O Brasil é um país cuja agricultura é predominantemente familiar. De acordo com o censo agro 2017 do IBGE, 77% dos estabelecimentos se enquadram na definição segundo a qual a propriedade rural é compartilhada pela família e fornece a maior parte da sua renda.
Além disso, ainda segundo o IBGE, 70% das propriedades rurais têm entre um e 50 hectares.
Entre as diferentes utilizações da terra pelo pequeno produtor está a produção de bovinos, majoritariamente para leite, mas que em alguns casos também direciona esforços à pecuária de corte.
É possível observar no campo que uma parte considerável das pequenas propriedades que se dedicam à pecuária mantém um rebanho de vacas visando a produção de leite e, adicionalmente, criam os bezerros machos para produção de carne.
Melhoramento genético
Dentro desse contexto, melhorar a genética, nutrição e manejo dos animais é um posicionamento indispensável na produção economicamente e ambientalmente sustentável de carne e leite.
Com uma escolha e utilização corretas dos insumos aqui mencionados o pequeno criador poderá ter um rebanho de vacas leiteiras muito produtivas, que desmamem bezerros cada vez mais pesados, gastando menos recursos e preservando o meio ambiente.
A genética é, particularmente, um tema fascinante e que desperta a curiosidade de muitos. Para a pecuária, inúmeros estudos de campo demonstraram que o melhoramento genético é um poderoso promotor de produtividade, capaz de transformar sistemas de produção pecuária deficitários em unidades produtivas lucrativas e ambientalmente corretas.
No entanto, muitas dúvidas surgem ao pequeno produtor quando ele se depara com propagandas comerciais, palestras, cursos e entrevistas de especialistas sobre melhoramento genético.
A principal delas talvez se traduza na seguinte pergunta: “Será que melhoramento genético é só para os grandes?”. A reposta é: não! Melhoramento genético também está à disposição dos agricultores familiares e pequenos produtores de uma forma geral.
Os núcleos de melhoramento genético de bovinos investem significativamente em programas de avaliação, seleção e acasalamento e também em estrutura e mão de obra qualificada no sentido de disponibilizar genética de qualidade no mercado.
São os rebanhos posicionados na vanguarda da tecnologia e que adotam técnicas como a seleção genômica para produzirem touros e vacas geneticamente superiores.
Por sua vez, os agricultores familiares podem trazer o melhoramento genético aos seus rebanhos de produção através da utilização de sêmen e, principalmente, de touros oriundos dos núcleos de melhoramento genético de bovinos.
Benefícios
Ao utilizar touros geneticamente superiores para produção de leite, os rebanhos pequenos poderão dispor de uma nova geração de vacas, filhas dos referidos touros, muito mais produtivas ao comparar com a geração atual.
Além disso, é possível utilizar touros geneticamente superiores para produção de bezerros pesados, com conformação e outras características adequadas à produção pecuária de corte.
Os benefícios do melhoramento genético são comprovadamente muito consistentes e significativos.
Resultados obtidos em pesquisa desenvolvida pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, indicaram que propriedades que investem em genética para melhorar a produção de leite podem chegar a uma margem líquida de lucro 54% maior ao comparar com uma propriedade que não investe em genética.
Além disso, observaram uma eficiência muito maior no uso dos recursos naturais em propriedades rurais que investem em genética superior.
Atualmente, a aquisição de touros geneticamente superiores é mais acessível, por exemplo, através de feiras especializadas organizadas em todo Brasil, promovidas e apoiadas por entidades sem fins lucrativos, com a possibilidade de financiamento e parcelamento do pagamento pelo reprodutor.
Deste modo, é possível concluir que o melhoramento genético pode ser utilizado como um fator de mudança positiva em propriedades que se enquadram no modelo de agricultura familiar.
É importante reforçar que existe apoio governamental e da iniciativa privada com o propósito de aquisição de reprodutores geneticamente superiores, os quais contribuirão sobremaneira para que a pecuária nas pequenas propriedades seja economicamente viável, ambientalmente sustentável e que consequentemente aumente as chances das famílias manterem suas atividades no campo e proverem com dignidade o seu sustento.
