras doenças podem ocorrer nas lavouras de arroz, por isso, é importante que produtores permaneçam atentos aos sintomas, especialmente iniciais, para que as estratégias de controle sejam adotadas o mais cedo possível, evitando assim, danos consideráveis.

Para evitar ainda a ineficiência dos fungicidas utilizados, é necessário seguir as boas práticas de manejo antirresistência, como rotação de ingredientes ativos, fungicidas de sítio-específico sempre em associação com outro grupo químico de modo de ação diferente e uso de fungicidas multissítio em misturas, quando possível.

Além disso, o controle das doenças da cultura do arroz devem ser baseadas no Manejo Integrado de Doenças (MID), utilizando de todos os tipos de controle disponíveis, como:

  • Controle cultural: com eliminação de restos culturais, semeadura em épocas apropriadas, preparo da área com aração para auxiliar na destruição de restos de cultura, dentre outros;
  • Controle genético: como tolerância ou resistência às principais doenças que ocorrem na região de cultivo;
  • Controle biológico: quando disponível e sempre observando a compatibilidade com o controle químico que será utilizado tanto no controle de doenças como também no controle de pragas e plantas daninhas;
  • Controle químico: iniciando pelo tratamento de sementes e com pulverizações foliares, monitorando ainda as condições ambientais favoráveis às doenças durante a safra para tomada de decisão rápida sobre aplicações foliares.

A escolha das estratégias de manejo mais adequadas para o controle de doenças devem ser baseadas no histórico e realidade da sua lavoura, clima, solo, cultivares utilizados e culturas cultivadas durante o ano, por isso, sempre consulte um engenheiro agrônomo para a melhor recomendação.

Acesse também: Principais doenças da cultura do algodão: identificação, sintomas e manejo.

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